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1. DESPORTO ESCOLAR

1.6. DESPORTO ESCOLAR E PROJETO EDUCATIVO

Em 1997 através do Ministério da Educação foi lançado às escolas o desafio de ensaiarem caminhos próprios no âmbito da gestão flexível do currículo, em função dos contextos em que se encontravam inseridas.

A gestão flexível do currículo inscreve-se assim no quadro mais amplo do regime de autonomia das escolas, - Decreto Lei - N.° 115 A/98, de 4 de maio, só tendo plena concretização quando articulado com o plano educativo da escola, onde são consideradas as especificidades de cada escola e respetiva comunidade (Cunha, 2002). Este modelo de gestão interfere naturalmente com a organização e gestão da escola em diversos setores como, por exemplo, o DE.

O DE deve ser, por isso, entendido, como uma responsabilidade da comunidade escolar, pois é à escola que compete tomar decisões sobre a forma de responder aos problemas apresentados pelos seus alunos. Caberá aos órgãos de gestão das escolas encontrar as melhores soluções para valorizar a

20 prática das atividades desportivas. Um dos princípios do programa do DE é que este deverá fazer parte integrante do Projeto Educativo da escola. Este último, enquanto instrumento de planeamento de natureza estratégica, é o documento onde se inscrevem as principais linhas estratégicas de desenvolvimento, assumindo todas as orientações de política educativa e respetivas possibilidades de diferenciação e construção da singularidade de cada escola.

Guimarães (2005) refere que o DE não deve assumir as mesmas formas para todos os alunos. As suas finalidades e objetivos devem ser comuns, mas a sua operacionalização deve reger-se por princípios de decisão local, ajustada a regras e orientações e de acordo com as caraterísticas do contexto dos seus destinatários. Daí a importância do Projeto de Desporto Escolar estar inserido no PE como fio condutor de toda a comunidade educativa, das parcerias com as autarquias, com os pais, com os clubes. Já Carvalho (1987, p. 25) afirmava que o “DE deve promover um lugar de encontro entre a

escola e a comunidade local, de forma a permitir a participação de todos os parceiros sociais no desenvolvimento das suas atividades”. Também o Documento Orientador do Desporto Escolar: Jogar

pelo Futuro, Medidas e Metas para a Década (Ministério da Educação, 2003) considera que o desenvolvimento do DE passa por um triângulo de relacionamento com as federações desportivas, as autarquias e a comunidade envolvente.

Segundo Pires (1996, p. 312), o DE só é agente transformador da escola se funcionar de acordo com a sua “vocação e missão num regime aberto, em interação dinâmica com o meio social e a própria

sociedade desportiva, em suma, em função dos interesses dos alunos”. Nesta ordem de ideias, será

importante que o DE veja reforçada a sua integração plena nos PE de Escola, como elemento transformador e inovador para uma escola de sucesso, criando condições organizacionais e de funcionamento dentro de cada escola, e que o dignifiquem.

Garcia (2005, p. 5) defende que o

“DE não pode, sob pena de ficar isolado, alhear-se da comunidade envolvente, naquilo que poderemos denominar de dimensão ecológica da educação. Ao envolver a comunidade, o DE poderá estender o seu domínio aos familiares das crianças e dos jovens, aos professores e funcionários. A Escola é uma comunidade viva que ultrapassa a simples condição de aluno”.

Nesta linha de pensamento, Furriel (2005) diz que a valorização da escola e de toda a sua comunidade passa também pelo DE. Enquanto atividade de enriquecimento curricular o desporto escolar é para todos. É um meio de formação desportiva, essencial na formação integral do aluno, e é uma forma de exercer uma cidadania mais responsável. É, igualmente, uma forma de desenvolver o espirito empreendedor, de cooperação, cívico e ético.

21 Então, sendo a Escola o centro do desenvolvimento da prática desportiva educativa e o DE uma atividade abrangente para todos os alunos, sem qualquer tipo de exclusão ou segregação, compete aos estabelecimentos de ensino fomentá-lo como um espaço alargado de interdisciplinaridade, um instrumento pedagógico e um fator de progresso e de futuro, um elemento fundamental para a cidadania e formação integral das crianças e jovens.

O PE deve expressar as linhas de orientação da política educativa da escola,

"os principais problemas a resolver, as prioridades, a definição dos objetivos e refletir os desejos e aspirações de uma comunidade escolar, o seu passado, as tradições culturais, bem como, as condições organizacionais que lhe são próprias." (Pina, 1997, cit. por Cunha, 2002,

p. 26).

Nesta perspetiva, faz todo o sentido o DE, pela importância que tem, integrar o PE da escola/agrupamento e ser claramente assumido por toda a comunidade escolar no seu plano de ação, pois é um projeto transversal e interdisciplinar.

Um dos maiores desafios que se coloca à escola é ser capaz de afirmar a sua identidade: Tem de reconhecer as suas próprias características e colocá-las ao serviço das grandes finalidades educativas. Esta identidade pressupõe,

"por um lado um conjunto de atitudes e esforços no sentido da crescente autonomia da comunidade escolar, e por outro, o estabelecimento de parcerias e cooperação com outros elementos da comunidade educativa, desde as famílias e instituições locais, até aos grupos sociais do meio envolvente" (Pina, op. cit. p. 25).

Esse apoio ou cooperação pode ser uma mais-valia, por exemplo, para a atividade de nível I – um dos níveis de desenvolvimento do DE – aquela que é a melhor forma de proporcionar oportunidades de prática de atividade física e desportiva, para além da disciplina de educação física, a todos os alunos num “quadro de promoção da saúde, da qualidade de vida e da cidadania”.

Mais recente é a resolução da Assembleia da República nº94/2013 que também aponta para a

“celebração de protocolos entre as escolas, autarquias, associações, Instituto Português do Desporto e Juventude e Instituto do Emprego e Formação Profissional (…) permitindo assim uma abertura da escola à comunidade”.

22 O que é um facto - apesar de várias alterações de legislação, tanto da administração e gestão das escolas, como do DE - é que há constrangimentos que se mantêm e foram já identificados em 1998, pelo então diretor do Gabinete de Coordenação do DE, Dr. Manuel Brito, no 1º Congresso do DE:

“Não poderemos ter grandes avanços quantitativos e qualitativos no DE se, questões como, por exemplo, a rede escolar, a carga horária letiva semanal dos alunos e a sua distribuição, as instalações desportivas, os transportes escolares, a formação dos professores e a própria qualidade no ensino da Educação Física, não contribuírem para promover ou facilitar o desenvolvimento harmónico de todo o sistema”.

No entanto em Portugal é possível encontrar projetos que evidenciam boas práticas. Na publicação de 2006 do Ministério da Educação/Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular – “DE – Um Retrato”, é possível constatar alguns casos de excelência e pode-se concluir que a qualidade desses resultados está ligada a três fatores principais: existência de instalações escolares, ou na proximidade das escolas, com condições adequadas; valorização do DE pela comunidade escolar/educativa e empenhamento e competência técnica por parte de professores e desses alunos.