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CAPÍTULO 2: PROBLEMATIZAÇÃO E RECONHECIMENTO DE TEORIAS

2.4 A necessidade da problematização no EMP

A escola tradicional, que ensina por meio da cópia, vem recebendo críticas nas últimas décadas. Têm-se como necessidade formar sujeitos dotados de criticidade, à medida que a tecnologia e a ciência possibilitam o fácil acesso às informações. Nesse modelo de sociedade, “ensinar a pensar, a refletir, a descobrir o mundo, passa a ser a máxima das ações docentes” (ALARCÃO, 2001, p. 98). É necessário aprender a selecionar, sintetizar e compreender criticamente as informações veiculadas pelos meios de comunicação.

Nessa perspectiva, a pesquisa realizada pelo estudante é uma estratégia de ensino interessante, enquanto capacite-os à análise crítica e a aprender a aprender. Alarcão (2001, p. 12) propõe que a formação de alunos em uma escola reflexiva constitui sujeitos que, “habituados a refletir, terão motivações para continuar a aprender e para investigar”. É interessante capacitar os estudantes ao olhar de pesquisador. Precisa-se incitar a curiosidade perante a realidade.

Dessa forma, o professor assume um novo papel, tornando-se mediador no processo de ensino e aprendizagem. Nessa perspectiva, “a função docente passa a ser associada à pesquisa e o processo de ensino e aprendizagem é alicerçado em atitudes investigativas” (ALARCÃO, 2001, p. 98). É necessário aceitar os estudantes como sujeitos do processo pedagógico, pois “não há aprendizagem sem protagonismo do aluno, que constrói significados pela ação” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 15 –

16). Nessa perspectiva também se baseia o Educar pela Pesquisa (DEMO, 2000; GALIAZZI, 2003; MORAES, 2002), que sugere a necessidade da participação do aluno no processo de reconstrução de conhecimentos.

Segundo a Proposta Pedagógica, o mundo do trabalho, com o crescente desenvolvimento tecnológico, demanda o trabalho intelectual e a capacidade de aprender permanentemente. O desafio da escola seria então oferecer instrumentos que possibilitem ao aluno “desenvolver consciências críticas capazes de compreender a nova realidade e organizar-se para construir a possibilidade histórica de emancipação humana” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 14).

No Regimento Referência das Escolas de Ensino Médio Politécnico da Rede Estadual e na Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico é proposto que a escola precisa constituir a cidadania. Para isso, “possibilitar problematizações e leituras críticas que levem a transformação dos aspectos que ferem os direitos humanos e a emancipação dos seres humanos” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - b, p. 5). O Educar

pela Pesquisa propõe o questionamento reconstrutivo e aspira formar cidadãos críticos,

sendo que a construção de conhecimentos pode ser realizada a partir do questionamento (MORAES, 2002).

O movimento constante de ir e vir, da parte para o todo e do todo para a parte, como um processo de estabelecer limites e amplitude de problemas e busca de alternativas de solução, constitui-se como processo e exercício de transitar pelos conhecimentos científicos e dados de realidade, viabilizando a construção de novos conhecimentos, responsáveis pela superação da dificuldade apresentada (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 17).

O Regimento propõe também a conexão entre as disciplinas, o que possibilita a integração dos conhecimentos. A Proposta Pedagógica também sugere o desenvolvimento de um currículo integrado, com a consequente superação do isolamento disciplinar. A proposta faz crítica ao referir que “o ensino se realiza mediante um currículo fragmentado, dissociado da realidade sócio-histórica, e, portanto, do tempo social, cultural, econômico e dos avanços tecnológicos da informação e da comunicação” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 5). Dessa forma, é criticada a organização tradicional do currículo por disciplinas, desarticulado e descontextualizado.

É mais interessante priorizar a compreensão crítica e reflexiva dos conhecimentos, ao invés da decoreba destituída de significados. Para o conhecimento do mundo os conhecimentos não podem ser abordados de forma desintegrada, como se isolados pudessem explicar os fenômenos. Os conhecimentos “necessitam ser colocados em comunicação, procurando uni-los e, em uma ação interdisciplinar, estabelecer suas

relações religando os diferentes campos do conhecimento” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - b, p. 5). A integração das diferentes áreas do conhecimento possibilita uma abordagem interdisciplinar que só é possível para a compreensão do objeto de estudo em sua totalidade.

A Proposta Pedagógica propõe que é importante que a organização curricular seja realizada com base na prática social, que pode ser considerada a responsável pela produção de conhecimentos sobre a realidade. Nesse sentido, o aluno não pode ser considerado um sujeito que nada sabe, à medida que constitui saberes a partir das interações sociais (VIGOTSKI, 2007).

Na Proposta Pedagógica é defendido que o conhecimento ensinado pela escola precisa dialogar com os conhecimentos do senso comum, com o objetivo de transformá- lo com base no conhecimento sistematizado, pois, se contrário, “dificilmente será reconhecido e, portanto, corre o risco de não constituir significado que motive a sua apropriação” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 18).

Dessa forma, é proposto que o currículo seja organizado a partir da realidade dos alunos com o objetivo de melhor compreender o mundo. “O currículo é concebido como o conjunto das relações desafiadoras das capacidades de todos, que se propõe a resgatar o sentido da escola como espaço de desenvolvimento e aprendizagem” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 15). À medida que propõe que o estudante seja desafiado, sugere que suas ideias sejam problematizadas. Isso implica na participação interativa do educando, que precisa ser incitado a refletir.

Em meio à crítica ao ensino disciplinar, os documentos oficiais propõe a importância dos conhecimentos para a compreensão e solução de problemas da realidade. Um currículo interdisciplinar pode contribui para a “possibilidade real de solução de problemas, posto que carrega de significado o conhecimento que irá possibilitar a intervenção para a mudança da realidade” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - b, p. 19). Dessa forma, o ensino pode possibilitar a compreensão crítica da realidade e formulação de soluções a problemas da realidade.

O Regimento propõe a prática social e o trabalho como princípio educativo, defendendo que este “promovem o compromisso de construir projetos de vida, individuais e coletivos, de sujeitos que se apropriam da construção do conhecimento e desencadeiam as necessárias transformações da natureza e da sociedade” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - b, p. 4). Dessa forma, o indivíduo constrói conhecimentos na prática social, o que concebe um caráter dinâmico e provisório ao processo de

constituição do sujeito. Isso impõe considerar também que a escola precisa selecionar e organizar os conteúdos a partir da realidade dos estudantes, na importância de conhecê- la criticamente para saber intervir no mundo de forma consciente.

Reconhecer que a produção de conhecimentos ocorre nas interações sociais implica considerar que o aluno possui conhecimentos prévios. O aluno não é o sujeito que nada sabe e que vem à escola para receber os saberes de forma passiva. “Não há aprendizagem sem protagonismo do educando, que constrói significados e representações pela ação cultural, instigado pelo exercício da curiosidade” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - b, p. 6). Para tanto, a escola precisa instigar o desenvolvimento da criticidade e autonomia na busca dos saberes.

O ensino em que o aluno recebe os conhecimentos ditados pelo professor, em um processo que não implica reflexão, em pouco contribui para a formação da consciência crítica. Na Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico foi possível perceber a desvalorização dessa forma de ensino, à medida que “supõe a primazia da qualidade da relação com o conhecimento pelo protagonismo do aluno sobre a quantidade de conteúdos apropriados de forma mecânica” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 14). A cópia também é criticada no Educar pela Pesquisa, em que se propõe o protagonismo dos estudantes na reconstrução de conhecimentos (DEMO, 2000).

É proposta também a importância do diálogo na “mediação de saberes e de contradições” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 17). O ensino dialógico exige do estudante a reflexão sobre os conteúdos e a realidade em que está inserido. Destacamos uma aproximação com o Educar pela Pesquisa, pois o diálogo também é fortemente discutido como categoria do Educar pela Pesquisa (MORAES, 2002).

A Proposta Pedagógica defende o desenvolvimento da pesquisa como metodologia de ensino e aprendizagem, que deve ser orientada pelo professor. “A pesquisa é o processo que, integrado ao cotidiano da escola, garante a apropriação adequada da realidade, assim como projeta possibilidades de intervenção” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 20). Dessa forma, é possível a integração com a realidade, por meio da pesquisa, sugerindo a relevância da problematização.

O Regimento dá ênfase à importância da pesquisa, que se realiza por meio do desenvolvimento de um projeto na disciplina de SI. O desenvolvimento do projeto de pesquisa será realizado a partir de “uma necessidade e/ou uma situação problema dentro dos eixos temáticos transversais” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - b, p. 10) e será

orientado pelo professor. Dessa forma, o reconhecimento de uma situação problema em vinculação com a sua realidade possibilita o desenvolvimento da capacidade de problematizar-se. A elaboração de um projeto colabora para o desenvolvimento da autonomia intelectual, que vai da elaboração de um problema à construção de uma proposta de solução. Portanto, é incentivada a pesquisa na Educação Básica, na defesa de que esta

possibilita a construção de novos conhecimentos e a formação de sujeitos pesquisadores, críticos e reflexivos no cotidiano da escola, oportunizando a apropriação adequada da realidade, projetando possibilidades de intervenção potencializada pela investigação e pela responsabilidade ética. Além disso, a pesquisa oportuniza ao educando a exploração de seus interesses e o exercício da autonomia, ao formular e ensaiar projetos de vida e de sociedade (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - a, p. 9-10).

Nesse sentido, a pesquisa é enfatizada no EMP, pois desfende-se que propicia a formação da autonomia, criticidade e reflexividade. O aluno constrói os seus conhecimentos, intepretando criticamente a sua realidade. Constitui-se apto a intervir também de forma crítica em seu mundo. Dessa forma, o professor adquire papel de mediador no processo de construção do conhecimento pelo aluno. Vários autores (DEMO, 2000; GALIAZZI, 2003, MORAES, 2002; FRISON, 2002; MORAES; GALIAZZI; RAMOS, 2002; RAMOS, 2002) defendem o Educar pela Pesquisa como sendo uma abordagem teórica que indica alguns rumos para o planejamento do ensino, que a meu ver também dialoga com a proposta do EMP. Nesse sentido, no próximo subcapítulo realizamos uma reflexão acerca da importância da problematização pelo aluno em Freire e Vigotski em diálogo com o Educar pela Pesquisa.

2.5 A importância da problematização pelo aluno em Freire e Vigotski em diálogo