• Nenhum resultado encontrado

REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A ciência da medição

2.1.3. Estrutura organizacional da metrologia

2.1.3.1 A Metrologia Legal

Quer os consumidores quer a indústria deparam-se diariamente com decisões que são baseadas em resultados de medições e que podem influenciar as organizações e a economia do país. Neste cenário, verifica-se por um lado os fabricantes, importadores e vendedores de instrumentos de medição, que sendo responsáveis pelos mesmos, têm conhecimento do processo de medição e a responsabilidade de zelar pela sua conservação. Por outro lado, os compradores ou utilizadores desses mesmos instrumentos, habitualmente apresentam desconhecimento no domínio metrológico o que favorece o reduzido nível de exigência durante a sua fase de aquisição, pós- venda e utilização.

Diversas atividades metrológicas apresentam um carater legal, estando sujeitas à aplicação de sanções e de procedimentos punitivos como é o caso das atividades relacionadas com a proteção do consumidor, abrangendo os domínios fiscais, de ambiente, energia, saúde, segurança, etc. Essas atividades metrológicas são regulamentadas por legislação Nacional e/ou Europeia, que cada Estado entende regulamentar no seu território (Birch, 2002).

A metrologia legal desempenha assim um papel fundamental no desenvolvimento económico sustentado, atuando em todas as áreas da sociedade de uma forma regulamentar e técnica, permitindo salvaguardar os direitos e a proteção dos consumidores e dos cidadãos (OIML D 1, 2012). Assim, onde existir interesse e relevância pública para que seja dada garantia oficial às medições realizadas e à segurança das mesmas, criam-se os pressupostos para a atuação da metrologia legal (Kallgren e Pendril, 2003). Esta atuação compreende todas as atividades para as quais os requisitos legais são prescritos na medição, unidades de medida, instrumentos de medição ou sistemas e métodos de medição, podendo ser realizadas pelo Estado ou em seu nome. A metrologia legal utiliza o desenvolvimento tecnológico e a investigação preconizada pela metrologia científica, na obtenção de referências e de referenciais aplicados às grandezas e aos instrumentos de medição (OIML D1,2012).

De acordo com o VIML, (IPQ, 2009:§1.2), metrologia legal é definida como sendo “parte da metrologia relativa às atividades que resultam de exigências regulamentares e que se aplicam às medições, às unidades de medida, aos instrumentos de medição e aos métodos de medição que são efetuados por entidades competentes”.

As atividades integradas na metrologia legal e regulamentadas pelo Decreto-Lei n.º 291/90 designam-se por operações de controlo metrológico de instrumentos de medição, e consistem nos seguintes procedimentos:

a) Aprovação de modelo: procedimento que permite validar a conformidade do protótipo com as especificações aplicáveis ao instrumento sujeito a aprovação. Para o efeito, um exemplar do instrumento é sujeito a um conjunto de ensaios, devidamente estipulados na legislação que o regulamenta, sendo aprovado se, a análise e validação dos resultados evidenciarem a conformidade com os requisitos estabelecidos. Esta comprovação é publicada em Despacho, no Diário da República.

b) Primeira Verificação: O instrumento é sujeito pela primeira vez a uma verificação de controlo metrológico legal.

c) Verificações Periódicas: Periodicamente (em função das disposições regulamentares para cada instrumento de medição), o instrumento é sujeito às operações de verificação metrológica periódica.

d) Verificações Extraordinárias: são realizadas sempre que o dispositivo de medição apresente variantes à normalidade de funcionamento.

Por imposição legal, em todos os ensaios das operações de controlo metrológico são aplicadas as regras de escrita dos nomes e dos símbolos do sistema de unidades de medida legais, estabelecidas através do Decreto-Lei n.º 128/2010.

A metrologia legal assume-se como uma obrigação de cada Estado para com os seus cidadãos e a sociedade em geral. Internacionalmente, e em Portugal, a metrologia legal conta com a intervenção do sector privado mediante a qualificação atribuída pelo organismo competente. Conforme já referido, no caso Português essa competência está atribuída ao IPQ, IP, organismo do Ministério da Economia, devidamente regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 71/2012 e pela Portaria 23/2013.

No exercício desta disciplina regulamentar, participam as Direções Regionais da Economia, os Serviços Municipais de Metrologia das Câmaras Municipais, Serviços Concelhios de Metrologia privados, os Organismos de Verificação Metrológica e os Reparadores e Instaladores, num total de cerca de sete centenas de entidades públicas e privadas previamente qualificadas pelo IPQ.

Marcos da metrologia legal em Portugal

De acordo com os registos históricos existentes20, a história da metrologia em Portugal coincide, no seu início, com a própria história da metrologia legal. As práticas metrológicas em Portugal têm raízes históricas e devidamente reconhecidas, nas quais os designados padrões de medida já

eram utilizados desde o início da nacionalidade. As cartas de Forais21 foram os primeiros documentos históricos do Estado onde os pesos e medidas estão referenciados (Cruz et

al.,1990).

Um marco importante para a história da metrologia legal em Portugal encontra-se registado em 1983, uma vez que foi atualizado o acervo de legislação, vigente desde o século XIX. O Decreto-Lei 202/83, de 19 de Maio, que veio assim atualizar a legislação existente, estabeleceu o suporte regulamentar para o exercício do controlo metrológico legal. Posteriormente, em 1990, devido à legislação comunitária, o controlo metrológico foi objeto de novas harmonizações através do Decreto-Lei n.º 291/90, de 20 de Setembro, que prevalece até aos dias de hoje.

Em 1995, foi publicada a 1ª Diretiva da nova abordagem para os instrumentos de pesagem de funcionamento não automático (Diretiva 90/384/CEE) e posteriormente, com o Decreto-Lei nº 192/2006 de 16 de Junho (Diretiva 2004/22/CE - MID), onze categorias de instrumentos de medição ficaram abrangidos pela nova abordagem preconizada pela Diretiva Europeia para os instrumentos de medição. Recentemente, e no sentido de introduzir as alterações constantes da Diretiva 2009/137/CE, o anterior diploma legislativo foi revisto (Decreto-Lei n.º 71/2011). Deste modo, os instrumentos de medição abrangidos por Diretivas, para além das disposições específicas aplicáveis à Aprovação de Modelo e/ou Exame de Tipo, todas as restantes operações contempladas pela legislação existente foram mantidas, designadamente, a Verificação Periódica e Verificação Extraordinária.

Assim, a livre circulação dos produtos proporcionou a adoção de medidas que facilitassem as trocas comerciais, e como consequência, os instrumentos de medição abrangidos por tais medidas apenas são sujeitos à aprovação de modelo num estado-membro (até então, o instrumento teria de ser aprovado em cada país onde fosse comercializado).

Controlo metrológico

Em Portugal, a estrutura legislativa do controlo metrológico foi concebida em 3 níveis: Um Decreto-Lei (DL 291/90) com os princípios básicos do controlo metrológico. Uma Portaria geral (Portaria 962/90) com as definições, condições e características comuns a todos os instrumentos de medição, bem como os símbolos das operações.

21 O arquivo nacional da tore do tombo apresenta uma coleção de cartas de forais, objeto de relevante

Uma Portaria específica para cada instrumento de medição com as condições particulares que lhes são aplicáveis.

Em Portugal, existem quarenta e três22 categorias de diferentes instrumentos de medição regulamentados, além dos produtos pré-embalados e das garrafas recipiente-medida. Em todas as operações de controlo metrológico legal os instrumentos são aprovados se apresentarem erros inferiores aos erros máximos admissíveis (estipulados nas respetivas Portarias). Esses instrumentos de medição são utilizados, em regra, nas transações comerciais, na segurança, em operações fiscais ou salariais, na saúde, na economia de energia, bem como na proteção do ambiente.

Os destinatários do controlo metrológico são:

Os fabricantes e importadores de instrumentos de medição;

Os proprietários e utilizadores desses instrumentos, ou seja, a sociedade em geral.

A internacionalização da metrologia legal

No contexto da World Trade Organization (WTO) as atividades da metrologia legal têm um papel preponderante na economia no sentido de permitirem a livre circulação dos produtos (Diretiva 2004/22). Ao abrigo do artigo 2.4 do acordo de reconhecimento do Techinal Barreiers

to Trade (TBT), os países devem elaborar a legislação de acordo com os normativos

internacionais, permitindo o livre reconhecimento dos equipamentos no espaço único Europeu23. Desta forma, vários esforços têm sido desenvolvidos no sentido de permitir e favorecer a livre circulação de produtos, serviços e bens.

Os Tratados internacionais estabelecidos entre a convenção do metro e a OIML permitiram a adoção generalizada do SI, de padrões de medição e de requisitos metrológicos específicos para os instrumentos de medição (OIML D1,2012: §2.8). Além disso, as organizações regionais de metrologia e as organizações regionais de metrologia legal têm vindo a harmonizar os requisitos estabelecidos para os estados membros, através de sistemas de reconhecimento mútuo que incluem a aceitação de resultados de medições e a equivalência dos padrões, em conformidade com as capacidades e as competências dos laboratórios de metrologia (OIML D 13: 1986; OIML B 10:2011 e Amendment, 2012).

22Informação adicional em:

http://ipq1sapp02:8088/pt/metrologia/scontrolometrologico/regpub/Pages/RegPub.aspx

23 Informação disponível em http://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/17-tbt_e.htm. Acedido em

No contexto Europeu, a European Cooperation in Legal Metrology- WELMEC24, fundada em 1990 através de um memorando de entendimento assinado em Berna, é a organização Europeia que concentra o trabalho desenvolvido pelas entidades Europeias de metrologia legal, e tem por missão desenvolver e manter a harmonização da metrologia legal na sociedade, através da materialização e prossecução dos seus objetivos. Para além dos estados membros da união Europeia, desta organização fazem também parte os países associados da European Free Trade

Association (EFTA), contando com a participação de trinta membros permanentes (Portugal

inclusive) e de sete associados.

Para além do comité geral, A WELMEC apresenta na sua estrutura grupos de trabalho, organizados em função da especificidade técnica, designadamente:

WG 2 Directive Implementation (2009/23/EC) WG 4 General Aspects of legal metrology WG 5 Metrological supervision

WG 6 Prepackages WG 7 Software

WG 8 Measuring Instruments Directive

WG 10 Measuring equipment for liquids other than water WG 11 Utility meters

No âmbito das suas atividades, a WELMEC tem representação na Comissão Europeia, na

European Association of National Metrology Institutes (Euramet) e na European co-operation with Accreditation (EA).

Em contexto internacional, as atividades da metrologia legal estão sediadas na OIML, que é uma entidade intergovernamental criada em 1955, através de uma convenção internacional realizada em Paris. Atualmente, a organização é constituída por 57 estados-membros (Portugal inclusive) e 65 membros observadores. De acordo com os dados do banco Mundial25, em 2007 os membros da OIML representavam em 86 % a população mundial e 96 % da economia global.

De acordo com os objetivos definidos em convenção (OIML B6, 1999), a OIML prioriza a identificação das ações a desenvolver de acordo com as características da metrologia legal dos

24

http://www.welmec.org/fileadmin/user_files/publications/WELMEC_1-An_Introduction_issue_6.pdf. Acedido em 2013-02-16.

países signatários, e em sintonia com as atividades de normalização, acreditação e certificação (OIML G 16, 2007). Em regra, os documentos técnicos redigidos à luz da OIML têm como referência documentos normativos e requisitos de qualificação que passam forçosamente pela qualificação dos sistemas de gestão da qualidade e de competência técnica.

Com o propósito de estabelecer e fortalecer a harmonização internacional, a OIML26 estabeleceu ligações e acordos de reconhecimento com várias organizações internacionais com assento institucional (OIML B12,2004), cuja apresentação é remetida para o Anexo I.