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As primeiras lutas camponesas de maior importância no meio rural brasileiro foram determinadas pelas mudanças nas relações sociais de produção escravistas. Estas mudanças, por sua vez, estão associadas ao desenvolvimento do capitalismo na Inglaterra, cuja produção de bens industrializados requeria a formação de mercados consumidores, o que demandava a criação de uma força de trabalho livre. Neste sentido a proibição do tráfico de escravos, determinada pelos ingleses, antecipava a impossibilidade da continuação do trabalho escravo no Brasil. Assim, tornava-se necessário, também, promover-se o reordenamento jurídico do sistema fundiário, tendo em vista que a proibição do trabalho escravo abriria o caminho para a apropriação de terras pelos homens livres. Urgia, portanto, defender os interesses dos proprietários das grandes lavouras, principalmente as do café e da cana de açúcar, em face das possíveis consequências da anunciada transição do uso do trabalho escravo para a universalização do trabalho livre.

Uma das alternativas previstas para a substituição da mão de obra escrava era a importação de trabalhadores oriundos de países que possuíssem excedentes populacionais. No entanto, a chegada de grandes contingentes de imigrantes, associada à possibilidade de ocuparem as grandes extensões de terra disponíveis, não resolveria os problemas de mão de obra das grandes lavouras. Assim, a promulgação da Lei de Terras, em 1850, instituía a proibição de abertura de novas posses, estabelecendo a compra das terras devolutas junto ao

107 Estado. Desse modo, também substituía o sistema de sesmarias, abandonado desde 1822 e não mais retomado. O Estado passava a exercer o monopólio das terras.

Considerando-se que o controle do próprio Estado era exercido pelos grandes proprietários, a proibição de abertura de novas posses dirigia-se principalmente aos camponeses, mais uma vez submetidos a fortes restrições para o acesso legal à terra. Mesmo que liberados das injunções do sistema de sesmarias, para poder adquirir a terra os camponeses viam-se obrigados a trabalhar para os proprietários, pois, só assim poderiam acumular algum capital para esta finalidade. Estas eram as condições para o desenvolvimento de um novo campesinato, livre das sujeições que pesavam sobre os agregados e posseiros, formado por pequenos proprietários vinculados ao mercado e detentores de uma terra já convertida em mercadoria.

Assim é que a Lei de Terras converteu as terras devolutas em monopólio do Estado. Em seguida, com a Constituição de 1891, estas terras, que ficavam sobre o controle da União, foram transferidas para os Estados. Passaram a ser controladas pelas oligarquias regionais, que efetivaram sua concessão a grandes proprietários e a empresas. De acordo com Martins (1983, p.44-45):

A Republica encontra alteradas as bases da ordem social – o trabalho escravo extinto, a propriedade fundiária constituída agora no principal instrumento de subjugação do trabalho, o oposto exatamente do período escravista, em que a forma da propriedade, o regime das sesmarias, era o produto da escravidão e do tráfico negreiro. O monopólio de classe sobre o trabalhador escravo se transfigura no monopólio de classe sobre a terra. O senhor de escravos se transforma em senhor de terras. A terra que até então fora desdenhada em face da propriedade do escravo passa a constituir objeto de disputas amplas. A velha disputa colonial pela fazenda, pelos bens da família, transforma-se em disputa pela terra. Pois essa é a forma de subjugar o trabalho livre.

As primeiras lutas camponesas de maior amplitude ocorrem, portanto, com o fim do Império e o começo da República. Aquelas de maior expressão estão representadas pela Guerra de Canudos (1893-1897) e pela Guerra do Contestado (1912-1916). Ambas foram vistas como reações à constituição do regime republicano, e, como tal, tentativas de restauração da monarquia. No entanto, vinculavam-se a mudanças relacionadas com a posse da terra, introduzidas pela Lei de Terras.

Os movimentos messiânicos tiveram sua expressão maior nas guerras de Canudos, no sertão da Bahia, e na região do Contestado, a qual envolvia um território disputado pelos Estados do Paraná e de Santa Catarina. Em Canudos formou-se um povoado que chegou a abrigar uma população em torno de 30.000 pessoas, alojadas em 5.000 moradias. Tratava-se de

108 ex-escravos, camponeses, vaqueiros e jagunços despojados dos precários meios de sua subsistência que possuíam, seguidores do beato Antônio Conselheiro, que desenvolvia uma pregação religiosa relacionada com a espera do novo milênio que se avizinhava. Tal pregação continha tanto elementos relativos às injustiças cometidas contra os camponeses e a população pobre do sertão, quanto referências ao retorno da monarquia, que encarnaria os sonhados princípios de igualdade e justiça (MARTINS, 1983, p. 52-53).

De modo semelhante, o movimento messiânico do Contestado reunia em volta do beato José Maria um grande número de camponeses, destituídos de suas terras em decorrência de um acordo realizado pelo governo com o sindicato americano Farqhuar para construção da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande. Em contrapartida, o Farqhuar receberia terras na largura de nove quilômetros em cada lado da ferrovia, com compensações de mais nove quilômetros em outros lugares por áreas que já estivessem legalmente ocupadas ao lado da estrada. Esta região caracterizava-se pela criação de gado, além da extração da erva mate por posseiros, envolvendo, ainda, muitas disputas de terra entre os fazendeiros. O Farqhuar pretendia, ainda, explorar a extração de madeira na região e organizar um programa de colonização com a venda de terras para colonos estrangeiros. Com este propósito, a partir de 1911, começou a expulsar os posseiros de suas terras, agravando as tensões já existentes pela permanência dos trabalhadores que haviam ficado desempregados com o término da construção da ferrovia.

Apesar da importância dos aspectos religiosos, a luta pela posse da terra constituía um aspecto central desses conflitos, ainda que de forma diferenciada do que ocorria nas regiões onde se concentravam as grandes lavouras. Neste caso, observava-se que as atividades produtivas desenvolvidas no sertão, mesmo que voltadas em grande parte para o abastecimento de carne para as regiões litorâneas, eram caracterizadas por uma menor hierarquização das relações de trabalho e de poder. Na exploração da pecuária predominava o sistema da quarteação, mediante o qual para cada quatro crias nascidas anualmente uma ficava com o vaqueiro, que assim poderia formar o seu próprio rebanho. Contudo, com a expansão do mercado interno, estas condições se alteraram, diminuindo as oportunidades dos vaqueiros. De acordo com Martins (1983, p. 50-51):

Quando, nofim do século XIX, as terras devolutas passam para o domínio dos Estados e se abriu em muitas regiões do país a especulação imobiliária, a necessidade de regularizar limites entre fazendas, de definir a situação jurídica da propriedade fundiária, abriu-se, também, um período de convulsão na própria classe de fazendeiros e negociantes. E mais, terras de antigos agregados, vaqueiros convertidos em sitiantes, sofreram a ameaça da incorporação ao patrimônio dos fazendeiros mais ricos e poderosos. Essas regiões mantidas à margem da economia colonial eram justamente aquelas em que mais descuidado fora o processo de ocupação territorial, já que a

109 riqueza era, e seria durante muito tempo ainda, representada pelo gado e não pela terra. Fazenda era o rebanho e não o território. Daí que o problema da terra tenha se apresentado muito mais grave nessas regiões do que naquelas devotadas à produção colonial agrícola de exportação.

No entanto, a eclosão destes conflitos não decorreu apenas das condições de exploração e de expropriação a que eram submetidos os camponeses e trabalhadores rurais. Foram também originados pelas disputas pela terra e, por extensão, pelo poder entre os coronéis, que lidavam com a insatisfação dos camponeses, a partir de seus interesses políticos locais. Por força da articulação dos interesses locais com os regionais e nacionais, tais disputas transbordavam os espaços em que tinham origem. Repercutiram no país a ponto de envolver o exército nas ações destinadas a combater os movimentos messiânicos, encarados como portadores de finalidades subversivas e restauradoras da monarquia. Enquanto os seguidores de Antônio Conselheiro lutavam contra a opressão a que eram submetidos, a mobilização de tropas para combatê-los era justificada pelo temor republicano de restauração da monarquia, distanciando-se, portanto, das motivações originais do movimento.

No Contestado, os camponeses e trabalhadores desempregados que se agrupavam em torno de José Maria também lutavam contra a exploração e expropriação perpetrada pelos grandes proprietários e empresas estrangeiras, na esperança do advento de uma nova época em que tais injustiças seriam removidas. Mais uma vez, refletindo os conflitos regionais entre os coronéis da região, os participantes do movimento messiânico foram acusados de restaurar a monarquia no sertão de Taquaruçu, em Santa Catarina, o que serviu de pretexto para a sua repressão, com o envolvimento de tropas federais, diante das derrotas das primeiras expedições militares.

O que há de comum nos dois movimentos é que os camponeses construíram uma visão de mundo que contestava e se opunha à visão de mundo dos coronéis e dos grupos políticos a eles associados, em escala regional e nacional, bem como organizaram coletividades baseadas em princípios de igualdade e justiça. Tanto no povoado de Canudos quanto no reduto dos revoltosos do Contestado estruturou-se uma organização social cuja queda deveu-se ao forte assédio militar, causa do enfraquecimento e da fome que lhes retiraram a capacidade de lutar (MARTINS, 1983, p. 57-58).

Outro tipo de conflito existente nas áreas rurais nesse período era o do banditismo social. Suas origens remontam à obrigação imputada aos moradores, agregados e trabalhadores de lutarem pelos proprietários de terra a quem se encontravam vinculados, quer fosse pela cessão

110 da terra, pelo trabalho, por alguma forma de proteção ou de prestação de favores. Assim, aqueles trabalhadores que tomavam parte nos conflitos eram denominados jagunços e constituíam o braço armado dos grandes proprietários, participando de suas lutas políticas e das disputas pela terra. Com o desenvolvimento do coronelismo os grupos armados dos proprietários de terra ampliaram-se. O seu emprego ultrapassou as contendas locais, passando a ser utilizado em uma escala mais ampla, a exemplo das próprias campanhas de Canudos e do Contestado. Por outro lado, a ampliação da participação dos jagunços nas guerras particulares dos coronéis gerou o aparecimento do cangaceiro, que não só atuava por conta própria, como se colocava a serviço dos proprietários de terras para a execução de crimes de encomenda contra desafetos. Neste sentido, Martins (1983, p. 60) considera importante diferenciar o jagunço do cangaceiro, assinalando que:

(...) A fonte básica do banditismo sertanejo estava nos conflitos de famílias, nas lutas pela terra, nos crimes de honra, na vingança. Tais pessoas não eram propriamente concebidas como bandidos pelos sertanejos, mas como pessoas que cumpriam o destino de vingar uma afronta. Os sertanejos que caíram nessa situação eram geralmente sitiantes, posseiros, pequenos lavradores e criadores, camponeses, esbulhados em seus direitos, submetidos a expulsões, violências diretas dos jagunços dos coronéis e, mais particularmente, violências da polícia local, comandada pelos chefes políticos. Vingada a ofensa, geralmente entravam para um bando, tornando-se cangaceiro. Creio ser útil distinguir o jagunço do cangaceiro – o jagunço trabalhava para um patrão; o cangaceiro era livre, mesmo quando prestasse um serviço a alguém, matando um desafeto.

Nota-se que tal distinção evidencia, primeiramente, que o ingresso de camponeses e de trabalhadores rurais não ocorria somente por conta da expropriação de suas terras, mas também por questões de família e de honra, essenciais em relação ao seu modo de vida. Isto desmente, ainda, a noção de que o camponês aceitava passivamente a exploração e as humilhações que lhes eram impostas. Estas reações exprimem, em sua origem, uma clara insatisfação com as condições de dominação social vigentes, embora não traduzam imediatamente uma consciência política da violência a que estavam expostos. Mesmo tendo ingressado no banditismo, determinadas práticas de violência dos cangaceiros eram dirigidas contra a polícia, proprietários de terra e chefes políticos, destes tomando bens para distribuí-los entre os mais pobres. No entanto, se alguns chefes do cangaço agiam dessa maneira, outros desempenhavam práticas predatórias que atingiam a população rural. Contudo, em ambos os casos o cangaço significou um desafio à estrutura de poder representada pelo coronelismo (MARTINS, 1983, p. 59-60).

Assim, o sistema de poder que dava suporte à dominação oligárquica regional era o coronelismo. Suas origens encontram-se nas companhias de ordenança que, a partir de 1831, passaram a integrar a Guarda Nacional, sob o comando do Ministério da Justiça. Os integrantes

111 que ocupavam as posições hierárquicas mais elevadas dessas companhias recebiam as patentes de coronel, major e capitão. Contudo, os indivíduos investidos na patente de coronel eram, geralmente, chefes políticos locais que intermediavam as relações entre as regiões e os Estados com o poder central. Sua principal função era a de controlar os votos do eleitorado, mediante os quais davam sustentação aos governadores, que constituíam a base política do poder central. Os ocupantes da instância de poder central desenvolviam mecanismos de articulação política com os governadores, baseados, principalmente, em um sistema de favores relacionado com a realização de obras públicas e o preenchimento de cargos burocráticos do Estado (MARTINS, 1983, p. 46). Os governadores, por sua vez, reproduziam este sistema junto aos coronéis com quem estavam alinhados politicamente. No conjunto, o coronelismo mediava e instrumentalizava as relações sociais e políticas essenciais à constituição do poder oligárquico, articulando-as desde o nível municipal até o central.

Na base desse sistema os coronéis exerciam um poder quase que absoluto sobre uma clientela com quem intercambiava favores políticos e econômicos, tendo como objetivo mais importante o controle do voto. A República havia eliminado as restrições de renda para a participação eleitoral, mas criara novos obstáculos para esta prática, a exemplo da proibição do voto dos analfabetos, o que atingia, principalmente, grande parte da população rural. Martins (1983, p. 47) salienta que:

Desde o começo, o voto foi tratado como mercadoria.Em troca do voto e da fidelidade do eleitor, o coronel podia oferecer desde determinado presente, como um par de sapatos, até o crédito aberto, até um pedaço de terra para o morador. Isso não era manifestação de riqueza e de poder, simplesmente. De fato, o coronel, o chefe político local, necessitava do voto, já que somente assim podia ter o controle da política municipal (assegurando para si mesmo e seus iguais e clientes a certeza de uma tributação moderada ou até inexistente, a impunidade das fraudes e até mesmo de crimes violentos contra a pessoa quando isso fosse necessário). Como vários tributos eram estaduais, o tráfico de influências entre o coronel e o governo constituía uma garantia de impunidade fiscal e de impunidade com relação a outros delitos necessários à sustentação política do coronel, incluindo a fraude eleitoral sistemática.

O braço armado do coronelismo ao nível municipal e regional era formado por jagunços. Os coronéis tinham a prerrogativa de mobilizar tropas para a participação em conflitos, até mesmo externos, como o da Guerra do Paraguai. Essas forças também eram mobilizadas para as disputas entre os próprios coronéis, na medida em que ocorriam conflitos entre as famílias ou quando seus interesses não podiam ser acomodados no partido de sustentação do governo. Litígios envolvendo questões de terra, conflitos familiares e rivalidades políticas, estavam no cerne dessas lutas. Conforme é ressaltado por Martins (1983, p. 49):

112 A força do coronel não era, portanto, sua, mas do governo a quem sustentava eleitoralmente e que o sustentava politicamente. Portanto, o seu poder dependia basicamente da sua capacidade de troca. Isso quer dizer que tinha vigência nas relações de patronagem um peculiar regime de igualdade, que era o da igualdade vinculada, constituída pela troca de favores por votos – uma igualdade de mercado, que só se dá entre possuidores de mercadorias. Essa é, provavelmente, a razão principal para não se confundir o clientelismo político com a sujeição feudal. Essa base da relação política exprimia também a situação peculiar do cidadão – livre, mas cliente. Uma liberdade que, no âmbito da troca, era totalmente dominada pelo poder monopolístico do fazendeiro, comerciante e coronel. Por isso, a liberdade do camponês é nessa época marcadamente exercida como liberdade de locomoção, de deixar uma fazenda por outra, de deixar uma região por outra.

Após os grandes embates que marcaram as primeiras décadas do século XX, as lutas sociais no campo voltaram a se acentuar, no período de 1945-1964, desta vez sob o influxo de profundas transformações que se processavam na sociedade brasileira. Dentre elas, podia-se destacar o fim do Estado Novo, o que atenuou o desenvolvimento de ações repressivas sobre os movimentos de trabalhadores urbanos e rurais, e a expansão da industrialização e da urbanização, que estimulou o deslocamento de significativos contingentes da população rural para as cidades. De acordo com os dados do Anuário Estatístico do Brasil, da Fundação Instituto de Geografia e Estatística – FIBGE, em 1940 a população rural brasileira contava de 69% do total de habitantes. Em 1960, este contingente populacional reduziu-se para 55%, e, em 1970, representava apenas 44% do total de habitantes do país (FIBGE, 1985). O ritmo acelerado da mudança na composição da população por situação de domicílio evidenciava os efeitos que a urbanização e a industrialização provocavam na configuração das classes sociais, a exemplo do crescimento das camadas médias da população, do aumento do operariado urbano, bem como do maior peso político da burguesia industrial nas decisões do Estado sobre os rumos da economia. Tais fatores estimulavam o incremento das reivindicações sociais dos trabalhadores, inclusive a de maior participação nas atividades políticas. Apesar disso, Medeiros (1989, p. 17) registra que:

A agricultura, no entanto, ainda voltada predominantemente para a exportação, pouco se modernizou e não apresentava significativos aumentos de produtividade. Quanto à produção de alimentos, realizada em grande medida por pequenos produtores, frente ao rápido crescimento das cidades, impunha problemas de abastecimento e altas de preços, incompatíveis com o crescimento industrial. O descompasso entre a agricultura e a indústria, tal como percebido na época, colocava em questão a importância de adequar as atividades agrícolas à nova etapa de desenvolvimento do país. Constituiu-se, assim, uma certa unanimidade quer entre intelectuais, quer entre forças políticas sobre a necessidade de eliminar o “atraso” que reinava no campo. Os caminhos propostos para isso [...] eram diversos e indicavam os diferentes interesses em jogo.

113 Em meados da década de 1950, os conflitos envolvendo a posse e o uso da terra tornaram a crescer em diversas regiões do país. Surgiram novos confrontos em vários estados, como os de São Paulo, Pernambuco e Paraíba, sendo que alguns deles obtiveram repercussão nacional, chamando a atenção para a necessidade de uma reforma agrária.

Uma análise dos conflitos ocorridos, por categoria de trabalhador, revela que as lutas de posseiros se desenvolveram com maior frequência em regiões de fronteira agrícola, onde as terras ocupadas, em face da construção de rodovias ou da exploração de novos produtos agrícolas, passaram a ser muito valorizadas. Desse modo, converteram-se em objeto de ações expropriatórias por parte de grandes proprietários rurais, grileiros e políticos. Tais agentes, munidos de documentos falsificados sobre a propriedade das terras, buscavam expulsar os posseiros por meios violentos para apropriarem-se delas.

Dentre os conflitos mais importantes dessa natureza, destaca-se o de Formoso e Trombas, no Estado de Goiás, motivado pela expulsão de posseiros de suas terras por grileiros. Com o apoio do Partido Comunista Brasileiro - PCB, os camponeses organizaram uma resistência armada, repelindo as investidas de grileiros, jagunços e policiais durante o período de 1955 a 1957. Neste ano, o governo de Goiás reconheceu a legitimidade das posses e efetivou a titulação delas. A esta altura os posseiros também partilhavam o controle político da região, que tinha uma extensão de 10.000 km quadrados, detendo algumas prefeituras municipais. Em 1962, elegeram deputado estadual José Porfírio, o principal líder da rebelião (MEDEIROS, 1989, p. 38).

Outro conflito importante localizou-se no Sudoeste do Paraná. A exemplo do que