• Nenhum resultado encontrado

A mascarada e a legitimação do lugar social da mulher na

No documento UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO (páginas 184-193)

4 AMIGA LEITORA: FEMINILIDADE COMO MASCARADA EM

4.5 A mascarada e a legitimação do lugar social da mulher na

Até aqui nos ocupamos das primeiras versões de feminino veiculadas em Claudia. A escolha por Claudia dos anos 1960, contudo, não se revela uma preferência aleatória, haja vista a importância histórica dessa década, o que nos permite pensá-la como um período significativo

da história do país que trouxe a reboque mudanças de injunções culturais relevantes para a subjetivação de homens e mulheres e que, portanto, assume um papel de relevo na elaboração da mascarada feminina.

Compreendido como um importante elemento ilustrador das injunções culturais a que estão submetidas as subjetividades, o discurso midiático no qual Claudia se destaca promove versões temporárias de um feminino que podem ser pensadas como versões temporárias tributárias de uma mascarada que se pretende atualizada e que dizem respeito a um “como ser mulher”. Qualquer abordagem dessas versões de feminino produzidas por Claudia não pode dispensar a ideia de que existe uma relação dialógica entre as leitoras e a revista, relação essa que promove as atualizações constantes na mascarada feminina.

Considerar a dialogicidade dessa relação significa entender que esses modelos fabricados por Claudia ao longo dos anos sofrem ressonâncias do mesmo feminino que tenta abarcar, pois algo do feminino resulta semidito ou impossível de dizer, mesmo que se tente ouvi-lo. No entanto, o que a revista faz ao criar uma relação de proximidade com a leitora, ao chamá-la de amiga, é disponibilizar suas versões para os efeitos de significância concernentes à leitura dos enunciados que promove.

Assim, pode-se pensar que, por mais que haja uma letra editada, o destino das versões de feminino produzidas pela revista é sucumbir ao fracasso, é se tornar obsoleta, sendo, portanto inegável o papel das mudanças culturais para que essas versões se mostrem sempre defasadas. Fatores contemporâneos tais como a constante presença da mulher em espaços que antes lhe eram obstados, o fortalecimento do discurso feminista na atualidade, os dispositivos sociais forjados pela atualidade, as vicissitudes do capitalismo como modelo econômico que sustenta as relações de consumo nos permitem dizer que há importantes atualizações em curso dessas versões de feminino produzidas pelas revistas endereçadas às mulheres, por mais que esse não tenha sido o nosso objetivo neste trabalho, o que não nos impede de abordá-los.

Tal como qualquer publicação desse tipo, Claudia sofre os efeitos da mascarada que se atualiza constantemente e que não se retém em um enunciado, pois há uma significância que sempre remete à necessidade de um dizer mais sobre o feminino. Cada vez mais participativas na sociedade, as mulheres da contemporaneidade não podem ser tomadas pelas versões apregoadas pela versão sessentista de Claudia, nem se sentem totalmente representadas pelas versões a elas endereçadas, pois o que temos falado até aqui é que, em se tratando do feminino, há sempre o que resiste a ser dito e que incita a necessidade de se dizer duma outra forma.

Pode-se considerar que esse ponto de resistência, isso que resta e que se tenta sempre dizer à mulher, é o próprio efeito que do feminino se desprende e surge como elemento-base

das versões que Claudia insistentemente forja como modelo útil às mulheres.Essas versões de feminino direcionadas às leitoras precisam falar algo sobre as mulheres; por isso se cria um espaço, mesmo que muitas vezes de forma involuntária, para a elaboração e revisão dos modelos considerados importantes por cada linha editorial que idealiza a revista.

Vimos que quando essas revistas chegaram ao mercado editorial brasileiro, no início da década de 1960, foi necessário fomentar uma ligação de proximidade que levasse à formação de um público fiel à publicação. Isso foi viabilizado pela criação de um espaço de privacidade que permitia o vínculo revista e leitora marcado pela ideia de confidencialidade entre confidente – geralmente em cartas sobre temas tabu, “assuntos delicados” ou considerados impróprios para mulheres – e quem recebe a confidência.

4.5.1 “Da Amiga leitora” à mulher contemporânea

Atualmente, à leitora se endereça uma mensagem que “faça sentido” para uma mulher politizada, totalmente inserida no universo público e que, a despeito de sua presença constante em âmbitos anteriormente destinados aos homens, ainda necessite refletir sobre seu papel na sociedade. Apesar das mudanças evidentes pelas quais passou a concepção editorial de Claudia

ao longo dos anos, permanece em seu projeto um espaço considerável destinado a dicas de beleza, sugestões e conselhos sobre a vida íntima e sexual, o que aponta para um “saber fazer” sobre a feminilidade e sobre questões que tradicionalmente aludem ao feminino, revelando uma mascarada à disposição de todas as mulheres, ou, ao menos, às leitoras de Claudia.

Por sua vez, a leitora que, se já não considera Claudia uma igual, uma amiga ou confidente, ainda faz uso do espaço de cartas para dizer algo que a comove, dirige algo de uma demanda, mesmo que isso venha em um espaço cada vez mais editado e reduzido, perdendo o tom inicial de “consultório sentimental” para ganhar o aspecto de lugar de discussão e reflexão, sob o título impessoal de “Sua opinião” (VIDUTTO, 2010). Pensando nesse novo laço entre revista e leitoras e em todas as suas repercussões, consideramos ainda a vertente dialógica a sustentar essas versões de feminino e ao mesmo tempo denunciar esse resto a dizer, esse efeito do feminino que não cabe na revista; não fosse assim, a revista não teria mais razão de existir e teria perecido diante de tantas outras possibilidades de comunicação que a contemporaneidade engendra.

Pensar a respeito desse resto a dizer e concebê-lo como o que mobiliza novas versões de feminino a partir dos novos ditames da contemporaneidade nos faz questionar a relevância da mascarada para essa mulher que não é mais a amiga de Claudia, tampouco a leitora que faz

confidências em cartas assinadas por pseudônimos. As versões de feminino pensadas a partir da Claudia na atualidade contemplam a diversidade da mulher brasileira e buscam tratar os dilemas que se fazem presentes em sua vida social.

Para abordar as problemáticas típicas da atualidade, a revista traz em seu bojo discussões a respeito do manejo dos variados papéis e funções exercidos pela mulher que hoje já não se encontra restrita ao universo doméstico, representada pela figura mítica da rainha do lar de quem falava Carmen da Silva. A abordagem de assuntos que tradicionalmente eram vistos como de menor interesse pelo público feminino, como política e economia, revela uma tentativa de abordar a conjuntura sociocultural atual a partir da perspectiva feminina.

Apesar de mudanças substanciais na forma de tratar as temáticas concernentes ao universo feminino, Claudia mantém a linguagem coloquial e continua utilizando o narratário explícito designado por “você”; isso se evidencia logo nas primeiras páginas dos exemplares atuais da revista, em que a leitora é remetida a uma “conversa” com a diretora de redação201. Esse trecho da edição de agosto de 2012, que traz em sua capa a atriz Taís Araújo, é emblemático e revela a versão de feminino que Claudia cria com as questões concernentes à atualidade.

Uma mulher que podemos identificar como símbolo de uma feminilidade apaziguada com os diferentes investimentos que faz na vida pessoal e profissional, por representar essa nova versão de feminino, Taís cabe no novo modelo que Claudia busca construir com sua leitora. Já na apresentação da edição, na seção “Eu e você”, a diretora de redação fala sobre a atriz:

A estrela da capa, Taís Araújo, conta que o passar dos anos trouxe o fim das ilusões, aceitação e libertação. E, claro, a necessidade de abrir mais espaço na agenda para curtir o filho de um ano. Em vez de malhar, diz ela, prefere brincar com o pequeno João Vicente. Esse reconhecimento de que não dá para ter tudo, não dá para ser perfeita e de que é preciso eleger prioridades está no coração do nosso movimento “Ame sua Vida”. (Claudia, 2012, p. 30).

A manchete da entrevista com Taís Araújo marca o tom da versão de feminino coerente com a atualidade, apresentando a estrela da capa: “Uma das protagonistas da novela das 7 da Globo, “Cheias de charme”, a atriz de 33 anos conta que está mais madura e não tem ilusões românticas com a vida. Até por isso, se sente livre e mais feliz”. (Claudia, 2012, p. 140).

Logo no início da entrevista concedida à jornalista Adriana Negreiros, Taís é desenhada como a mulher que a contemporaneidade forjou: atualizada com os assuntos econômicos,

201 A diretora de redação aparece sempre na coluna “Eu e você”, uma espécie de apresentação às leitoras aos temas principais abordados pela revista em cada mês.

preocupada com questões políticas, mas, sobretudo, mais atenta e desafiada pela maternidade do que pelos outros papéis que exerce em sua vida:

De todos os dramas de Taís Araújo naquela manhã de domingo, a cor dos cabelos era, de longe, o menor. O maior deles era a saudade que sentia de João Vicente, seu filho de um ano com o ator Lázaro Ramos, com quem é casada desde o ano passado. [...] Desde que o bebê nasceu, Taís ingressou no grupo das mulheres que trabalham, têm filhos e se contorcem para dar conta de tudo e não sucumbir à culpa. (Claudia, 2012, p. 140).

Entre perguntas destinadas a revelar ao grande público quem era a nova Taís, comparações entre as versões de feminino sustentadas pela mesma Taís, modelo de feminino da vez, que dissera haver mudado bastante dos 20 para os 30 anos de idade, enfatizando o novo papel que assume com a maternidade. Os dois questionamentos finais da entrevista visam apresentar o pensamento da atriz sobre uma questão de repercussão social à época: a relação entre domésticas e empregadores, já que Taís representava na novela uma doméstica que conquistava um lugar de fama e sucesso ao se tornar membro de um grupo musical.

Apesar das frequentes menções a questões de interesse social, sobretudo com uma nova linha editorial que enfatiza o esforço e as ações de “mulheres comuns”, alçando-as a exemplos de cidadãs atuantes nas mais variadas searas sociais, envolvidas em ações políticas e econômicas, Claudia não rompe com a ideia de abordar a relação Mulher/maternidade; ao contrário, coloca-a como questão central na vida de uma mulher que alcançou quase tudo no âmbito profissional e pessoal. Destaca-se na sociedade civil como cidadã capaz de pensar política, economia e os rumos do país, mas também deseja adicionar à sua lista de sucessos o exercício da maternidade.

Vê-se que essa “multiatarefada” mulher para quem Claudia emite sua mensagem na atualidade não se satisfaz somente com a atuação na política e no mercado econômico, tampouco com sua visibilidade e influência na sociedade civil; segundo Claudia, ela precisa, ainda, da maternidade, e esse papel aparece novamente como algo a se dar ênfase – depois de tudo que se conseguiu, porque parece ainda importante um retorno ao lar.

Esse retorno à esfera doméstica surge como necessidade para a criação de vínculos afetivos com os filhos, para que se exerça a maternidade de uma maneira satisfatória. Na mesma edição cuja capa é Taís Araújo, há uma coluna intitulada “Inspiração: Carreira”, escrita pela coordenadora do movimento Habla202, a jornalista Cynthia de Almeida. O texto curto ocupa

202 O movimento Habla é sustentado pela editora Abril e se destina a estudar o comportamento feminino (Claudia, agosto de 2012, p. 50).

apenas uma página da edição e se chama “Será que ela consegue?”; nele, a jornalista se refere a essa “multiatarefada” mulher da atualidade.

Ao iniciar seu texto, Cynthia traz uma estatística que lhe servirá de argumento para fundamentar a discussão seguinte acerca do lugar da maternidade na vida de uma mulher na contemporaneidade: “Estamos tendo filhos cada vez mais tarde. A idade média da primeira gravidez no Brasil é de 26,8 anos. Entre as mulheres com maior instrução essa média beira os 30; as supergraduadas só vão se tornar mães com 34, 35 anos”. (Claudia, ago. 2012, p. 50).

Como se desenha ao longo do texto, os dados estatísticos ilustrativos da problemática da mulher e sua “dupla função” aparentemente são expostos com o intuito de demonstrar que as mulheres, quanto mais estudam, mais postergam a maternidade; com isso, quanto mais anseiam pelo sucesso profissional, mais concessões irão fazer para se tornarem mães. O texto prossegue trazendo exemplos de mulheres que exercem cargos de chefias de grandes empresas e que, aparentemente, não relegam a um segundo lugar a criação de seus filhos: “A vice-presidente do Facebook, Sheryl Sandberg, confessou que só muito recentemente assumiu que costuma parar de trabalhar às 17h30 em ponto, seja lá o que estiver fazendo, para ir buscar os filhos na escola”. (Claudia, ago. 2012, p. 50).

Apesar de curto, o texto parece veicular uma mensagem às mulheres atuais: de que a maternidade, por mais que seja postergada a fim de ser vivida com mais tranquilidade financeira e profissional, frequentemente se revela conflituosa, sobretudo quando se têm em mente as outras tarefas que ao longo da vida as mulheres perseguiram. Resultam disso, segundo a autora, angústia e culpa.

Sobre isso, Cynthia é categórica:

A mulher contemporânea já decidiu quando quer ser mãe. Falta aceitar os limites que a maternidade impõe e, com o devido suporte do mercado, sofrer menos no desempenho desse papel. Ou continuará a passar noites insones ao lado de sua culpa. (Claudia, ago. 2012, p. 50).

Nota-se que as versões de feminino que Claudia sustenta se assemelham cada vez mais ao retrato de mulher pintado pelo texto de Cynthia que, apesar de fazer parte de uma coluna intitulada “Inspiração: carreira”, trata mais de temas como maternidade, enfatizando com frequência essa maternidade conflituosa e a culpa que supostamente seria subjacente a esse modelo de mulher voltada ao universo profissional e que ao mesmo tempo se encontra ansiosa pelo retorno ao recôndito do lar.

“Eu e você”, a seção introdutória aos temas trazidos por cada edição da revista, está presente em todos os exemplares de Claudia da década atual e constantemente faz alusão a

reportagens especiais e entrevistas cuja temática revela uma suposta dificuldade feminina no que tange ao desempenho de vários papéis sociais. Na edição de junho de 2012, há a menção a uma campanha intitulada “Você inteira”,cuja descrição é interessante mencionar:

Nela, várias mulheres – gente como eu, você, como nossa comunidade de leitoras – soltam frases sobre diversos temas, revelando diferentes preocupações, inquietações, questionamentos. Família, maternidade, valores, liberdade, intimidade, relação com o universo digital, está tudo lá, de forma simples, porém instigante, em pílulas que nos surpreendem e fazem parar para pensar. (Claudia, 2012, p. 30).

Quase sempre simbolizado pela tradicional preocupação com a conciliação entre o feminino/materno e o feminino/profissional, a ideia de uma feminilidade conflituosa é evidenciada com a alusão a um angustiante e iminente processo de fragmentação diante das exigências contemporâneas, cujos efeitos nem sempre são facilmente manejáveis.

Estar inteira não é produto da somatória dos papéis que desempenhamos cotidianamente na nossa vida multitarefa. Muito pelo contrário. Essa fragmentação pode nos estressar, derrubar nossa autoestima [...]. A plenitude não é algo fácil, corriqueiro; tampouco uma conquista permanente. Tem um lado efêmero nisso, pois o que nos deixa inteiras muda a todo instante. (Claudia, 2012, p. 30-31).

Nota-se que o significante “plenitude” ao qual o texto faz referência aparece em oposição a essa suposta fragmentação exigida da mulher atualmente, que pode ser produtora de efeitos nocivos. Apesar de manter conselhos e dicas que de alguma forma poderiam contribuir para o melhor manejo dessa angústia pelas leitoras, Claudia não reforça a ideia de uma fórmula de feminilidade pela qual a plenitude funcionaria como um anteparo possível diante da angústia subjacente a essa eminente fragmentação – ainda uma hiância ante a castração?

Desprovida de uma fórmula mágica, Claudia passa atratar a feminilidade como criação particular, não generalizável; por isso não se podem tomar os enunciados da revista como meros imperativos. Parece ser isso o que a revista pretende dizer à sua leitora, quando confessa que “Claudia não tem uma receita, uma fórmula ou dez passos para você chegar lá. Ninguém tem (afinal, plenitude é pessoal e intransferível)”. (Claudia, 2012, p. 30-31).

Podemos pensar nesse significante da plenitude e em sua relação com a completude a que o título do texto remete, uma plenitude que ora surge como proteção ante a fragmentação contemporânea, ora se revela a serviço de uma construção particular cuja fórmula é conquistada e manejada por cada mulher constantemente. Não estaríamos ainda falando da mesma “arte de ser mulher”? Ainda cogitando a saída para a feminilidade pela via da mascarada?

Em sua última edição do ano de 2014, “Eu e você”convida à reflexão sobre o papel da mulher no que parece ser “um mundo sem fronteiras”:

Ainda precisamos parar para discutir o papel da mulher em diferentes contextos. Porque, infelizmente, as conquistas femininas ainda não acompanham a evolução científica e tecnológica, e tampouco as conquistas dos homens. (Claudia, 2014, p. 12).

É inegável que a insistência nessa temática e a importância que lhe é dada resultam de pesquisas de mercado e de público, representando uma escolha da linha editorial atenta às demandas – conscientes, neste caso – das novas leitoras, com interesse óbvio em se manter no mercado editorial. Mesmo assim, não se pode esquecer que o convite a pensar sobre o papel da mulher no âmbito profissional diz respeito a um refletir, também, sobre o feminino e suas novas versões, as quais a revista insiste em escrever para tentar abordar A mulher.

Uma forma de discutir sobre o feminino é questionando as suas versões possíveis, radicalizando-as, denunciando sua “essência” contraditória, ambivalente e, por isso, não raramente produtora de angústia para uma mulher que ainda não se sente confortável com a condição feminina, a despeito de todos os avanços sociais responsáveis pela entrada da mulher no mercado de trabalho e de todos os avanços feministas. Problematizando essas questões que, sem dúvida, encontram ressonâncias em muitas preocupações da leitora contemporânea,

Claudia não parece recusar o papel de antiga conselheira para dissipar um conflito feminino; o conflito continua aparecendo como parte da condição feminina, mesmo que seja agora reduzido a um problema de desempenho: ser mãe, ser mulher, ser profissional.

Nessa mesma edição, Claudia traz uma seção denominada “Comportamento egente”,

em que dá continuidade a uma série de reportagens chamada “Retratos damulher brasileira”203. Tendo por objetivo mostrar os desafios e obstáculos diários presentes na vida de uma mulher considerada protótipo da mulher brasileira, sem o glamour da vida de uma celebridade, “Retratos da mulher brasileira” aborda temas de apelo social e político; nesse caso, a revista apresenta, no rodapé da matéria, dados estatísticos sobre a identidade social da mulher no sul do país, bem como um pequeno depoimento sobre racismo intitulado “ser negra no Sul”.

No início do texto intitulado “O trem que Raquel conduz”, a leitora é apresentada à protagonista da reportagem, para que se crie um vínculo de identificação. Raquel é retratada como uma típica mulher brasileira que

203 A série “Retrato da mulher brasileira” é composta de cinco reportagens que acompanha a vida de mulheres nas diferentes regiões do Brasil. A reportagem sobre Raquel é a quarta delas.

enfrentou, aos 16 anos, uma gravidez de gêmeos. Passou em um concurso estudando sozinha. Tornou-se o carro-chefe no sustento da casa. Leva todos os dias 5 mil pessoas no transporte coletivo. É dona de uma história sobre a audácia das mulheres do Sul. (Claudia, 2014, p. 182).

A reportagem acompanha o cotidiano da condutora de trens que circulam pela região metropolitana de Porto Alegre, permitindo que a leitora conheça um pouco da trajetória pessoal de Raquel a partir de seu depoimento. Gravidez na adolescência, falta de dinheiro, casamento, relação com o marido e, sobretudo, a relevância da profissão em sua vida: “Foi prazeroso começar a trabalhar. Pela primeira vez eu era a Raquel. Antes, me chamavam de esposa do Paulinho e me viam como mãe do Bruno e do Mateus na escola deles. Aqui passei a ser eu mesma”. (Claudia, 2014, p. 185).

Também aqui importa menos o número de citações ou menções de Claudia, e mais a

reflexão sobre a mensagem que a revista veicula. Seja no discurso da celebridade aparentemente bem resolvida sobre o conflito profissional/mãe, dedicada sem culpas à maternidade, representado por Taís Araújo, seja a partir do cotidiano de uma mulher tipicamente brasileira,

No documento UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO (páginas 184-193)