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2 COMEÇANDO A FALAR SOBRE MEDIAÇÃO

No documento Anais Completos (páginas 32-34)

MEDIAÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ETAPAS E PROCEDIMENTO

2 COMEÇANDO A FALAR SOBRE MEDIAÇÃO

Vivencia-se no Brasil, na atualidade, o momento de eclosão do Marco Legal da Mediação. Nesse cenário, a aplicação da mediação tornou-se uma realidade incontestável. A construção do processo de mediação ganha novas facetas e por isso continua, de modo que não se pode perder de vista a sua repercussão e condição de garantir ou instrumentar a concretização da pacificação e justiça social. A mediação de conflitos tem evoluído muito no Brasil, tanto na parte legislativa, quanto na parte prática. Embora ainda seja confundida com a conciliação, trata-se de um instituto mais complexo e completo na solução de conflitos envolvendo relações continuadas (TARTUCE, 2018).

Assim, não é possível afirmar o seu marco inicial, embora se encontrem registros remotos dessa prática no Ocidente, através da concepção da conciliação cristã, com repercussões desde o Direito Romano. A Igreja, no âmbito religioso, exerceu o lugar daquele que busca o bom termo para solucionar uma desavença entre as pessoas. No Brasil, especificamente, sua primeira manifestação decorreu das Ordenações Filipinas, depois, regulamentada nacionalmente na Carta Constitucional do Império, de 1824, a reconhecer a atuação conciliatória do Juiz de Paz ante o desenvolvimento dos processos (MARTINEZ, 2002).

Conforme Farias (2018), o processo de mediação foi sendo desenvolvido de modo inconsciente ou intuitivo. Nos períodos mais remotos, a mediação ainda não era assim denominada, de forma que somente após a conscientização e teorização desse processo é que ele foi assim definido e as experiências relatadas puderam ser devidamente classificadas como momentos de ocorrência de mediação. Somente a partir da metade do século XX é que o processo de mediação foi definido e sua prática foi utilizada de forma direcionada e orientada.

Mediação no ambiente escolar: considerações acerca das etapas e procedimento

Após a análise dos estudos evidenciou-se a pluralidade dos métodos contemporâneos de resolução de conflitos extrajudiciais. Com essa conscientização os Estados Unidos decidiram se aprofundar nesse assunto. Com enfoque na teorização da mediação foram observadas três escolas clássicas sobre mediação, com formas diferentes: o Modelo Tradicional-Linear (desenvolvido pela Harvard Law School), o Modelo Transformativo (introduzido por Robert A. Bush – teórico da negociação – e Joseph F. Folger – teórico da comunicação) e o Modelo Circular- Narrativo (proposto por Sara Cobb) (LIMA; ALMEIDA, 2010).

A mediação se expandiu para diversos países, como França, Argentina, Canadá, Portugal Inglaterra e Espanha, aumentando as maneiras de atuação e procedimentos, sabendo em si que poderiam se adaptar de acordo com o contexto econômico, social e jurídico de cada país (LIMA; ALMEIDA, 2010).

Com o Brasil não foi diferente, de maneira que igualmente importou a medição como processo extrajudicial de resolução de conflitos em razão, sobretudo, da crise instaurada no Poder Judiciário. A ordem jurídica já não consegue se comunicar com toda a população, gerando entraves ao acesso do órgão estatal jurisdicional. Assim, tais fatos induziram ao entendimento de que o Estado não é suficiente – como único centro de poder – para garantir a resolução de conflitos e efetivação de direitos e deveres dos cidadãos, especialmente aqueles localizados nas comunidades mais carentes e marginalizadas (CAPPELLETTI; BRYANT, 1998).

A partir dessa conjuntura, verificou-se o surgimento de duas novidades: um (novo) centro de poder – a sociedade organizada (ou emancipada) – e (novos) instrumentos processuais (que podem ser manuseados por este novo centro), para satisfazer a solução de conflitos e a promoção de direitos e deveres fundamentais – por meio de ações legais e pacíficas. A sociedade civil organizada aparece muitas vezes fundamentada na participação comunitária, localizada nas regiões mais carentes de justiça, com a finalidade de viabilizar esse acesso, sendo reconhecida por centros de organização comunitária. Os novos processos – a exemplo, por excelência, da mediação – visam à utilização de procedimentos compatíveis com a estrutura dessas organizações (WOLKMER, 1997).

O instituto da mediação, embora utilizado por instituições privadas no Brasil desde a década de 1990, foi recentemente reconhecido pelo Poder Judiciário. O grande receio é que os novos diplomas legais, quando manejados pelo Poder Judiciário, promovam uma massificação do processo de mediação, uma desqualificação dos seus profissionais e, por fim, uma "desacreditação" pelos usuários na sua eficiência. Enfim, que o processo de mediação seja demasiadamente desvirtuado ou paralelamente entregue a outros profissionais como nova forma de atuação. Por isso, em vez de ampliar tanto a utilização da mediação pelo Poder Público, os novos diplomas deveriam ter se preocupado em estimular mais e garantir a satisfação do

processo por meio de entes privados, já experientes no desenvolvimento das ações mediativas (CAPPELLETTI; BRYANT, 1998).

A ideia de mecanismos de solução de conflitos ou meios alternativos de solução de conflitos é relativamente nova e deriva da Alternative Dispute Resolution (ADR), de origem norte- americana, a partir da década de 1970. Nos Estados Unidos da América, inúmeros mecanismos alternativos de solução de conflitos são utilizados, como a mediation (mediação), a arbitration (arbitragem), a negotiation (negociação) e o mixed process. O ordenamento jurídico brasileiro, seguindo a processualística atual, organiza-se em torno de três formas de resolução de conflitos: autotutela (ou autodefesa), autocomposição e heterocomposição (CABRAL, 2018).

O mediador exerce a função de ajudar as partes a reconstruírem simbolicamente a relação conflituosa, enquanto o conciliador exerce a função de negociador do litígio, reduzindo a relação conflituosa a uma mercadoria. Portanto, a mediação é um processo de reconstrução simbólica do conflito no qual as partes têm a oportunidade de resolver suas diferenças reinterpretando, no simbólico, o conflito com o auxílio de um mediador, que as ajuda, com sua escuta, interpretação e mecanismos de transferência, para que elas encontrem os caminhos de resolução, sem que o mediador participe da resolução ou influa em decisões (WARAT, 2001).

A mediação, embora não seja uma ciência, também apresenta sua diversidade. Assim, ela tem aplicação em diversas áreas do conhecimento, como na educação, psicologia, sociologia. A esse respeito, Morais (2008, p. 158) afirma que:

a mediação é uma realidade multidisciplinar, reunindo, nos seus princípios, conhecimentos a vários níveis, de Direito, Psicologia, Sociologia, no fundo de todas as ciências sociais e humanas, daí ser a mediação tão rica e eficaz na resolução de litígios, e por causa disso acolhida já por inúmeros ordenamentos jurídicos.

No âmbito do Direito, a doutrina sustenta a possibilidade de sua atuação em matéria de direito de família, ambiental, penal, consumidor, empresarial, juvenil, urbanístico, comunitário, entre outros. A possibilidade escolar será analisa a seguir.

No documento Anais Completos (páginas 32-34)