• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3. CAMPO DE PESQUISA: REDES SOCIAIS, INTERAÇÃO SOCIAL E

3.2 A Comunicação Mediada pelo Computador

Inicialmente, abarcaremos as questões pertinentes ao universo da comunicação, fato que teve um crescimento acelerado e grandioso a partir da proliferação dos mecanismos para interação humana. As várias formas de comportamentos comunicativos levaram grande parte das ciências (filosofia, história, sociologia, antropologia, ciências políticas, psicologia e outras) a realizarem pesquisas que compreendessem esse campo. Muitas das vezes a comunicação foi e é tratada de forma analógica por essas ciências (MATTELART; MATTELART, 2011). O estudo sobre a Teoria da Comunicação tem sido feito a partir de clivagens, ou seja, fragmentando esses conhecimentos, seguindo muitas bases epistemológicas, devido às diferentes escolas que a estudam. Assim, para Mattelart e Mattelart (2011) a ideia conceitual de comunicação está muito distante de ser homogênea.

A sociedade, para alguns considerada como um organismo social, leva à investigação sobre as ciências da comunicação. A comunicação está conexa as questões de fluxo e trocas de informações ocorridas no meio social. Um conceito que está relacionado a comunicação é a ideia de rede, ou seja, a sociedade se organiza em teias de redes a partir das interações sociais ocorridas nesse organismo social, levando as pessoas a estabelecerem contato e trocas de informações a partir de sistemas e/ou estruturas simbólicas para se conectarem as outras. Verbi

gratia, durante a comunicação verbal ou o sistema de linguagem, o falante e o ouvinte

estabelecem uma interação, promovendo um fluxo e troca de informações para que ocorra essa interação (MATTELART; MATTELART, 2011). Para Serra (2007), há uma impossibilidade ou dificuldade conceitual do que é comunicação, devido à heterogeneidade de fenômenos que permeiam essas ciências (Quadro 5).

A Comunicação Mediada por Computador (CMC) é um fenômeno novo e:

[...] abarca todo um conjunto de práticas sociais decorrente das apropriações comunicativas das ferramentas digitais e é discutida por diversos autores desde o princípio dos estudos a respeito do impacto do ciberespaço como ambiente comunicacional na vida social (RECUERO, 2014, p. 22).

Ou seja, a CMC está relacionada ao modus operandi de seres humanos, que através das mensagens, em forma de linguagens verbal ou não verbal27, que pode ser transmitida e/ou

recebida via computador ou aparelhos eletrônicos que possibilitam essa manifestação. Recuero (2014) trata da CMC somente como aquela que ocorre por meio da Internet, não se desdobrando para o meio off-line. Qual seja a relação estabelecida nesses meios, a ocorrência de ressignificação desses instrumentos, sobretudo sobre os sujeitos, é contínua (RECUERO, 2014).

Quadro 5 _ Classificação dos fenômenos comunicacionais a partir de oposições, de acordo com Serra (2007)

Quanto ao tempo Comunicação direta ou síncrona versus comunicação diferida ou assíncrona.

Quanto ao número

Comunicação interpessoal versus comunicação de massa, tal como caracterizada nos modelos de Jakobosn e Lasswell, respectivamente. Quanto ao espaço Comunicação presencial, face a face versus comunicação mediatizada,

a distância

Quanto ao código

Comunicação verbal, que recorre aos signos linguísticos versus comunicação não verbal, em que se utiliza de signos como gestos, movimentos, espaços, tempos, desenhos, sonhos etc.

Fonte: Serra (2007, adaptado).

Mesmo com toda a tecnologia, Recuero (2009b), em uma visão pessimista, aponta que esses meios de comunicação, de forma virtual, têm diminuído e “esfriado” as relações interpessoais, proporcionando o desenvolvimento do “que há de pior na natureza humana” (p. 12), tal como a hipocrisia, a mentira e até mesmo as más intenções. Com esse pensamento, é possível discernirmos que há uma dicotomia entre positivo e negativo, sobre a utilização desses instrumentos, sobretudo na CMC. Jungblut (2004) aponta que essas inovações tecnológicas e todo o processo de CMC acabam por estimular um universo paralelo, considerando como um “poder tóxico” (p. 98) essas relações exercidas nesse universo virtual.

Não podemos deixar de ponderar que o espaço virtual não é, somente, alicerçado pelo que é demarcado pela Internet, mas pelo espaço, ou melhor, ciberespaço e cibercultura, que se concretiza com as inovações tecnológicas. A CMC só é possível pelo encadeamento de estruturas que possibilitam essa interação, especialmente pela manipulação dos aparelhos pelos seres humanos. Assim, a interação virtual não ocorre meramente pelo acesso à Internet, mas por todos esses mecanismos que de alguma forma possibilita a CMC (JUNGBLUT, 2004). A propagação de informações no meio virtual e/ou pela Internet acaba por formar um novo tipo

de sujeito, um sujeito que não é mais submisso as informações que antes eram mediadas por outros tipos de mídias, como a televisão, rádio e jornais. Esse novo espaço possibilita ao sujeito ser mais operante e mais exigente (JUNGBLUT, 2004), o que corrobora com a propositiva de Martino (2015) de que no meio ou na rede virtual o nível técnico e competências de determinadas pessoas para discutir alguns assuntos é baixo.

Destacamos nesse momento que ainda é predominante a linguagem escrita, textual, na CMC, por exemplo os chats, Messenger, WhatsApp, Facebook e outros. Mesmo que o crescimento tecnológico tenha proporcionado outras condições e ferramentas para a CMC, a maioria das informações presentes no meio virtual ainda ocorrem de forma textual. Recuero (2014), apresenta várias ferramentas que possibilitam aos usuários a utilização de ligação e de videoconferências, como o Skype, Facebook e WhatsApp. No entanto, esses recursos são complementares, e os usuários ainda preferem a linguagem escrita.

Outro mecanismo muito presente na CMC é a utilização de emojis, que enseja uma comunicação não verbal, sobretudo em uma comunicação simbólica. Os emojis são figuras ou gravuras que têm a finalidade e o sentido de representar gestos, expressões e sentimentos humanos. A historicidade dos emojis data desde muito tempo, pois entende-se que esses símbolos são presentes desde a antiguidade com as pinturas. A partir de 1980 verifica-se uma transformação desses símbolos, onde inicialmente eram utilizados a partir das letras e símbolos dos teclados, tais como :) (sorrindo), ;) (piscando), :( (triste), entre outros. Esses foram denominados como emoticons. Os emojis recentes, criados por Shigetaka Kurita, datados no ano de 1997, são desenhos como: 😊 (sorrindo), 😉 (piscando), ☹ (triste)28 e outros (Figura 8). Apesar disso, os emojis só tomaram tamanha proporção em 2013, ao ser tornarem elementos dos smartphones (RECUERO, 2014; PAIVA, 2016).

Os emojis foram considerados por Paiva (2016) como um tipo de linguagem cibernética, que se popularizou no meio virtual. Atualmente, há uma gama de emojis que tentam exteriorizar não somente as expressões e sentimentos dos usuários, mas alguns objetos, profissões, setas, bandeiras, alimentos e outras situações que possam ser usadas a qualquer momento, representando alguma ideia. É uma forma caricata de expressar as reações das pessoas por um meio em que não se tem uma relação direta e pessoal, mormente off-line, ou seja, os atores não estão cara-a-cara.

28 Nessa situação, são os considerados Smiley. Trata-se de um tipo de representação de gestos ou emoções que tem como finalidade humanizar a CMC (PAIVA, 2016).

Figura 8 _ Teclado dos Emojis do WhatsApp Fonte: WhatsApp (Print Scream)

Outras formas também são utilizadas dentro da CMC, como é o caso da utilização da arroba (@) e da hashtag29 (#). Esses símbolos são utilizados por algumas plataformas –

Facebook, Instagram, WhatsApp, Twitter – para definir um direcionamento de uma postagem

(RECUERO, 2014). Além desses símbolos, dos emojis e da própria linguagem escrita no meio virtual, há a utilização exacerbada de onomatopeias que simulam sons da linguagem oral. Como exemplo de onomatopeias tem-se a escrita “hehehe” que significa risada, como “rsrsrsrs” e até mesmo “hauhauhau”. Outra forma manipulada na CMC é a entonação dada a partir da repetição de determinadas letras – “oiiiiiiiiiiiii” é um exemplo claro disso (RECUERO, 2014). Esse fato é muito comum dentro do meio virtual, uma vez que a comunicação escrita não apresenta sons, estando a onomatopeia e a repetição de letras como uma prosódia.

Uma das grandes transformações provindas dos meios virtuais é a utilização de abreviações. Essa circunstância ocorre para favorecer a velocidade da escrita e da comunicação. “Blz” (beleza), “vc” (você) e “tb” (também) são algumas das abreviações mais utilizadas no dia a dia (RECUERO, 2014). Para Paiva (2005), os professores têm tido contrariedades no processo de formação educacional devido às novas formas de comunicação, além de dificuldades de contextualização, de assimilação fonética, produção textual e gramática, o que interfere negativamente na aprendizagem e na utilização ortográfica e gramatical.

Por fim, há na CMC determinados rituais que caracterizam essas interações, composto de expressões verbais e não verbais, assim como o silêncio, a persistência, a identificação do conteúdo e outros. Ressaltamos dois tipos de comunicação presentes nos turnos30, a conversação síncrona e assíncrona. A primeira diz respeito aos diálogos que ocorrem de imediato, como no Messenger, WhatsApp e outros. A ponto de clareza, não necessariamente o imediato é como em uma conversa face-a-face, mas o tempo de resposta é mais curto. Isso

29 Para Recuero (2014) “Hashtag é uma informação de contexto, normalmente composta do sinal # (hash) e uma tag (etiqueta – uma ou duas ou várias palavras).” (p. 39).

difere da conversação assíncrona, em que o contato ou resposta de outro usuário pode ter uma temporalidade maior, não havendo uma sequência bem delineada, como ocorre nos blogs, fóruns, e-mails e outros (RECUERO, 2009a; 2014).