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PARTE I: APONTAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

CAPÍTULO 1 – ARCABOUÇO TEÓRICO

1.1. A comunicação vista através da Teoria Semiolinguística

1.1.1. A noção de dialogismo e polifonia na perspectiva do Círculo de

A vertente charaudeana pode, a meu ver, dialogar com o Círculo de Bakhtin, em especial, no que concerne as noções de dialogismo e polifonia. A língua não é fenômeno estanque, pelo contrário, a substância está no “fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação e das enunciações”, afirmam Voloshínov e Bakhtin ([1929]1979, p. 109). O conhecimento do homem ocorre na sua relação com o outro. As palavras não são monológicas, mas dialógicas em essência. O conceito bakhtiniano de polifonia determina entender a enunciação como um ato de interação social. Recusa-se, portanto, a existência de um “eu” individualizado, isolado das influências exteriores. Voloshínov e Bakhtin ([1929]1979) pensam em um sujeito imerso na sociedade, na memória e na história.

Na interação com o outro, há o encontro de diferentes vozes, em movimentos de concorrência, complementação e contradição. “Cada palavra se apresenta como uma arena em miniatura onde se cruzam e lutam valores sociais [...] revela-se, no momento de sua expressão, como produto da interação viva das forças sociais” (VOLOSHÍNOV & BAKHTIN, [1929]1979, p. 66). Em meio à multiplicidade de discursos, há um jogo negociado de sentidos, os quais são influenciados por características sociais, históricas e culturais que atravessam os sujeitos sociais e discursivos.

A língua não é fenômeno estanque, pelo contrário, a substância está no “fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação e das enunciações”, afirmam Voloshínov e Bakhtin ([1929]1979, p. 109). O conhecimento

do homem ocorre na sua relação com o outro. As palavras não são monológicas, mas dialógicas em essência. O conceito bakhtiniano de polifonia determina entender a enunciação como um ato de interação social. Recusa-se, portanto, a existência de um “eu” individualizado, isolado das influências exteriores. Voloshínov e Bakhtin ([1929]1979) pensam em um sujeito imerso na sociedade, na memória e na história.

Na interação com o outro, há o encontro de diferentes vozes, em movimentos de concorrência, complementação e contradição. “Cada palavra se apresenta como uma arena em miniatura onde se cruzam e lutam valores sociais [...] revela-se, no momento de sua expressão, como produto da interação viva das forças sociais” (VOLOSHÍNOV & BAKHTIN, [1929]1979, p. 66). Em meio à multiplicidade de discursos, há um jogo negociado de sentidos, os quais são influenciados por características sociais, históricas e culturais que atravessam os sujeitos sociais e discursivos. Sendo assim, podemos conceber a comunicação enquanto assimétrica e polifônica de interação entre os sujeitos.

Na vertente do Círculo de Bakhtin, a língua deixa de ser entendida como um processo de articulação individual e passa a ser encarada a partir de sua natureza social, ou seja, a fala e a enunciação. Com isso, o sentido de uma palavra ou enunciado só é dado a partir de situações contextuais e não por meio de estruturas fixas.

Segundo Voloshínov e Bakhtin ([1929]1979),

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. (VOLOSHÍNOV & BAKTHIN, 1979, p. 123).

Ao relacionar a língua com a estrutura social, Voloshínov e Bakhtin ([1929]1979) ressaltam que a palavra só se concretiza por meio da interação entre locutor e ouvinte, estabelecidos em um contexto que ultrapassa o interior dessa língua. O discurso tem a condição de existência determinada por meio da interação verbal que se estabelece entre o enunciador e enunciatário, em um ato dialógico.

Voloshínov e Bakhtin ([1929]1979) entendem a língua como fenômeno sócio-histórico, instrumento para a comunicação entre os indivíduos. A palavra ganha um sentido dialógico como essência. O diálogo ultrapassa as trocas de enunciados, sendo constituído pela relação direta com o sentido, por meio da

compreensão de um enunciado. Com isso, um discurso está embasado nas relações que mantém com o outro (enquanto interlocutor). As palavras ganham sentidos através dessas relações, como em uma arena na qual se confrontam os valores sociais. Logo, o enunciador não é dono único de seu dizer, pois sua fala está embasada nas palavras de outros, de formas já ditas.

Assim sendo, do ponto de vista social, o dizer não é isento, livre. O sujeito enuncia a partir de um lugar determinado socialmente, tendo seu fazer linguístico também determinado socialmente. O sujeito significa a partir de significados historicamente constituídos.

Em Poéticas de Dostoievski, Bakhtin ([1981] 2002) lançam um olhar inovador sobre a estrutura do romance, considerado como polifônico – onde há uma nova postura do autor com relação ao texto, determinada pela interação de muitas consciências plenas de valor, que mantém com o autor um grande diálogo em posições de igualdade. Com isso,

a nova posição artística do autor em relação ao herói no romance polifônico de Dostoievski é uma posição dialógica seriamente aplicada e concretizada

até o fim, e que afirma a autonomia, a liberdade interna, a falta de

acabamento e solução do herói. Para o autor o herói não é um “ele” nem um “eu” mas um “tu” plenivalente, isto é, o plenivalente “eu” de um outro (um “tu és”) (BAKHTIN, [1981] 2002, p. 63: grifos do autor).

A mudança no tratamento que Dostoievski dá aos seus romances está justamente na postura do autor falar com o herói e não do herói. Essa diferenciação permite a delimitação e definição de duas categorias textuais que trazem em seu interior outras vozes.

A primeira categoria – refletida nas escritas de Dostoievski – está relacionada aos textos que deixam entrever uma série de “máscaras” diferentes utilizadas pelo autor, os chamados “textos polifônicos”. Esta máscara corresponde a uma voz e todas as vozes pronunciam ao mesmo tempo, sem ocorrer um grau de hierarquização entre elas. Esse tipo de texto emerge, principalmente, na literatura popular, com uma conotação carnavalesca.

Por outro lado, a segunda categoria se refere aos textos nos quais somente uma voz “fala”. Os textos monológicos, dessa forma, apesar de apresentarem outras consciências, estão subordinados a um grande narrador. Tais textos negam a alteridade, extinguindo a possibilidade de existência de outras consciências fora de si próprios.

Apesar da existência dessas categorias, o embate de muitas vozes sociais está presente em qualquer tipo de texto, pois estes são dialógicos, em essência. Porém, os textos podem criar efeitos de exibição ou supressão desses diálogos, de acordo com as estratégias discursivas acionadas. Logo, monofonia e polifonia se estabelecem como efeitos de sentidos de procedimentos discursivos utilizados em textos que, por definição, são dialógicos. No telejornalismo, por exemplo, os acontecimentos narrados somente pelo apresentador (a chamada “nota seca”) ganham efeitos monofônicos enquanto que as reportagens com entrevistas projetam sensos de polifonia e abertura para distintas vozes sociais.

Em linhas gerais, no momento em que essas vozes ou algumas delas se deixam escutar, se determina a polifonia. Quando o diálogo é mascarado e apenas uma voz se faz ouvir, está estabelecido o efeito de monofonia. Como observa Bakhtin ([1981] 2002, p. 68), a consciência do criador do romance polifônico está sempre presente, porém “não transforma as consciências dos outros (ou seja, as consciências dos heróis) em objetos nem faz destas definições acabadas à revelia”.

Na escrita polifônica, o autor atua como organizador e participante do diálogo, sem reservar-se a última palavra, refletindo em sua obra a natureza dialógica da própria vida e do próprio pensamento humano (BAKHTIN, [1981] 2002, p. 73).

O modo como as diversas consciências dos heróis aparecem nos romances de Dostoievski ocorre por meio de um encadeamento de ideias determinado pelo gênero literário. Entretanto, os efeitos de polifonia podem aparecer em escritas cotidianas, como em discursos científicos e jornalísticos, por exemplo.

Nesse âmbito, a articulação das consciências e vozes de outros se programa através de outros procedimentos discursivos, os quais se pautam em dizeres já proferidos, os chamados “discursos citados”. Segundo Voloshínov e Bakhtin ([1929]1979),

O discurso citado é visto pelo falante como a enunciação de uma outra pessoa, completamente independente na origem, dotada de uma construção completa, e situada fora do contexto narrativo. É a partir dessa existência autônoma que o discurso de outrem passa para o contexto narrativo, conservando o seu conteúdo e ao menos rudimentos da sua integridade lingüística e da sua autonomia estrutural primitivas (VOLOSHÍNOV & BAKHTIN, 1979, p. 144-145).

Voloshínov e Bakhtin ([1929]1979, p. 144) esclarecem que os “discursos citados” tomam forma por meio do discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre, permitindo a plurivocidade da linguagem com a articulação textual do autor: “o discurso citado é o discurso no discurso, a enunciação na enunciação, mas é, ao mesmo tempo, um discurso sobre o discurso, uma enunciação sobre a enunciação”.

O discurso jornalístico torna-se uma arena onde os conflitos e tensões sociais são refletidos e representados, sendo difundido amplamente através de seu produto final, como o jornal ou telejornal, por exemplo. A constituição desse tipo de discurso, assim como em qualquer discurso, é dialógica. Entretanto, o texto jornalístico deixa entrever os diálogos que os constitui. Aliás, sua forma privilegia e permite a evidência do discurso do outro. Essa evidência, entretanto, não é nem casual e nem aleatória.

1.1.2. A travessia dos sujeitos na situação de comunicação à luz de Peytard e Charaudeau

Como abordado anteriormente, a Teoria Semiolinguística retoma o sujeito empírico ao centro da produção e das trocas linguageiras. A mudança de enfoque teórico leva à consideração de que a linguagem não é transparente, sendo condicionada pelas marcas de subjetividade de quem se utiliza da língua para falar. No modelo de situação de comunicação elaborado por Charaudeau (1992; 2006; 2009a), aos sujeitos cabem os papéis de comunicantes e enunciadores, de um lado, e receptores e interpretantes, de outro.

Contudo, as movimentações desses sujeitos que saem do mundo real para o universo do discurso parecem – em meu entendimento - ser mais complexas do que mostra a esquematização semiolinguística. Nessa ótica, a topografia das instâncias do campo literário, proposta por Peytard (1983), poderia auxiliar na compreensão dessa travessia sociodiscursiva que culmina no ato de escrever e ler, ampliando a visão que se possa ter da interação entre locutor e interlocutor.

Peytard (1983) prevê as movimentações dos sujeitos que saem do mundo real e se inserem no contrato ficcional da leitura, perpassando três instâncias

comunicativas (situacional, ergo-textual e textual) até chegarem ao ato de ler e escrever. O percurso analítico evidencia que não existem posições discursivas fixas, pré-determinadas e automáticas aos sujeitos. Apesar de ser um diagrama, há fluidez nas trocas de papéis sociodiscursivos e no deslocamento entre as instâncias.

De acordo com Peytard (1983), as noções de “público”, “autor” e “leitor” devem ser pensadas dentro de um domínio específico, capaz de alocar todo o processo de interação social e de comunicação cuja orientação temática seja o “texto literário”: a comunicação literária. Para que o projeto de fala do produtor ocorra, a “fictivização” deve ser reconhecida pelo receptor, o qual opera uma clivagem consciente do mundo real ao ficcional. Assim, a fictivização somente acontece quando é aceita pelo receptor, em resposta à intenção do produtor para que o primeiro entre no papel ficcionalizado.

O jogo implícito/explícito, visando a adesão à comunicação literária proposta pelo produtor, pode ser explicado também como um “contrato de leitura”, o qual determina o modo de ler o texto e direciona seus efeitos de sentido. Na conceituação de Peytard (1983), o receptor tem o poder de escolha em aderir ou não ao discurso proposto pelo produtor, bem como é livre para associar seus “pressupostos” linguísticos, cognitivos, culturais, sociais, políticos e econômicos ao conteúdo literário que teve contato.

Le « public » défini comme ensemble social, aperçu et visé, de manière floue, mais prégnante, par l'« auteur ». C'est en ce lieu que la «place» du lecteur est aménagée, par le réseau de codes et de pratiques lecturales, qui induisent des guidages, et des types de comportements, qui doivent fonctionner dans leur entremêlement complexe, sur un mode de contradictions (PEYTARD, 1983)24.

No entendimento de Peytard (1983), o autor cria uma imagem prévia do público ao qual a mensagem se destina e, nesse processo, determina, de antemão, um papel discursivo estabelecido para o receptor que quiser aderir à posição de leitor, a partir da clivagem do mundo real ao ficcional. Para que se comunique com o produtor, o receptor precisa aceitar o contrato de comunicação saindo do mundo real (do fazer)

24“O público é definido como conjunto social, percebido e visado, de modo fluído, mas interiorizado,

pelo ‘autor’. É nessa percepção que o ‘lugar’ do leitor é estabelecido, pelos códigos de rede e práticas de leitura, que induzem os caminhos e os tipos de comportamentos que devem funcionar dentro de seu complexo entrelaçamento do mundo de contradições”. (Tradução nossa).

para a instância do dizer, incorporando aspectos do papel de leitor criados previamente pela esfera da produção. Em minha visão, essas condições para que a comunicação ocorra pode ser aproximada à concepção do modelo de contrato de Charaudeau (1992; 2006; 2009a) para todo ato de linguagem.

A meu ver, as noções de “sujeito” no quadro do contrato de comunicação e no modelo de topografia peytardiano possuem alguns traços em comum, o que nos permitiria ampliar a concepção das movimentações dos atores no ato de produção e recepção discursiva.

Charaudeau (2012) esclarece já debateu com Peytard as noções de “scripturalité” (escripturalidade - capacidade de escrita) e de “estatuto do sujeito”, em um congresso da associação de professores de francês. Em termos históricos, Charaudeau (2012, p. 46) argumenta que o artigo de Peytard foi publicado no mesmo ano do livro “Langages et discours”25, “reprise d’une partie de ma thèse (1977), ouvrage dans lequel je proposais un schéma de la communication à quatre sujets que j’ai repris plus tard dans la revue Modèles linguistiques (Tome X), en 1988, sous le titre: «Une théorie des sujets du langage»”26

.

No que tange à topografia peytardiana, as leituras estão em congruência com os objetos sociohistóricos e culturais, tendo o que Peytard (1983) denomina de “estilo de vida” localizado no “espaço das posições sociais”. O que é evidenciado no ato de ler não é a leitura em si, mas a atividade “ergo-textual” – a produção de sentidos do texto; ao mesmo tempo, mostra o lugar do leitor no vasto conjunto do público e as distâncias entre o leitor e o objeto livro. Esquematicamente, a “topografia das instâncias do campo literário” assume a forma visual dada pela figura 2, a seguir:

25O livro foi traduzido no Brasil com o título “Linguagem e discurso”. Vide Charaudeau (2009a). 26 “recuperação de uma parte de minha tese (1977), obra em que propus um esquema de

comunicação aos quatro sujeitos que eu repeti mais tarde na revista “Modelos linguísticos” (volume X), em 1988, sob o título: “Uma teoria dos sujeitos da linguagem”“. (Tradução nossa).

FIGURA 2 – Topografia das instâncias do campo literário. FONTE – Peytard (1983). Tradução nossa.

O modelo acima (FIG. 2) permite a visualização de como ocorre o jogo discursivo, as relações entre os sujeitos e as possibilidades de movimentações nas posições dadas quando o meio comunicativo está centrado na obra literária. Nas instâncias situacionais, estão localizados o autor e o público em um plano sociodiscursivo. Ao assumirem as posições de doador e receptor no domínio da elaboração, tais sujeitos discursivos aceitam as condições do contrato de comunicação e se inscrevem na instância ergo-textual para representarem os papéis de scriptor (scripteur) e lector (lecteur). As ações de escrever e ler ocorrem na instância textual, que apresenta traços escriturais, do narrador, das personagens/atores, bem como traços leitorais e narratários.

O diagrama não é um sistema rígido que identifica um esquema de comunicação, assim como os antagonistas de uma conversação oral. Trata-se de uma vista prévia do jogo discursivo no campo literário, onde as peças de xadrez estão dispostas e o analista tem a possibilidade de conhecer, de antemão, as possibilidades de movimentações dadas aos sujeitos.

O esquema evidencia que o jogo discursivo não possui posições rígidas e determinadas entre os sujeitos durante os diálogos. O intercâmbio é cíclico e híbrido, onde as tomadas de posições variam a todo instante. A concepção de situação de comunicação charaudeana e a de topografia de Peytard (1983) podem indicar que, no instante em que se estabelece o sujeito enunciador, apenas define-se um ponto de partida didático (e temporariamente estático) dos papéis desempenhados pelos comunicantes e interpretantes, tendo em vista que, quando um sujeito receptor inicia seu turno de fala, ele deixa a posição de recepção para assumir a de emissor.

Ao estabelecermos um diálogo entre as esquematizações charaudeana e peytardiana, percebemos uma possibilidade de aproximação em dois circuitos: o do fazer e do dizer. O primeiro corresponde ao que Peytard denomina de instância situacional; o segundo, interno, unifica e simplifica as instâncias ergo-textual e textual. No contrato comunicacional da Teoria Semiolinguística, antes de interagirem dialogicamente, o Eu-comunicante e o Tu-interpretante (sujeitos empíricos psicossociais com intencionalidades próprias) já agem orientados pelo conhecimento prévio que possuem das características do contrato de comunicação que estão prestes a encenar. O ato de fala inicia-se quando o Eu-comunicante seleciona e implementa as estratégias de dizer. Nesse instante, esse sujeito assume o papel de Eu-enunciador e institui o outro, o Tu-destinatário (ser projetado no discurso do Eu). O ato concretiza-se somente se o Tu-interpretante aceitar as condições propostas pelo Eu-comunicante e o Eu-enunciador seja reconhecido em seu saber, poder e saber-fazer.

Nesses pontos de diálogo, Charaudeau (2012) esclarece sobre os pontos divergentes e possíveis similaridades dos esquemas:

L’Auteur et le Lecteur de Peytard correspondent aux miens en tant que personne ayant une identité sociale et une expérience de vécu. L’Auteur, pour moi, l’écrivain, correspond au Scripteur de Peytard. En revanche, ce que j’appelle l’espace externe de la Situation de

communication, avec son sujet double (Personne et Écrivain),

englobe les deux instances, situationnelle et ergo-textuelle de Peytard avec les sujets Auteur et Scripteur. Mais ce qu’il nomme

Instance textuelle correspond bien à mon espace interne du Dire

(CHARAUDEAU, 2012, p. 49 : grifos do autor)27.

27 “[As noções de] Autor e Leitor de Peytard correspondem às minhas como uma pessoa com uma

É no campo do dizer que as possíveis movimentações dos sujeitos discursivos de Peytard (1983) podem contribuir para pensarmos na hibridez de papéis a partir do quadro de Charaudeau (1992; 2009a). Em minha ótica, a visualização dos pressupostos papéis dos sujeitos nas instâncias ergo-textual e textual auxilia na compreensão de como ocorre a recepção midiática.

No modelo de Peytard, cada tomada de posição discursiva requer um processo de reconhecimento instável e complexo do receptor perante o emissor. Tal como esclarece Peytard (1983) em nota de rodapé,

Il importe aussi de ne pas céder aux vertiges des effets de symétrie. La place du repère « public » n'est pas l'image inverse de « l'auteur ». Le public se définit en un moment donné, comme ensemble de lecteurs multiples potentiel, doté d'images très diverses du champ littéraire, où l'auteur trouve sa propre place de définition. On ne fera pas non plus du lecteur l'inverse du scripteur : les deux, un acte les caractérisent. Mais banalement et immédiatement perçu, l'acte de lire n'est pas le symétrique d'écrire, si communs leur soient certains traits qu'ils partagent (PEYTARD,1983)28.

O público não constitui imagem oposta e similar à do autor. Além disso, a relação comunicativa não é simétrica, determinando um repensar da concepção do fluxo de mão única para a interação midiática – proposta proveniente de estudos do campo de comunicação, tais como, o esquema behaviorista de Estímulo/Resposta e o modelo matemático de Shannon e Weaver (1964).

A dinamicidade da topografia de Peytard (1983) e do contrato de Charaudeau (1992; 2006; 2009a) está assegurada pela concepção de instância, designada pelo primeiro autor como a ligação do texto ou da inserção sociocultural deste a partir de um entrecruzamento de ações e reações que articulam essa

Peytard. Em contraste, o que eu chamo de espaço externo da Situação de comunicação, com seu duplo sujeito (pessoa e escritor), engloba as duas instâncias, situacional e ergo-textual de Peytard com os sujeitos Autor e Scriptor. Mas o que ele denomina instância textual corresponde ao meu espaço interno do Dizer”. (Tradução nossa).

28“Importa também não ceder às vertigens dos efeitos de simetria. O ponto de referência do ‘público’

não é a imagem inversa do ‘autor’. O público se define em um momento dado como conjunto de leitores múltiplos em potencial, dotados das imagens mais diversas do campo literário, onde o autor tem seu próprio lugar de definição. Não será mais o leitor o inverso do escritor: nos dois, um ato os