A metodologia de ensino e o estágio para o licenciando em física

A disciplina MEF é obrigatória no currículo do curso de licenciatura e está indicada no rol daquelas de finalização da graduação, embora a dinâmica real de término do curso não seja programada pela distribuição dada na grade curricular. Contudo, os alunos que frequentam MEF, em geral, são aqueles que já fizeram mais da metade da graduação. Desta

forma, os licenciandos nesta disciplina carregam a vivência do curso, o que ao lado do estágio pode nos proporcionar a compreensão do movimento da formação para docência.

O processo do indivíduo estar inserido em um curso de graduação consideramos como um contexto de uma atividade de estudo, como era no Ensino Básico, mas agora adquirindo outro caráter, que é a preparação profissional, como coloca Facci (2006), seus motivos são de atividade dirigida para perspectivas futuras. Com isso, o estudo passa a ter maior interesse e controle pelo indivíduo e seus motivos estão mais direcionados ao fim profissional que deseja atingir.

As relações estabelecidas entre o indivíduo e o meio, sendo essas dialéticas, é que vão mover e direcionar cada aluno em seu percurso na graduação. As interações entre os alunos, entre alunos e professores, alunos com os instrumentos de estudos ou signos fazem as mediações no âmbito da atividade de estudo de graduação. A mediação cria uma relação indireta entre o sujeito (aluno) e o curso de licenciatura, se expressando em cada uma das disciplinas desse curso.

Nessa concepção é que consideramos as relações que medeiam o indivíduo e a disciplina de MEF relevantes no processo de sua formação para docência, principalmente no desenvolvimento do estágio de regência. As interações que se estabelecem no contexto da sala de aula da disciplina de MEF e aquelas experienciadas na escola são múltiplas e complexas, as quais envolvem diversos sujeitos e artefatos mediadores.

Para a realização do estágio o licenciando precisa se preparar na disciplina de forma compartilhada, com a colaboração da professora ou dos colegas, textos teóricos, situações concretas vivenciadas etc., para poder refletir, fazer mudanças e avançar em suas propostas. Nessas situações a mediação se evidencia e pode-se perceber os interesses, os motivos, nas ações do estágio, bem como sua intenção futura de ser professor do Ensino Básico, ou talvez, ou de modo algum assumir a docência.

Assim, a aprendizagem da docência, em toda disciplina, especialmente as de caráter pedagógico, precisam considerar que a formação do licenciando se dá desde o momento em que se organiza o ensino, nas atividades de ensino, diante da sala de aula em suas ações e pela sua comunicação, os instrumentos e signos, bem como, as ações propostas que medeiam as relações que se estabelecem na atividade de aprendizagem.

Para concretizar um trabalho que coloque o licenciando em movimento de aprendizagem da docência, que haja o compartilhamento de ações, é necessário que o professor da disciplina prepare atividades de ensino que promovam tal situação, como, por

exemplo, problemas que possam gerar processos de busca por solução que envolvam ações colaborativas (MOURA et al., 2010). Para o licenciando em física isto significa compreender e se envolver com situações que o leve a pensar em atividades de ensino que promovam ações dos alunos, não uma transmissão de conteúdos, ou listas de experimentos, mas uma coordenação de ações que movimente os alunos para a aprendizagem.

Nessa perspectiva o estágio traz para o ensino de física uma grande contribuição para a formação do licenciando, quando possibilita aos futuros professores um espaço de diálogo, planejamento e reflexão. Assim, ao organizar a atividade de ensino e de aprendizagem, terá como objetivo a aprendizagem dos alunos e em suas ações buscará os instrumentos, métodos, referenciais e conteúdos para que isso ocorra.

O estágio com a regência é o momento de contato do licenciando com o contexto escolar, com o aluno, mesmo que o tempo seja reduzido, é um momento oportuno para vivenciar sua atuação como professor. Essa ação realizada pelo licenciando envolve o fazer concreto do trabalho que ele desenvolverá, mas também a ação pensada, planejada e refletida sobre os resultados obtidos para então, redefinir suas ações posteriores. Esse processo não acontece de forma espontânea, mas é marcado pela intencionalidade do indivíduo, que o leva às escolhas de ações determinadas, das relações que estabelecerá na escola e das experiências que carrega consigo. Esse conjunto de variáveis é que fará o estágio ser único para cada licenciando, mesmo que tenham feito a regência conjuntamente, mas marcado pelo social, pelo cultural e pela história dos indivíduos.

Nessa perspectiva, a disciplina de MEF e o estágio não oferecerão receitas prontas que possam levar o licenciando à aprendizagem da docência de Física, mas podem propor uma organização de ensino que: permita o compartilhamento de ideias e experiências entre os alunos; que busquem as memórias passadas para que ressignifiquem ações do presente; apresente subsídios teóricos; proponha o contato com a escola básica e regências efetivas; crie espaços de reflexão sobre a experiência vivida na escola, seus sucessos e angústias; dentre outras ações.

A relação do licenciando com a escola é fundamental para sua constituição como sujeito que está se formando para o trabalho docente, pois é nessa relação dinâmica e relativa entre o sujeito e o meio, como propôs Vigotski (2010), que o licenciando atua sobre esse espaço escolar, a sala de aula, os alunos, modificando-o, ao mesmo tempo que vai também sendo modificado.