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3 A MEDIAÇÃO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ETAPAS E PROCEDIMENTO

No documento Anais Completos (páginas 34-37)

MEDIAÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ETAPAS E PROCEDIMENTO

3 A MEDIAÇÃO ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ETAPAS E PROCEDIMENTO

A escola se transformou em um lugar de convergência de inúmeras dinâmicas sociais, políticas, econômicas, culturais, simbólicas e morais deste tempo. Dessas dinâmicas interessa o debate sobre os processos de mediação como uma aposta à resolução dos conflitos, agressividades e manifestações de violências no interior da unidade escolar. O conceito de mediação advém das ciências forenses e se constitui por ser uma técnica, entendida como inovação jurídica aplicável à sociedade para intervenções públicas e privadas de resolução de conflitos (ABRAMOVAY, 2002).

A escola tem potencial de disparar os elementos da mediação em suas normativas (projeto político pedagógico) e práticas (ação pedagógica), como a noção de pertencimento.

Mediação no ambiente escolar: considerações acerca das etapas e procedimento

Da mediação jurídica à mediação escolar, a educação deve assumir o papel de conduzir seus processos internos (ABRAMOVAY, 2004)

Chrispino (2007) chama de mediação de conflito o procedimento pelo qual um terceiro imparcial auxilia os participantes a colocar as questões em disputa, desenvolvendo opões, considerando alternativas e chegando a um acordo aceitável por eles. Em que pese o autor esteja falando da mediação no contexto escolar, não a conceitua dessa forma, mas apenas genericamente.

Possatto et al. (2018), por sua vez, comentam acerca da origem da mediação escolar, ressaltando que sua "antessala" está na mediação de conflitos em contextos fora da sala de aula.

Trata-se de técnica que pode superar as dimensões funcional, dogmática e normativa do direito, traduzida em instrumento de revisão do papel formador da escola, em que propõe interpretações conciliadoras às manifestações e expressões de violência do cotidiano e da realidade escolar. Esse conflito, estruturado em fundamentos das noções de pertencimento, de reconhecimento, de comunidade, de juventude, de ator social e de protagonismo fomentam identidades, afirmações, autonomias, emancipações e superações das desigualdades e das singularidades (ORTEGA; DEL REY, 2002).

Assim, os autores destacam que as experiências de solução de conflitos judiciais, especialmente nos Estados Unidos, na década de 1970, e na França, em 1980, fizeram com que a mediação fosse se estendendo a outros ramos, incluindo-se na esfera escolar.

Ortega e Del Rey (2002, p. 147) elucidam que "A mediação é a intervenção, profissional ou profissionalizada, de um terceiro – um especialista – no conflito travado entre duas partes que não alcançam, por si mesmas, um acordo nos aspectos mínimos necessários para restaurarem uma comunicação, um diálogo que, é necessário para ambas.”

A escola, enquanto espaço-lugar de formação, apresenta as habilidades para desencadear ações sólidas de mediação e de resolução de seus conflitos. Em outros termos, as técnicas e os processos de mediação, no sentido das possibilidades de resolução dos conflitos, ganham relevância diante da realidade exposta. Contudo, denota-se que a escola tem dificuldade na transparência de suas regras, bem como de permitir que outros atores contribuam na gestão escolar. Integralizar as premissas existentes no Programa Mais Educação, conforme a Portaria Interministerial nº 17/2007, não é tarefa tranquila, uma vez que ela tem que se esforçar para:

IV - prevenir e combater o trabalho infantil, a exploração sexual e outras formas de violência contra crianças, adolescentes e jovens, mediante sua maior integração comunitária, ampliando sua participação na vida escolar e social e a promoção do acesso aos serviços sócio-assistenciais do Sistema Único de Assistência Social – SUAS.

Na concepção de Nunes (2011), os processos de mediação são formas de restaurar a cultura da paz nas escolas. A concepção de mediação está consignada no projeto pedagógico

das unidades escolares estudadas. A escola elabora, no Projeto Político-Pedagógico (PPP), as diretrizes para suas ações e norteamentos e o documento, obrigatório para todas as unidades escolares, denominados de Finalidades da Escola, Estrutura Organizacional, Currículo, Tempos e Espaços Escolares, Processos de Decisão, Relações de Trabalho e Avaliação (NUNES, 2011).

O autor enaltece que no âmbito escolar se espera que o professor saiba fazer uso do conflito como uma oportunidade pedagógica e emancipação de aprendizagem, buscando solucionar as demandas conflitantes na construção da mudança cultural no ambiente escolar. Nesse contexto, os professores se apropriam desse conhecimento e incorporam a prática dos valores no seu cotidiano. O instituto da mediação da justiça em alguns estados brasileiros já faz parte da rotina das escolas, sendo um importante mecanismo para frear a violência no âmbito escolar (GOMES, 2014).

Com o auxílio do mediador, os envolvidos buscarão compreender as fraquezas e fortalezas de seu problema, a fim de tratar o conflito de forma satisfatória. Na mediação, por constituir um mecanismo consensual, as partes apropriam-se do poder de gerir seus conflitos, diferentemente da jurisdição estatal na qual esse poder é delegado aos profissionais do direito, com preponderância àqueles investidos das funções jurisdicionais (MORAIS; SPENGLER, 2008, p. 134).

Partindo-se do pressuposto de que na mediação se trabalha a cooperação, o respeito, a identidade e o reconhecimento do outro enquanto pessoa, o processo de mediação deverá:

a) favorecer e estimular a comunicação entre as partes em conflito, o que traz consigo o controle das interações destrutivas;

b) levar a que ambas as partes compreendam o conflito de uma forma global e não apenas a partir da sua própria perspectiva;

c) ajudar na análise das causas do conflito, fazendo com que as partes separem os interesses dos sentimentos;

d) favorecer a conversão das diferenças em formas criativas de resolução do conflito; e) reparar, sempre que viável, as feridas emocionais que possam existir entre as partes

(THEODORO, 2005).

Ademais, na seara escolar, para que um projeto de mediação seja implementado é preciso identificar as necessidades das instituições que vão se beneficiar com o programa; pedir apoio da comunidade educativa; demonstrar as vantagens em ter professores treinados em mediação; verificar as disputas que serão objeto de mediação; e traçar um programa de formação em mediação de conflitos (PIMENTA, 2007).

Na Argentina, onde a mediação escolar tem sido aplicada com grande veemência, o Ministério de Educación, Ciência y Tecnologia de La Nación lançou o Programa Nacional de

Mediação no ambiente escolar: considerações acerca das etapas e procedimento

Mediación Escolar, que aponta fases necessárias para a implementação de um projeto de mediação de conflitos. São elas:

A) Diagnóstico de necessidades - Avaliação e diagnóstico das necessidades da Escola, reconhecimento da área envolvente, onde a escola se encontra inserida, geográfica e socialmente. B) Ações de sensibilização - Para implementar o projeto é necessário sensibilizar todos aqueles que, de uma forma ou de outra, irão ser por ele afetados, sendo da maior importância o seu envolvimento no projeto, a sua motivação e compromisso com os seus objetivos. C) Criação de uma equipa de apoio - Dentro da escola, que poderá envolver docente e não docentes, pais e alunos, com as seguintes competências: 1. Acompanhamento do projeto; 2. Coordenação com a equipa externa multidisciplinar de técnicos/ mediadores; 3. Monitorização e apoio nas diversas fases do projeto; 4. Participação na capacitação dos alunos e na sensibilização de todos os sectores intervenientes; 5. Apoio aos mediadores, reunir com eles para rever dificuldades e propor soluções; 6. Proposta de ajustes que considere necessários para o desenvolvimento do projeto. D) Formação e capacitação. (BUSH; FOLGER, 2005).

Uma das alternativas encontradas pelos sistemas escolares e principalmente na rede privada de ensino para lidar com esses alunos especiais "incluídos" é a contratação de um profissional para atuar como mediador. Antes de discutir as competências e responsabilidades desse profissional, vale observar que a literatura apresenta uma grande diversidade de nomenclaturas: mediador escolar (FONSECA, 2014; GOMES, 2015), agente educacional especializado, professor de apoio educacional especializado, facilitador (GLAT; PLETSCH, 2012), professor de apoio (BRASIL, 2015), professor de apoio à inclusão, professor de apoio permanente para alunos com necessidades educativas especiais, entre outras. Apesar dessa gama de terminologias, no decorrer deste texto será usada com a que maior se aproxima da sua real função: mediador escolar.

Segundo Glat e Pletsch (2012), o mediador ou facilitador de aprendizagem é um elemento de apoio ao professor da turma comum em que há algum aluno especial incluído que necessite de um atendimento mais individualizado. A principal função do mediador é: dar suporte pedagógico às atividades do cotidiano escolar, sem com isso substituir o papel do professo regente. O mediador acompanha o dia a dia do aluno, realizado em concordância com a equipe escolar, fazendo as adaptações necessárias para o desenvolvimento e aprendizagem do educando. No caso de alunos com deficiências motoras severas ou múltiplas, o mediador também auxilia nas atividades de locomoção e de vida diária na escola (GLAT; PLETSCH, 2012, p. 24).

4 ETAPAS DA MEDIAÇÃO: SIMILARIDADES ENTRE A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

No documento Anais Completos (páginas 34-37)