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2 A NÁLISE DAS Q UESTÕES DE I NVESTIGAÇÃO

IV METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO 1 Q UESTÕES D E I NVESTIGAÇÃO

2 A NÁLISE DAS Q UESTÕES DE I NVESTIGAÇÃO

2.1 INTRODUÇÃO

Neste segundo ponto, deste capítulo, apresentam-se as respostas obtidas às questões científicas formuladas. Estas questões estão relacionadas com as práticas de aprovisionamento, nomeadamente na sua relação com o tipo de hospital, a região de localização e a frequência de utilização dos diversos tipos de contrato.

As questões científicas colocadas foram as seguintes: a primeira é relacionada com a tipologia hospitalar, a segunda com a região de localização dos hospitais e a terceira com a frequência de utilização de cada um dos tipos de contratos existentes em Portugal para aquisição de bens e serviços. Com o objectivo de dar resposta e estas questões científicas ligadas aos aspectos em estudo, testaram-se um conjunto de hipóteses que se dividem em três grandes grupos: tipo de hospital, localização do hospital e tipo de contrato utilizado nas aquisições.

Uma vez que as práticas de aprovisionamento podem ser medidas utilizando diferentes tipos de variáveis, cada grupo de hipóteses é subdividido em quatro hipóteses específicas que dizem respeito a aspectos também eles específicos das práticas de aprovisionamento. A análise que se irá efectuar sobre a relação existente entre as práticas de aprovisionamento, sob os vários aspectos (tipo de hospital, localização do hospital e tipo de contrato utilizado nas aquisições), será subdividida em: gestão de materiais, relacionamento com os fornecedores, práticas de compras e práticas de compras centralizadas.

A Gestão de Materiais foi, neste estudo, medida através de um conjunto de variáveis que se agruparam da seguinte forma: critério de arrumação dos artigos em armazém, sistema de inventário, regularidade dos consumos, quantidade económica de encomenda, stocks de segurança e análise ABC. Para cada um destes aspectos foi colocado, no questionário, um conjunto de questões cuja resposta permita saber do grau e aprofundamento da utilização destas ferramentas de Gestão de Materiais.

As variáveis utilizadas para a análise do relacionamento com fornecedores foram agrupados da seguinte forma: número de fornecedores por item e por armazém, formas de

garantir o fornecimento atempado de materiais, datas previstas das entregas dos diversos produtos, justificação dos atrasos nas entregas, existências de penalizações para os incumprimentos. Para cada um destes aspectos foi colocado, no questionário, um conjunto de questões cuja resposta permita saber do tipo de relacionamento que têm com os fornecedores.

Para “medir” as práticas em compras utilizou-se um conjunto de variáveis que se subdividem em: nível médio de existências, periodicidade das encomendas de cada tipo de artigos, documentos utilizados nas compras, tipo de contrato, políticas de compra, factores que estão na base da decisão de comprar, procedimentos para a comunicação das notas de encomenda. Para cada um destes aspectos foi colocado, no questionário, um conjunto de questões cuja resposta permita saber do grau e aprofundamento da utilização destas práticas.

Para “medir” as práticas de compras centralizadas utilizou-se um conjunto de variáveis que se subdividem em: artigos centralizados, artigos centralizados por outra entidade, % de compras centralizadas por anos, dentro de que parâmetros a qualidade é considerada aceitável, se existiram reclamações, que tipo de resposta é dada às solicitações/reclamações, como se pode considerar o cumprimento dos contratos, qual a intervenção que os serviços aderentes poderão ter numa centralização de compras, nos cenários de: central de compras, Hospital Central de compras e central de compras do estado, qual a adesão a uma central de compras. Para cada um destes aspectos foi colocado, no questionário, um conjunto de questões cuja resposta permita saber do grau e aprofundamento da utilização destas práticas.

2.2 TIPO DE HOSPITAL EAS PRÁTICAS DE APROVISIONAMENTO

De acordo com a tipologia hospitalar anteriormente apresentada, os Hospitais Distritais centrais e Centros Hospitalares distinguem-se uns dos outros, quer por um conjunto de características em termos de meios humanos, técnicos que têm ao seu dispor, quer pelos cuidados de saúde mais ou menos especializados que prestam. Tendo em atenção estas diferenças, importa saber até que ponto as práticas de aprovisionamento estão

relacionadas com o tipo de hospital. Isto é, saber se de facto diferentes tipos de hospital têm diferentes práticas de gestão de aprovisionamentos.

Atendendo a que, tal como foi referido anteriormente, as práticas de gestão de aprovisionamentos são medidas através de um conjunto vasto e diferenciado de variáveis, a sua análise terá também de ser diferenciada. Assim, e de acordo com a metodologia já apresentada, no caso de variáveis não dicotómicas o objectivo era o de saber se existem diferenças nas médias para diferentes tipos de hospital. Para esta análise optou-se pela utilização da ANOVA. Contudo, esta ferramenta estatística exige a verificação de um conjunto de pressupostos nomeadamente, normalidade da distribuição dos resíduos e a homogeneidade da variância. Para verificar a existência dessas condições, utilizaram-se os testes de Kolmogorov-Smirnov com correcção de Lilliefors e o Teste de Levene. No caso em que os pressupostos não se verificaram utilizou-se, em substituição da ANOVA, o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. Para as variáveis dicotómicas e no sentido de saber da existência de relações entre as variáveis e o tipo de hospital, utilizou-se o teste do Qui-Quadrado.

2.2.1 Tipo de Hospital versus Gestão de Materiais no Hospital

A gestão de materiais no hospital, como se referiu, constitui um sistema organizado que coordena todas as actividades de gestão e controle de todos os produtos, serviços e equipamentos desde a aquisição até à eliminação (Moreira, 1989; GSEAS, 1998). Diferentes tipos de hospitais, têm diferentes estruturas, diferentes meios e recursos humanos, lidam com diferentes tipos de materiais, têm diferentes dimensões, etc.. É pois de admitir que a Gestão de Materiais se exerça de forma diferenciada em hospitais de diferentes tipos. Importará pois, determinar em que medida a relação implícita na afirmação anterior se verifica ou não e existindo diferenças quais as práticas características de cada tipo de hospital. Neste sentido foi formulada a hipótese H11:

Hipótese H11 - Não existe relação entre as práticas de Gestão de Materiais e o Tipo de

Hospital;

De seguida apresentam-se os resultados da análise estatística das varáveis pertinentes para a H11. Para medir o grau de profundidade das práticas de gestão de materiais relativa às

variáveis não dicotómicas, apenas, cinco verificavam os pressupostos subjacentes à utilização da ANOVA: “produtos onde se verificam consumos regulares” (“material de consumo clínico”, “material de consumo hoteleiro”, “material de consumo administrativo”, “material de manutenção e conservação” e “outro material de consumo”) e “classificação do efeito de ruptura de stocks”. Os resultados indicam que o comportamento das variáveis não está relacionado com os diferentes tipos de hospital. A um nível de significância de 5% ou de 10% não foi possível rejeitar a hipótese de igualdade das médias para diferentes tipo de hospital, tal como se pode visualizar no

Quadro nº III.1 em anexo.

Os resultados do teste de Kruskal-Wallis, indicam que, de acordo com os dados disponíveis, não se pode afirmar que o comportamento da variável “forma de cálculo do stock de segurança” esteja relacionado com o tipo de hospital Quadro nº III.1 em anexo.

Os resultados do teste do Qui-Quadrado, aplicado às variáveis dicotómicas são os apresentados no Quadro nº III.1 em anexo. Como se pode verificar, apenas uma variável é significante, e apenas a um nível de significância de 10%, “forma de calculo da QEE”. Assim, pode afirmar-se, com base nos dados disponíveis que esta variável está relacionada com o tipo de hospital (Quadro 5.1):

Quadro 5.1 - Variáveis significantes para a hipótese H11 Qui-Quadrado Sig.

Forma de Cálculo da QEE 4,714 0,095*

* Significante a um nível de significância de 10%

Resumidamente, pode afirmar-se, com base na análise efectuada, que apenas uma variável pode ser considerada com comportamento relacionado com o tipo de hospital: “forma de cálculo da QEE”. Analisando as respostas recebidas pode estudar-se a forma como esta variável se distribui pelos diferentes tipos de hospital.

Em termos gerais, os Hospitais Distritais não utilizam a QEE. De facto, dos 14 hospitais apenas um afirmou utilizar este “método”, ressalvando no entanto, estranhamente, afirma

não tirar benefício da sua utilização. Em contraste, metade dos Hospitais Centrais não utiliza, mas a outra metade ou já a utiliza e identifica alguns benefícios na sua utilização ou está numa fase muito inicial a sua implementação. Por outro lado, os Centros Hospitalares dividem-se em duas posições metade sabe o que é, mas não vê benefícios na sua utilização e a outra metade afirmou ter havido dificuldades na sua implementação, devido a problemas de armazenagem (Quadro 5.2). Assim, pode afirmar-se que são os Hospitais Distritais que não utilizam a QEE, enquanto que metade dos Hospitais Centrais o faz.

Quadro 5.2 – Quantidade Económica de Encomenda / Tipo de Hospital

Distrital Central Centro Hospitalar Total

Sei o que é mas não acho necessário utilizar 13 3 1 17

Utilizo e beneficio disso 1 1

Utilizo mas não beneficio 1 1

Começou-se a utilizar muito recentemente 1 1

Houve dificuldades - capacidade do armazém 1 1

Estão a tentar introduzir 1 1

Total 14 6 2 22

2.2.2 Tipo de Hospital versus Fornecedores do Hospital

Os vários contactos que o sector do aprovisionamento mantém com os seus fornecedores podem proporcionar: a melhoria do relacionamento que se estabelece com eles, suprimentos de mais qualidade e mais compatíveis com as especificações, e até uma melhor coordenação de entregas (Monks, 1987). O resultado destas melhorias poderá originar um menor número de devoluções e baixos níveis de stocks.

Uma vez que diferentes tipos de hospitais, como já foi referido, possuem diferentes estruturas, têm disponíveis diferentes recursos, e têm diferentes necessidades de materiais, é de esperar que possam ter diferentes comportamentos e diferentes relacionamentos com os seus fornecedores. Assim, é importante averiguar em que medida essa situação ocorre ou seja se existem diferenças no relacionamento com os fornecedores para diferentes tipos de hospital. Neste sentido foi formulada a hipótese H12:

Hipótese H12 - Não existe relação entre o tipo de relacionamento estabelecido com os

fornecedores e o Tipo de Hospital;

Os resultados da ANOVA, para a variável que cumpre com os pressupostos desta análise, podem ser observados no Quadro nº III.2 em anexo e dizem respeito às variáveis: “número médio de fornecedores por item”, “fornecimento atempado de materiais” (“ter um único fornecedor”, “comprar grandes quantidades de cada vez” e “contactos directos urgentes”), “data prevista de entrega” (“entrega antecipada de 2 a 4 semanas”, “entrega antecipada 1 semana”, “entrega atrasada 1 semana”, “entrega atrasada de 2 a 4 semanas”, “entrega atrasada de 1 a 3 meses” e “entrega atrasada + 3 meses”), “justificação dos atrasos” (“problemas de transporte”, “mudanças na data prevista de entrega” e “pagamentos em atraso”) e “que penalizações”. Desta análise, conclui-se que nenhuma das variáveis estudadas, está relacionada com o tipo de hospital. De facto, a um nível de significância de 5% ou de 10%, não é possível rejeitar a hipótese igualdade das médias para diferentes tipos de hospital.

Os resultados do teste de Kruskal-Wallis, aplicados às variáveis: “fornecimento atempado de materiais” (“contratos de longo prazo com os fornecedores” e “ter vários fornecedores”), “data prevista de entrega” (“entrega antecipada + 1 mês” e “na data prevista”), “justificação dos atrasos” (“capacidade de produção”, “problemas nas suas matérias-primas”, “problemas de qualidade”, “mudança de pedido” e “outra”), indicam que, com base nos dados disponíveis, a um nível de significância de 10%, apenas uma variável apresenta um comportamento relacionado com o tipo de hospital: “método de fornecimento atempado de materiais tendo vários fornecedores” (Quadro nº III.2 em anexo).

Os resultados do teste do Qui-Quadrado, aplicado às variáveis dicotómicas são os apresentados no Quadro nº III.2 em anexo. Da análise dos dados disponíveis, a um nível de significância de 5%, não é possível concluir da existência de relação entre qualquer das variáveis dicotómicas e tipo de hospital. No entanto, se se utilizar um nível de significância de 10% em lugar de 5%, já se constata que as variáveis: “fornecedores por armazém”, “utilização de notas de encomenda permanentes”, “utilização de compras directas” e “sim – as penalizações são eficazes” são significantes.