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CAPÍTULO 4 – Contexto da pesquisa e metodologia

4.1 Contexto da pesquisa

O contexto refere-se à disciplina de Metodologia do Ensino de Física I e II, contempladas na grade curricular do curso de Licenciatura em Física da Universidade de São Paulo, obrigatórias para obtenção da conclusão do curso, sendo oferecidas pela Faculdade de Educação em dois semestres independentes.

Essa disciplina, em geral, é oferecida em duas turmas, uma do diurno e outra do noturno, cujos professores são distintos. Na organização da disciplina há um professor e um monitor que o auxilia. A turma que acompanhamos foi a do noturno, no primeiro semestre no decorrer da Metodologia do Ensino de Física I (MEFI) e no segundo semestre em Metodologia do Ensino de Física II (MEFII).

O professor foi o mesmo nas duas disciplinas, sendo que a MEFI teve trinta (30) alunos que a frequentaram, dentre eles alguns (4) eram de outros cursos, Licenciatura em Matemática e Licenciatura em Biologia e Química, que faziam a disciplina como optativa. No segundo semestre, correspondente à MEFII, o total de alunos frequentes foi de vinte e seis (26). Observa-se que a maioria dos alunos aprovados na MEFI seguiram matriculados em MEFII, exceto um que precisou mudar de turma passando para o diurno e os que fizeram apenas a disciplina I como optativa, sendo que a sala recebeu dois alunos que não tinham participado do grupo.

O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto.

4.1.1 A estrutura da disciplina

A proposta das disciplinas era desenvolver com os alunos elementos teóricos e o estágio, de forma que, pela integração das ações realizadas, levassem os licenciando a se aprofundarem em sua formação profissional, formação para docência.

As disciplinas foram estruturadas com atividades de ensino variadas, que buscavam discutir, em sala de aula, com os alunos questões referentes ao trabalho docente e como trabalhar com os alunos da escola básica os conteúdos curriculares, o papel do professor no ensino e sua importância para sociedade, bem como as influências dos contextos externos na escola e na formação docente.

As atividades de ensino e de aprendizagem da disciplina MEFI apontam três eixos temáticos que foram desenvolvidos ao longo das aulas, eixos A, B e C, o programa com seu cronograma e o resumo da proposta se encontra no Anexo A (Anexo A: Cronograma da disciplina Metodologia do Ensino de Física I e II, com o programa por aula).

O Eixo A, denominado “re-conhecendo a sala de aula de Física”, tinha como objetivo conhecer, ou reconhecer, os elementos estruturantes para a organização do trabalho docente com foco na sala de aula, tais como os documentos oficiais que norteiam o ensino básico brasileiro, o currículo sugerido e o que é trabalhado pelo professor, bem como as representações sobre ensino, aprendizagem e Ensino de Física.

Para o Eixo B, chamado de “planejando e intervenções para a sala de aula”, a intenção se voltava para discussões sobre a organização de atividades de ensino de Física, neste momento buscando discutir em grupos, organizar pequenas atividades de ensino ou resolver atividades de aprendizagens, com o propósito de refletir sobre as mesmas e começar a pensar no papel do professor na preparação dessas atividades de ensino, em como prepará-las e no desenvolvimento delas com os alunos, nas necessidades e dificuldades que se apresentam para os licenciandos.

O Eixo C, de nome “analisando intervenções em sala de aula”, visava uma análise crítica das ações na sala de aula, depois da atuação dos licenciando nas escolas com suas sequências de ensino, das observações do contexto, coleta e análise de materiais e do contato com os materiais teóricos e práticos apresentados nas aulas.

Na disciplina de Metodologia de Ensino de Física II a proposta era dar continuidade ao processo estabelecido em MEFI com maior ênfase nas ações práticas em sala de aula, buscando um contato mais estreito com a escola, no aspecto de maior número de intervenções

na sala de aula. O que significou a preparação de um programa mais elaborado de atividades de ensino, com planejamento, implementação, análise das atividades de ensino de forma mais aprofundada, visando a atuação direta do licenciando no foco de suas ações docentes, a aula, compreendendo esta aula em todas as suas relações e complexidade, pois para se chegar ao objeto aula existe um processo anterior e posterior que constitui o trabalho docente.

As atividades de ensino propostas, para ambas as partes da disciplina, constavam de textos e resenhas dos mesmos, sendo esta última não obrigatória para todos os textos, assim havia um número mínimo de resenhas a ser entregue. Os textos eram referentes ao papel da ciência, ensino e aprendizagem de ciências, a educação científica, a alfabetização científica, ensino por investigação, problematização na atividade de ensino, a questão da linguagem gráfica no Ensino de Física, como um exemplo de trabalhar com as diferentes linguagens, interações discursivas como investigação na sala de aula, a contextualização nas aulas e a imagem do trabalho científico. Os textos apresentados à leitura constam do programa da disciplina, e estão apresentados no Anexo A.

Os textos tinham como objetivo aprofundar o estudo de questões sobre o ensino que possam, a partir deles, respaldar teoricamente as discussões em sala, para que os alunos não ficassem apenas no senso comum e em suas opiniões sem embasamento teórico no momento das discussões, bem como, para agregar conteúdo teórico à formação, além daquele que já traziam do curso e da experiência de vida de cada um.

Na sala, em geral, era dada uma situação-problema, ou alguma questão que buscasse referenciais no texto indicado para leitura, ou ainda a apresentação de trecho de algum vídeo, que os alunos discutiam em grupo, tentando apresentar propostas para as questões que eram colocadas, cujas reflexões e/ou observações, associadas à leitura dos textos levavam para a discussão geral com sala, mediada pela professora.

O estágio foi componente obrigatório da disciplina, visava o contato dos licenciandos com o contexto escolar, com as ações docentes, aproximando-o tanto do professor da sala de aula do Ensino Básico como dos alunos, principalmente ao atuarem nas regências.

Na MEFI, foi proposto o desenvolvimento do estágio por várias ações de aproximação, observação e atuação na escola. A primeira não ocorreu na escola, tinha o objetivo de entrevistar alunos egressos do Ensino Médio, para verificar o que lembravam do curso de Física que tinham tido, como havia sido esse curso e a importância que teve para a vida deles.

A outra ação previa a entrada na escola, buscando conhecer o contexto da escola na qual o estágio ocorreria para cada licenciando, estabelecendo o contato com a direção ou coordenação, observando o ambiente escolar e analisando o projeto político pedagógico daquela unidade de ensino.

Em um segundo momento, na mesma escola, a ação proposta tinha como objetivo a observação da aula do professor que acompanhariam, fazendo uma análise preliminar para verificarem a interação professor-aluno que ocorria na sala de aula.

Após essa fase de reconhecimento do contexto escolar e já decorrida diversas leituras de textos da literatura sobre ensino e realizadas discussões, os licenciandos iniciaram a preparação de uma sequência didática, com duração de 3 a 5 aulas, para aplicação na sala de aula que estavam acompanhando. O tema escolhido, primeiro deveria ser discutido com o professor da escola para verificar se este iria preferir uma atividade de ensino sobre o assunto que estava discutindo em aula ou se o tema poderia ser livre. A atividade de ensino deveria propor uma situação problematizadora que os colocasse os alunos na busca de solução para um problema, que os motivasse na discussão do tema de Ciências proposto.

A atividade de ensino poderia, ou era desejável, ser preparada em dupla, porém nem todos os alunos tinham disponibilidade de horário para isto. Antes de iniciar a aplicação na escola, cada sequência didática era apresentada para sala e recebia os comentários e as contribuições dos colegas, sob a mediação da professora da disciplina. Após esta etapa, a sequência didática era reestruturada e iniciava-se a aplicação em sala de aula.

A atividade de ensino desenvolvida com os alunos na escola era analisada pelos licenciandos e delas trazia-se para a apresentação e discussão com o grupo da disciplina um episódio das aulas que tivesse sido significativo. Esse episódio não representava uma síntese de todo o processo, mas alguma situação relevante do ponto de vista dos licenciandos, que deveria tentar correlacionar com os estudos feitos na disciplina, para o que também contavam com a mediação da professora e as intervenções colaborativas dos colegas da sala. Finalizando, entregavam uma análise crítica por escrito do episódio apresentado.

No final da disciplina foi feita uma avaliação escrita sobre os temas tratados e o ensino, com a intenção de verificar as relações que os licenciandos estabeleceram, a avaliação era individual, mas poderia ser discutida com o colega, visando à ampliação das ideias a serem explanadas.

A disciplina de Metodologia de Física II propunha a continuação e aprofundamento das discussões dos temas propostos em MEFI, acrescentando mais alguns textos, com a ideia

de ampliar o panorama para a reflexão sobre o ensino de Física e também retomando questões já abordadas no arcabouço teórico visto no primeiro semestre.

Em MEFII ocorreu maior ênfase na elaboração de atividades de ensino para discussão em grupos menores e depois com a sala toda. A partir de um tema dado foi proposto que cada grupo elaborasse uma atividade de ensino que tivesse questão problematizadora que a mobilizasse, sua estrutura, objetivos, quais conteúdos seriam abordados e como estes seriam desenvolvidos, como contextualizariam o tema, dentre outras questões. Os grupos poderiam tomar como possibilidade o ensino por investigação, pois já haviam trabalhado com situações investigativas no semestre anterior e essa era uma oportunidade de aprofundarem-se neste quesito, o que colaboraria com a estruturação posterior das aulas para o estágio.

O estágio foi composto de um maior número de aulas, de 6 a 10, que deveriam ser cumpridas com a regência dos licenciandos. Para essa ação de estágio solicitou-se sua organização em grupos de 2 ou 3 licenciandos, tanto para a elaboração da sequência didática quanto das regências das aulas. Isto, exceto se não fosse possível compatibilizar o local da escola e os horários dos licenciandos, neste caso haveria a elaboração conjunta da atividade de ensino e a aplicação da mesma era feita em escolas distintas pelos licenciandos em separado.

Para o estágio apresentaram-se apontamentos crítico-reflexivos sobre as aulas ministradas, que foram trazidos para discussão com a sala toda, o que permitiu que as experiências fossem trocadas e amadurecidas em relação às observações e interpretações da sala de aula, além de discutirem possibilidades de intervenções no contexto da escola que pudessem levar às mudanças para um ensino mais significativo para alunos e professores, pois nesse momento falavam de um lugar vivenciado e com um trabalho, mesmo que pequeno, realizado.

No final, também nessa disciplina, foi feita uma avaliação individual com consulta às anotações pessoais e resenhas feitas sobre os textos, visando verificar as relações que os licenciandos estabeleceram entre os textos estudados, as práticas realizadas e o ensino. A estruturação das ações das disciplinas de MEF I e II estão apresentadas na Figura 7.

4.1.2 O grupo de licenciandos

Para complementar a caracterização do contexto e conhecermos um pouco mais o grupo de alunos participantes da disciplina de Metodologia do Ensino de Física I acrescentamos algumas informações aquelas relativas à escolha do curso e as aspirações referentes à docência, obtidas pelo questionário 1. Esses dados forneceram um panorama da classe, mas não contemplam o total de alunos porque alguns não responderam ao questionário 1 (26% dos presentes na aula, pois a participação para fornecer dados a pesquisa era voluntária, por isso não havia insistência na devolução do questionário respondido).

Esse questionário visava responder questões gerais que buscavam caracterizar os alunos e trazer uma primeira ideia de seus interesses com a docência. Apresentamos aqui apenas os dados que especificam o contexto, aqueles referentes à docência discutiremos no capítulo de análise. Dentre os trinta (30) alunos que frequentaram a disciplina MEFI, vinte e sete (27) receberam o questionário, os três (3) que não o receberam não compareceram à aula

Reflexão de Episódio da Regência Individual Individual ou em Grupo Sala de Aula MEF Observação e Pesquisa Planejamento Apresentação do Planejamento Regência dos licenciandos Discussão Coletiva Discussão Coletiva Discussão em Grupo Discussão Coletiva Discussão em Grupo

Metodologia do Ensino de Física I e II

Ações das aulas da Disciplina

Ações de Estágio Escola Básica Aulas do professor efetivo Atividades extra- classe Alunos Professores Direção Coordenação

Textos Teóricos Atividades de Ensino

Atividades de Aprendizagem Discussão em Grupo Discussão Coletiva Discussão em Grupo Licenciatura em Física Avaliação Escrita do Processo Individual com consulta

Figura 7: Estruturas das disciplinas de Metodologia do Ensino de Física I e II,

nesse dia. Dos questionários distribuídos vinte (20) foram respondidos, o que corresponde a 74% dos alunos presentes, os outros (7) não foram devolvidos.

A sala de aula era composta por alunos de idades variadas, o que podia-se notar pela observação, assim pedimos que indicassem a idade ao responderem ao questionário, o que nos indicou uma diferenciação nas faixas etárias, mostrando que os alunos se distribuem em 3 faixas etárias principais: de 18 a 23 anos, de 24 a 29 anos e de 30 a 35 anos, nas quais o número total de alunos é bastante próximo. Assim, podemos notar que há uma mescla de idades na composição da sala, o que pode ser mais característico para o curso um realizado no período noturno.

A maioria dos alunos cursou o Ensino Fundamental em escola pública, que podemos verificar também que uma parcela menor frequentou escola particular. Esse quadro se altera um pouco para o Ensino Médio porque surge a escola técnica, que absorve alunos tanto das escolas públicas quanto particulares. Notamos que, no Ensino Médio, com a possibilidade da escola técnica há um ligeiro aumento do número de alunos que passam a cursar a escola pública.

Em relação à entrada no curso superior, os alunos têm a Licenciatura em Física como primeira graduação (14), é minoria aqueles que estão fazendo o curso como segunda graduação (5), nesses casos não finalizaram a primeira graduação, que eram da área de Ciências Humanas ou Exatas.

Do total que respondeu ao questionário, pouco menos da metade (45%) pretendia finalizar o curso no mesmo ano em que estavam fazendo a disciplina de MEFI, outra parte (35%) levaria de 1 a 2 anos para a conclusão e, o restante mais de 2 anos (15%). No entanto, isto se uma previsão feita pelos licenciando segundo as disciplinas que eles ainda tinham para cursar, para completar seus créditos e poderem concluir o curso, assim isto está condicionado a conseguirem cursar as disciplinas nos semestres previstos e obterem a aprovação e cada uma delas.

Aqueles que responderam ao questionário nos deram uma visão da sala de aula do noturno, nesta disciplina, que foi composta por uma maioria que trabalhava, sendo bem variável o número de horas semanais dedicada a esse trabalho, de 10 horas até mais de 40 horas, o que correspondia a 15 dos licenciandos (75%). Um detalhamento maior mostra que parte dos licenciandos trabalhava em atividades docentes e parte em áreas técnicas administrativas, sendo as instituições bancárias uma dessas áreas. Cabe observar, que os que

estavam ligados à docência eram os que trabalhavam, em geral, de 10 a 30 horas semanais e o segundo grupo de 30 a mais de 40 horas por semana.

Os dados referentes ao trabalho remunerado podem indicar alguma correlação com os da faixa etária, para aqueles alunos entre 30 a 35 anos que por trabalharem, às vezes, isto pode levá-los a permanecerem por mais tempo no curso, ou a não começarem a graduação no início da fase adulta. Isto é uma possibilidade, pois não temos dados suficientes para uma afirmação, bem como, essas questões não foram postas para o grupo de licenciandos.

Os dados apresentados aqui buscaram apontar algumas características gerais da sala com o grupo que compõem o contexto da disciplina. Com esse quadro só podemos apreender o conjunto que constitui a disciplina de MEFI, que pode se reorganizar em subgrupos em função do que olhamos, mas não conseguimos captar sentidos pessoais. Por este motivo o questionário foi complementado com outros dados que pretenderam observar melhor a dinâmica da sala e as relações estabelecidas, para buscar pela aprendizagem da docência e seu sentido para sujeitos deste grupo.

Na disciplina de Metodologia do Ensino de Física II não repetimos a caracterização dos alunos em relação aos dados que colhemos em MEFI, pois o grupo sofreu pouca alteração, tendo ingressado na turma apenas um novo aluno e outros saídos ou reprovados, totalizando 26, assim consideramos o grupo de licenciandos segundo as informações já apresentadas.