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A noção de gênero na Argumentação nos Gêneros

Das noções anteriormente apontadas, emerge a sua proposta de analisar os gêneros persuasivos, que traz outros conceitos já apresentados por outros teóricos da Linguística de Texto e da Análise do Discurso, fato que nos motivou a propor o nosso modelo, partindo de algumas perspectivas teóricas apontadas por essa autora. Ela reconhece a sua inserção no modelo desenvolvido por Bakhtin (1997), para quem só se pode enxergar o presente recordando o passado, sempre levando-se em conta os diferentes contextos sócio-históricos. A partir dessa noção bakhtiniana, Pinto (2010) admite que, “para compreender as diversas perspectivas linguísticas sobre a problemática dos gêneros, a partir das quais extrairemos subsídios para a elaboração do nosso quadro de análise, devemos fazer uma breve digressão histórica sobre a questão" (PINTO, 2010, p. 96). Ela acrescenta ainda, em outro momento, que, a partir dessa digressão, “tentaremos mostrar que a problemática dos gêneros, como é retomada por teóricos da Linguística Textual e da Análise do Discurso, tem suas origens nos preceitos bakhtinianos” (PINTO, 2010, p. 97).

O que se percebe é que a autora busca, com a Argumentação nos Gêneros, poder elaborar um modelo de análise da argumentação que possa considerar, por exemplo, todos os mecanismos argumentativos, sejam eles explícitos ou implícitos, que são usados nos gêneros com finalidade argumentativa. Para isso, recursos de natureza verbal e não verbal devem ser considerados, pois eles podem estar em um diálogo entre si e, inclusive, com os aspectos situacionais. Ademais, o modelo de análise se constitui a partir da análise descendente que se inicia na observância dos critérios externos e chega até os aspectos mais internos do texto, sempre em uma relação entre um plano e outro.

Por causa disso, a autora opta por substituir o termo “componentes” por “engrenagens”, a fim de fazer com que se tenha uma maior noção de dinamicidade que os aspectos podem ter uns com os outros, já que a ANG se dá de maneira interativa. Apesar da pertinência dessa observação, mantivemos, nesta tese, a designação de componentes.

Pinto divide, assim, sua proposta, considerando o gênero como entidade mais ampla que necessita da materialização textual. Para isso, ela divide sua proposta em duas vertentes: a vertente externa, constituída dos componentes externos ao texto, e a vertente interna, constituída dos componentes internos ao texto. Essa abordagem pode ser resumida a partir do esquema gráfico abaixo:

Componentes Externos – Vertente externa

Género Texto

Componentes Internos – Vertente Interna

Figura 1- Esquema da abordagem teórico-metodológica da Argumentação nos textos persuasivos (PINTO, 2010, p. 157)

A autora, sobre o modelo representado acima, faz uma ponderação que julgamos importante de ser mencionada. Para ela, seu modelo é apenas um desdobramento didático-metodológico e se constitui como uma tentativa de análise textual de maneira descendente, elaborada a partir da considerações de questões externas ao texto.

Como apresentamos anteriormente, mas que vale a pena mencionarmos novamente, ela opta por um conceito de texto empírico inserido em um determinado discurso, atividade humana e esfera comunicativa, sendo que o texto se constituiria a partir da mobilização de recursos lexicais e sintáticos de uma língua, podendo ser plurissemióticos, mobilizando recursos verbais e não verbais. O modelo empreendido toma como base alguns conceitos de teóricos como Bakhtin, Maingueneau, Charaudeau, Adam e Bronckart, para a explanação dos componentes internos e externos ao texto empírico. Importante que se diga que, com relação aos aspectos conceituais, a autora não modifica a nomenclatura já existente na literatura especializada. Na verdade, ela

sempre faz um cotejo das noções por ela abordadas, mostrando os pontos de encontro e as diferenças existentes entre os teóricos anteriormente mencionados, para, em seguida, defender seu ponto de vista.

A fim de estabelecer uma teoria de argumentação para ser aplicada em análise de gêneros de natureza persuasiva, Pinto (2010) fez uma incursão teórica sobre os principais estudos sobre gênero, pontuando as contribuições dos antigos, como Aristóteles, e trazendo essa discussão para teorias mais recentes, no seio da Linguística de Texto e da Análise do Discurso. Obviamente, essa retomada dos principais modelos teóricos não era um dos objetivos da autora, como ela mesma diz: “compete-nos apenas selecionar perspectivas teóricas mais recentes que realmente nos forneceram contributos relevantes para a elaboração do quadro de análise dos gêneros com que trabalhamos” (PINTO, 2010, p. 96).

Nas categorias elencadas no Componente Externo da argumentação, notamos uma forte influência de Maingueneau (2004a), por esse autor considerar, assim como Bakhtin, que os gêneros sofrem uma série de coerções externas, responsáveis pelo ato comunicativo. Na proposta desse autor, temos uma série de coerções básicas: o lugar e o momento de realização da atividade discursiva, a legitimidade dos parceiros, a finalidade, o suporte e os modos de difusão e o modo de organização. Posteriormente, como descreveremos no Componente Externo, existem proximidades com algumas das categorias deste autor, usadas por Pinto (2010).

Outra importante base teórica de que a autora sofrerá nítida influência é a de Charaudeau (1983; 1997a; 1997b). Essa aproximação com a proposta deste último autor se deve devido ao fato de ele considerar que os gêneros são situacionais e são definidos a partir de contingências ou coerções estabelecidas pela própria situação comunicativa. Essa consideração foi fundamental para a proposta da autora, já que se pode considerar que há um ponto de articulação entre as coerções situacionais estabelecidas por um contrato global de comunicação e a própria organização textual materializada por marcas formais. Na verdade, é nítido que Pinto (2010) parte da concepção de Charaudeau (1983) de que há esse encontro entre os elementos externos e os internos de um gênero, para propor que a argumentação nos gêneros persuasivos se constitui, justamente, a partir da consideração dessa articulação. O desafio da autora, dessa forma, foi estabelecer categorias de análise que pudessem dar conta tanto do aparato externo

em que o texto está inserido, quanto dos aspectos organizacionais de que o texto necessita. Para isso, eis que a autora teve que unir, em um só trabalho, abordagens da Análise do Discurso e da Linguística de Texto.

A noção de gênero de Adam (1992) chega a ser citada como aporte teórico por Pinto (2010), mas não é selecionada como categoria. Adam organiza sistematicamente um modelo de análise do gênero, levando em consideração vários aspectos, que ele chama de “componentes”. É provável que a descrição desses componentes tenha servido de norte para a criação do modelo de Pinto.

Do Interacionismo Sociodiscursivo, de Bronckart (1997), Pinto (2010) absorve a noção de arquitextualidade, principalmente, além da formação do modelo desse autor, que considera o plano de texto, os processos de esquematização e as marcas que atestam as relações entre os níveis textuais. Esses aspectos também influenciaram as categorias de análise propostas por Pinto (2010).

Ciente da relevância do gênero na proposta de Pinto (2010), passemos a analisar um dos pontos cruciais de sua abordagem: o Componente Externo. Importante ressaltarmos que a resenha de todo o referencial de base desta pesquisa será comentada com vistas à proposição de nossos parâmetros de investigação.