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1. Modelos Regulatórios

1.7 O papel recente da Eletrobras

1.7.1 A manipulação dos preços de mercado

O Grupo Eletrobras, nos últimos 8 anos, tem buscado reassumir o protagonismo nos investimentos

greenfield do setor elétrico. Esta situação é comprovada pela consolidação do resultado dos leilões

de transmissão, conforme APÊNDICE II – Consolidação dos resultados dos leilões de Transmissão entre 2008 e 2015 – deste trabalho.

É possível notar que, a partir de 2013, o grupo Eletrobras praticamente desapareceu dos leilões. Isso ocorreu porque as principais subsidiárias do grupo (Chesf e Furnas) foram impedidas de participar de novos leilões, justamente, porque acumulavam atrasos superiores a 6 meses e mais de três multas emitidas pela ANEEL por conta destes atrasos (VALOR, 2013).

Com o objetivo de quantificar a participação das empresas do Grupo Eletrobras até 2012 (ou seja, antes deste impedimento) e a partir de 2013, consolida-se nas tabelas a seguir o resultado dos leilões destes dois períodos.

26 A única usina licitada por este modelo foi Três Irmãos, então operada pela Cesp, e que acabou sendo e didaàaoà o s ioàTiju à Fu asàeàfu doà Co sta ti opla àe à àdeàsete oàdeà2014. As demais usinas que não foram renovadas somente foram relicitadas no leilão 12/2015, já com base em outro modelo.

Tabela 13: Consolidação do resultado dos leilões de transmissão de 2008 a 2012

Total de Lotes 97

Lotes arrematados com participação do grupo Eletrobras 37

Lotes sem lances 5

% da RAP Vencedora ganha com participação da Eletrobras 43,00% % dos lotes com propostas ganhos com participação da

Eletrobras 38,14%

% dos lotes sem lances (no-show) 5,15%

Tabela 14: Consolidação do resultado dos leilões de transmissão de 2013 a 2015

Total de Lotes 85

Lotes arrematados com participação do grupo Eletrobras 8

Lotes sem lances 42

% da RAP Vencedora ganha com participação da Eletrobras 25,70% % dos lotes com propostas ganhos com participação da

Eletrobras 9,41%

% dos lotes sem lances (no-show) 49,41%

Fica evidente que, enquanto a Eletrobras podia participar dos leilões, sua participação era muito expressiva, chegando a representar 43% das receitas regulatórias auferidas. Naquele momento, acreditava-se que os leilões organizados pela ANEEL estavam perfeitamente equacionados, já que apenas 5% dos lotes não atraiam interessados.

No entanto, esta situação mudou completamente quando o Grupo foi impedido de participar de novos leilões: os no-shows subiram para quase 50% dos lotes. Mesmo assim, as participações minoritárias em conjunto com a State Grid e as participações avulsas da Eletrosul (não impedida de possuir participações majoritárias nas propostas), mesmo representando apenas 9,41% dos lotes ganhos, representou 25,7% das RAPs, demonstrando que a empresa não consegue se desvincular do papel de viabilizadora de investimentos greenfield.

Evidencia-se, portanto, como resultado do protagonismo da Eletrobrás nos leilões de transmissão:

 A falsa sensação de que o modelo criado pela ANEEL era um sucesso, fazendo com que a Agência insistisse em uma métrica de cálculo equivocada no valor-teto das receitas anuais;  O afastamento gradual da iniciativa privada, que – percebendo que apenas a Eletrobras

 O atraso sistemático das obras arrematadas pelas controladas da Eletrobras (ANEEL, 2015c) – comprovado pelo atraso médio de 1.100 dias nas obras da Chesf (que atinge 80% de obras em atraso) e de 1.400 dias médios nas obras de Furnas.

Esta situação representa prejuízos causados por restrições operativas no Sistema Elétrico Nacional (SIN) que superam, inclusive, o valor da própria linha de transmissão – devido à necessidade de acionamento de usinas térmicas para compensar as restrições do sistema (ONS, 2013), evidenciando que não é benéfico ao país a participação do grupo Eletrobras em leilões de transmissão.

1.7.1.2 O caso da usina de Belo Monte

Na época em que foi licitado, o projeto de Belo Monte ofertou um valor-teto por MWh de R$83,00 – o que foi considerado muito baixo pelo mercado, que rejeitou o preço pelos riscos associados a um projeto daquela magnitude. Mesmo assim, o leilão foi levado adiante pelo governo, que a edita aà ueàoà alo àe aà justo .àNoàe ta to,àte e doàu àno-show no leilão, a Eletrobras foi acionada não só para participar do certame, como também para simular uma concorrência entre suas controladas, que apresentaram deságios umas contra as outras.

Os acionistas da Norte Energia, que ganhou a concorrência simulada, atualmente são27: Eletrobras

Holding (15%), Chesf (15%), Eletronorte (19,98%), os fundos de pensão Petros (10%) e Funcef (10%), Neoenergia (10%), Amazônia (joint-venture entre Cemig e Light, com 9,77%); Aliança Norte Energia (formada por Vale e Cemig, com 9%); Sinobras (1%) e J. Malucelli Energia (0,25%). Observa-se que Eletrobras e fundos de pensão controlados por empresas federais somam 70% do capital social da usina (VALOR, 2016).

O outro consórcio que apresentou lances foi o Belo Monte Energia, cuja composição era Furnas (24,5%), Eletrosul (24,5%), Andrade Gutierrez (12,75%), Vale (12,75%), Neoenergia (12,75%) e Companhia Brasileira de Alumínio (12,75%) (ANEEL, 2010a). Observa-se, portanto, a situação absurda onde os dois consórcios que se dispuseram a entrar no certame pelo preço-teto ofertado pelo governo eram liderados pela mesma empresa (Eletrobras), gerando um deságio de 6,02% que fezàaàáNEELàeàaàEPEàdi ulga e à ueàaà o o iaà ha iaàsidoàu àsu esso .à

27 Originalmente apenas a Chesf reunia 49,98% de participação no consórcio; as demais empresas do grupo Eletrobras entraram no decorrer da construção, pela venda de cotas dos demais acionistas.

Ressalta-se que Vale e Neoenergia (acionistas do consórcio perdedor e que posteriormente compraram cotas do consórcio vencedor) são indiretamente controladas por empresas federais ou por fundos de pensão de empresas federais, sendo:

 Neoenergia: 12% do Banco do Brasil, 49% da Previ

 Vale: é controlada indiretamente, por meio da VALEPAR, pelos fundos Previ, Petros, Funcef e Funcesp - reunidos na holding Litel, e diretamente pelo governo, via BNDESPar (VALOR, 2011).

O projeto estoutou o orçamento em mais de 100% (VEJA, 2013), foi paralizado por dizersas vezes e teve o cronograma revisto.