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A modernização tecnológica da agricultura como instrumento do crescimento econômico

Desde que se admita que a reforma agrária se constitui em um processo político, fundado, portanto, na luta de classes e nas necessidades de acumulação de capital, observa-se que as possibilidades de sua efetivação dependem da correlação de forças existentes em uma sociedade. Como se trata de uma decisão, dentre outras possíveis, que visa acelerar o ritmo de exploração das forças produtivas e reduzir as tensões sociais em um dado momento histórico, sua realização não adquire necessariamente um caráter transformador, tornando-se, algumas vezes, um instrumento de controle dos conflitos que ameaçam a própria estabilidade do sistema político. Desse modo, converte-se em um mecanismo de ajuste funcional das relações sociais e produtivas do capitalismo, pelo menos por determinado período de tempo, após o qual as contradições entre o capital e o trabalho reaparecem com maior intensidade, de acordo com as necessidades de sua reprodução.

Por conseguinte, se a realização de uma reforma agrária não se constitui em uma via necessária para atender as necessidades de desenvolvimento capitalista no campo, outras opções de mudança que sejam adequadas ao cumprimento desse objetivo, podem se consolidar como uma alternativa histórica possível. Isto significa que a concretização de um tipo alternativo de mudança não se dá ao acaso, mas depende dos interesses políticos em jogo, tanto das classes quanto das frações de classe envolvidas nesse processo, conforme as condições de que dispõem para impô-los ao conjunto da sociedade. De qualquer modo, a opção por determinada trajetória de crescimento econômico no campo, depende dos interesses

132 prevalecentes, da maneira como são concebidos e instrumentalizados pelos grupos dirigentes, em determinadas circunstâncias históricas. Daí poder-se afirmar que não existe uma reforma agrária propriamente dita, mas sim reformas agrárias. De forma idêntica, pode-se dizer que os processos de modernização tecnológica do campo assumem configurações diferenciadas, embora atendam aos mesmos propósitos. De acordo com Medeiros (2003, p.18-19)

Os movimentos camponeses adquiriram grande força política no início dos anos 1960, por intermédio de suas ações de resistência, manifestações de rua, greves etc. No entanto, o vigor que a bandeira da “reforma agrária” assumiu deve ser buscado também no quadro mais geral da política brasileira e latino-americana. Após a Segunda Guerra Mundial e em plena Guerra Fria, colocava-se na ordem do dia a necessidade de se promover o desenvolvimento econômico dos países latino- americanos, o que então significava estimular a industrialização. Nesse contexto, a agricultura com base em grandes propriedades e baixo nível de incorporação de tecnologia era considerada um obstáculo ao desenvolvimento. Para a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), que formava os principais economistas e planejadores latino-americanos da época e era um importante fórum elaborador de diretrizes de políticas econômicas, havia necessidade de alterar esse quadro, modernizando o setor, estimulando-o a produzir para o mercado interno. Segundo ela, era preciso ainda elevar o padrão de vida das populações rurais, de forma que elas pudessem também se constituir em um mercado consumidor para as indústrias emergentes.

Não obstante, no presente trabalho toma-se como ponto de partida que o rural e o urbano são aspectos de uma mesma realidade, que se modifica com base no desenvolvimento das forças produtivas e de mudanças nas relações sociais de produção. Estes são os fatores determinantes dos processos de modernização de estruturas produtivas, que correspondem a necessidade de prover respostas para os problemas postos pelo desenvolvimento histórico, a partir das perspectivas dos grupos dominantes em uma sociedade. Neste sentido, também se admite a inexistência de tecnologias neutras. Toda produção tecnológica é condicionada pelos interesses dominantes em uma sociedade, considerando-se que o esforço dispendido para sua geração é financiado pelos grupos que controlam a elaboração e difusão do saber cientifico, que impõem pautas de investigação, objetivos e metas aos indivíduos ou coletivos encarregados de sua elaboração. Desse modo, a produção de inovações tecnológicas segue determinadas trajetórias, ao tempo que elimina outras, que convergem para a realização de fins previamente decididos.

Assim é que nas sociedades ocidentais o desenvolvimento do capitalismo industrial estimula e subordina o crescimento das atividades produtivas na agricultura, mediante a incorporação de tecnologias modernas que conduzem à elevação da produtividade e geram excedentes de trabalho no campo. Os trabalhadores que integram a força de trabalho excedente, sem alternativa de emprego nas áreas rurais, são obrigados a migrar para a cidades a procura de ocupação nas atividades industriais e de serviços. Por sua vez, a disponibilidade dessa força de

133 trabalho nos centros urbanos contribui para o incremento dos processos de industrialização e urbanização, que têm o seu dinamismo também potencializado pelo desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação de massa.

No Brasil, a opção pela modernização tecnológica do campo situa-se em um momento em que é atribuído ao setor agrícola o desempenho de um novo papel no processo de acumulação de capital. Teve como marco cronológico mais importante o Golpe Militar de 1964, evento que assinalou o modo pelo qual foram resolvidos os impasses que limitavam o crescimento econômico do país. No entanto, a posição das oligarquias no sistema de poder foi abalada fortemente a partir de 1930, quando a emergência da crise do capitalismo internacional, manifestada na depressão econômica e na retração dos mercados, expôs, mais uma vez, a vulnerabilidade do modelo agrário-exportador, que constituía a base de sua dominação política (BASBAUM, 1976). Este momento ainda se mostrou favorável à ascensão de uma incipiente burguesia industrial que, associada ao proletariado nascente e a estratos médios da população urbana, formados por comerciantes, profissionais liberais e militares, apearia as oligarquias rurais do comando do Estado, passando a orienta-lo conforme seus interesses.

Contudo, a Revolução Constitucionalista de 1932 mostraria que as oligarquias rurais não haviam sido plenamente destituídas de sua força política, o que obrigava a recomposição do pacto de poder entre elas e a burguesia industrial e comercial ascendente. Isto implicava, portanto, na preservação de condições políticas do exercício do poder nas áreas rurais, o que permitia aos grandes proprietários de terra manter um forte controle sobre a população rural, com base no monopólio das instituições do Estado, o que contribuía para manter a sua força de representação política, ainda que em um plano secundário.

No entanto, o controle do Estado pela burguesia urbana mostrava-se essencial para a reorientação da política econômica no sentido do desenvolvimento do capitalismo, não obstante as limitações decorrentes do pacto com as oligarquias agrárias. Isto permitiu a definição da prioridade de alocação dos recursos existentes para a viabilização da empresa industrial, concretizada na realização de investimentos destinados à criação de uma infraestrutura necessária à sua operação, tais como construção de estradas, redes de comunicações e subsídios à importação de bens de capital. Desse modo, a atuação do Estado em apoio à industrialização, resultou na expansão desse segmento da economia, e tornou-se um dos aspectos mais importantes dos períodos de predominância das políticas desenvolvimentistas.

134 Assim, a necessidade de administração do conflito de interesses e de poder entre as classes dominantes, e mesmo entre as frações de uma mesma classe, contribuía para a geração de condições que inibiam a realização de mudanças na estrutura da propriedade da terra e nas relações sociais de produção na agricultura. Não obstante, estes arranjos políticos e institucionais mantinham as condições que favoreciam a continuidade dos conflitos sociais no campo.

Alterações importantes neste quadro seriam produzidas com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. A concentração dos países capitalistas envolvidos neste conflito nos esforços produtivos voltados para a guerra, proporcionou a oportunidade de avanços no processo de industrialização em curso no Brasil, decorrentes da necessidade de se promover a fabricação de bens anteriormente importados para satisfazer as demandas do mercado interno. O impulso gerado pelo processo de substituição de importações estende-se aproximadamente até os primeiros anos da década de 1950, quando se evidencia a insuficiência dos capitais disponíveis no país para a continuidade do processo de crescimento econômico, que tinha na industrialização o seu vetor mais dinâmico.

Daí é que se concebe o entendimento de que a superação da insuficiência de capitais autóctones para impulsionar o crescimento econômico poderia advir da associação com o capital financeiro externo. Tal associação poderia, ainda, viabilizar um processo de transferência de tecnologia, indispensável à intensificação da acumulação de capital, desde que representava a incorporação de “trabalho morto externo”, o que significava a ultrapassagem de etapas percorridas pelos países que desenvolveram tais conhecimentos (OLIVEIRA, 1975, p. 33-34). Esta opção implicava, porém, no incremento da dependência financeira e tecnológica do Brasil em relação aos países capitalistas mais avançados, detentores do capital e das tecnologias a serem transferidas, os quais viriam a obter forte participação no parque industrial brasileiro, o que resultaria inevitavelmente em acrescentar uma nova dimensão à dominação imperialista no país.

O rumo tomado pelo processo de industrialização acentuava, portanto, um conjunto de tensões e contradições decorrentes do aprofundamento da concentração de renda preexistente, haja vista que os camponeses e trabalhadores assalariados urbanos e rurais se viam cada vez mais despojados dos resultados da riqueza socialmente produzida, o que se manifestava no agravamento de suas condições de vida. Os trabalhadores em seu conjunto, inclusive aqueles com salários mais elevados, eram penalizados pelas crescentes desigualdades originadas do modelo de crescimento vigente, o que gerava um descontentamento em escala crescente. Além

135 disso, a inflação acarretada pela decisão de acelerar o crescimento posta em prática na segunda metade dos anos 1950, também operava no sentido de redistribuir a renda em favor dos grupos dominantes. Assim, tais contradições entre o capital e o trabalho resultavam em manifestações de caráter político e greves que paralisavam constantemente as atividades produtivas. Isto começava a comprometer progressivamente o ritmo do processo de acumulação, além de ameaçar o retorno dos investimentos realizados.

A estagnação da economia brasileira produzia, portanto, impasses que só poderiam ser resolvidos, segundo determinados grupos políticos, mediante a realização de reformas que possibilitassem a retomada do processo de crescimento econômico. Tais reformas, dentre elas a reforma agrária, colocavam-se no horizonte das decisões políticas orientadas por uma proposta de desenvolvimento capitalista com pretensões nacionalistas e de maior autonomia em relação aos interesses do capital estrangeiro. Diante das intensas mobilizações de trabalhadores que, de modo geral, as respaldavam e procuravam legitimá-las, sobreveio a resposta das frações da burguesia urbana comprometidas com um projeto de crescimento dependente e associado aos interesses do capital externo, que se concretizou no Golpe Militar de 1964.

Com efeito, a realização do golpe eliminava as perspectivas de realização das reformas e os processos de mobilização política dos trabalhadores, confirmando a opção da burguesia industrial e comercial por um projeto de desenvolvimento associado ao capital estrangeiro. Por outro lado, a realização do golpe foi apoiada decididamente pelas oligarquias rurais que o encaravam como um instrumento eficaz de contenção dos conflitos sociais no campo, que ameaçavam o padrão de concentração fundiária existente, frustrando, consequentemente, as expectativas em torno de melhorias nas condições de vida nas áreas rurais.

Assim é que a reorientação da política econômica em favor do crescimento associado e dependente do capital estrangeiro requeria a desmobilização dos camponeses e trabalhadores assalariados urbanos e rurais, tendo em vista a necessidade de remoção de obstáculos políticos às medidas econômicas, que contemplava dentre suas ações mais imediatas uma forte compressão dos salários e a criação de um ambiente político livre de tensões e conflitos que pudessem desestimular o ingresso dos capitais externos. Neste contexto, o Estado foi permeado por um processo de modernização de suas estruturas técnicas e administrativas. Assim, a operacionalização de suas atividades passou a ser comandada por técnicos especializados e militares. Os primeiros eram encarregados de planejar e implementar as políticas necessárias à redefinição dos rumos do processo de acumulação, enquanto aos militares caberiam as tarefas

136 consideradas indispensáveis a eliminação dos obstáculos políticos que se antepunham à sua realização.

Neste sentido é que se consolidam e se completam os mecanismos que iriam reger a modernização tecnológica da agricultura brasileira. De um lado, a implementação de programas e projetos que visavam possibilitar a elevação da produção e da produtividade das atividades agrícolas, sem a realização de mudanças expressivas nos padrões de distribuição fundiária existente. De outro, a imediata extinção das Ligas Camponesas e a intervenção nos sindicatos rurais, que se constituíam nos principais instrumentos de organização e de luta dos camponeses e trabalhadores rurais.

Desse modo, a modernização tecnológica da agricultura brasileira, enquanto política alternativa à realização de uma reforma agrária, era dirigida principalmente para as atividades agrícolas destinadas à exportação, sobretudo aquelas que geravam os produtos mais demandados no mercado externo. Tal orientação baseava-se tanto na necessidade de geração de divisas que servissem como garantia para os empréstimos efetuados pelos países capitalistas avançados, quanto para proporcionar o aumento da produção de alimentos destinados ao abastecimento dos centros urbanos e de matérias-primas para as indústrias. Estes empréstimos eram, em grande parte, utilizados pelo Estado para a constituição de uma infraestrutura favorável ao desenvolvimento das empresas industriais. Isto também fortalecia e ampliava a possibilidade de sua intervenção nas atividades produtivas, através da criação de empresas estatais e da realização de investimentos encaminhados para apoiar o desenvolvimento das atividades industriais.

Assim, a viabilização da modernização tecnológica da agricultura apresentava como requisitos a revitalização de instrumentos de política agrícola como os do crédito, assistência técnica e cooperativismo, dentre outros, bem como o de geração de novas tecnologias, o que possibilitaria a capitalização dos estabelecimentos agrícolas e a incorporação de inovações técnicas e gerenciais para o desenvolvimento do processo produtivo. A utilização desses instrumentos também se estendia para os pequenos estabelecimentos agrícolas, na medida em que eles respondiam por uma expressiva parcela dos alimentos e matérias-primas industriais consumidos nos centros urbanos, cuja população aumentava constantemente em face da aceleração dos fluxos migratórios rural-urbano, conforme pode ser notado na Tabela1.

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Tabela 1 – Brasil: população residente por situação de domicílio: 1940 – 1980 (Mil habitantes)

Anos Urbana % Rural % Total

1940 12.880 31,2 28.356 68,8 41.236

1950 18.782 36,2 33.161 63,8 51.943

1960 31.303 44,7 38.767 55,3 70.070

1970 52.084 55,9 41.054 44,1 93.108

Fonte: IBGE: Anuário Estatístico do Brasil, 1985.

Observa-se que, em 1940, mais de dois terços da população brasileira se localizavam nas áreas rurais. Três décadas depois grande parte desse contingente havia se transferido para os centros urbanos, que já contavam, em 1970, com 60 % do total de habitantes do país.

O processo de modernização implicou na formação de quadros técnicos e administrativos com a função de exercer as atividades de planejamento e controle dos programas e projetos orientados para a modernização tecnológica do campo. A perspectiva ideológica compartilhada por estes quadros técnicos modernizantes consistia em pensar a possibilidade de um crescimento econômico para além dos interesses de classe, que supostamente beneficiaria toda a sociedade. Por sua vez, ao braço armado do Estado caberia afastar os obstáculos políticos às ações econômicas, sobretudo as manifestações de camponeses e trabalhadores rurais. Assim, os quadros técnicos e as forças policiais-militares se completariam, articulando o crescimento econômico com as exigências de segurança, do modo como eram compreendidas pelos detentores do poder.

Contudo, não obstante a importância do papel desempenhado pela utilização dos conhecimentos científicos e tecnológicos como um aspecto estratégico para o crescimento econômico e para a renovação dos modelos de gestão relativos às organizações estatais, não se podia dissociá-los, em nenhum momento, dos interesses de classe que conduziam o processo de modernização da agricultura. Tais interesses, no que se refere às intervenções cogitadas para as instituições estatais, orientavam-se para o crescimento econômico sem a participação dos camponeses e trabalhadores rurais através de suas entidades representativas

Tal como argumentado anteriormente, embora não se possa negar a necessidade da intervenção do Estado para promover o desenvolvimento do capitalismo no campo, a fim de

138 superar o atraso existente, cabe indicar as principais características que a modernização tecnológica da agricultura apresentava, de modo a evidenciar os interesses de classe que orientaram sua concepção e implantação. Neste sentido, deve-se ter em conta que o crescimento da agricultura brasileira se dava muito mais pela incorporação de novas extensões de terra ao processo produtivo, do que pela utilização de tecnologias modernas que possibilitassem o aumento de sua produtividade. Assim, a decisão de capitalizá-la, através do crédito, a fim de criar as condições de aquisição dessas tecnologias - o que envolvia a utilização de sementes selecionadas, fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos agrícolas - canalizou-se para as grandes propriedades, em grande parte voltadas para a exploração de cultivos e criações destinados à exportação, localizadas nas regiões mais industrializadas do país. Pode-se acrescentar, ainda, conforme salientado por Medeiros (2003, p. 19), que:

Se o desenvolvimento do país por meio da intensificação da industrialização era a meta, a aposta dos segmentos industriais mostrava-se muito mais voltada para estimular a modernização da agricultura, sem alterar a estrutura fundiária. Para esse setor, o mercado que a agricultura poderia abrir era principalmente o de máquinas e equipamentos pesados, insumos químicos, etc., o que não pressupunha uma redistribuição de terras. Além disso, a indústria nacional, nesse momento, ainda bastante concentrada em torno da cidade de São Paulo, tinha vínculos de origem de capital e de redes familiares com a grande propriedade, em especial com a cafeicultura.

De fato, eram os maiores estabelecimentos que, formalmente, possuíam as condições exigidas para a reposição do crédito recebido, que desenvolviam as atividades produtivas em grande escala e que exploravam os produtos de maior rentabilidade no mercado externo. No entanto, os grandes proprietários de terra muitas vezes desviavam os recursos creditícios recebidos, fortemente subsidiados, para a realização de investimentos nos centros urbanos que se mostravam bem mais rentáveis do que a sua aplicação nas atividades agrícolas, conforme sua destinação original. Ao lado disso, camponeses que respondiam por expressivas parcelas da produção de alimentos e matérias-primas destinadas aos centros urbanos recebiam uma quantidade muito limitada desses recursos. Isto ainda era agravado pelo fato de que os camponeses beneficiados pelo crédito, exploravam unidades produtivas de baixa capitalização, o que contribuía para o seu endividamento, e, algumas vezes, a perda de suas propriedades (REGO; WRIGHT, 1981).

Desse modo, a modernização tecnológica da agricultura, desde sua implantação, revelava fortes tendências de manter, senão agravar, o padrão de distribuição fundiária existente. Além disso, concentrava os recursos alocados pelo Estado para sua realização nas grandes propriedades, localizadas, em sua maior parte, nas regiões mais industrializadas do pais. O

139 favorecimento dessas regiões contribuía, por sua vez, para a aumentar as desigualdades regionais. A predominância de tais características mostra, portanto, que a racionalidade dessa intervenção satisfez os interesses vinculados à redefinição do processo de acumulação de capital no Brasil, a partir de 1964. Tal como assinala Medeiros (2003, p. 25):

A modernização verificada no processo produtivo na agricultura brasileira nos anos 1970 mostrou que a reforma agrária não era condição indispensável para desenvolvimento econômico, tal como várias correntes de pensamento defenderam nos anos 1960. Contudo, ao longo das transformações que implicaram modernização tecnológica das atividades agropecuárias por meio da mecanização em larga escala e introdução de insumos químicos, do aumento da produtividade, da agroindustrialização, da redução drástica da população rural em relação à urbana, da expansão da fronteira agrícola, as condições de trabalho no meio rural se deterioraram e a demanda pela terra se intensificou. O rápido processo de modernização trouxe consigo a expropriação de uma parcela significativa dos trabalhadores que viviam no