A - Morfologia
Os blastos de linhagem linfoide, por sua vez, geralmente são de dimensões menores que os mieloides e apresentam, em sua maior parte, citoplasma basófilo e sem granulações. Podem ser monomórficos ou pleomórficos, e não apresen- tam grânulos ou bastonetes de Auer. A classificação morfo-
lógica das LLAs em L1, L2 e L3, muito utlizada anteriormen- te, é pouco especí fica e não fornece dados precisos sobre o subtpo leucêmico e os índices prognóstcos. Deve-se desta- car morfologia para a LLA L3, atualmente conhecida como LLA Burki, que tem vacúolos citoplasmátcos bastante ca- racterístcos e prognóstco reservado (Figura 7).
Tabela 6 - Classi fi cação FAB de LLA
Aspectos Aspectos citológicos citológicos LL11 LL22 LL33 Tamanho da célula Células pe- quenas Grande e heterogênea Grande e homo- gênea Quantdade
de citoplasma Escasso Variável
Moderadamente abundante
Nucléolos Não visíveisou pequenos
1 ou + pre- sentes e grandes 1 ou + presentes e proeminentes Basofilia do
citoplasma Variável Variável Intensa
Vacuolização
citoplasmátca Variável Variável Proeminente
LEUCEMIAS AGUDAS
H E M A T O L O G I AB - Citoquímica
B - Citoquímica
Nas LMAs, o advento da imunofenotpagem, através de colorações capazes de aproveitar a atvidade enzimátca ce- lular, possibilita diferenciar as LMAs das LLAs (com exceção da LMA M0 e, algumas vezes, a M1). Os blastos linfoides são positvos para o ácido periódico de Schiff (PAS) e negatvos para MPO e sudan black .
C - Imunofeno
C - Imunofeno
ttpagempagem
A determinação do CD na LLA é fundamental para: -Diferenciar linhagem linfocitária B da T;
-Determinar o ponto de parada de maturação do linfó- cito neoplásico;
-Diferenciar da linhagem mieloide, principalmente nos ca- sos de LMA M0 e M1 e, algumas vezes, LMA M6 e M7. São fatores muito importantes para definir critérios diagnóstcos, prognóstcos e auxiliar a indicação da tera- pêutca.
Tabela 7 - Per fi l imunofeno pico das leucemias linfoides B
M
Maarrccaaddoorr PPrróó--bb B B ccoommuumm PPrréé--bb B B mmaadduurraa
TdT + + + +/- CD19 + + + + CD22 (C) +/- + + + CD10 - + + -/+ CD20 - -/+ + + C - -+ - SmIg - - - +
TdT = Terminal desoxinucleot dil-transferase; CD22(c) = CD22
intracitoplásmica; C μ = Cadeia μ citoplasmát ca; Smlg = Imuno-
globulina de super f cie; +/-: expressão variável, frequentemente
posi t va; -: ausência de expressão do an geno; +: presença do
an geno; -/+: expressão variável, frequentemente negat va.
Tabela 8 - Per fi l imunofeno pico das leucemias linfoides T
M
Maarrccaaddoorr T T pprreeccoocce e oou u PPrróó--TT T T ccoommuumm T T ttaarrddiiaa
CD7 + + + CD2 - + + CD3 (c) -/+ + + CD1 (a) - -/+ - CD3 (s) - + + CD4/CD8 - -/+ +
D - Citogené
D - Citogené
ttcaca
Na LLA, anormalidades citogenétcas são encontradas em cerca de 60 a 85% dos casos; algumas delas apresentam impli- cações prognóstcas importantes. Em 30% dos casos das LLAs nos adultos, encontra-se a translocação entre os cromosso- mos 9 e 22, formando o cromossomoPhiladelphia (o mesmo da LMC), conferindo mau prognóstco a essetpo de LLA.
Tabela 9 - Anormalidades citogenét cas em LLA e implicação
prognóst ca
G
Grruuppo o dde e rriissccoo AAnnoorrmmaalliiddaaddeess
Favorável t(12;21) (p13;q22), hiperdiploidia (>50 cromos-
somos).
Intermediário Normal.
Desfavorável t(9;22), t(8;14), t(1;19), t (4;11), hipodiploidia
(<50 cromossomos).
De forma semelhante às LMAs, a OMS organizou, no mes- mo ano, a classificação das LLA, mais uma vez levando em ex-
trema consideração as alterações cario picas desta doença.
Tabela 10 - Classi fi cação OMS para LLA (2008)
Leucemia/lin
Leucemia/linfoma foma linfobláslinfoblásttco B com co B com anormalidadeanormalidadess
citogené
citogenéttcas recorrentescas recorrentes
- Leucemia/linfoma linfoblástco B com t(9;22); BCR-ABL1;
- Leucemia/linfoma linfoblástco com t(v;11q23); rearranjo MLL;
- Leucemia/linfoma linfoblástco B com t(12;21); TEL-AML1;
- Leucemia/linfoma linfoblástco B com hiper(hipo)diploidia;
- Leucemia/linfoma linfoblástco B com t(5;14); IL3-IGH;
- Leucemia/linfoma linfoblástco B com t(1;19);E2A-PBX1.
Leucemia/linf
Leucemia/linfoma oma linfobláslinfoblásttco B não especico B não especificadocado
Leucemia/lin
Leucemia/linfoma foma linfobláslinfoblásttco Tco T e) Pesquisa gené
e) Pesquisa genéttca molecularca molecular
A principal pesquisa molecular nas LLAs é da fusão gê- nica BCR/ABL, correspondente à alteração cromossômica da t(9;22), que algumas vezes pode não ser detectada pelo mé- todo de cariótpo comum. O PCR e o RT-PCR são métodos mais sensíveis e inclusive utlizados para seguimento da res- posta terapêutca, quando presente. Pacientes com essa alte- ração consttuem um grupo distnto no tratamento das LLAs.
f) Quadro clínico f) Quadro clínico
Além do quadro clínico decorrente das citopenias (anemia, plaquetopenia e neutropenia), com fadiga, sangramentos e in- fecção, não é rara a ocorrência de sintomas B. Adenomegalia e hepatoesplenomegalia podem ser vistas em 50% dos pacien- tes ao diagnóstco. O envolvimento de sistema nervoso central é comum e pode ser acompanhado por sintomas de neuropa-
ta de par craniano, hipertensão intracraniana, crise convulsiva e sintomas meníngeos. Os locais extranodais mais comumente acometdos são o SNC e o tes culo.
Tabela 11 - De fi nição de sintomas B
- Febre: temperatura >38°C;
- Emagrecimento (perda de peso > 10% do peso corporal em 6 meses);
- Sudorese noturna.
A LLA-T é mais comum na infância tardia, nos adoles- centes e nos adultos jovens. Além dos sintomas já cita-
HEMATOLOGIA
dos, partcularmente apresenta adenomegalia cervical, supraclavicular e axilar, inclusive com massa mediastnal em 50 a 75% dos casos, cuja manifestação clínica é tosse seca (Figura 8). Como complicação desse quadro, é possí- vel haver derrame pleural, derrame pericárdico (com ou sem tamponamento), obstrução traqueal ou compressão da veia cava superior.
O sistema nervoso central e o tes culo, pela presença das barreiras hematoencefálica e hematotestcular, são considerados “santuários”, onde a quimioterapia tem maior dificuldade para infiltração, tornando esses locais possíveis
fontes de recidiva se não tratados adequadamente. A pre- sença de infiltração meníngea ou testcular sugere uma do-
ença mais agressiva.
Figura 8 - Massa mediast nal anterior na LLA-T; (A) ao raio x e (B)
na tomogra fi a computadorizada
4. Leucemia linfoide aguda na infância
4. Leucemia linfoide aguda na infância
O pico de incidência está entre os 2 e os 5 anos, com predomínio no sexo masculino.
Na manifestação clínica, além dos sintomas inespecí fi- cos de astenia, inapetência, febre e sangramento cutâneo mucoso, destaca-se a dor óssea, partcularmente em ossos longos, como consequência da infiltração leucêmica do periósteo, da metáfise, da região artcular ou ainda de os-
teonecrose asséptca por células leucêmicas. Acomete de 20 a 30% das crianças, e, em metade dos casos, é possível encontrar imagem radiológica: a tarja leucêmica (imagem radiotranslúcida na região metafisária), periostte, osteólise
e osteoporose. É importante salientar que a tarja leucêmica não é patognomônica da leucemia aguda e que, em casos bastante precoces (raro), o hemograma pode ser normal, com manifestação exclusiva de dor osteomuscular. É diag- nóstco diferencial importante da artrite reumatoide e febre reumátca.
Toda criança com dor osteomuscular e alteração no he- mograma deve ser avaliada quanto à possibilidade de leu- cemia aguda. Alguns fatores prognóstcos são partculares da criança e importantes para a decisão terapêutca, para tentar preservar aqueles de baixo risco dos efeitos tóxicos do tratamento e realizar tratamento mais agressivo nos de alto risco.
Tabela 12 - Fatores prognóst cos da LLA na infância
R
Riissccoo FFaattoorreess
Baixo - Hiperdiploidia ou trissomia do 4, 10 ou 17;
- t(12;21).
Standard - Leucócitos <50.000;
- Idade entre 1 e 9,9 anos.
Alto - Idade >10 anos; - Leucócitos >50.000; - t(1;19); - LLA-T. Muito alto - T (9;22) ou t(4;11); - Idade <1 ano;
- Tempo >4 semanas para resposta à quimioterapia.
5. Diagnós
5. Diagnós
t tco
co
O diagnóstco das leucemias agudas é feito por meio da detecção maior que 20% de blastos no sangue ou na me- dula óssea, pelos novos critérios da OMS (em detrimento à já antquada classificação FAB, que considerava como pon-
to de corte 30% de blastos). O exame que possibilita esse diagnóstco é o mielograma. Para “medulas secas”, em que a aspiração de sangue medular durante o mielograma não é produtva (dry tap), a infiltração deve ser confirmada por
análise histológica do tecido (biópsia de medula óssea). Esses casos têm como diagnóstcos diferenciais as aplasias medulares e a mielofibrose.
A
A
B
B
LEUCEMIAS AGUDAS
H E M A T O L O G I AExceção se faz às leucemias com alteração citogenétca t(8;21), t(15;17) e inv(16) e ao sarcoma granulocí tco, que independem da contagem de blastos.
Para a definição de linhagem acometda e do subtpo de leucemia, utliza-se da imunofenotpagem, citogenétca e pesquisa molecular, conforme explicado nos itens ante- riores.
Outras alterações laboratoriais frequentemente encon- tradas são:
a) Hemograma a) Hemograma
-Citopenias: plaquetopenia, anemia e leucopenia; -Leucocitose, à custa de blastos, promielócitos anôma-
los ou monócitos; -Eritroblastose (rara). b) Bioquímica b) Bioquímica
-Hiperuricemia, acidose metabólica, hiperpotassemia ou hipopotassemia, hipocalcemia, hiperfosfatemia, aumento de ureia e creatnina, elevação de enzimas hepátcas, DHL aumentada (principalmente nas LLAs); -Partcularmente, na LMA promielocí tca (M3): alarga-
mento de TP e TTPa, diminuição dofibrinogênio. c) Urinálise
c) Urinálise
Hematúria, cilindrúria, pH ácido, cristais de urato. São necessários ainda, em alguns casos, outros exames complementares, a depender dos sintomas, com o intuito de avaliar o comprometmento de outros órgãos e sistemas: -Radiografias, ultrassonografia, tomografia e ressonân-
cia magnétca;
-Liquor com pesquisa de células neoplásicas – em todas as LLAs e nas LMAs que apresentem sintoma em SNC; -Avaliação de fundo de olho – nas suspeitas de leucos-
tase;
-Biópsia testcular: para avaliação de infiltração em tes-
culo;
-Atualmente, é imprescindível, para o correto diagnóst- co e o manejo terapêutco das leucemias agudas, mielo- grama ou biópsia de medula óssea, imunofenotpagem e cariótpo (ao menos, pelo método convencional).
6. Prognós
6. Prognós
ttco e evoluçãoco e evolução
Como em todas as neoplasias, as LMAs e LLAs apresen- tam fatores prognóstcos que contribuem para a decisão terapêutca, mais ou menos agressiva, e para a distnção daqueles que alcançarão resposta completa, sustentada ou não.
Tabela 13 - Fatores prognóst cos das LMA
FFaavvoorráávveell DDeessffaavvoorráávveell
Idade <50 anos Idade >60 anos
Leucócitos <30.000 Leucócitos >30.000
Performance status ECOG <2 Performance status ECOG >2
FFaavvoorráávveell DDeessffaavvoorráávveell
Citogenétca favorável Citogenétca desfavorável
Alteração molecular: NPM1, CEBPA
Alteração molecular: FLT3/ITD, MLL
LMA “de novo” LMA secundária
Ausência da expressão de MDR Presença de MDR
MDR: proteína de resistência a mul t drogas, que confere maior
resistência aos quimioterápicos; LMA “de novo”: sem patologia prévia que predispõe à leucemia; LMA secundária: existe previa- mente alguma patologia que predisponha à leucemia, como sín- drome mielodisplásica, mieloproliferação crônica ou tratamento com quimioterapia/radioterapia.
A idade e o performance status são os melhores predito- res de mortalidade, enquanto os demais fatores são predi- tores de doença refratária ou recidiva precoce.
Tabela 14 - Fatores prognóst cos desfavoráveis na LLA em adultos
- Idade >30 anos;
- >30.000 leucócitos na LLA-B;
- Tempo para alcançar remissão completa >4 semanas;
- Imunofenótpo pró-B, T precoce e T madura;
- t(9;22); t(4;11).
Quanto maior o número de fatores desfavoráveis na LLA, pior a sobrevida em 3 anos, variando entre 21 e 91%.
A taxa de remissão completa e sobrevida livre de doença em 5 anos depende dotpo e do subtpo da leucemia e dos fatores prognóstcos, sendo as leucemias de melhor prognós-
tco a LMA promielocí tca com t(15;17) e as LLAs na infância.
7. Tratamento
7. Tratamento
O tratamento de qualquertpo de leucemia aguda ba- seia-se em 2 pontos extremamente importantes: