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1. Modelos Regulatórios

1.4 A regulação discricionária do segmento de distribuição

1.4.4 Parcela B CAPEX

A cada ciclo tarifário, no processo de Revisão Tarifária, a ANEEL aprova a Base de Remuneração das Concessionárias de distribuição de Energia Elétrica. É composta pelo Ativo Imobilizado em Serviço (AIS) conciliado e valorado a Valor Novo de Reposição (VNR), deduzido da parcela de depreciação e do índice de aproveitamento dos ativos, calculando-se assim o Valor da Base de Remuneração (VBR). A este valor é acrescida ainda a parcela de Almoxarifado de Operação e deduzida a parcela de Obrigações Especiais (esta última, correspondente aos investimentos realizados com recursos de terceiros, que a partir do 4º Ciclo passará a ser parcialmente remunerada).

Ressalta-se que a Base de Remuneração é fundamental para definir a remuneração da concessionária de todos os investimentos (CAPEX) realizados, bem como a quota de reintegração que será dada para repor a parcela de depreciação dos ativos imobilizados. Assim, uma Base de Remuneração mal dimensionada, mal conciliada ou mal calculada interferirá, diretamente, na única parcela direta de remuneração da Distribuidora pelos próximos quatro anos. Por isso, este é o ponto mais sensível de todo o processo de Revisão Tarifária e aquele que merece maior atenção

por parte da Concessionária. Ressalta-seà ueàaà etodologiaàdeà Valo àNo oàdeà‘eposição àte à por objetivo retirar eventuais ineficiências do custo contábil do ativo, tentando avaliá-lo pelo que se iaàoà alo à justo àeà deà e ado àpa aàa uelesà e s.àCo oàoà o teà dasà e is esà ta if iasà à curto (período de 4 ou 5 anos), normalmente não há grandes avanços tecnológicos a ponto de comprometer a valoração do equipamento. Uma vez avaliado, seu valo à à li dado à eà segueà sendo apenas atualizado pelo IGP-M, até o final de sua vida útil14.

Ainda, e mais importante, a Base de Remuneração líquida é a parcela a ser ressarcida pelo Poder Concedente em caso de término da Concessão, o que faz dela um fator muito sensível à empresa. Por isso, sua significância não pode ser resumida às parcelas de Remuneração e de Reintegração. Vale ressaltar que a BRR não é baseada em valores contábeis, e sim em uma metodologia própria de avaliação de ativos definida pela Aneel. O submódulo do Proret a ser observado será o 2.3 (Base de Remuneração Regulatória), e diversas alterações foram feitas no 4º Ciclo: até maio de 2016, o VNR era calculado a partir do histórico de compras da própria concessionária (que, por eioàdeàu aàfis alizaçãoàdaàáNEEL,àti haàe e tuaisà alo esà aà aio àglosados,àfi a doàape asà o àosà alo esà pu os .àáàpa ti àdeàjunho de 2016, parte do valor dos equipamentos (referentes aos componentes menores, também chamados de equipamentos assessórios, e aos custos adicionais, que são os custos diretos e indiretos de instalação) será calculado a partir de um valor médio de mercado, dividido por cinco clusters diferentes (ANEEL, 2015a).

Remuneração do Capital

Sobre a Base de Remuneração Líquida, isto é, o Valor Novo de Reposição menos Índice de Aproveitamento, Depreciação e Obrigações Especiais, acrescido do Almoxarifado de Operações e do Ativo Diferido, incide o percentual de Custo de Capital aprovado (WACC15). Como dito

anteriormente, é de fundamental importância que a Base de Remuneração aprovada para a Concessionária reflita corretamente a realidade dos investimentos, posto que esta será a partida do cálculo da Remuneração que a distribuidora terá sobre seus ativos.

14 Esta diferença de aplicação é fundamental para o segmento de geração: enquanto nas distribuidoras o VNR é calculado para investimentos de, no máximo, 5 anos, na geração o VNR (para fins de indenização) foi calculado para usinas construídas há mais de 30 anos, gerando distorções muito grandes no preço dos equipamentos e mesmo das instalações civis, por conta de mudanças nos procedimentos e custos de construção, condicionantes sócio-ambientais, etc.

15 Weighted Average Cost of Capital. É o custo médio ponderado de capital reconhecido pela Aneel para o ciclo, e sua metodologia de cálculo pode ser verificada no Submódulo 2.4 do Proret. Atualmente o WACC das distribuidoras é de 8,09%. No 3º ciclo era de 7,50%.

Ressalta-se que também é segregada a parcela referente à Reserva Global de Reversão – RGR recebida pela Concessionária para fins de financiamento do Programa Luz Para Todos – PLPT, sendo reconhecido apenas os juros reais pagos por este empréstimo.

Quota de Reintegração

Sobre a Base de Remuneração Bruta, isto é, o Valor Novo de Reposição menos Índice de Aproveitamento, as Obrigações Especiais Brutas e os bens totalmente depreciados, incide o percentual médio anual de depreciação dos ativos da Concessionária. Este valor representa a Reintegração Regulatória, ou seja, a parcela em R$ que a Concessionária receberá para substituir os ativos atualmente em serviço quando atingirem sua via útil máxima.

Exemplo de Aplicação

Para ficar claro como o Valor Novo de Reposição (VNR) se transforma em QRR e em RC, demonstra-se a seguir a tabela do 3º Ciclo de Revisão Tarifária da Copel. Nela, percebe-se que o VNR é calculado pela linha (1), retirando-se o índice de aproveitamento (terrenos e equipamentos fora de uso ou com uso superestimado e que, por isso, foram desconsiderados pela ANEEL), as Obrigações Especiais (ou seja, ativos que foram pagos por terceiros) e os bens totalmente depreciados (que, como a ANEEL considera – no segmento de distribuição – que a amortização do principalàsegueàaàdep e iaçãoà o t il,àe ui ale àaosàati osàtotal e teà a o tizados àpelaàta ifa à at à ueàseà hegueà à Baseàdeà‘e u e açãoàB uta ,àouàB‘‘ à li haà .àMultipli a doàaàB‘‘ àpeloà percentual médio de depreciação anual (linha 17, equivalente a 3,69% ao ano) tem-se a Quota de Reintegração Regulatória – QRR (linha 18).

Tabela 4: Base de Remuneração da Copel – DIS aprovada no 3º Ciclo de Revisão Tarifária

Fonte: Audiência Pública 17/2012, ANEEL

Continuando o cálculo, retira-se a parcela residual da depreciação acumulada, soma-se terrenos (que, como não são depreciados, não sofrem reintegração – sendo apenas remunerados) e algumas outras parcelas como Almoxarifado de Operações (média dos 12 meses anteriores à montagem do laudo de avaliação) e o ativo diferido (sempre zero, a partir do 3º ciclo), chegando- seà à Baseà deà ‘e u e açãoà Lí uida ,à ouà B‘‘là li haà .à Multipli a do-se a BRRl pelo WACC vigente no ciclo tarifário, tem-se a Remuneração de Capital – RC (linha 19).

Assim, os ativos avaliados possuem uma amortização constante, e uma remuneração decrescente, até que se chegue ao final da vida útil do ativo – em um método idêntico ao Sistema de Amortização Constante (SAC) utilizado em financiamentos de imóveis.

Há, entretanto, um grave problema com a forma de cálculo da QRR e da RC das distribuidoras: em um modelo de fluxo de caixa descontado, sabe-se que os primeiros anos sempre são os mais importantes nas receitas, já que o desconto acumulado é menor e o valor presente, maior.

Neste contexto, as distribuidoras sofrem com o reconhecimento de seus investimentos somente no processo ordinário de Revisão Tarifária – fazendo com que os ativos fiquem até 5 anos sem reconhecimento. Além disso, como dito anteriormente, a metodologia da ANEEL assemelha-se a

u aàta elaà“áC.àIssoàsig ifi aà ueàfi a à àa osàse à e e e àQ‘‘àeà‘Càfazà o à ueàaà aio à ea à da pirâmide formada pelo pagamento do investimento ao longo do tempo seja perdida16.

Tabela 5: Exemplo de perda financeira pelo timing do reconhecimento do CAPEX (considera, para fins ilustrativos, ciclo de 4 anos, WACC de 8% e Depreciação Anual de 10%)

# Bruta Dep QRR Líq. RC PB- CAPEX (devida) PB- CAPEX (real) 1 10.000,00 10,00% 1.000,00 9.000,00 720,00 1.720,00 - 2 10.000,00 20,00% 1.000,00 8.000,00 640,00 1.640,00 - 3 10.000,00 30,00% 1.000,00 7.000,00 560,00 1.560,00 - 4 10.000,00 40,00% 1.000,00 6.000,00 480,00 1.480,00 - 5 10.000,00 50,00% 1.000,00 5.000,00 400,00 1.400,00 1.400,00 6 10.000,00 60,00% 1.000,00 4.000,00 320,00 1.320,00 1.320,00 7 10.000,00 70,00% 1.000,00 3.000,00 240,00 1.240,00 1.240,00 8 10.000,00 80,00% 1.000,00 2.000,00 160,00 1.160,00 1.160,00 9 10.000,00 90,00% 1.000,00 1.000,00 80,00 1.080,00 1.080,00 10 10.000,00 100,00% 1.000,00 0,00 0,00 1.000,00 1.000,00 TOTAL 10.000,00 3.600,00 13.600,00 7.200,00

Figura 3: Representação gráfica da Tabela 5

Ressalta-se que, em dezembro de 2014, a ANEEL avançou na regulamentação da regra de Revisão Tarifária das geradoras de energia cotistas, atingidas pela lei 12.783/2013. Por meio da Resolução Normativa 642/2014, publicada em 16 de dezembro, a ANEEL inovou no reconhecimento dos ati osà i e e tais à destasà o essio ias,à passa doà aà e o he e à oà alo à o t ilà destesà investimentos nos processos de Reajuste, calculando o VNR no processo de Revisão Tarifária e ajustando variações positivas ou negativas ex-post. Tratamento similar foi dado para as

16 Para um estudo mais profundo sobre o tema, verificar FARIA, Diogo. A Revisão Tarifária e a Estratégia do Negócio. XVII Seminário de Planejamento Econômico-Financeiro do Setor Elétrico – SEPEF / FUNCOGE. 2013.

- 500,00 1.000,00 1.500,00 2.000,00 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 PB-CAPEX (devida) PB-CAPEX (real) Volume financeiro perdido pelos 4 anos

transmissoras renovadas, conforme submódulo 9.7 do Proret, que reconhece o valor previsto no plano de investimentos.

Tal reconhecimento organiza o fluxo de caixa das concessionárias e passa uma sinalização correta ao investidor, que até então era estimulado a concentrar seus investimentos no ano da revisão ordinária, o que causava problemas de natureza técnica e operacional.

Assim, este problema das distribuidoras não será observado no segmento de geração cotista.