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2. A Medida Provisória 579/201

2.3 A receptividade do mercado em 2012

Como visto no capítulo anterior, o mercado precisava analisar a proposta do governo federal com base em três variáveis principais:

Variável 1: Indenização

Pergunta a ser respondida: O valor ofertado pelos investimentos não amortizados atende ao disposto na lei 8.987/1995? Ressalta-se que o termo aditivo exigia que a concessionária que aceitasse os termos propostos renunciasse a qualquer direito adicional, isto é, se as empresas entendessem que o valor era insuficiente para cobrir seus investimentos não amortizados, deveria optar por não renovar, judicializandoàaà uestãoàap sàoàfi alà o di io àdoà o t ato.

CLÁUSULA SEGUNDA - OBJETO DO CONTRATO

Subcláusula Segunda - A Concessionária renuncia a quaisquer direitos preexistentes que contrariem o disposto na Medida Provisória nº 579, de 11 de setembro de 2012, e nas relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência, que se conservarão por ela regidas, ou na Lei a que venha a ser convertida, referente à concessão relacionadas no Anexo 1 deste Contrato.

Variável 2: Antecipação do fim do contrato

Pergunta a ser respondida: Qual a receita da qual as empresas precisariam abrir mão, de janeiro deà àat àoàfi à o di io àdoà o t atoàdeà o essãoà àaà ,à o side a doà ueàseus contratos no ACR estavam vencendo, e que elas poderiam comercializar livremente toda a garantia física das usinas neste período? Responder a esta pergunta dependia fundamentalmente de uma projeção do PLD para o periodo-teste, e o resultado desta análise deveria ser comparado com os potenciais ganhos auferidos nos 30 anos de prorrogação do contrato (próxima variável).

Variável 3: Revisão Tarifária

Pergunta a ser respondida: Quais os potenciais ganhos que a renovação do contrato por 30 anos podem trazer aos investidores? Aqui, devido ao curto tempo que as empresas tinham para analisar todas as possibilidades, a conta que foi feita foi simples: comparar a GAG-O&M com os custos reais de cada usina. A diferença seria o ganho teórico ao longo do novo período de contrato.

O resultado destas análises pelo mercado não poderia ter sido pior: a indenização não cobria nem mesmo o valor residual contábil dos ativos (VALOR, 2012a), mesmo sabendo-se que o valor contábil não sofre correção monetária e que, portanto, estavam sem atualização desde janeiro de 1996. Além disso, como visto no capítulo 2.2.2, as perdas financeiras pela impossibilidade de comercializar livremente a energia das usinas por no mínimo três anos, por si só, inviabilizava completamente a proposta do governo. Finalmente, o mercado constatou que a GAG-O&M proposta pela ANEEL não chegava a cobrir nem mesmo os custos reais das usinas – ou seja, na prática o negócio daria prejuízo, e não lucro.

Face a estes problemas, apenas o Grupo Eletrobras, a DME-Energética e a EMAE aceitaram as regras definidas pelo governo. O Grupo Eletrobras aceitou as regras por pressão do governo federal – o que foi, inclusive, informado pela empresa à ANEEL anos depois, tendo sido multada pela CVM por esta prática (G1, 2015). Já a EMAE renovou sua concessão de Henry Borden pois esta cumpre uma função de utilidade pública no município de São Paulo, que vai além da simples comercialização de energia elétrica – não sendo, inclusive, interessante comercialmente a nenhum outro operador44. Finalmente, a DME aceitou renovar a concessão de da PCH Antas I (8,6 MW) por

ser uma usina que era vinculada à sua distribuidora de energia (com mercado inferior a 500 GWh / ano, e por isso com a possibilidade de gerar parte da energia comercializada), já que a forma de reconhecimento de custos e de ativos é diferente, por fazer parte da tarifa da distribuidora.

Mesmo não sendo escopo deste estudo analisar o impacto da MP579 sobre o segmento de transmissão, ressalta-se que este também não aceitou bem as propostas em um primeiro momento, sendo que o conselho da CTEEP chegou reprovar a renovação de suas concessões – o

44 Desde outubro de 1992, a operação de Henry Borden (composto por duas usinas de alta queda (720 m), com 14 grupos de geradores que somam 889 MW) vem atendendo às condições estabelecidas na Resolução Conjunta SMA/SES 03/92, de 04/10/92, atualizada pela Resolução SMA-SSE-02, de 19/02/2010, que só permite o bombeamento das águas do Rio Pinheiros para o Reservatório Billings para controle de cheias, reduzindo em 75% aproximadamente a energia produzida em Henry Borden.

que gerou críticas por parte do governo e da ANEEL (VALOR, 2012b). Para contornar o problema, foi publicada a medida provisória 591/2012, que – para o segmento de transmissão – aceitava indenizar os ativos constituídos antes de maio de 2000 (chamados de Rede Básica – Sistema Existente, ou RBSE). Com esta alteração, todos os concessionários deste segmento aceitaram a proposta.

Tentanto obter o mesmo sucesso no segmento de geração, foi publicado o decreto 7.850/2012 que aceitava indenizar os ativos imobilizados após a entrada em operação da usina. No entanto, ao contrário do que ocorreu no segmento de transmissão, mesmo com este novo incentivo o conjunto das regras continuou não sendo atrativo, mantendo a decisão pela não-renovação de todos os agentes, exceto os já citados anteriormente.

A seguir demonstra-se um breve resumo das etapas que culminaram na conversão da MP 579/2012 na lei 12.783/2013, com as ações tomadas pelo governo e pelo mercado neste período.

 11 de setembro de 2012: O MME anuncia em Brasília as regras inicias para a renovação das concessões de Geração e Transmissão (MP 579), preocupando empresas e investidores.  9 de novembro de 2012: As Notas Técnicas da ANEEL e do MME são divulgadas, trazendo os

cálculos iniciais das receitas anuais e das indenizações

 22 de novembro de 2012: Após a Eletrobras sinalizar que aceitaria as novas regras, suas ações (ELET6) atingem R$7,05, contra R$25,37 de máxima nos 12 meses anteriores

 29 de novembro de 2012: Após os transmissores sinalizarem que não renovariam suas concessões pelas regras apresentadas, o governo publica a a MP 591, que autoriza a indenização dos ativos de Transmissão até maio de 2000, que ainda não estivessem depreciados

 30 de novembro de 2012: Após os geradores sinalizarem que não renovariam suas concessões pelas regras apresentadas, o governo publica o Decreto 7850, que autoriza a indenização dos i esti e tosàe àge açãoà ãoà o te pladosà oàp ojetoà si oà i e e tais

 04 de dezembro de 2012: Copel, Cemig, Celesc e Cesp não renovam suas concessões de geração, por não concordarem com as regras – e são acusadas de não colaborarem com a redução das tarifas anunciada pelo governo; por outro lado, todas as transmissoras sinalizam que aceitarão as regras propostas

 11 de janeiro de 2013: Publicada a lei 12.783, que consolida de forma definitiva todas as regras de renovação das concessões.