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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 A metodologia da pesquisa ação de intervenção pedagógica

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, pois não objetiva padronizar fatos e nem tampouco reduzir a realidade observada a uma causa, assim como é feito em pesquisas de cunho positivista (MOITA LOPES, 1994). Ao contrário disso, pretendo analisar e compreender o processo de escrita dos alunos que participaram desta pesquisa e a forma como perceberam e vivenciaram a experiência de escrita nas disciplinas de língua espanhola que cursaram durante a sequência didática desenvolvida. Não pretendo padronizar fatos e, nem tampouco, reduzi-los a uma realidade homogênea, porque tenho consciência de que os alunos são diferentes em relação aos conhecimentos, valores, crenças, atitudes e experiências construídas e vivenciadas. Este conjunto de características tornam os dados da pesquisa mais complexos e de difícil padronização, pois é imprescindível considerar aspectos subjetivos envolvidos na escrita, tais como os sentimentos, as atitudes, os posicionamentos dos participantes do estudo.

Segundo Lüdke e André (1986), na pesquisa qualitativa, os problemas são estudados no contexto em que estão sendo investigados. Os dados são coletados a partir de diferentes fontes (descrições de pessoas, acontecimentos, documentos, fotos, filmagens, gravações, entre outros) e o pesquisador se interessa mais pelo processo em que os problemas são manifestados do que pelo produto, isto é, pelo resultado destes problemas. Além do mais, nos estudos qualitativos, a atenção do pesquisador está voltada para maneira como os participantes da pesquisa enxergam, posicionam-se e se sentem diante das situações investigadas.

Tendo em vista as características da pesquisa qualitativa, buscou-se, neste estudo, analisar produções escritas e depoimentos de graduandos iniciantes no

curso de Letras, da Universidade Federal de Alagoas, a partir de uma sequência didática desenvolvida de ensino da escrita argumentativa em língua espanhola. Segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), a sequência didática refere-se a “um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (DOLZ, NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 97). Os autores salientam que o trabalho com as sequências didáticas tem como objetivo viabilizar aos alunos novas práticas de linguagem ou práticas orais e escritas de gêneros de difícil domínio. Para tanto, os autores propõem um trabalho com gêneros a partir de um esquema dividido em quatro momentos: apresentação da situação; primeira produção; módulos e produção final.

No momento referente à “apresentação da situação” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 99), o professor apresenta aos alunos o gênero a ser trabalhado. Na primeira produção, os alunos dão inicio à produção escrita ou oral do gênero proposto. Nesse momento, o professor analisará os textos e poderá elaborar um programa de módulos para que sejam superadas as dificuldades observadas na produção do gênero. Na etapa dos módulos, o professor criará exercícios e atividades específicas para os problemas detectados nas produções orais ou escritas dos alunos. Por fim, a sequência didática é finalizada com a produção final do gênero trabalhado. Nas palavras dos autores,

A seqüência é finalizada com uma produção final que dá ao aluno possibilidade de pôr em prática as noções e os instrumentos elaborados separadamente nos módulos. Essa produção permite, também, ao professor realizar uma avaliação somativa. (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 106)

Em relação aos passos da sequência didática apresentados, é importante esclarecer que esta pesquisa não seguiu todas as etapas do esquema apresentados por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004). Na fase do ensino implícito, por exemplo, as dificuldades dos alunos não eram trabalhadas a partir de atividades específicas voltadas para a superação dos problemas detectados nas produções escritas analisadas. Os alunos eram apenas convidados a reescreverem os textos corrigidos pela professora/pesquisadora, como produto final.

Como a pesquisa objetivou compreender uma dada realidade e nela intervir para, de alguma maneira, modificá-la, assumiu também as características da pesquisa-ação, definida por Thiollent (1986, p. 14) como

um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Nesta pesquisa, os problemas investigados foram as dificuldades relacionadas à produção de textos argumentativos em língua espanhola, dos alunos de Letras, da UFAL, a partir da sequência didática desenvolvida. Como professora e pesquisadora, estive envolvida no estudo e na análise de tais problemas, buscando, juntamente com o grupo focal, compreender mais profundamente a forma como os alunos estavam vivenciando a sequência didática de ensino-aprendizagem da escrita e como percebiam as dificuldades oriundas desse processo. Discutimos, também conjuntamente, sobre quais ações poderiam ser direcionadas à melhoria dos textos produzidos.

Além da importante característica de interação entre pesquisadores e pessoas envolvidas na situação investigada, Thiollent (1986) nos chama a atenção para a consideração de outros princípios da pesquisa-ação, quais sejam

a) desta interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;

b) o objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nessa situação;

c) o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas da situação observada;

d) há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade intencional dos atores da situação; e) a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou “nível de consciência” das pessoas e grupos considerados.” (THIOLLENT, 1986, p. 16)

Considerando alguns princípios da pesquisa-ação, esta investigação desenvolveu uma sequência didática de ensino- aprendizagem de estratégias retóricas, uso dos marcadores da argumentação e da progressão temática em textos produzidos em Língua Espanhola, tendo em vista as dificuldades observadas em relação à produção de textos argumentativos em língua espanhola, durante um projeto piloto 39 anteriormente desenvolvido, em turmas de língua espanhola. Para

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Como já mencionado anteriormente, neste projeto piloto observei que a grande dificuldade que os alunos de língua espanhola possuíam em suas produções textuais estava relacionada com a falta de

isso, foram organizadas oficinas de ensino implícito e explícito de leitura e escrita no idioma e discussões realizadas com os participantes da pesquisa, no decorrer do processo.

Um dos objetivos desta pesquisa foi também o de compreender os problemas relacionados à escrita argumentativa em e desenvolver estratégias de ensino- aprendizagem que contribuíssem para a evolução da escrita de alunos em estágios iniciais da aprendizagem. Entretanto, é importante salientar que o foco do estudo não se orientou apenas para a busca de soluções para os problemas observados em relação à escrita dos alunos, mas, principalmente, para a compreensão mais profunda da situação investigada.

Em relação a essa questão, Zozzoli (2006) critica o caráter interventivo da pesquisa-ação orientado somente à resolução de problemas. Segundo a autora, o “resolver problemas” se contrapõe a uma visão pouco compatível com o entendimento do processo da pesquisa-ação. Em sua concepção, a melhor proposta da pesquisa-ação seria a de “conhecer melhor as questões em jogo e refletir sobre encaminhamento de ações” (ZOZZOLI, 2006, p.131). Para Zozzoli, o termo “intervenção” tem conotação autoritária e invasiva, mas isso não significa negar o objetivo de transformação das práticas da pesquisa-ação. De acordo com a autora, “o objetivo de transformação das práticas, com a participação direta dos sujeitos envolvidos” (ZOZZOLI, 2006, p.130) é, sem dúvida, a maior contribuição da pesquisa-ação quando comparada com outros tipos de pesquisas que não incluem essa participação.

Nessa perspectiva, a pesquisa-ação desenvolvida teve como objetivo transformar a prática de ensino-aprendizagem da escrita em língua espanhola ao propor o trabalho com a produção de textos nas disciplinas iniciais do curso (Introdução à Língua Espanhola 2 e Língua Espanhola 1), a partir de uma sequência didática de ensino do uso de estratégias argumentativas, de marcadores da argumentação e de regras de progressão textual.

Entretanto, é importante mencionar que, além da proposta de transformação da prática de escrita em língua espanhola nas disciplinas onde a pesquisa foi desenvolvida, procurei também refletir sobre as percepções dos alunos em relação à

estabelecimento da progressão textual e uso inadequado dos elementos coesivos. O estudo desenvolvido apontou a “necessidade de sistematizar uma didática voltada para o ensino de estratégias de progressão textual e utilização de marcadores do discurso” (MENICONI, 2010, p. 416).

experiência de produzir textos em língua espanhola e a forma como estavam vivenciando este processo, durante a sequência didática desenvolvida, a partir das discussões estabelecidas com o grupo focal, provenientes de gravações e filmagens.

Outro ponto importante da pesquisa-ação refere-se aos processos argumentativos no desenvolvimento da investigação. Segundo Thiollent (1986), os aspectos argumentativos estão presentes em situações de discussões ou diálogos entre pesquisadores e participantes. Nas palavras do autor, os aspectos argumentativos se encontram

a) na colocação dos problemas a serem estudados conjuntamente por pesquisadores e participantes;

b) nas “explicitações” ou “soluções” apresentadas pelos pesquisadores e que são submetidas à discussão entre os participantes;

c) nas “deliberações” relativas à escolha dos meios de ação a serem implementados’

d) nas “avaliações” dos resultados da pesquisa e da correspondente ação desencadeada (THIOLLENT, 1986, p. 31).

Como pesquisadora, procurei ser transparente com relação à proposta da pesquisa e o processo investigatório, esclarecendo as dificuldades e impasses que poderiam surgir no decorrer do estudo, tais como a exigência da participação dos alunos em todas as atividades de leitura, discussão, escrita e reescrita dos textos solicitados, a pontualidade na entrega das atividades solicitadas, a seriedade na reescrita dos textos corrigidos, entre outros. Busquei também promover a participação conjunta no entendimento dos problemas apresentados nas produções escritas e na busca de possíveis soluções. Como professora pesquisadora, procurei considerar os argumentos dos alunos na avaliação da ação planejada, desenvolvida e nos resultados do processo.

A seguir, apresento o contexto onde a pesquisa foi desenvolvida, com informações relevantes sobre o projeto pedagógico do curso, a grade curricular e o papel da escrita em língua espanhola, nos planos de ensino destinado à formação do aluno de Letras.

3.2 O curso de Letras/Espanhol da Faculdade Federal de Alagoas e o papel