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A LUTA PELO IDEAL

No documento HISTÓRIA DE UM HOMEM (páginas 184-200)

Estranho ser o super-homem, envolto em terrível tragédia de incompreensão e de martírio, destinado a ser odiado pelos homens normais, inferiores, egoístas, invejosos e rivais; odiado porque detestamos quem destrói o que nos parece superior. Aceita-se o que se pode desfrutar. O gênio é sobretudo sensibilidade e isto é sinônimo de sofrimento. Todo mundo parece refletir-se no espírito superior; tudo encontra eco em seus nervos e em seu cérebro - como se eles fossem órgãos nervosos e cerebrais do ser coletivo. Ou a antena com que o super-homem explora o futuro, o centro da síntese consciente da humanidade, o extremo limite das dores e dos esforços de toda a vida terrestre. É como se o super-homem fizesse seu todo o cansaço da ascensão do mundo, bem como todos os seus perigos e sofrimentos. O ser superior, o gênio, seja ele pensador, herói, chefe ou santo, não tem atrás de si senão um rebanho brutal que desconfia, destrói, rouba-lhe a tormentosa conquista que, no entanto, lhe reprova. Tem diante de si a vertigem do mistério e o dever de explorá-lo. Ninguém o ajuda. Todos o consideram anormal e o condenam porque ele não compartilha do gosto e opiniões dos demais. Debate-se numa terrível inaptidão para viver como os outros, que o olham com suspeição. Mas ele é um hipersensível e não pode senão viver em plano mais alto e enxergar mais longe. Quando se é de tal tipo, tem-se irrevogavelmente uma missão e se está fatalmente destinado ao martírio. Isso é certo, pelas leis da vida, para todos os que subiram àquele nível. Não lhe resta, então, outro caminho senão a do heróico triunfo do mártir. É inútil querer recuar.

A humanidade, que alimenta a sua vida e deve o seu progresso às conquistas do gênio, já fez notar, historicamente, que não o protege nem o encoraja, nem mesmo o deixa trabalhar em paz. O que costuma fazer é condená-lo e persegui-lo. Ela é, portanto, uma ladra daqueles atormentados produtos a que, num regime de justiça e não de violência e de usurpação, não teria direito. O sistema pelo qual a grande massa dos medíocres trata os homens superiores, a quem tanto devem, é sempre o mesmo: indiferença ou perseguição. Depois, tarde demais, compreensão, exaltação e desfrutamento. Mas nada de auxílio nos momentos úteis. Assim deve ser, porém, porque o inferior ignorante deve ser arrastado para cima mesmo contra sua vontade, para que o gênio nada deva à sua imbecilidade e, afinal, porque a missão que o gênio cumpre nutre-se sobretudo de luta e martírio.

Serão tais seres felizes? Em confronto com a fácil e alegre inconsciência de uma existência vegetativamente satisfeita, a sua vida é muitas vezes uma pavorosa sensação de viver, cheia de ânsia e de tristeza. Uma inteligência maior não pode se manter iludida pelas miragens comuns e traz consigo novas necessidades, uma grande insaciabilidade e um cansaço oriundo de mais vastas indagações. A inteligência é um dom que cria para os outros, e não apenas fonte de prazer para o seu possuidor. Somente os tolos acreditarão o contrário. A inteligência é apenas uma posição de vanguarda para um trabalho de vanguarda, mais difícil, mais forte, mais perigoso e de mais pesado dever, porque é mais consciente que os outros. Se o gênio tem uma felicidade, ela é diferente da comum, cansativa e heróica, produzida principalmente pelo poder da criação. Neste poder está a desforra daquela alma que, no plano humano é abatida, sozinha e sofredora. Neste poder está a sua ressurreição, seu triunfo, sua justificação. Mas a insatisfação das coisas humanas não se estagna num estéril pessimismo, não parece como negativa amargura, mas se torna agente de reação, impele para subir e descobrir. Só os insatisfeitos são levados a criar. E essa angústia, que os normais chamam de loucura, conduz a um trabalho que termina sempre por encontrar alguma coisa que servirá para todos, inclusive para os ociosos e ignorantes que julgam e condenam. O gênio trabalha, pois, sobretudo, para os outros. Essa é a sua missão, a sua felicidade. Para si mesmo, é um infeliz; não lhe é dado conforto algum, apesar de tanto o necessitar e merecer. Tem diante de si imenso trabalho; sabe que sua vida é um martírio, e sabe também que lhe está confiado o progresso do mundo. Gostaria de ter mil braços para trabalhar, mil bocas para falar, não podendo deter-se na autocompaixão, coisa insignificante, que para os outros merece tanto cuidado e proteção. A sua alegria é criar; criando, ele esquece o próprio tormento. Sabe que faz o bem e, se o presente o compreende, lança sua voz às gerações futuras, porque sabe que suas palavras serão recolhidas. Sua comunhão com os próprios semelhantes é comunhão de sacrifício e de dádivas.

Às vezes o gênio oferece o trágico espetáculo de um ser que parece do outro mundo, descido a uma terra que não é a sua, caído aqui embaixo, onde fica se debatendo desesperadamente com as asas mutiladas, ferindo-se e sangrando ali, onde para os outros a alegria é tão fácil. Fecha-se, então, num isolamento carregado de tristeza e aí canta, cheio de melancolia,

uma estranha melodia de arrebatamento que jamais se cala, de fome que jamais se sacia, de tristeza que não tem consolo. Este canto de dor é o mais profundo canto da vida, é a música mais intensa e sutil, que piedosamente nos embala ou tragicamente nos abate. O homem comum fica do outro lado a ouvi-lo, sentindo que naquele canto um raio desce do céu e o véu que cobre o mistério foi arrancado ao sangrento cansaço do gênio.

Mas há também a tragédia oposta, a tática do humano para alcançar o ideal. Ao lado da fatalidade desejosa de que o alto se faça humilde para se tornar acessível, há uma outra fatalidade, que persegue o humano com toda a sua impotência em direção ao inacessível divino. É estranho: o mundo, detesta e combate tudo isto, no entanto se sente dominado por uma instintiva atração, por um pressentimento de futuro que o deixa fascinado. A matéria odeia o espírito, mas depende dele. O inferior detesta o superior e rebela-se contra ele, mas sente a sua força e acaba por obedecer- lhe. É o que ordena a invencível lei da evolução.

Pois se o mundo se rebela; se a realidade biológica impede os passos rumo ao ideal; se a terra é ambiente absolutamente inadequado às afirmações do céu, mesmo assim percebem, por um instinto em formação, ainda confuso, a superioridade do espírito. Mas que canseira a do espírito, para dominar a matéria! E que impotência a da matéria para seguir o espírito! A maior luta do mundo é travada contra si mesmo para vencer a atração que o impele irresistivelmente para o espírito. O ideal evangélico é um enigma para o homem, porque lhe repugna, lhe é difícil, cansativo e, ao mesmo tempo que um convite, uma censura muda, uma ordem: e esse ideal se lhe apresenta como atração e repulsão, contradição de forças que, por caminhos opostos, o agita e interessa. Há para o homem, naquelas doces palavras desarmadas, uma ordem irresistível como uma ameaça.

A grande tragédia humana está se aproximando deste dualismo: reconhecer no íntimo a superioridade do ideal e não o saber realizar; sentir a sua grandeza e beleza e convencer-se da própria impotência, o que gera a aversão e a revolta; compreender que existem formas mais altas de vida que se podem viver, e que são inacessíveis; ver de longe o céu e não poder alcançá-lo; conceber na mente o sonho, mas não ver senão a própria

miséria. No fundo da utopia do ideal há esta grande paixão humana de não o poder realizar.

Todos sabem que a vida humana é a que o homem deseja, mas ninguém sabe desejar acima da animalidade, porque elevar-se, isoladamente, para o mais alto é martírio e do martírio se foge. Cada um de nós espera que o vizinho o faça, como o vizinho o espera de nós. E se um homem de exceção o tenta sozinho, todos se encarniçam em destruir esta insuportável vergonha de todos. A guerra que se move aos que realizam o ideal mostra que os homens o sentem, até demais. Nada o ofende mais do que a visita de um ser que se empenha em ensinar e que já conquistou aquelas virtudes que ele receia jamais poder alcançar. Desta ofensa nasce uma guerra que, se é vingança da impotência, é-o cheia de lágrimas. Assim, com um suspiro nascido do coração, o homem volta as costas ao arriscado impulso do ideal que pretende revolucionar a vida para melhorá-la e, preguiçosa mas seguramente, contentando-se com os velhos costumes, recai na solidez das leis biológicas conservadoras, econômicas e prudentes.

Homem e super-homem não são nesta batalha senão os atores movidos por forças profundas. A verdadeira guerra se trava entre as duas fazes contíguas da evolução; cada semente enfrenta a luta para germinar e cada vida para vir à luz. Sem dúvida, o passado sempre criou muito e representa o caminho mais experimentado e seguro, de resultados peneirados na aplicação prática, cujas vantagens o presente desfruta. Mas se estas normas construídas pelo passado são um guia, são, também, uma mentira e uma prisão. Os princípios foram recobertos por tantas incrustações, desviados por tantas adaptações humanas que já não se reconhecem. A alma humana continuou do mesmo modo a se desenvolver concebendo novas necessidades a ponto de não poder mais cingir-se aos antigos moldes. Se o passado representa segurança e o novo, ao contrário, representa risco, o progresso há de tal modo amadurecido tantas coisas que a pressão destas acabará impondo o desmantelamento daquela cômoda segurança, a tarefa da destruição do velho e a coragem e o risco da construção do novo. E um dia aparecerá a necessidade de se romper a velha casca protetora, porque a vida transborda de seus limites.

Assim, cada geração tem a vantagem de se utilizar das construções dos seus ancestrais e sente o ímpeto de se superar, destruindo e reconstruindo. A substância do fenômeno está sempre na fatal maturação evolutiva e na pressão interior do progresso que deseja romper e realizar-se. E então, finalmente, agarra-se a mão que o gênio inutilmente estendeu e se procuram avidamente, como elementos vitais, os progressos brotados de seu tormentos e que o homem, na sua louca agressividade inconsciente, não conseguiu destruir; e com essas centelhas se ilumina o caminho das ascensões humanas. Só então se cumpre a missão do gênio.

É, assim, compreensível a posição do problema evangélico ante o mundo e a razão do contraste entre terra e céu, colocando a questão não em forma racional e abstrata, mas biológica e prática.

Assim o nosso protagonista se orienta claramente, em plena consciência diante de sua última experiência no mundo e dessa compreensão tirara todo o possível rendimento da nova prova. Ele tinha agora diante do seu olhar as duas realidades: a do céu, que conhecera primeiro, e a da terra, que agora compreendia. A vida real apresentava-se-lhe como um duplo jogo; duas visões opostas que, exprimindo-se em linguagens diferentes, não se compreendiam. De um lado, o jogo curto do materialismo, hedonista e epicurista, que se apoia no passado, escolhe os caminhos da animalidade e os resultados imediatos, como o gozo, o bem-estar, a expansão no plano da matéria. De outro lado, o jogo longo do idealismo altruísta, que se apoia no futuro, escolhe o caminho do espírito e a realização longínqua, sacrificando a isso o presente, não se expandindo na terra, mas sim no céu. Em nosso mundo a vida oscila entre estes dois extremos. Míopes ou presbitas esbarram em dificuldade; cada vantagem é paga e compensada.

O jogo curto leva a vantagens imediatas e tangíveis. O resultado está próximo e é alcançado subitamente. É um método positivo, concreto, humano, o preferido pelas pessoas práticas. Conquista-se apenas o que se vê e já existe realmente sobre a terra. Mas este jogo tem um defeito grave: acaba-se com a morte, quando tudo desmorona deixando apenas as cinzas da ilusão. E mesmo antes disso, quantas traições, quantas lágrimas, que íntimo sentido de vacuidade nos resultados com tanto trabalho conseguidos! Por fim não resta na alma senão uma triste amargura de insatisfação, uma

pavorosa sensação de vazio, a certeza da inutilidade dos esforços realizados. O secreto instinto da evolução deixa-se prender pelo desespero final que é a herança de todos os que viveram inutilmente, isto é, sem progresso, sem evoluir.

O jogo longo é de resultados longínquos e de realizações demorada. Conquista bens imperecíveis, mas colocados fora da terra, num mundo que foge aos nossos sentidos. Compreende-se como dever ser construído com sabedoria e sofrimento, ao passo que os que gozam e vivem no ócio desperdiçam a vida e se destroem a si mesmos, o que é uma desvantagem, porque aquela conquista custa graves sacrifícios e lutas na vida presente. O instinto secreto da evolução satisfaz-se com as conquistas realizadas - mas quantos riscos e sacrifícios, que cansaço e que tensão em toda a vida!

Seja qual for o caminho escolhido, não há uma saída gratuita que nos livre do trabalhoso dever de evoluir. É inútil procurar animalizar-se. Há na alma humana uma necessidade instintiva de melhoramento, um irresistível sentido de insaciabilidade que fatalmente estimula e impele. E os caminhos terrestres são cansativos e inseguros. E então valerá a pena sacrificar a consciência e tanto trabalho por um resultado tão incerto? Sim! A moral biológica do mais forte, sempre vencedor, é viril e grandiosa; mas quantas tristezas, quantas traições, quanta miséria atrás da cena; que vís explorações, que instabilidade implica o sistema da força! Isso se reduz a uma luta sem tréguas.

Destas considerações devem ter nascido na Idade Média ideais de pobreza absoluta, de renúncia a tudo, que, do ponto de vista humano, são os ideais do desespero. Quanta paz dá à alma o Evangelho com sua confiança em Deus, ante esta atroz lei biológica que desencadeia todos os apetites, sem lhes garantir a satisfação! A que preço se vence! Que fadiga é a vida! E que desilusões se recolhem! Então a dificuldade move o instinto do progresso que estimula as tentativas de evasão do pestilento pântano terrestre. Então se realiza o esforço para elevar-se a qualquer custo. É assim que nos nosso tempos loucos de sapiência, doidos de dor, desesperados no bem-estar, torturados nos gozos, esta pobre humanidade, insatisfeita de tudo, armada até os dentes para defender a sua insegura posição, agita-se sem repouso em busca de caminhos mais altos, mais civilizados, mais dignos.

XXV

RESSURREIÇÃO

“Durch Sturm empor”16

BEETHOVEN Já agora, o nosso personagem tinha diante dos olhos, bem clara, a visão da verdade biológica, como da verdade evangélica e podia dirigir com perfeito conhecimento a continuação do seu caminho. Compreendera que, colocado assim biologicamente, o problema se tornava compreensível e que não a erudição, a abstração, os processos racionais, mas apenas o bom-senso prático e o contato experimental com a vida é que podiam oferecer a solução.

Encontrara, assim, na realidade, uma lógica que não é a dos silogismos e compreendera que a sábia resposta do oráculo especulativo de nada serve para a vida prática onde um homem qualquer sabe mais que um grande filósofo. E é este mínimo e sólido bom-senso do homem comum a pedra de toque dos grandes filósofos, o filtro que controla o seu valor prático, a medida de sua atuação. Se o homem da terceira lei não quer que o seu pensamento seja letra morta, deve estar sempre em contato com os homens da

primeira e da segunda lei aos quais aquele pensamento se dirige para sua aplicação. Muitos problemas propusera o nosso personagem a estes homens e obtivera a resposta.

Compreendera que era incompleto qualquer conhecimento que não levasse em conta a realidade biológica, à qual todos devem descer para atuar e onde tantos fenômenos falam, revelando seu pensamento diretor e animador. Aí estavam os pioneiros na vanguarda da evolução, os especializados na obra criadora de novos modelos de vida, as células sociais de função nervosa e cerebral, quais delegados da raça para cumprir o específico trabalho de antecipação evolutiva das futuras formas a serem realizadas pelas massas. Compreendera a razão de seu desequilíbrio e de seu fatal destino de solidão e martírio. Mas compreendera também a sua inderrogável função biológica, tão importante como a conservação individual da espécie; compreendera que, apesar de todos os obstáculos, a sua posição era verdadeira e se mantinha inviolável, acima de todas as condenações. Compreendera toda a lógica do complexo fenômeno da redenção humana e a fatalidade de suas leis; compreendera também a que explorações humanas os ideais se haviam de submeter no ambiente terrestre onde tudo se deve prestar, se deseja sobreviver, a produzir o rendimento útil: condição indispensável de sobrevivência na terra. Compreendera que degradação deviam os ideais suportar para que fosse possível sua assimilação na terra e como o homem normal impõe os seus limites e as sua condições, reduzindo tudo, inexoravelmente, à medida de sua própria compreensão; que aviltamento, que deformações são necessárias para fazer descer o céu aos usos comuns da terra, para que o homem comum possa apossar-se dele e utilizá-lo na sua própria evolução! Que imensa resistência oferece a inércia das grandes massas humanas e que dificuldades para vencê-la.

Mas só assim o ideal germina e frutifica. A visão da fatalidade da traição do mestre por parte de seus companheiros, das explorações e acomodamentos humanos, das distorções de consciência, das adaptações deformadoras mas necessárias à aplicação a uma realidade diversa - eis os maiores tormentos do homem que luta pelo ideal.

Não são os discípulos, geralmente, os maiores deformadores? No entanto, são necessários. Ele sofria com esta fatalidade que

assalta a criatura mais querida do homem da terceira lei, golpeando-o justamente no coração de seu trabalho.

Chegado a este ponto, o nosso personagem se impunha algumas graves questões:

O ser evoluído tem realmente, e até que ponto, o dever de se sacrificar pelo involuído? Tem o ser inferior, para sua elevação, o direito de tudo abaixar até si próprio e o ser normal o de trazer até seu próprio nível o supernormal, para ascender à sua custa? Quais são as relações entre o superior e o inferior e ao contrário, na hierarquia dos verdadeiros valores da vida que o homem representa? Tem o gênio o direito de se sacrificar, de descer e aviltar sua superioridade em homenagem ao amor evangélico a serviço do próximo? Por que a um homem que sofre não é uma injustiça que outro homem, embora seja um gênio, tente eximir-se, fugindo ao peso da inferioridade, isolando-se no culto único da elevação individual? Ou o super- homem tem o dever de se salvar primeiro a si mesmo, fugindo, se necessário, à normalidade e, para servir à sua própria elevação, terá o dever de se isolar e voltar as costas impiedosamente aos inferiores, deixando-os entregues ao seu triste destino? Este abandono será um dever ou um crime? Se não se devem dar pérolas aos porcos, dever-se-á deixá-los na pocilga? Ou cada aristocrático refinamento no espírito, seja ciência, arte ou santidade, não é um roubo a vida subterrânea dos primitivos e abandonados que pedem fraternal socorro? Por que um homem irmão sofre, tem-se direito à isenção de sua dor e à tentativa de fuga na alegria do triunfo espiritual do próprio e egoístico superamento? Pode-se, diante de um ser involuído, pensar primeiro e somente na sua própria involução? Deve-se, então, ser impiedoso e deixar para trás os que valem menos, para que estejam à frente os que valem mais? Na luta entre homem e super-homem, quem tem mais direito à vida? Até que ponto a piedade se pode impor à justiça e qual será o limite dos direitos do amor ante os direitos do progresso? Que valerá mais, biologicamente, a evolução ou o altruísmo evangélico? E a qual deles dar a preferência?

Orientemo-nos. Todos os homens se podem individualizar, agrupar e distinguir segundo as três leis biológicas que, como vimos, presidem ao funcionamento da vida. Estas três leis são os três planos ou níveis de altura do edifício da evolução. Destes três planos, os homens que neles estão situados

e os representam, mantêm-se em posições diversas pelas quais lutam mesmo sem o perceber. Mas é uma luta de seres que se procuram porque têm

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