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CAPÍTULO 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

2.1 Análise de Conteúdo: procedimentos metodológicos

2.1.2 Codificação

O próximo processo realizado após a organização da análise foi a codificação, que tem como sinônimo o tratamento do material. “A codificação corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, [...], permite atingir uma representação do conteúdo ou da expressão [...]” (BARDIN, 2016, p. 133). Esse momento possibilitou uma melhor descrição das informações, tornando-as unidades de registro. Para realizar esse processo foi necessário compreender o que vem a ser unidades de registro e de contexto. Para isso, Bardin (2016) e Franco (2018) enumeram algumas informações que devem ser compreendidas para fins de organização, tais como a unidade de registro e a unidade de contexto.

A unidade de registro tem relação com as categorias sistematizadas, sendo a unidade de significação. Essa unidade possibilita uma quantificação da frequência das unidades (BARDIN, 2016; FRANCO 2018). Vários tipos de elementos podem ser analisados para a construção da unidade de registro, sendo: i) a palavra; ii) o tema; iii) o personagem; iv) o item (Quadro 2).

Para que a Análise de Conteúdo tenha um aprofundamento e uma boa articulação, o ideal é que não seja escolhido somente um tipo de elemento. O ideal é que seja utilizado de forma conjunta, a fim de agregar mais informações para os resultados da pesquisa. Essa análise em conjunto possibilitou uma leitura mais ampliada, facultando uma análise de informações

que possivelmente não seriam identificáveis quando tratado somente um tipo (FRANCO, 2018).

Destarte, o presente trabalho utilizou dois itens, palavra e tema, para tratar dos dados obtidos a partir da postagem na página “Quebrando o Tabu”. Para a análise das palavras, foram selecionadas apenas as palavras-chave20 registradas no material de análise, sobretudo elencando e distinguindo os substantivos, adjetivos e verbos mais utilizados. A escolha do tipo tema é devida à sua importância para descobrir os “núcleos de sentido” (BARDIN, 2016, p. 135) da sentença, discernindo os significados presentes no texto analisado. Bardin (2016) aponta que tema é utilizado quando analisadas as opiniões, atitudes, valores, crenças, entre outros aspectos. À vista disso e pela chamada da postagem, entendemos que os comentários postados são representativos quanto às opiniões de atores, alicerçados em seus valores, crenças, princípios, educação etc.

Quadro 2 _ Tipos de elementos para a unidade de registro, segundo Franco (2018)

Tipos Descrição

Palavra

“[...] é a menor unidade de registro usada em Análise de Conteúdo. Pode ser uma simples palavra (oral e/ou escrita), um símbolo, ou um termo.” (p.44)

Tema

“[...] O Tema é uma asserção sobre determinado assunto. Pode ser uma simples sentença (sujeito e predicado), um conjunto delas ou um parágrafo.” (p. 45)

“O Tema é considerado como a mais útil unidade de registo, em análise de conteúdo. Indispensável em estudos sobre propaganda, representações sociais, opiniões, expectativas, valores, conceitos, atitudes, crenças.” (p. 45)

Personagem

“[...] Refere-se a pessoas particulares passíveis de serem classificadas de acordo com diferentes indicadores: nível socioeconômico, sexo, etnia, educação, escolaridade, nacionalidade, religião, etc.” (p. 46)

Item

“[...] É a unidade de registro a ser utilizada quando um texto, um artigo literário, um livro, ou um programa de rádio são caracterizados a partir de alguns atributos definidores.” (p. 47)

Fonte: Franco (2018, adaptado)

20 Selecionamos essa forma por entendermos que o material contém um número muito extenso de palavras (15.838), havendo determinados termos que não são pertinentes e cabíveis. Observamos que a escolha de utilizar as palavras-chave é um recorte possível a partir da proposta de Bardin (2016).

As unidades de contexto foram outro aspecto levado em consideração. Na concepção de Bardin (2016), essas unidades servem como base para a análise da unidade de registro, onde a primeira viabiliza a codificação da segunda, sendo necessárias para entender a significação da unidade de registro. Franco (2018), acompanhando essa premissa, realiza uma analogia como se fosse um “pano de fundo” (p. 49) para a Análise de Conteúdo. A autora (2018) aponta a necessidade de se realizar as devidas análises e interpretações dos textos, corpus, documentos a serem decodificados, não analisando somente um ator, mas entendendo que emissor e receptor são fundamentais para a codificação. Destarte, amplia-se a concepção sobre significado e sentido emitidos pelas mensagens. Dentre essas informações, ressalta-se que para a Análise de Conteúdo, sobretudo da análise das mensagens, é necessário entender o contexto em que esses emissores e receptores estão envolvidos, “[...] a partir do qual as informações foram elaboradas, concretamente vivenciadas e transformadas em mensagens personalizadas, socialmente construídas e expressas via linguagem (oral, verbal ou simbólica) que permite identificar o contexto [...]” (FRANCO, 2018, p. 51).

Para que essa unidade de contexto seja atendida neste trabalho, foi necessário repensar o atual cenário político, social, cultural, econômico e histórico do Brasil, assim como a emergência das redes sociais, lócus de uma heterogeneidade de identidades, imposições ideológicas, religiosas, políticas, e que, principalmente, se tornou um espaço aberto para exposições de ideias e princípios que, por vezes, não possuem fundamentação técnica e específica sobre as temáticas tratadas (RECUERO, 2009a; 2009b; 2014; LÉVY, 2010; MARTINO, 2015; CASTELLS, 2018). E nesse sentido, o contexto em que o país se encontra, a luta pela igualdade e equidade de direitos, as buscas por melhorias nos mais diversos campos, o posicionamento político fundamentalista, extremista e autoritário de alguns sujeitos (políticos ou não), pode inferir sobre a sociedade como um todo, provocando uma “onda” de opiniões divergentes de tudo aquilo que foge as convenções sociais estabelecidas ou ideias de uma sociedade mais igualitária. O cenário atual brasileiro, em especial no que concerne aos movimentos e estudos de gênero e esporte, serviram de “pano de fundo” para a construção da unidade de contexto que deu base para a construção das análises de registro.

Outro passo importante para a Análise de Conteúdo, principalmente na fase de codificação, foi a enumeração. Foi realizada a contagem de frequência em que as unidades de registros estabelecidas aparecem dentro do corpus do material selecionado. Quanto maior a frequência de determinada unidade de registro, maior é a significância (BARDIN, 2016). No caso deste trabalho, será apresentada posteriormente a frequência das unidades de registro. No entanto, não foi utilizada a frequência ponderada, visto que não almejamos intensificar

determinadas unidades de registro, mas apenas apresentar como tem sido e qual a frequência de determinadas unidades.