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CAPÍTULO 3: DIALOGIA COM AS PRODUÇÕES ACADÊMICAS

4.3 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS

4.3.1 A observação participante

Na pesquisa, a observação abarcou dois espaços: os encontros de formação dos educadores do MST e o trabalho de uma educadora na instituição de EIC. Participamos dos encontros dos educadores do MST em setembro de 2014 e Junho de 2015, totalizando 73 horas de observação. Também participamos do cotidiano de uma instituição no período de cinco dias no mês de agosto de 2015, totalizando 25 horas de observação. A observação constituiu o procedimento que permitiu avançar para a entrevista semiestruturada e para a roda de conversa.

Entendemos, portanto, que a observação participante se dá entre diversos sujeitos, diversas vozes, conforme evidenciado no próprio nome participante, uma vez que o pesquisador está com os sujeitos e para tanto produz novos significados. Se efetiva, então, uma compreensão carreada pelos diferentes enunciados produzidos entre pesquisador e pesquisado, conforme indica Amorim:

A observação [...] se constitui, pois, em um encontro de muitas vozes: ao se observar um evento depara-se com diferentes discursos verbais, gestuais e expressivos. São discursos que refletem e refratam a realidade da qual fazem parte construindo uma verdadeira tessitura da vida social (AMORIM, 2003, p. 33).

Ao adentrar os espaços de formação de educadores do MST, tivemos a possibilidade de dar “[...] um mergulho profundo na vida de um grupo[...]” (TURA, 2011, p. 189). Buscando destacar a formação da qual participaram esses sujeitos coletivos, adiantando uma síntese da análise dos dados, evidencia-se que eles têm buscado na formação uma melhor maneira de atuar nas instituições de EI. Partimos, portanto, da premissa de que:

Esta observação é caracterizada pela dimensão alteritária: o pesquisador ao participar do evento observado constitui-se parte dele, mas ao mesmo tempo mantém uma condição exotópica que lhe possibilita o encontro com o outro. E é este encontro que ele procura descrever no seu texto, no qual revela outros textos e contextos (AMORIM, 2003, p. 32, grifos nossos).

Nessa configuração, os encontros de educadores do MST se tornam um espaço potente de informações acerca da formação política e continuada, espaço em que estivemos imersos por meio da observação participante. Formação organizada pelos trabalhadores que militam no movimento e na sala de aula. Portanto, ao realizar a observação, entendemos que a mesma não se dá apenas no sentar e

observar o que os sujeitos educadores fazem e falam, mas uma oportunidade única de captar os diversos significados que circulam nos encontros. Ao fazer os relatos acerca da observação, entendemos que o pesquisador não o faz “só a partir do seu olhar, mas reproduzindo as vozes dos outros [...], captando os sentidos construídos nessas interlocuções [...], orquestrando as outras vozes participantes” (AMORIM, 2003, p. 34). Ainda no que concerne a essa participação, Tura (2011), baseada em Geertz (1989), afirma que:

[...] recomenda que a observação seja acompanhada de uma descrição densa daquilo que foi observado. Esse é um procedimento que possibilita realizar mais do que a mera descrição dos fatos, porque parte do pressuposto de que os acontecimentos do cotidiano se inter-relacionam com estruturas sociais mais amplas e com tradições que foram sendo incorporadas pelo grupo em ritos e costumes, que têm sua gênese em situações distantes do momento em que são vividos [...] (TURA, 2011, p. 189).

Na possibilidade deste contato com o outro, também realizamos a observação numa instituição de EIC, objetivando a aproximação a uma educadora que atua nessa etapa da educação básica. Na observação, buscamos perceber como tem se dado a formação que a educadora tem realizado no contexto do seu trabalho, no dia-a-dia com as crianças.

No tópico seguinte, passamos a enfatizar os espaços em que realizamos a observação participante, reconhecendo-os como momento de trocas intensas de conhecimento e aprendizagens.

4.3.1.1 Produção dos dados decorrentes da observação participante

Ao participarmos do XXVI Encontro Estadual de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária – MST – ES em 2014 e do XXVII encontro em 2015, totalizamos 73 horas de observação em que estivemos atentas às temáticas discutidas, a participação dos educadores e a forma de organização dos espaços de formação (APÊNDICE B e C).

Salientamos que no ano de 2014, no XXVI encontro utilizamos um instrumento como forma de compreender a formação dos educadores que atuam em assentamentos no Espírito Santo. Nossa intenção é de que este instrumento pudesse contribuir acerca da formação dos sujeitos, as trajetórias que foram sendo constituídas ao

longo da formação, as contribuições do encontro para sua formação, a sua atuação enquanto educador de assentamento e as especificidades de seu trabalho. No escopo desta pesquisa, cabe observar que encontro reúne o coletivo dos educadores do MST, portanto, os atuantes na EIC integram um coletivo com os demais atuantes no Ensino Fundamental (anos iniciais e finais). Com isso, tivemos como respondentes do instrumento aplicado, 98 educadores. Na especificidade da EIC, temos 14 educadores, sendo que 1 atua na função de diretor em instituição de EIC.

Esse dado possibilitou-nos identificar os atuantes nesta etapa da educação básica, e permitiu dentro dos critérios estabelecidos acompanhar o trabalho de uma educadora na instituição de EIC no município pesquisado, em que a partir do instrumento chegamos a 03 instituições com este atendimento. De posse dos dados, enfatizamos que a escolha de uma instituição se deu de forma aleatória, podendo ir para qualquer uma destas, uma vez que todas estavam dentro dos critérios estabelecidos. Mas fizemos a opção de acompanhar apenas uma educadora, o que nos levou a apenas uma instituição.

Ao estarmos em contato com os sujeitos coletivos do Movimento, inserimo-nos nesses encontros com nosso olhar familiar (VELHO, 1994), mas buscando sempre a distância necessária, a exotopia, numa compreensão de que para entender o outro, vou até ele, mas sempre volto ao meu lugar. É desse meu lugar único e singular que posso perceber e compreender este outro que me constitui (BAKHTIN, 2011).

Na instituição de EIC, conforme já anunciamos estivemos no período de uma semana acompanhando o trabalho da educadora, buscando analisar como tem sido realizada a formação no contexto do trabalho, as dificuldades e as possibilidades na atuação com as crianças. Do mesmo modo, encaminhamos nossos registros desse período em diário de campo.

Informados nossos procedimentos referentes à observação, passamos ao próximo tópico em que apresentamos os procedimentos utilizados no encaminhamento da entrevista semiestruturada, o que nos permitiu o contato mais aproximado com o gestor da EC no município em que realizamos a pesquisa a também com a educadora da EIC.