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CAPÍTULO 4. LINGUAGENS E CATEGORIAS DAS POSTAGENS SOBRE O CASO

4.1 A linguagem não verbal da publicação: analisando os emojis

A linguagem enquanto signo da espécie animal, sobretudo da espécie humana, é a capacidade de sistematizar formas de expressar e organizar o pensamento. É considerada como uma das primeiras formas de socialização de uma criança. Borges e Salomão (2003) apontam que as primeiras relações de linguagem são realizadas a partir das interações com os pais, momento em que a criança, mesmo sem conseguir verbalizar as informações, tem acesso a informações, valores, crenças e regras.

No estudo de Borges e Salomão (2003), intitulado Aquisição da Linguagem:

Considerações da Perspectiva da Interação Social, é apontado que a linguagem é uma

característica da espécie humana, provindo de um sistema de significados e significantes. “O significante refere-se ao aspecto formal da linguagem, e é constituído pela junção hierárquica dos elementos – fonemas, palavras, orações e discurso.”. “O significado, por outro lado, refere- se ao aspecto funcional da linguagem, considerado como o responsável pela comunicação no meio social [...]” (p. 327). Essa relação entre significado e significante tem uma importância profunda sobre a sociedade, dado que não basta somente a formalidade da linguagem, mas todos os seus aspectos simbólicos e operacionais.

Esse processo de linguagens e de signos são erroneamente entendidos pelos meios que são expressos, ou seja, há muita compreensão de que a linguagem tem somente caráter verbal. Não obstante, há o reconhecimento que as formas de expressão a partir de pinturas, desenhos, música, gravura, escultura, movimentação corporal e outras formas de manifestações também são linguagens, uma vez que possuem significados (LÉVY, 2000; SANTAELLA, 2001). Na publicação analisada nesta tese houve diversas formas de expressar essa linguagem, não restringindo somente a parte escrita, mas também utilizando símbolos e/ou linguagem não verbal, aqui relatada através dos emojis. Para mais, compreendemos que há um pensamento, linguagem e/ou expressão que se vincula à parte escrita, isto é, os atores necessariamente construíram e organizaram um pensamento formal para ser transcrito, advindo de suas concepções, vivências e experimentações. Destarte, o que foi escrito é um produto simbólico do que foi construído em mente.

Santaella (2001) propõe algumas matrizes de linguagem, apontando a sonora, visual e verbal. Em consonância com a análise dos emojis da publicação analisada, trataremos nesse momento especificamente sobre a linguagem visual, que de acordo, com a autora (2001, p. 186) “as modalidades do visual dizem respeito às formas visuais estruturadas como linguagem, isto é, às formas visuais representadas. Quando digo ‘linguagens’ e ‘representação visual’, pretendo que esses termos já funcionem como indicadores de uma delimitação.”. Nesse sentido, a linguagem visual pretende representar alguma coisa do mundo visível (SANTAELLE, 2001), estando os emojis como forma simbólica com finalidade de equivaler aos gestos, expressões e sentimentos humanos, sendo, nesse caso, expresso e materializado no ciberespaço (PAIVA, 2016).

Os espaços virtuais compreendem em uma complexidade de linguagens e hibridação das matrizes de linguagem, como salientado por Santaelle (2001). Esse espaço interfere de modo particular na forma dos atores se expressarem e na escrita, devido ao fato de compreenderem e utilizarem outras formas simbólicas e de comunicação. A evolução tecnológica e a possibilidade da CMC deve ser pensada como uma evolução antropológica, devido às novas técnicas desse universo e as formas de interação no ciberespaço. O corpo material se transforma ao ter contato com uma máquina artificial, integrando esses dois aspectos. A evolução tecnológica tem oportunizado o desenvolvimento de softwares cada vez mais atualizados, com o intuito de simular os processos mentais do ser humano.

Retomando a contextualização da linguagem no ambiente virtual, corroboramos o pensamento de Lévy (2000) de que esse ambiente oportuniza a interlocução e interação de múltiplas formas e de modo real, sendo de “um para”, de “um para muitos” e de “muitos para muitos”. Esse fato se dá pela amplitude e dimensionalidade que o ciberespaço possibilita aos atores e as conexões entre eles. “O principal significado do ciberespaço é a interconexão geral de tudo em tempo real, a concretização do espaço virtual onde as formas culturais e linguísticas estão vivas.” (LÉVY, 2000, p. 65). Sendo modificadas a todo momento para atender as necessidades e interesses da cibercultura e dos atores.

Os emojis se tornaram uma forma de linguagem para as mídias sociais, sendo que desde a sua criação até a atual conjuntura, a utilização dos emojis expandiram-se para além desse contexto, sendo utilizadas em diversas mídias televisivas, por exemplo. Paiva (2016) apontam que os emojis têm a finalidade de “pontuar” as frases e que pela dificuldade em expressar determinados sentimentos somente na linguagem escrita, os emojis propiciam maior entonação, expressões e sentimentos a parte verbalizada. Para além disso, Paiva (2016) também reflete a partir de uma analogia com o ponto de interrogação, de que determinados símbolos têm a

finalidade de expressão. E isso é possível a partir dos emojis, uma carinha de espanto (😱) pode ser encaminhada, uma carinha como monóculo (🧐) representa que você está realmente desconfiado, entre outras formas de carinhas, pessoas, alimentos, bandeiras, atividades e outros, isto é, de emojis. O Facebook apresenta diversas possibilidades de comportamentos a uma postagem, utilizando as reações de “like” (“curtir”), amar (“Amei”), gargalhar (“Haha”), surpreender-se (“Uau”), tristeza (“Triste”) e fúria (“Grr”). Analisando os emojis da publicação em estudo sobre o caso de Tifanny, temos o quantitativo de 4.100 reações, divididas nas categorias apresentadas pelo Quadro 6.

Quadro 6 _ Quantitativo de reações sobre a publicação na página “Quebrando o Tabu”

Carinha Significado Quantitativo

Curtir (Like)

Pode indicar o conhecimento e leitura da publicação, aprovação e curtiu a situação.

2.809 (68,51%) Amei

Indica forte atração e/ou aprovação pela publicação. Pode indicar felicidade com relação ao assunto ou concordar

com a opinião.

622 (15,17%)

Grr

Indica que não aprova a publicação, indignação, desconforto.

511 (12,46%) Haha

Indica que achou graça do assunto. Considerado como um botão da “zueira”, pode identificar reação de ironia,

sarcasmo ou mais simpatia do que o curtir (Like)

71 (1,73%)

Triste

Utilizado em situações que o emoji curtir (Like) pode não ser ideal, indica desaprovação, mágoa, nostalgia.

44 (1,07%) Uau

Indica surpresa com a publicação, utilizadas em situações surpreendentes, boas ou ruins.

43 (1,05%)

Até junho de 2018, data da presente análise, 4.100 participantes da página “Quebrando o Tabu” da rede social Facebook haviam reagido à publicação na forma de símbolos, que foram assim distribuídos: 2.809 “curtidas”; 622 “amei”; 511 ficaram “bravos” ou “furiosos”; 71 “gargalharam”; 44 ficaram “tristes”; e 43 “se surpreenderam”. Pela descrição apresentada no Quadro 6, identifica-se que é possível haver uma interpretação errônea sobre os significados dos emojis, uma vez que a conceituação dos mesmo possui uma ambiguidade, a exemplo o

emoji “Haha” e “Uau”, onde o primeiro pode indicar sarcasmo, mas ao mesmo tempo pode

indicar mais simpatia do que o curtir; e o segundo indica surpresa com situações boas ou ruins. Os resultados quantitativos parecerem favoráveis à inclusão de pessoas transexuais no esporte (83,68% dos participantes curtiram e amaram a publicação), considera-se que as reações simbólicas dos emojis podem possuir significados distintos, podendo ser interpretados de modo variado. No entanto, a partir desses dados é reconhecível que há um agrupamento de pessoas que se solidarizam sobre o ingresso ficando, de algum modo, satisfeitos com a notícia.

De fato, essa situação pode ocasionar uma confusão para os atores ao se expressarem a partir das reações possibilitadas pelo Facebook. Para além disso, atentamos que o processo de identificar com os emojis pode ser muito subjetivo, sendo que cada ator tem uma percepção que vai para além da definição desses. Ao mesmo tempo depreendemos e reforçamos a ideia de que os emojis são uma forma de linguagem expressa, em maior parte, no ciberespaço e que há uma funcionalidade dentro desse contexto. A percepção de quem emite e de quem recebe o símbolo dependerá da análise pessoal e do olhar de cada um dos atores, sendo que o aspecto cultural e social tem forte influência sobre a percepção e uso dos emojis (MORO, 2016; PAIVA, 2016). Exempli gratia, o “curtir” pode ser utilizado como forma de simbolizar a ciência a respeito da postagem e não necessariamente a concordância com o tema. Mas, apesar dessa leitura do like e visto o quantitativo de possibilidades de manifestações oferecidas pelo programa do

Facebook, os atores possuem mais alternativas de expressarem seus sentimentos “reais” sobre

o assunto através desses símbolos. Dessa forma, corroboramos com Moro (2016)

Nesse caso, a forma de expressão contemporânea acabou por ser utilizada de diversas maneiras. O vocabulário próprio de representação de cada pessoa criou identidades e fez dela múltiplos usos, preenchendo as lacunas por meio de interpretações culturais e vocabulários próprios, constituindo a percepção. A percepção depende essencialmente da interpretação de quem está vendo, vinculada aos estímulos, aos aparelhos fisiológicos e às sensações. (MORO, 2016, p. 62)

De resto, na era da tecnologia há uma rápida e constante evolução, caracterizando esse momento histórico como mutável. Existem novas formas de comunicação textuais multimodais que não utiliza somente as formas de escrita para expressar algo, consideradas como

multissemióticos. Essa forma de comunicação apropriou-se de outros formas, como os emojis, através de expressão simbólica, dando mais significado para o texto escrito (SANTAELLA, 2001; PAIVA, 2016; RIBEIRO; AMORIM; DOS REIS NUNES, 2016). Esses textos possuem uma proximidade com todas as estruturas e ações das práticas sociais e culturais, exigindo dos sujeitos uma compreensão e percepção sobre os assuntos, interpretando e ressignificando as informações provindas do meio on-line e off-line.