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2. LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO

2.3. A LIDERANÇA NAS ORGANIZAÇÕES EDUCATIVAS

Assim, na linha de valorização das inter-relações e da importância da participação e cooperação, Trigo & Costa (2008, p. 562) apresentam a Direção por Valores, uma perspetiva que começou a ser difundida na década de 90, apresentada como um modo avançado de direção estratégica e liderança

Planear

• Determinados objetivos

• Fazer previsões

• Analisar problemas

• Tomar decisões

• Formular e/ou apoiar políticas

Organizar

Influenciar

• Determinar atividades necessárias para alcançar objetivos (as várias etapas)

• Classificar e distribuir o trabalho pelos grupos e pelos sujeitos

• Comunicar para que os indivíduos contribuam para a obtenção dos objetivos, de acordo com as finalidades da organização

Controlar

• Atividade de conferir o realizado como foi planeado e proposto. Corrigir os desvios verificados. Alterar e readaptar caminhos e planos

Coordenar

36 participativa pós-convencional baseado no diálogo explícito e democrático sobre os valores partilhados. Esta visão, que emergiu do mundo empresarial, tem interesse para as organizações educativas na medida em que tenta romper com a vertente técnico-instrumental das teorias tradicionais da gestão, recuperando a importância das pessoas, relações, diálogo e valores para melhor poder responder aos novos desafios da atualidade.

Costa (2000, p. 29) assinala alguns marcos nos fenómenos da liderança nas organizações educativas, que apresentamos em seguida, revelam que este fenómeno está longe de ser linear e racional como muitos estudiosos desta área querem fazer crer. Assim:

” i) a liderança é dispersa, pois constitui-se como um fenómeno disseminado que percorre os vários níveis, sectores e agrupamentos da organização escolar; ii) a liderança é relativa, pois não tem uma interpretação unívoca, apresentando-se imbuída de ambiguidade sendo por isso entendida de modos distintos no que diz respeito aos conteúdos, aos processos ou aos estilos, tendo em conta as diferentes culturas, países, contextos organizacionais ou situacionais onde ocorre; iii) a liderança tem de ter em conta a democracia escolar, pois reconhece que o funcionamento da vida escolar deverá ser pautado por procedimentos democráticos, no sentido de revitalizar a democracia e a participação de todos os implicados nos processos educativos, assumindo, assim, uma feição emancipadora e facilitadora na capacidade de decisão coletiva; iv) a liderança tem de ter em conta a colegialidade docente, sendo necessário assegurar a importância do reconhecimento da liderança enquanto processo que se desenrola interpares e que conduz a uma reflexão partilhada sobre a ação e ao desenvolvimento de lideranças dispersas, colaborativas, respeitadoras das autonomias individuais e grupais; v) a liderança é um saber especializado, reconhecendo-se que a liderança também se aprende não só no plano técnico e instrumental, mas também no plano da ação moral e da inteligência emocional; vi) a liderança é distinta da gestão, o que significa que estes dois conceitos não são sinónimos e também não estão relacionados segundo a lógica de causalidade linear; neste sentido, muitos são os líderes que não assumem cargos de gestão e muitos serão os gestores escolares (docentes que ocupam cargos de gestão formais) e que não são de facto líderes.”

Hargreaves & Fink (2007, pp. 32-34) entendem que tão importante como falar de lideranças é necessário pensar na “sustentabilidade” das lideranças. Fazendo um contraponto entre a liderança do tipo empresarial e a liderança educativa, os autores assumem que, nas organizações educativas, só a última poderá conduzir à “sustentabilidade”. Na sua obra, os autores falam-nos de sete princípios que passamos a enumerar:

37 ” i)Profundidade – na educação devemos proteger e promover aquilo que é sustentável, que

constitui enriquecimento da vida: uma aprendizagem profunda e alargada para todos; ii) Durabilidade – a liderança sustentável perdura pois preserva e promove, ao longo do tempo, os aspetos mais valiosos da vida; iii) Amplitude – a liderança sustentável dissemina-se na medida em que sustenta a liderança exercida por outros e baseia-se nela; iv) Justiça – a liderança sustentável não só não prejudica o ambiente circundante como o melhora, ativamente; a liderança não prejudica as organizações adjacentes encontrando formas de partilhar conhecimentos e recursos com elas; v) Diversidade – as lideranças promovem a diversidade e evitam a estandardização: nas comunidades sustentáveis, o alinhamento é perigoso podendo contribuir para a dependência hierárquica; vi) Disponibilidade de recursos – a liderança sustentável desenvolve-se sem esgotar os recursos materiais e humanos; ela reconhece e recompensa o trabalho de outras lideranças; vii) Conservação – a liderança sustentável valoriza o passado aprendendo com ele, tendo em vista criar um futuro melhor.”

Liderar é essencialmente orientar o grupo, as pessoas em direção a determinados objetivos ou metas, cujo comportamento inerente à capacidade de liderar envolve múltiplas funções, tais como planificar, informar, avaliar, controlar, motivar, recuperar, entre outras, incluindo deste modo todas as atividades relacionadas com a influência de pessoas. A influência gera a motivação necessária para pôr em prática o propósito definido pela estratégia estruturada.

Para Maxwell (2003, p. 27), ser um líder “(…) significa criar um ambiente cheio de energia para a

equipa e capacitar cada pessoa, com o que necessita para assegurar o sucesso a dado momento.”

Ghilardi & Spallarossa (1991, p. 103), definem a liderança como “(…) a capacidade que influencia o

comportamento de pessoas e grupos para atingir determinados objetivos.”

Para Nye (2008, p.37) “(…) um líder é alguém que ajuda um grupo a estabelecer e a alcançar

objetivos comuns. A partilha de objetivos é importante.” Este autor afirma também que “aprender a avaliar as situações e os contextos constitui uma capacidade de grande importância para um líder” e

considera ainda que “(…) a liderança é uma arte mais do que uma ciência (…) é uma relação de poder” (idem, p. 44).

Para Ghilardi & Spallarossa (1991, p. 111) o líder é aquele que revela capacidade de autoavaliação, tendo para isso “consciência das motivações que estão por detrás das decisões tomadas e consciência

do nível de hostilidade ou aceitação expresso pelos membros do grupo.”

Para Adair & Reed (2006, p. 49) “A liderança é a coisa mais pessoal do mundo pelo simples facto

38 indivíduo. Para estes autores, “(…) a liderança a partir de dentro significa não nos separarmos dos

outros. (…) se quiser liderar outros, tem de começar por saber liderar-se a si próprio.” (idem, p. 151).

Os autores afirmam ainda que “(…) podemos ser nomeados gestores, ou regentes, mas não seremos

lideres enquanto essa nomeação não for ratificada nos corações e nas mentes daqueles que trabalham connosco.” (idem, p.155), daqui se entendendo o facto de existir uma distinta diferença entre liderar

e gerir, enfatizando-se assim a liderança como sendo a capacidade de conduzir os outros de modo voluntário e não por imposição autoritária. Nesta linha Vaciago cita Shimberni que sintetiza a liderança e o papel do líder do seguinte modo: “Trabalhar para, com e através dos outros”. O autor afirma ainda que “na realidade, aprender a ser um bom líder serve, se se faz carreira, para agir sem ferir os outros

e defender a «ética» do trabalho.” (Vaciago, 2005, p. 18).

Cockerell (2009, p. 229) diz-nos que “(…) a liderança é muito mais um papel do que um título: é

uma responsabilidade. (…) E essa responsabilidade nunca foi tão grande quanto é hoje. O mundo onde vivemos (…) é mais complexo, imprevisível e inter-relacionado do que nunca”, o que expressa bem o

leque alargado de diferenças que vivemos hoje na escola e para o qual deveremos estar atentos, e dentro do possível, preparados para encarar a escola enquanto espaço de diferenciação.

Bento (2008, p. 129) diz-nos que para que o administrador possa liderar “(…) precisa conhecer a

natureza humana e saber conduzir as pessoas (…)”. Segundo Jago (1982) citado por Bento (2008, p.

129) a liderança pode ser entendida como “(…) o equivalente de um exercício de uma influência não

coerciva que pretende coordenar os membros de um grupo organizado no alcance dos seus objetivos de grupo”.

Bento (2008) resume então o conceito de liderança como (…) a atividade de influenciar pessoas, fazendo-as empenhar-se voluntariamente em objetivos de grupo; (…) é um fenómeno de influência interpessoal exercida em determinada situação através do processo de comunicação humana.

Para Thurler (2001, p. 143), o líder orienta o projeto e a formulação de objetivos equilibrados com a realidade; exerce a sua influência na implementação do projeto; define as prioridades; garante a legitimidade do projeto; demonstra a importância do investimento; não se limita à liderança formal e informal; podem ser conotados como “indivíduos bastante dotados e inspirados” que agem “como

todo-poderosos”; controla em períodos de crise a “complexidade dos processos de mudança” (idem,

2001, p. 144); e ainda que, desenvolve métodos de funcionamento alternativos transformando-os em projetos mobilizadores do grupo; cria um clima de vontade na resolução dos problemas e da aprendizagem permanente; possui um forte espírito de missão; consegue defender o seu ponto de vista, levando o grupo a partilhá-lo; fundamenta as novas opções nas suas crenças e valores (acredita

39 que está no caminho certo); é habilidoso na negociação de modo a obter o apoio e adesão da maioria do grupo; é coerente entre o que põe em prática e as ideias que defende; é um visionário que se envolve abertamente na transformação e mudança, transformando a cultura organizacional.

Ainda para a mesma autora (2001, p. 146), o conceito de Liderança assume-se sob diversos aspetos:

- Liderança intelectual que consiste em: Propor óticas que mobilizem; definir os eixos do desenvolvimento; conceber as estratégias de mudança; analisar as “apostas confusas” entre os valores e as crenças do grupo; desenvolver as condições necessárias para a construção coletiva da mudança.

- Liderança compartilhada ou cooperativa (idem, p. 147), como: Capacidade do líder de ceder uma parte de poder ao grupo sob o qual exerce a liderança; direito de que a liderança possa ser exercida por mais do que um elemento; management associada à noção de mudança planificada, à necessidade de flexibilidade para lidar e enfrentar com as transformações das competências e tecnologias, liderança em matéria de inovação para os gestores escolares implicando uma dualidade de tarefas:

“garantir o funcionamento e pilotar a mudança”.

- Função da equipa: “orientar o desenvolvimento, a “tomar a iniciativa da mudança”, a

“desencadear um processo de reflexão e de análise das práticas”, a “criar as condições de um confronto construtivo de ideias” a “desenvolver uma cultura comum” a “tomar a dianteira do movimento” (idem,

p. 148).

Sobre a liderança partilhada, a autora afirma que, “quando o conjunto do grupo está implicado no

processo, a liderança passa a ser uma verdadeira partilha” (idem, p. 159).

A liderança, para Herberg & Blanchard (cit. por Chiavenato 1983, p. 434), “é o processo de exercer

influência sobre o indivíduo ou um grupo de indivíduos, nos esforços para a realização do objetivo em determinada situação”.

Deste modo o líder, para o grupo, surge como meio para a satisfação das suas necessidades. A liderança implica o processo de exercer influência na vida grupal, com vista a determinadas finalidades, havendo deste modo o desempenho de funções, papéis, segundo diversos estatutos.

A liderança pressupõe que a pessoa influente tenha capacidades para exercer efetivamente um determinado poder, bem como competências reconhecidas pelos que estão envolvidos num grupo para que haja cooperação e aceitação das diferenças e sejam atingidos os objetivos, válidos, úteis e possíveis.

40 A liderança educativa pressupõe um conjunto complexo de papéis, modos peculiares de atuar que podem aprender-se.