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CAPÍTULO 2: PROBLEMATIZAÇÃO E RECONHECIMENTO DE TEORIAS

3.4 Possibilidades e limites do ensino e aprendizagem de Ciências por meio do

Educar pela Pesquisa

Podemos depreender dos dados e da literatura que uma das limitações para o desenvolvimento do Educar pela Pesquisa é a formação do professor. Essas reflexões são identificadas nos diários dos sujeitos investigados, como no excerto:

no início as meninas não estavam entendendo como fazer a pesquisa. Para elas e para mim foi uma coisa nova, não temos tanto conhecimento como ela [se refere à licencinda/bolsista do PIBID, voluntária do Projeto inserido no PICMEL]. Mas todas estavam muito preocupadas e apreensivas para aprender (Sabrina).

Os professores não estão habituados com esse modo de desenvolver o ensino, orientado pela pesquisa, sendo que vivenciaram uma formação que não priorizava vivências do processo de pesquisa. A formação permanece “ainda muito analítica e atomizada, priorizando geralmente o conteúdo disciplinar específico” (GALIAZZI, 2003, p. 190).

Porém, esta limitação pode ser convertida em uma possibilidade, à medida que Sabrina descreveu que “estavam muito preocupadas e apreensivas para aprender”, indicando o Grupo como possibilidade para a aprendizagem do processo de pesquisa, pelas estudantes e professoras. Isso respalda o papel do “amigo crítico” (CARR; KEMMIS, 1998) na condução do diálogo e reflexões no Grupo, que nesse caso é a licencianda/bolsista do PIBID, voluntária do Projeto inserido no PICMEL, apontando para a importância de coletivos docentes orientados pelos pressupostos teóricos da IA, que de forma colaborativa investigam as suas ações, tornando o processo um momento de reflexão e transformação, pois “as aprendizagens naturais são muito fortes. Superar teorias tradicionais de ensino não é um processo rápido” (GALIAZZI, 2003, p. 196).

No diário de bordo de Sabrina identificamos vários trechos que indicam aspectos do Educar pela Pesquisa, o que indica que embora no início da pesquisa demonstrasse inseguranças em relação ao trajeto, descrevendo a importância da amiga crítica, o percurso de pesquisa foi sendo desenvolvido, ao mesmo tempo em que Sabrina refletia sobre o processo em seu diário de bordo. É descrito a realização da análise de documentos, participação em discussões, a leitura e análise de artigos com a coleta de citações, a escrita de relatórios de pesquisa, o que pode possibilitar o desenvolvimento dessas habilidades. “Começamos com pesquisa na informática da Escola [...] lendo

científica copiando e colando em um gráfico para posteriormente escrever um artigo”

(Sabrina). Dessa forma, reiteramos a relevância de contextos formativos que oportunizem ao professor formação continuada, com a possibilidade de transformações de concepções e práticas pedagógicas, nesse caso, com base no Educar pela Pesquisa. Nesse sentido, ressaltamos que uma possibilidade para o ensino por meio da pesquisa é oportunizar ao professor experiências de pesquisa que lhe constituam pesquisador, para que assim se sintam melhor preparados para desenvolver com os seus alunos em sala de aula.

Milena realizou uma análise das aulas de SI, conjuntamente à reflexão sobre o processo de pesquisa vivenciado no Projeto inserido no PICMEL, em que reconheceu limitações dos professores no ensino pelo Educar pela Pesquisa:

as pesquisas no SI não são levadas muito a sério, a partir do momento em que o professor-mediador da matéria não recebe as orientações para auxiliar na prática. A maioria dos professores fica meio deslocada e não sabe ao certo o que cobrar nas aulas, nem até que ponto devem chegar, isso acaba acarretando na insegurança durante o trajeto. E em relação aos alunos, muitos não sabem nem mesmo os princípios básicos da pesquisa, nem seu conceito, o que seria totalmente necessário, visando que isso também influencia muito na hora de desenvolver e aprofundar o conhecimento (Milena).

Além da necessidade de formação aos professores, Milena reconhece como outra limitação a falta de conhecimento dos alunos sobre os princípios da pesquisa. “O aluno, como ainda está muito acostumado à cópia, fica à mercê de aprender a repetir apenas o discurso do professor” (GALIAZZI, 2003, p. 186). No entanto, o professor tem o papel de ensinar os alunos a pesquisar. Percebemos que a experiência de pesquisa vivenciada no Grupo constituído pelos integrantes do Projeto inserido no PICMEL possibilitou a compreensão de ideias do Educar pela Pesquisa, à medida que reflete experiências vivenciadas na escola enquanto estudante. Dessa forma, tem importância a mediação do professor, que deve almejar a superação de visões simplistas de pesquisa dos alunos. Consideramos necessária a capacitação de professores para que se preparem para essa forma de ensino, reiterando a importância da formação continuada, o que deve estar aliado à melhor valorização da profissão, o que inclui tempo para formação e planejamento, que se converte em uma possibilidade. Segundo Galiazzi (2003, p. 190), “além de trabalho e tempo, a proposta exige saber conviver e lidar com as inseguranças inerentes ao próprio pesquisar”. Essas inseguranças podem ser minimizadas com formação e planejamento.

Em um fragmento do diário de bordo, Milena descreveu que o desenvolvimento do projeto fora do horário da aula ou do espaço escolar não é acompanhado por professor, como outra limitação. E complementou que não há profissionais destinados a essa função:

As atividades dos projetos realizadas fora do espaço escolar, ou do turno que o aluno frequenta, não são acompanhadas por professor. Até mesmo porque não temos professores destinados a isto. Aliás, se a “pesquisa na escola” é uma área tão vasta, motivo de inúmeras discussões, de muitos estudos e preocupações do governo, tornou-se até mesmo uma disciplina, deveria haver também professores com qualidades específicas para ensinar aos alunos esta curiosa prática do “aprender a aprender”, e aptos para media-la no meio escolar ou, pelo menos, para apresentar aos alunos uma introdução do que será exigido mais tarde, em um curso superior. Um professor que esteja disponível para atender o aluno, que saiba exatamente os passos de uma pesquisa, que conheça diferentes tipos de metodologia e não trabalhe somente com aquele esquema da internet, sem falar as infinitas cópias que os alunos apresentam, em que se apropriam do conhecimento dos outros e não acrescentam nada ao seu intelecto, entre outras várias lacunas que precisam ser preenchidas. Deste modo haveria sim uma grande mudança, formar-se-iam diversos sujeitos pesquisadores, leitores e idealizadores (Milena).

Porém, o desenvolvimento dos projetos na disciplina de SI precisa ser acompanhado por um professor que auxilie os alunos. “As atividades dos projetos realizadas fora do espaço escolar, ou do turno que o aluno frequenta, são acompanhadas por professor” (RIO GRANDE DO SUL, 2011 - b, p. 7). O Educar pela Pesquisa pode exigir do docente “a necessidade de mais tempo de planejamento e acompanhamento aos alunos, o que resulta em mais trabalho para o professor” (GALIAZZI, 2003, p. 190), porém, a pesquisa pode colaborar para a formação de sujeitos participativos, críticos e reflexivos (MORAES, 2002). Para isso, faz-se imprescindível a preparação de professores para o desenvolvimento da pesquisa na escola, a partir da formação de docentes pesquisadores de sua própria prática (DEMO, 2000). Milena descreve a necessidade de professores capacitados para o desenvolvimento de pesquisas e a importância de um professor disponível para orientar os alunos, o que é relevante, pois o professor tem o papel de mediador no Educar pela Pesquisa, auxiliando os alunos no percurso de pesquisa (DEMO, 2000). Ter professor capacitado e disponível para orientar os alunos é uma possibilidade para o desenvolvimento de práticas de ensino fundamentadas no Educar pela Pesquisa, porém problematizamos as condições para isso.

No encontro do dia 15 de outubro de 2015 também foi possível selecionar episódios que continham indícios de limitações e possibilidades ao desenvolvimento do

Educar pela Pesquisa, alguns já discutidos a partir da análise dos diários de bordo:

T 1: é ali traz que é pra trabalhar por áreas de conhecimento que é a proposta agora do Ensino Médio Politécnico... Ciências da Natureza vai trabalhar Biologia... Física e Química junto... integrado... essa integração deveria ser interdisciplinar... até quando forem... quando falam de formação interdisciplinar... acham que é... por exemplo... na Biologia trabalhar... quando vou trabalhar o conceito de energia...vou trabalhar como a Química entende... como a Física entende... porque energia pode... é trabalhado nos três... mas [...] trabalhar de forma interdisciplinar seria pega um tema... por exemplo vou pega um tema fácil... a poluição... o lixo... e daí as três áreas trabalhar... na sua... [...] nos seus conceitos para entender um tema mais complexo... e quando... [...] é escolher um tema... que é a proposta do ensino médio... que a gente sabe que não tá funcionando acho que bem ainda... (Paula).

T 2: é isso só funciona quando tiver projetos mesmo... (Sabrina). [...]

T 3: então agora a proposta é trabalhar pelo a água... então todos os envolvidos na mesma área vão desenvolvendo... (Sabrina).

T 4: tem um projeto na escola agora sobre a água... (Paula). [...]

T 5: tem as duas meninas aí do PIBID daí vão poder ajudar um pouco mais com eles... hoje a gente foi até a corsan... teve uma palestra bem boa... o cara explicou... quase uma hora de explicação... sobre a água... como chega a água até a casa deles... como é tratada... (Sabrina).

[...]

T 6: no externo aprende muito mais... assim fica na... (Sabrina). [...]

T 7: em sala de aula o professor não consegue trabalhar essa interdisciplinar... ele não consegue... não consegue enxergar como eu vou trabalhar essa saneamento básico na minha disciplina... e na verdade eu acho que é a dificuldade... que a gente vê... (Paula).

T 8: é... (Sabrina). T 9: de como.... (Paula).

T 10: e... e muitas vezes acaba sendo muito repetitivo... um entra na área do outro... e acaba que é uma coisa e saturada... (Sabrina).

T 11: é... às vezes vou trabalhar... não... não... (Paula).

T 12: drogas... todo mundo pega drogas... droga... droga... droga... aí satura... (Sabrina).

T 13: mas o professor de Biologia tinha que trabalhar coisas do corpo humano e o professor de química sei lá... a química... de como é... se produz... a forma como é produzido... a fórmula química dessas drogas... algo assim... (Paula).

T 14: é... tem que desenvolver como... (Sabrina). [...]

T 15: mais a fundo... da pesquisa... para não se tornar repetitivo. (Sabrina). T 16: é... é a pesquisa do professor... (Paula).

T 17: é... (Sabrina). [...]

T 18: pesquisa do professor... (Sabrina).

T 19: o professor se preparar para [...] é um desafio... (Paula). T 20: é... (Sabrina).

T 21: é esse desafio do... do politécnico... e ainda mais trabalhar além dessa interdisciplinaridade... trabalhar Seminário Integrado... até nem sei quem são os professores aqui do Seminário Integrado... também isso é bem... (Paula).

T 22: bem trabalhoso também... (Sabrina).

T 23: eu acho que a geração agora que vem a de vocês... se preparando mais... eu acho que vai dá certo sabe... porque eles já tão sendo preparado um pouco diferente do que da nossa geração... professores que tão chegando agora... eu acho que são mais preparados... (Sabrina).

[...]

T 24: não tem tempo... (Sabrina). T 25: sobrecarrega... (Paula). [...]

T 26: a gente sabe da [...] eu já conheço como é que é a realidade... então não dá pra... pegar uma turma de quarenta alunos... aí eu vou ser o professor de Seminário Integrado no... eu vou trabalhar a pesquisa com cada um daqueles alunos... também é difícil... um aluno pega um tema... outro pega outro... pega tema importantes... o professor consegui orientar... teria que ter... ter conhecimento... acredito de cada um desses tema... (Paula).

T 27: ou... ou seria de todos os professores se reunir e ter um momento assim de... de discussão... vamos dizer uma manhã... os ciclos formativos nos outros... nas outras... terças-feiras que seria o grupo... por área... (Sabrina).

Paula encaminhou o diálogo com a finalidade de despertar no Grupo a reflexão acerca da importância da interdisciplinaridade como ênfase do EMP, o trabalho por áreas de conhecimento e articulação entre estas: “é ali traz que é pra trabalhar por

áreas de conhecimento que é a proposta agora do Ensino Médio Politécnico... Ciências da Natureza vai trabalhar Biologia... Física e Química junto... integrado...” (T 1). Isso

exige momentos de planejamento coletivo, se se objetivar integrar as disciplinas no desenvolvimento de projetos de pesquisa. A partir da problematização de Paula, Sabrina afirmou: “é isso só funciona quando tiver projetos mesmo” (T 2). Desse modo, destacamos o planejamento de projetos de pesquisa, em parceria, como uma possibilidade de desenvolvimento da interdisciplinaridade em aulas fundamentadas no

Educar pela Pesquisa. Sabrina descreveu a sua prática: “então agora a proposta é trabalhar pelo a água... então todos os envolvidos na mesma área vão desenvolvendo”

(T 3). Sabrina afirmou que “no externo aprende muito mais... assim fica na...” (T 6), indicando uma possibilidade de ensino e de aprendizagem de Ciências por meio da pesquisa, por envolver os estudantes na observação de fenômenos e sua descrição.

Em relação ao ensino interdisciplinar, Sabrina comentou: “e... e muitas vezes

acaba sendo muito repetitivo... um entra na área do outro... e acaba que é uma coisa e saturada...” (T 10). Dessa forma, a limitação passa a ser a falta de tempo para

planejamento ocasionado pela sobrecarga de trabalho do professor. Porém, apontamos a possibilidade do Educar pela Pesquisa proporcionar a integração dos conhecimentos, proporcionando o ensino interdisciplinar, e assim pode melhorar a aprendizagem de Ciências. Sabrina apontou como possibilidade para a interdisciplinaridade: “mais a

fundo... da pesquisa... para não se tornar repetitivo” (T 15), o que demanda tempo

coletivo e individual de planejamento. Sabrina propôs a importância da formação docente: “eu acho que a geração agora que vem [...] se preparando mais... eu acho que

vai dá certo sabe... porque eles já tão sendo preparado um pouco diferente do que da nossa geração... [...]” (Sabrina). É importante oportunizar a formação continuada como

espaço de incentivo para a pesquisa da própria prática, formando sujeitos pesquisadores, capacitados para o ensino interdisciplinar e por meio do Educar pela Pesquisa.

Paula problematizou, se referindo ao SI: “um aluno pega um tema... outro pega

outro... pega tema importantes... o professor consegui orientar... teria que ter... ter conhecimento... acredito de cada um desses tema...” (T 26). Paula apontou uma

limitação, que é a orientação aprofundada de um projeto de pesquisa por um só professor, pois “os cursos de Licenciatura têm contribuído para a construção de um conhecimento profissional dispersado em um conjunto de disciplinas estanques e isoladas” (GALIAZZI, 2003, p. 191). Uma possibilidade apontada por Sabrina foi o trabalho conjunto entre professores para a orientação das pesquisas: “ou... ou seria de

todos os professores se reunir e ter um momento assim de... de discussão... vamos dizer uma manhã... os ciclos formativos nos outros... nas outras... terças-feiras que seria o grupo... por área...” (T 27). Desse modo, Sabrina sugeriu a necessidade do

planejamento coletivo, tornando-se viável o ensino por meio do Educar pela Pesquisa e interdisciplinar. Sendo assim, cada disciplina deve contribuir no estudo de um tema definido pelo coletivo docente.

No primeiro episódio do subcapítulo 3.3, foi possível perceber uma limitação do ensino e aprendizagem por meio do Educar pela Pesquisa, situado no desinteresse dos estudantes, deslocando-se, dessa forma, um pouco da figura do professor, porém situando a crítica de forma demasiada nos estudantes.

No episódio, Sabrina explicitou o desinteresse dos alunos pela pesquisa: “diferente de... de outros anos... o tempo que a gente estudava é bem diferente... porque

hoje o aluno só não que... de fazer pesquisa... porque tem tanto...” (T 1). Porém,

destacamos que os estudantes precisam ser ensinados pelo professor a pesquisar, não basta ter fonte de materiais para consulta. As resistências dos alunos a essa forma de ensino, muitas vezes, pode ser decorrente de “teorias de ciência bastante arraigadas a teorias absolutas da verdade, teorias curriculares construídas ao longo da vivência escolar, à dificuldade em perceber limitações próprias, em assumir papel efetivo e autônomo com vistas à superação” (GALIAZZI, 2003, p. 203). Do mesmo modo, as concepções sobre pesquisa influenciam a prática dos professores.

Galiazzi (2003, p. 199) destaca que “em uma pesquisa coletiva, é preciso que todos se percebam como participantes do grupo e participem da tomada de decisões”. Porém, os alunos estão habituados a serem passivos. A pesquisa exige maior envolvimento, fazendo-se necessárias leituras e escrita, que exigem mais do aluno do que a simples cópia. Franciele afirmou que a escola possui material disponível para a realização de pesquisas: “é que hoje assim ó... tem computador na escola... tem de

tudo... tem o livro...” (T 11), que se constitui em uma possibilidade para o ensino e

aprendizagem por meio do Educar pela Pesquisa. Porém, os alunos não querem refletir, tendendo à cópia, o que se configura em uma limitação: “acho que é chegar aí copiar...

colar... e entregar...” (Sabrina, T 12). Porém, o estudante precisa ser ensinado a

reconstruir os conhecimentos, ser desafiado pelo professor a ir além da cópia. Na pesquisa não é aceito a cópia: “mas tem que vê vários sites...” (Sabrina, T 14). Franciele confirmou que eles não gostam de ler: “mas eu também não gosto de lê às vezes...” (T 15). Porém, a leitura é imprescindível na pesquisa, assim como a escrita. Os alunos possuem teorias tradicionais de aprendizagem que influenciam na dificuldade de reconhecimento do potencial da pesquisa na sua formação, que implica assumir-se responsável por sua aprendizagem, tendo o professor como orientador (GALIAZZI, 2003). Conscientizá-los do potencial do Educar pela Pesquisa é importante para se desenvolver boas práticas.

Sabrina salientou a importância de o aluno assumir a autonomia perante a sua aprendizagem: “vê se bate... os mesmos resultados... se é realmente é... para você tirar

uma conclusão...” (T 22). Na concepção de Sabrina, isso gera aprendizagem: “isso é um aprendizado... o aprendizado precisa...” (T 24), apontando a pesquisa em várias fontes,

a análise dos resultados e produção de conclusões como possibilidades do Educar pela

Pesquisa para a aprendizagem de Ciências. Foi possível identificar uma concepção de

aprendizagem que supera as visões tradicionais, em que se enfatiza a mera reprodução dos conteúdos.

Sabrina criticou o uso do livro didático como receita a ser aplicada em sala de aula e aceito pelos estudantes. A professora questionou se este conteúdo é problematizado: “porque o que nós temos nos livros didáticos ali... já tá prontinho ali...

alguém escreveu... trouxe ali... vocês aplicam essa aula aí para nós... mas... se argumenta isso? É... realmente é isso” (T 26). Percebemos a importância concedida ao

questionamento e à formulação de argumentos sobre os conteúdos. Estas são habilidades que podem ser apreendidas por meio da pesquisa, o que indica possibilidades do Educar pela Pesquisa para a aprendizagem de Ciências.

O episódio seguinte também foi selecionado do encontro de 22 de outubro de 2015, em que se segue com a crítica ao uso exclusivo do livro didático:

T 29: e se eles fossem pesquisar sobre tudo aquilo... ampliassem... (Sabrina). T 30: entrar mais a fundo... (Fernanda).

T 31: não só naquele... numa página do livro... e se eles fossem pega outras fontes... pesquisassem... e será que é isso... não... se é aquilo... trazer bem... (Sabrina).

T 32: mas com mudar essas mentalidades... (Paula).

T 33: como mudar... não é isso que a gente quer... (Sabrina).

T 34: se é trabalho para casa... não só aquela página do livro... (Sabrina). [...]

T 35: você tem que ver várias fontes... (Sabrina). [...]

T 36: é que isso... essas coisas é complicada... esses alunos hoje em dia não sabem... não sabem seu lugar... seu ligar é ali ó... seu lugar... seu material... (Sabrina).

[...]

T 37: tá um fedorão... valeu sabe... sabe... os alunos foram... viram... fizeram desenho e coisa... relataram... mas sabe uns trabalhos maravilhosos... e outros não vi nada... só sujeira... deu... (Sabrina). T 38: e aí não se argumenta nada sobre isso... (Paula).

T 39: vi água... só sujeira... não sei o que... não... (Sabrina). T 40: não se pensa sobre isso... (Paula).

T 41: é... (Sabrina). [...]

T 42: mas daí como [...] nós estava em três... e quase não dava conta... em três... [...] se amontoaram de novo e... (Sabrina).

[...]

T 43: sempre dá a partir de uma prática... uma maior atividade... (Sabrina). [...]

T 44: por isso eu acho que é bom te essas meninas circulando por aí... porque sempre elas trazem uma novidade... e novidade... e ajudam pra gente faze uma prática... (Sabrina).

T 45: e na prática... na prática... (Fernanda). T 46: é bom... (Sabrina).

[...]

T 47: sempre cai naquela de mero espectador... recebe e pronto... (Sabrina). [...]

T 48: o conhecimento tem que se sobre tudo... não a eu gostei disso eu vou estudar isso... é... é mais fácil se o professor der a resposta... é verdade... mas não é o melhor para vocês... (Paula).

T 49: é o método tradicional desde... (Sabrina).

No episódio acima, Sabrina retomou a discussão do uso do livro didático: “não

só naquele... numa página do livro... e se eles fossem pegar outras fontes... pesquisassem... e será que é isso... não... se é aquilo... trazer bem...” (T 31). Foi

retomada novamente a necessidade de coletar várias fontes, além do livro didático, e formular um texto próprio.

Sabrina continuou descrevendo o Projeto que desenvolveu na escola, que indicou como uma possibilidade do ensino por meio do Educar pela Pesquisa. A professora solicitou um relato da observação realizada na aula de campo. Descreveu que alguns estudantes se dedicaram na elaboração do relato, outros nem tanto, conforme se percebeu no fragmento: “tá um fedorão... valeu sabe... sabe... os alunos foram... viram...

fizeram desenho e coisa... relataram... mas sabe uns trabalhos maravilhosos... e outros não vi nada... só sujeira... deu...” (T 37). Dessa forma, uma dificuldade na pesquisa é

envolver os alunos na escrita, se constituindo como uma limitação do ensino por meio do Educar pela Pesquisa. Porém, considerando a relevância da produção escrita, é

importante que ela seja incentivada e ensinada, pois é uma possibilidade de aprendizagem por meio do Educar pela Pesquisa. Da mesma forma, o professor precisa desenvolver as suas capacidades de leitura e escrita. A professora explicitou que é possível a partir da prática (observação da fonte) desenvolver um estudo mais