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4 REFLEXÕES SOBRE A EFETIVIDADE DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL VIA CONSELHO DE SAÚDE: CONHECIMENTO DOS CONSELHEIROS E O USO DOS INSTRUMENTOS

No documento Anais Completos (páginas 95-99)

SAÚDE DIANTE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE

4 REFLEXÕES SOBRE A EFETIVIDADE DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL VIA CONSELHO DE SAÚDE: CONHECIMENTO DOS CONSELHEIROS E O USO DOS INSTRUMENTOS

DE GESTÃO

Verifica-se por meio de Gerschman (2004) e Cotta, Cazal e Rodrigues (2009) que o planejamento é complexo, o que dificulta o exercício do direito à participação nesse tema. Em muitos casos, os conselheiros não possuem entendimento de muitos aspectos relacionados à política de saúde, inclusive no que se refere aos instrumentos de gestão, que são essenciais ao exercício do planejamento. Os conselheiros representantes dos usuários apresentam ainda maiores dificuldades, já que em muitos casos possuem escolaridade mais baixa que os demais, além de possuírem menor tempo e recursos disponíveis para participação (MORAES et al., 2009; BISPO JUNIOR; SAMPAIO, 2008). A falta de conhecimento é prejudicial ao exercício da participação social no planejamento, pois o conselheiro que apresenta essa dificuldade consequentemente tem uma atuação mais restrita.

Kleba et al. (2010) e Saliba et al. (2009) identificaram que há ainda falta de conhecimentos no que se refere ao próprio papel do conselheiro de saúde. Muitos deles não entendem qual a função desse espaço de discussão, acreditando que é local restrito para discutir a situação de saúde do município e repassar informações, ou ainda como um espaço de apoio às ações tomadas pela Secretaria Municipal de Saúde (COTTA, 2011).

Outro aspecto a se considerar é o acesso à informação pelos conselheiros. Fleury et al. (2010) e Bispo Junior e Sampaio (2008) afirmam que há um desequilíbrio na distribuição de informação entre conselheiros, principalmente em relação aos usuários, considerando que gestores e técnicos se apropriam e lidam com as questões relacionadas à política de saúde em seu cotidiano. O acesso à informação pode ser em parte suprido pela atitude dos usuários e trabalhadores da saúde que, como conselheiros, devem buscar conhecimento sobre os temas debatidos no conselho, as políticas de saúde e as práticas de controle social. Dessa forma, estes terão maior capacidade de contribuir para as melhorias do sistema de saúde brasileiro (MORGAN, 2010).

Percebe-se que para que a participação ocorra de maneira mais efetiva, os conselheiros devem possuir determinados conhecimentos relacionados à política de saúde, bem como estar devidamente informados sobre a questão orçamentária, a prestação de contas e ações de saúde em sua área de atuação. Se isso não ocorre, o risco que os conselhos de saúde apresentam é de se tornarem órgãos que somente homologam decisões do executivo.

No que se relaciona à participação, utilizando-se dos instrumentos de gestão, Cristo (2012) relata que esses documentos são apresentados, na maioria das vezes, em sua versão final, com pouca possibilidade de contribuição dos conselheiros de saúde no processo, especialmente

no que se refere ao Plano de Saúde. Em relação ao Relatório de Gestão, verifica-se que este tem um formato de difícil entendimento para quem não pertence à área contábil, além de em muitos casos, sua apresentação aos conselheiros ser rápida, o que impede a leitura e a discussão do documento (KLEBA et al., 2010).

Em relação à prestação de contas, de acordo com Gonçalves e Tavares (2011, p. 663), é por meio dela que: “[...] os dirigentes demonstram o que fizeram e seu planejamento futuro para transformar a realidade […] e a sociedade pode cobrar eventuais distorções ou incorreções ocorridas na gestão [...]” A prestação de contas adquire grande importância no contexto de planejamento no Conselho Municipal de Saúde, apesar da dificuldade do conselho de exercer a função de fiscalizar esse instrumento (FLEURY et al., 2010). Por um lado há a dificuldade de compreender o balancete periódico, documento mais utilizado para tal atividade, considerando- se que este é um documento essencialmente técnico. Por outro lado, os exercícios financeiros ou não são apresentados para avaliação, ou, quando o são, ocorrem apenas para cumprir exigências legais (BISPO JUNIOR; SAMPAIO, 2008).

Diante dessas dificuldades que não impedem o exercício do direito à participação, mas que de certa forma acabam prejudicando essa atividade, é necessário que se pensem alternativas para tornar mais efetiva a contribuição dos conselheiros de saúde. Acredita-se que as ações de educação permanente nesses órgãos é necessária para que os participantes consigam exercer com qualidade sua função. No que se relaciona a documentos técnicos, como o Relatório de Gestão, os conselheiros podem receber ajuda de profissionais dessa área, para auxiliá-los. Além disso, outras estratégias utilizadas para a realização da prestação de contas, como as audiências públicas e a divulgação em locais públicos, meios de comunicação e internet aumentam a possibilidade de a população fiscalizar a gestão em saúde (FLEURY et al., 2010).

5 CONCLUSÃO

O conselho de saúde traz a responsabilidade aos conselheiros de atuarem em todos os temas relacionados à saúde, inclusive na questão do planejamento. A participação nessa área é prevista pela legislação brasileira e torna-se um desafio tanto para usuários do sistema de saúde quanto para gestores. Para os usuários, pois exige deles que se apropriem e saibam aplicar em sua atuação conhecimentos relacionados à gestão do SUS, e para os gestores, pois são obrigados a compartilhar o poder com outros atores.

Verificou-se por meio deste estudo que o conhecimento é fator importante para que os conselheiros consigam participar da questão do planejamento. A partir do momento que o sujeito se insere nesse espaço de participação social ele deve aprender questões mais específicas e aprofundadas a respeito do funcionamento da política de saúde e sobre suas atribuições no

Planejamento na área da saúde: instrumentos de gestão e o direito à participação por meio dos conselhos...

órgão. Aí reside um dos principais problemas relacionados ao CMS, já que os autores estudados apontaram a dificuldade de entendimento dos conselheiros na questão da gestão, bem como de seu papel. Além disso, verificou-se que esses sujeitos têm dificuldade de interpretar os instrumentos de gestão, tem pouco tempo para avaliá-los, e, em muitos casos, esses documentos já estão concluídos quando chegam ao Conselho Municipal de Saúde.

Diante dos resultados obtidos, entende-se que é essencial a melhora da questão do conhecimento, para que o órgão se torne espaço efetivo de discussões de temas relacionados ao planejamento em saúde. À medida que os conselheiros estiverem melhor preparados para exercerem seu papel, o conselho de saúde terá maiores condições de superar a tendência de burocratização, bem como de ser instância apenas para referendar as decisões da gestão, o que melhorará a efetividade do órgão. Nesse sentido, ações de educação permanente são importantes, além do auxílio de técnicos para interpretar os instrumentos de gestão.

REFERÊNCIAS

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PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA: ASPECTOS HISTÓRICOS

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