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As Publicações Selecionadas e a Composição do Quadro Teórico

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (páginas 113-119)

Capítulo III Fundamentação Teórico Metodológica

3.2 As Publicações Selecionadas e a Composição do Quadro Teórico

Enquanto professora e pesquisadora sempre ouvi críticas de profissionais da Educação Básica em relação ao desenvolvimento de pesquisas científicas, que muitas vezes, se utilizam da Escola de Ensino Fundamental, por exemplo, para a obtenção de dados, mas que ao final da investigação, os resultados obtidos pouco retornavam à sala de aula. Logo, este pensamento transformou-se em preocupação e permeou todo este estudo.

Desta forma, queríamos ao final de nosso trabalho, oferecer aos professores, gestores, autores de livros didáticos e organizadores das políticas públicas, uma fonte de consulta, uma oportunidade de acesso a informações imprescindíveis ao

bom desenvolvimento da Alfabetização Matemática nas salas de aulas das escolas brasileiras.

Nesse sentido, a obtenção das informações relevantes ao nosso estudo está diretamente relacionada ao que consideramos como fonte de dados e à sua natureza. Assim, nos baseamos em Flick (2009, p. 231) que trata os documentos como fonte de dados visuais e escritos. Logo, tendo sempre como referência nosso objeto de pesquisa, utilizamos apenas materiais escritos (textuais).

Com este pensamento, poderíamos considerar como material de coleta, livros, propostas curriculares, autobiografias, revistas, jornais, pareceres, listas de conteúdos de ensino, planejamentos, artigos científicos, dissertações ou teses acadêmicas, etc.

No entanto, nosso estudo envolveu a leitura, compreensão e interpretação de materiais escritos como leis, orientações nacionais, publicações de sites governamentais e de pesquisas que tratam da Alfabetização Matemática. No entanto, estas fontes serão melhor detalhadas mais adiante. Antes, apontaremos os critérios de Flick (2009) que adotamos para selecionar esse material, que constitui nosso corpus.

Flick (2009) ao definir os materiais escritos, os trata como algo que deve ser dinâmico e permeado por uma ação intencional. O autor se baseia em Prior (apud FLICK, 2009, p.231) para esclarecer o tratamento que precisa ser dado:

Se tivermos que arcar com a natureza dos documentos [escritos], então precisaremos afastar-nos de um conceito que os considere como artefatos estáveis, estáticos e pré-definidos. Em vez disso, devemos considerá-los em termos de campos, de estruturas e de redes de ação. De fato, o status das coisas enquanto “documentos” depende precisamente das formas como esses objetos estão integrados nos campos de ação, e os documentos só podem ser definidos em relação a esses campos.

O autor coloca a necessidade do pesquisador de considerar a forma de elaboração dos textos escritos, as circunstâncias e o contexto em que eles foram criados. De acordo com Flick (2009) considerar quem produziu, com que objetivo,

para quem e quais as intenções, são questões fundamentais e que influenciam direta e indiretamente a pesquisa.

Nosso capítulo referente à origem e ao desenvolvimento da Alfabetização Matemática nas escolas brasileiras tentou, na medida do possível, evidenciar todos esses enlaces, além de justificar a relevância do assunto e a necessidade de escolha de nosso quadro teórico.

De acordo com a seleção do material escrito, o autor apresenta duas formas distintas e que necessariamente precisam ser levadas em consideração: (1) eles podem ser solicitados para a pesquisa e (2) não-solicitados. Neste trabalho, utilizamos os não-solicitados, que são os já existentes, disponíveis como textos e que inclusive poderiam estar em formato eletrônico e acessível a quem interessasse .

Flick (2009) apresenta ainda as ideias de Scott acerca dos tipos de materiais escritos. O autor considera 12 tipos que são constituídos por uma combinação de duas dimensões: a Autoria e o Acesso. A Autoria está relacionada a quem produziu e o Acesso à forma e possibilidade de se chegar até o material de interesse. Ressaltamos que um critério não anula o outro e ambos foram adotados nesta investigação.

Considerando este pensamento como fundamental para a seleção e definição do nosso corpus, julgamos imprescindível clarear a ideia de cada uma dessas dimensões. A dimensão autoria pode ser distinguida em pessoais e oficiais (FLICK, 2009, p.231), tendo ainda classificação privada ou pública.

Nessa pesquisa, optamos por trabalhar com material escrito de autoria pessoal, produzido por cidadão comum, ou seja, as pesquisas acadêmicas; material oficial, produzido, mantido e/ou usado pelo estado (FLICK, 2009, p. 232) e, consequentemente, material de caráter público: as leis, orientações nacionais e fontes de informações constantes no site do MEC – Ministério da Educação e Cultura. Essa decisão teve por objetivo garantir fontes confiáveis. Embora saibamos que não exercemos controle sobre a forma como os documentos foram, por exemplo, criados, ao menos esse material tem a chancela de um ministério nacional.

A acessibilidade é o termo de classificação usado por Scott (apud FLICK, 2009) e adotado neste trabalho como critério fundamental na seleção e escolha dos

textos escritos utilizados. Estes podem ser de quatro tipos: (1) de acesso fechado; (2) acesso restrito; (3) acesso de arquivo aberto; e por fim, (4) acesso de publicação aberta.

Considerando a necessidade de acesso livre aos dados para a realização desta pesquisa, optamos pelo tipo “quatro” de material escrito, ou seja, aquele em que os documentos estão publicados e acessíveis a qualquer parte interessada (FLICK, 2009; p.232).

Assim, as leis, orientações nacionais e materiais escritos com informações relevantes acerca de nosso objeto, constantes no site do MEC foram chamados por nós de publicações oficiais, da mesma forma em que denominamos as pesquisas utilizadas como referências para a seleção de nosso quadro teórico de publicações abertas.

Para Flick (2009, p.232),

os documentos não são somente uma simples representação dos fatos ou da realidade. Alguém (ou uma instituição) os produz visando a algum objetivo (prático) e a algum tipo de uso (o que também inclui a definição sobre a quem está destinado o acesso a esses dados). Ao decidir-se pela utilização de documentos [escritos] em um estudo, deve-se sempre vê-los como meio de comunicação.

Tentamos assim, ao longo de nosso trabalho, compreender o que se pretendia comunicar acerca de nosso objeto, clareando a qualquer parte interessada os aspectos concernentes à Alfabetização Matemática. Muito embora saibamos das limitações que uma pesquisa científica de caráter qualitativo tem.

Todos os critérios de seleção descritos até aqui tiveram como objetivo garantir a qualidade e a confiabilidade dos materiais escritos que utilizaríamos.

Diante do exposto, fizemos seleções para definirmos nosso corpus, a partir das ideias de Flick (2009). Para o autor, esse passo diz respeito a questões relativas à amostragem (FLICK, 2009; p.234). Contudo, ele ressalta a necessidade do pesquisador estar atento às relações que uma fonte pode ter com outras. Este aspecto tornou-se relevante no processo de seleção do material a ser analisado, pois

a cada leitura realizada, verificamos a referência ou ligação que um texto tinha com outro, sem perder de vista os critérios que utilizamos, pautados na teoria de Flick (2009): materiais escritos não solicitados, de autoria pessoal e oficial pública, cuja acessibilidade fosse aberta.

Essas questões foram importantes quando optamos por utilizar fontes como, por exemplo, a LDB (1996) e os editais de inscrição de livros didáticos para os três primeiros anos do Ensino Fundamental. Embora sejam publicações oficiais de natureza e propostas diferentes, acabaram sendo selecionados, por trazerem, de certa forma, informações sobre nosso objeto.

Assim, conduzimos nosso estudo com o seguinte pensamento: as fontes de dados foram vistas como dispositivos comunicativos metodologicamente desenvolvidos na construção de versões sobre eventos (FLICK, 2009; p.234), no caso, a Alfabetização Matemática. Não se pretendeu pressupor parte alguma como arbitrária, mas construir um armazenamento e facilitação no acesso, para diferentes leitores, do máximo possível de informações, com o máximo de pertinência sobre o assunto tratado.

Logo, chegamos às seguintes publicações oficiais: (1) Constituição Brasileira; (2) Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, com a resolução 1/2002 (Lei 11.224); (3) as publicações Ensino Fundamental de 9 anos – Orientações Gerais; Ensino Fundamental de 9 anos – Passo a Passo do Processo de Implantação; Ensino Fundamental de 9 anos – Orientações para a Inclusão da Criança de seis anos; (4) Editais do PNLD 2010 e 2013; (5) PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) e (6) RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1997). Esse foi então o corpus utilizado como referência para a elaboração dos capítulos I e II deste estudo e que também serviu de justificativa para o desenvolvimento da presente pesquisa.

As publicações abertas selecionadas, que nos auxiliaram na definição da composição teórica acerca da Alfabetização Matemática foram: Penha & Monteiro (2005), Mendes (2005), Bueno (2009), Petronzelli (2004), Teixeira (2006), Fonseca (2010), Askew, Rhodes, Brown, Wilian & Johnson (1997), Fontanive, Klein, Abreu & Bier (2008), Bernardi & Caldeira (2012), D’Ambrósio (2005), Masagão e Fonseca (2009), Sardinha e Azevedo (2011).

A realização de um estudo de doutorado requer do pesquisador um mergulho profundo na literatura que trata do objeto em investigação. A partir deste pensamento, partimos em busca destas publicações que, afinal, traziam discussões acerca da Alfabetização Matemática. Elas foram utilizadas como referência para a definição de nosso quadro teórico.

O processo de seleção iniciou-se pela realização de um filtro, a partir de palavras chaves relacionadas ao nosso objeto de estudo, quais sejam: alfabetização matemática, numeracia, numeramento, numerate, numeracy, matemacia, literacia matemática, materacy e materacia. Estas palavras surgiram de leituras prévias que realizamos durante o Doutorado, quando começamos a ter interesse pelo objeto de investigação desta pesquisa, bem como pela leitura das publicações oficiais lidas desde o começo do trabalho.

Os sites de indexação que utilizamos foram Scielo e Periódicos Capes. A escolha desses se deu por serem referências no meio acadêmico e apresentarem possibilidade de acesso a textos completos de artigos científicos e também de

periódicos nacionais e até internacionais.

Ao iniciarmos o processo de seleção, percebemos que seria necessário fazer outros filtros, pois uma quantidade imensa de publicações aparecia e nas mais diversas áreas.

Com as palavras-chave escolhidas, fomos aos sites de indexação e encontramos inicialmente no site scielo 123.143 trabalhos, entre teses, dissertações, artigos e outros periódicos. Em seguida, filtramos por publicações a partir de 1996, o que reduziu a amostra para 4.545 documentos; Ainda considerando esse número alto, filtramos pela área Educação Matemática, o que reduziu a amostra para 67 estudos; Filtramos ainda por segmento: anos iniciais do Ensino Fundamental, o que nos deu um resultado de 14 pesquisas, que então foram lidas e fichadas.

Já nos periódicos CAPES encontramos inicialmente, por meio das palavras-chave, 135.206 trabalhos, entre teses, dissertações, artigos e outros periódicos. Em seguida, filtramos por publicações a partir de 1996, o que reduziu a amostra para 5.897 publicações; sendo ainda um número alto, filtramos pela área

Educação Matemática, o que nos deu uma amostra de 98 trabalhos; filtrando pelo segmento anos iniciais do ensino fundamental chegamos a 18 pesquisas.

A tabela abaixo mostra os tipos de filtros realizados e a quantidade de trabalhos finais, após cada afunilamento.

TIPO DE FILTRO QUANTIDADE DE

TRABALHOS NO SITE

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