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Intervenções nas lutas sociais no campo

Apesar das mudanças introduzidas na legislação agrária e da reformulação das políticas agrícolas, na perspectiva dos governos militares, as organizações sindicais dos camponeses e trabalhadores assalariados careciam, ainda, de ser reformadas para que fossem sintonizadas com as orientações por eles estabelecidas para o seu funcionamento. Desse modo, tais entidades passaram a ser administradas por interventores ou juntas governativas indicadas pela Igreja Católica e políticos considerados confiáveis pelo novo sistema de poder. Tais administradores, por sua vez, eram, em grande parte, indivíduos alheios às reivindicações do movimento sindical, ou mesmo pelegos e oportunistas que concebiam a organização como um instrumento de apoio ao governo. Por outro lado, o sindicato passou a ser definido pelas novas disposições legislativas como uma entidade que reunia em uma única organização diversos grupos envolvidos com as atividades agrícolas, a exemplo de trabalhadores familiares, assalariados temporários e posseiros, dentre outros. Tal heterogeneidade dificultava sua atuação política, na medida em que cada um desses grupos dispunha de uma história de lutas específicas, nem sempre bem representada em um conjunto de diversos interesses, o que provocava muitas vezes seu afastamento do sindicato (MEDEIROS, 1989, p. 95).

Com efeito, as mudanças na legislação relativas a direitos sociais e previdenciários para os camponeses e trabalhadores rurais conduziam, progressivamente, à formação de práticas assistencialistas que distorciam o papel dos sindicatos enquanto entidade de defesa dos interesses de classe. Isto podia ser observado nas disposições da Lei de Valorização da Ação

154 Sindical, de dezembro de 1970, que conferia prioridade à criação de condições que permitissem aos sindicatos prestar assistência médica e odontológica aos seus associados, bem como a oferta de financiamentos para a aquisição de sedes, instalações para atividades esportivas e recreativas, ambulatórios e cooperativas de consumo. Por outro lado, a criação do PRORURAL, em 1971, incluía os benefícios de aposentadorias, pensões, serviços de saúde e serviços sociais, ampliando uma tradição de assistência social com fortes antecedentes em práticas de auxílio mútuo que remontavam às Ligas Camponesas. No entanto, o que historicamente se constituía em um exercício de solidariedade do movimento sindical, custeado com recursos próprios, no âmbito desse programa convertia-se em uma prática assistencialista imposta pelo regime militar, tornando-se predominante no interior das atividades sindicais. Desse modo, o sindicato passava a ser identificado mais pela realização de tais práticas assistencialistas do que pela defesa dos interesses dos seus associados. Em algumas regiões, a imagem do sindicato confundia-se com a do FUNRURAL, caracterizando um novo tipo de clientelismo (MEDEIROS, 1989, p. 96-97).

Não obstante o peso das políticas assistencialistas enquanto instrumento de controle político dos sindicatos rurais e de desvio de seus objetivos mais importantes, as lutas dos camponeses e trabalhadores rurais continuavam a ser desenvolvidas, mesmo que sob a forte repressão desencadeada pelas forças policiais-militares e dos grupos de jagunços e milícias armadas formados pelos grandes proprietários de terra. Na segunda metade de 1960, tais lutas se constituíam como reação às expulsões de posseiros dos estabelecimentos agrícolas por eles explorados, às grilagens promovidas por grupos de proprietários rurais e urbanos interessados na valorização da terra, além de greves de trabalhadores rurais motivadas por atrasos no pagamento de salários. Eram movimentos fragmentários, espacialmente dispersos, desarticulados e fortemente reprimidos, mas que mantinham a tradição das lutas desenvolvidas anteriormente. A participação dos sindicatos nessas lutas era pouca ou quase nenhuma. De acordo com o relato de Medeiros (1989, p. 90):

Nesse quadro diversificado, surgiram experiências sindicais distintas que, embora tenham sido rapidamente eliminadas pela repressão, são indicadoras das insatisfações existentes no meio rural. O exemplo ilustrativo é o do Maranhão. Nesse Estado, apesar da desagregação dos sindicatos após o golpe militar, a Igreja, através do MEB, prosseguiu com o trabalho de educação sindical e, ao mesmo tempo em que formava novas lideranças, buscava recuperar trabalhadores com experiência de organização. Isso se deu especialmente no vale do rio Pindaré, durante a campanha para as eleições para o governo do estado, em 1965, quando apoiaram a campanha de José Sarney, candidato que percorria o interior prometendo a reabertura e o livre funcionamento das entidades representativas dos trabalhadores.

Apesar da vitória de Sarney, as tentativas de reabrir os sindicatos foram desencorajadas. Em 1966, em Pindaré, surgiu então, sob a liderança de Manoel da

155 Conceição, um sindicato independente de reconhecimento oficial, conhecido localmente como “sindicato clandestino”, e que passou a atuar contra a invasão de gado nas roças dos lavradores, a ocupação ilegal de terras por grileiros e a ação dos comerciantes de arroz. Além de matar o gado que invadia as roças, e derrubar cercas de grileiros, por orientação do sindicato, os trabalhadores desenvolveram roças e paióis coletivos. Uma violenta repressão desencadeou-se então sobre a região, pondo fim à experiência e levando os trabalhadores a procurarem outras áreas para se fixar.

Em face desse quadro, a reconstrução do movimento sindical começou a ser concretizada dentro dos limites impostos pelo regime. Na medida em que a estrutura da organização sindical foi mantida, sua reconstituição foi realizada por dentro, sob os condicionantes e controles que buscavam caracteriza-la de acordo com os interesses dos governos militares. Assim é que a pavimentação das lutas sindicais enfrentava as indicações de dirigentes, efetuadas por autoridades governamentais, intervenções constantes, eleições efetuadas sob severas restrições, bem como uma nova legislação social e previdenciária que, embora avançasse na extensão dos direitos trabalhistas e previdenciários para o campo, buscava caracterizar o sindicato como um órgão encarregado de realizar práticas assistencialistas que se assemelhavam a um novo tipo de clientelismo.

Diante de tais limitações, os sindicatos passavam a organizar a sua atuação com base em premissas jurídicas criadas pelo regime militar, orientando suas reivindicações em torno dos direitos sociais, previdenciários e de uma possibilidade de realização de uma reforma agrária nos termos preconizados no Estatuto da Terra. De acordo com esta perspectiva, a participação da CONTAG assumiu um papel estratégico para a reconstrução do movimento sindical, ainda que com base em uma atuação acentuadamente legalista. Sob esta diretriz e referenciada pela nova legislação agrária, a partir de 1967, quando a diretoria intervencionista da CONTAG foi derrotada por uma chapa de oposição nas eleições para o comando da entidade, iniciou-se um trabalho de reorganização dos sindicatos e de suas federações em vários estados do país. A atuação da CONTAG e os seus desdobramentos seguem, portanto, um padrão de constante recorrência à justiça, pautada pela normatividade imposta pelos governos militares. Isto significava que a atuação dos sindicatos era limitada às demandas originadas do próprio Estado, constituindo-se dessa maneira, muito mais um canal de reivindicações junto ao poder público do que um instrumento de defesa de interesses de classe.

Por outro lado, a prática legalista dos sindicatos, além de insatisfatória em relação ao acirramento da violência contra os camponeses e da exploração dos assalariados agrícolas, esbarrava, ainda, na diversidade dos grupos que o constituíam, portadores de interesses diferentes entre si, e, às vezes, conflitantes no interior de um mesmo grupo. Este era o caso dos

156 trabalhadores fichados, que possuíam carteira profissional assinada, e os “clandestinos”, que não auferiam os direitos formalmente decorrentes desse vínculo, na Zona da Mata de Pernambuco. A unidade imposta pelo Estado convertia-se, portanto, em um desafio relativo à unificação dos interesses de grupos tão diversos, o que só poderia acontecer em um processo de lutas (MEDEIROS, 1989, p. 96).

No início da década de 1970 o contexto das lutas sociais no campo era marcado pelo crescimento do número de sindicatos, modelados por uma prática legalista e assistencialista. No entanto, o nível de mobilização política dos camponeses e de assalariados agrícolas em torno da resistência aos processos de grilagem, de negação dos direitos constituídos e em defesa da reforma agrária era muito reduzido, apesar disto ser bastante influenciado pela repressão existente. Assim, dentre os principais aspectos do II Congresso dos Trabalhadores Rurais, promovido pela CONTAG, em maio de 1973, destacava-se a proposta de formação de novos dirigentes, considerada indispensável para que fossem evitadas as práticas burocratizantes e assistencialistas, bem como o desenvolvimento de uma categoria de administradores profissionais do sindicato. Por outro lado, evidenciava-se a preocupação de levar-se em conta a heterogeneidade da composição dos sindicatos, a fim de que suas atividades políticas tivessem maior efetividade. Ressaltava-se, ainda, a necessidade de encaminhamento da reforma agrária com base nas disposições do Estatuto da Terra, rejeitando-se proposições relativas à sua modificação. O Estatuto era visto como uma lei capaz de viabilizar a realização da reforma. O mais importante era lutar pela sua aplicação. Neste particular, também se enfatizava a necessidade de não se confundir a reforma agrária com os projetos de colonização. No que tange às questões trabalhistas, reivindicava-se melhores condições de trabalho para os trabalhadores volantes e a extensão da lei dos dois hectares para todos assalariados agrícolas (MEDEIROS, 1989, p. 98-101).

Durante a década de 1970, os esforços realizados para a reconstrução do campo sindical foram acompanhados pela intensificação dos conflitos no campo, praticamente em todas as regiões do país. Tais lutas podiam contar ou não com a participação das entidades sindicais, dependendo do perfil que elas apresentassem em cada lugar, embora na maioria das vezes os sindicatos estivessem ausentes. Quando envolvidos geralmente optavam por uma condução legal para lutar contra a violência a que os camponeses e trabalhadores eram submetidos, bem como para suas reivindicações.

As principais causas dos conflitos estavam ligadas à ampliação do processo de modernização tecnológica do campo, que contribuía tanto para acelerar a expulsão de

157 moradores e colonos das terras que anteriormente ocupavam nas grandes propriedades, quanto incrementava, através de grilagens, os processos de expulsão de camponeses dos estabelecimentos que exploravam. Isto decorria não só da valorização de suas terras em razão do crescimento da importância dos cultivos voltados para a exportação, como dos investimentos públicos realizados para a construção de rodovias e implantação de projetos de reflorestamento, que valorizavam enormemente as terras em seu entorno. Sob este aspecto, podia-se contabilizar, ainda, a construção de grandes represas e de hidrelétricas que implicavam no deslocamento dos agricultores e trabalhadores rurais das áreas que seriam inundadas. Na Amazônia, a expulsão de posseiros de suas terras decorria da implantação de grandes projetos agropecuários que contavam com fortes incentivos fiscais, e tinham como finalidade a ocupação da região. Por fim, o lançamento do Programa Nacional do Álcool - PROÁLCOOL, em 1975, na medida em que provocou a expansão da área plantada com a cana de açúcar, também gerou a expulsão de antigos moradores nas grandes propriedades de terra (CARVALHO; CARRIJO, 2007).

No final da década de 1970, as limitações da prática política dos sindicatos na defesa dos interesses dos pequenos agricultores e trabalhadores rurais resultou na decisão de alguns setores da Igreja Católica de promover uma nova orientação dessas entidades, o que veio a originar um sindicalismo de oposição em relação à linha de atuação oficial dessas organizações. No entanto, tal mudança na posição da Igreja, que se diferenciava e se opunha à orientação tradicional dessa instituição no que se referia às questões sociais no campo, começou a se concretizar desde o início dessa década sob a influência da Teologia da Libertação, fundamentada no apoio à emancipação dos setores mais pobres da população latino-americana. Assim, foi constituída a primeira Comissão Pastoral da Terra – CPT, na Amazônia, em 1975, com a finalidade de lutar pela reforma agrária, de acordo com o que era prescrito no Estatuto da Terra, mediante um trabalho de articulação e de assessoria política aos pequenos agricultores, trabalhadores rurais e suas organizações.

Mesmo que se valendo do prestígio e da influência da instituição na sociedade, a atuação da Igreja não se subtraía à repressão que se abatia sobre os movimentos políticos de camponeses e trabalhadores rurais, o que resultava em processos, prisões e até mesmo de morte de alguns de seus sacerdotes e leigos. Ainda assim, a denúncia das injustiças e da violência perpetrada contra aqueles que lutavam pela terra obtiveram grande repercussão na sociedade brasileira, desnudando um quadro social conhecido por poucos. Desse modo, as práticas políticas da CPT rapidamente se expandiram para outras regiões do país, sobretudo quando contavam com o apoio de dioceses que reconheciam e apoiavam seus objetivos.

158 Apesar do desenvolvimento de uma postura crítica em relação às práticas sindicais, vale assinalar que as ações da CPT estavam muito mais voltadas para a luta pela terra, o que implicava em colocar em um plano secundário as demandas políticas dos trabalhadores rurais. Desse modo, se definia a posição de parte da Igreja em relação aos sindicatos rurais, que redundou em uma forma de apoio essencial para o avanço das lutas pela terra e por melhores condições de trabalho no campo, principalmente na década de 1980. Através da CPT, foram criados novos sindicatos e gerada uma oposição interna onde eles já existiam, a partir da crítica à linha oficial de atuação por eles seguida.

No fim dos anos 1970, evidenciava-se claramente o abandono das supostas intenções dos governos militares de promover a reforma agrária, tendo como instrumento legal o Estatuto da Terra. Observava-se que a política agrária consolidava, cada vez mais, a opção pela modernização tecnológica da agricultura. Por outro lado, também eram perceptíveis os sinais de esgotamento do sindicalismo oficial, bem como das inconsistências das tentativas de mudá- lo por dentro. Dito de outra maneira, enquanto os conflitos se multiplicavam no campo, a condução da defesa dos pequenos agricultores e trabalhadores rurais seguia uma linha legalista, obviamente ineficaz em face da natureza do ordenamento jurídico, fortemente influenciado pelos interesses dos grandes proprietários de terra em suas decisões. A apatia de grande parte das diretorias dos sindicatos também submetida a críticas, movidas pela CPT, resultava, progressivamente, na formação de oposições sindicais. Não só a inoperância política e as práticas assistencialistas dos sindicatos rurais eram questionadas, mas também a linha de condução seguida pela CONTAG. Além disso, o aumento da mobilização política dos trabalhadores urbanos, sobretudo na Grande São Paulo, produzia um novo alento às reivindicações de camponeses e de assalariados agrícolas.

Com efeito, os problemas colocados pela própria dinâmica da luta de classes no conjunto da sociedade brasileira requeriam a realização de mudanças significativas na concepção e na concretização das práticas sindicais. Neste contexto, uma tentativa para dar conta dessas questões foi promovida pela CONTAG ao convocar, em maio de 1979, o III Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais. Com base em uma avaliação da situação das experiências e lutas desenvolvidas em todo o país, o congresso deliberou que a grande prioridade do movimento sindical continuava a ser a reforma agrária.

Dentre as reivindicações mais importantes, destacavam-se, ainda, a do cumprimento da legislação trabalhista, particularmente em relação à formalização dos contratos de trabalho, consolidada na carteira profissional assinada, e a da extensão dos direitos previdenciários dos

159 trabalhadores urbanos para os trabalhadores rurais. Outras deliberações do congresso davam continuidade a reivindicações anteriores, embora algumas delas estivessem impregnadas de novos significados, a exemplo do desatrelamento dos sindicatos da estrutura do Estado e a criação de uma central sindical livre.

Do ponto de vista político, outra deliberação significativa foi a que deslocava o Estado da posição de principal interlocutor dos sindicatos, considerando que a função por ele exercida, longe de se mostrar como a de justo mediador de conflitos e de provedor das legítimas aspirações dos camponeses e trabalhadores rurais, algumas reconhecidas na legislação existente apesar de não cumpridas, apresentava-se como a de firme apoiador e defensor dos interesses dos latifundiários. Esta mudança de perspectiva abria o caminho para o desenvolvimento de ações mais arrojadas, que envolviam tanto o recurso a práticas legais de encaminhamento dos direitos dos pequenos agricultores e trabalhadores rurais, quanto a defesa dos seus interesses mediante formas de pressão políticas pertinentes, como a de ocupação de terras improdutivas com a finalidade de explora-las produtivamente. O sindicalismo rural propunha-se, portanto, a uma postura política de transformação da realidade, apesar de fortemente influenciado pelo verticalismo vigente na legislação sindical, o que atribuía à confederação a iniciativa pela determinação dos rumos de suas lutas.

No início da década de 1980 já se havia tornado visível a deterioração das condições econômicas do país, manifestada na enorme crise de liquidez das finanças do Estado, motivada pela incapacidade de pagamento da dívida externa, gerada com o propósito de financiar o desenvolvimento industrial. O exaurimento do modelo de crescimento econômico dependente e associado aos capitais externos, provocava o descontentamento crescente da população com a inflação, a censura aos meios de comunicação e o autoritarismo político, que apenas beneficiavam os grupos encastelados no poder. Tanto no campo quanto nos centros urbanos as lutas contra o regime militar iam se ampliando, contando com vários setores da sociedade civil, o que incluía segmentos empresariais, a Igreja Católica, trabalhadores, intelectuais e estudantes. Os trabalhadores, em particular, lutavam pela liberdade de organização sindical, contra a repressão policial-militar e a corrosão de seus salários pela inflação, bem como pelo acesso à terra e melhores condições de trabalho.

No âmbito do movimento sindical as críticas dirigidas contra as administrações meramente legalistas aprofundaram-se, gerando um novo sentido para a condução das lutas dos trabalhadores urbanos e rurais, sobretudo o de sua unificação, logo materializada na criação de

160 duas grandes centrais sindicais, a saber, a Central Única dos Trabalhadores – CUT, criada em 1983, e a Confederação Central dos Trabalhadores – CGT, criada em 1986.

As lutas sociais no campo também se intensificaram. Os avanços obtidos pela modernização tecnológica do processo produtivo, traziam como consequência a expulsão dos produtores que detinham o domínio precário da ocupação da terra, como os posseiros, parceiros, moradores e colonos. Isto ocorria na medida em que aumentava a valorização de terras por eles ocupadas e progredia a dissolução das relações de trabalho que os vinculavam às grandes propriedades. O desenvolvimento do capitalismo no campo apoiado por políticas creditícias, de incentivos fiscais e de dotação de infraestrutura pelo Estado, favoreceu a expansão do número de grandes propriedades, contribuindo para a elevação dos níveis de concentração fundiária, quer fosse pela incorporação de grandes quantidades de terra situadas nas áreas de fronteira agrícola, quer fosse pela expropriação de pequenos produtores. Convém salientar que esse processo também se apoiava em uma intensa exploração da força de trabalho assalariado agrícola que, em sua maioria, experimentava uma deterioração ainda maior de suas condições de vida.

Com efeito, a modernização tecnológica da agricultura beneficiou, basicamente, os médios e grandes proprietários rurais, que se constituíram nos grupos mais favorecidos pelos programas de crédito e de assistência técnica promovidos pelo Estado. Embora tal política tenha sido bem-sucedida, principalmente no que tange à agricultura voltada para a exportação, a maioria da população rural permanecia excluída dos benefícios do crescimento econômico. Ao lado disso, elevou-se enormemente o número de conflitos no campo, resultando na morte de camponeses, trabalhadores, líderes sindicais e, até mesmo, de religiosos. Neste particular, pode- se ponderar o quanto esta estratégia de assassinato de lideranças contribuía para o enfraquecimento de suas lutas, considerando-se as árduas condições e o tempo dispendido para sua formação. De acordo com Grzybowski (1987, p. 15-16):

Entre 1980 e 1985 foram assassinados 721 trabalhadores rurais, dos quais 222 só no ano de 1985, primeiro ano da Nova República. De janeiro a maio de 1986 já foram