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A “Oferta e demanda da Educação Infantil do Campo” (MEC/UFRGS,

CAPÍTULO 3: DIALOGIA COM AS PRODUÇÕES ACADÊMICAS

3.1 PRODUÇÕES ACADÊMICAS SOBRE A EDUCAÇÃO RURAL, A EDUCAÇÃO

3.1.2 A “Oferta e demanda da Educação Infantil do Campo” (MEC/UFRGS,

A pesquisa “Oferta e demanda da Educação Infantil do Campo” é fruto de uma construção coletiva de trabalho sobre a educação das crianças de 0 a 6 anos moradoras de área rural, realizada a partir de cooperação técnica estabelecida entre o MEC e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Derivado dessa pesquisa temos o mapeamento da produção acadêmica de cunho bibliográfico, que priorizou a produção resultante das universidades, sobre a EI das crianças residentes em área rural, no período de 1996 a 2011. Os materiais levantados foram teses e dissertações, artigos em periódicos, livros, monografias e trabalhos

completos apresentados na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) sendo 12 bases/portais20explorados ao todo.

A pesquisa aborda questões referentes à EIC, no sentido de mapear as produções acerca dessa realidade específica. Para tanto, a busca dos trabalhos para a pesquisa foi se constituindo por meio de palavras-chave que pudessem abarcar o maior número de trabalhos que envolvessem instituições de EI em área rural ou em instituições que atendem crianças moradoras da área rural na faixa etária de 0 a 6 anos, no período de 2006 a 2011. A busca se dá, também, por trabalhos que se afinam com as concepções atuais de educação do campo, emanadas nas legislações, no diálogo com a EI enquanto parte do sistema de ensino. Portanto, os trabalhos possuem diferenciações em relação à forma como eles abordam a EIC (SILVA et al., 2012).

Dentre os estudos, a pesquisa selecionou 80 trabalhos para serem analisados, sendo 52 dissertações,10 teses, 11 artigos, 6 trabalhos apresentados na ANPEd e 1 Trabalho de Conclusão de Curso, conforme sintetiza o gráfico a seguir:

Gráfico 3 – Trabalhos selecionados para análise

Fonte: Silva (et al., 2012).

A partir dos estudos, distribuídos entre teses, dissertações, trabalhos apresentados e TCC, foi feita a tematização, no sentido de melhor apreender a especificidade dos temas mais abordados; para tanto, identificamos trabalhos que aparecem com a

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Banco de Teses e Dissertação da Capes e Ibict; banco de dados das três universidades paulistas: USP - Dedalus,Unesp - Athena, Unicamp - Edubase; Biblioteca da Fundação Carlos Chagas - Ana Maria Popovic; portais da BVS-PSI - BVS Psicologia ULAPSI Brasil, BVS Saúde; Portal de Periódicos da Capes e Portal da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação ANPEd (SILVA et al., 2012).

mesma temática, a partir de um número superior a três trabalhos. Demais temáticas aparecem com dois ou um trabalho apenas, não sendo aqui apresentados.

Gráfico 4 – Temática investigada nos trabalhos

Fonte: Silva (et al., 2012). Organizado pela autora.

Quanto às metodologias utilizadas, a maioria dos trabalhos aborda a pesquisa qualitativa (61 trabalhos), quali-quanti (10 trabalhos) e quantitativa (8 trabalhos), dos quais foi possível fazer a identificação. Quanto à utilização da pesquisa qualitativa, fica evidente que a maioria dos trabalhos que a utilizam se dão em torno das questões sobre políticas educacionais, focando especificamente as condições de oferta (SILVA, et al., 2012).

Dos 80 trabalhos analisados, trazemos ainda, “num grupo menor em termos quantitativos [...], pesquisas com especificidades da educação infantil com referência também à educação do campo” (Silva, et al., 2012, p. 314), conforme as pesquisas elencadas a seguir.

No que se refere à EI vivenciada em áreas de acampamentos e assentamentos, as autoras destacam que Bihain (2001) aponta que o lugar para as brincadeiras infantis se davam na ciranda infantil21, espaço onde o pesquisador objetivava analisar os processos educativos que emergiam da ciranda. Nessa pesquisa, o campo se

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Ciranda Infantil é o espaço coletivo em que as crianças do MST (filhos/as dos militantes) realizam diversas atividades enquanto seus pais estão participando de alguma formação, reunião, encontro, marchas etc. Em todas as atividades do Movimento é organizada a ciranda, sendo este um espaço de formação dos Sem Terrinha, como são chamados os filhos dos Sem Terra.

configurava em torno das questões da Reforma Agrária e da luta dos movimentos sociais (SILVA et al., 2012).

As autoras destacam também que a atuação das mulheres da própria comunidade na função docente é pesquisada por Gebara (2004), no sentido de compreender a função delas como docentes e também na liderança comunitária. Essa característica da presença feminina na EI demarca um campo em que, antes da profissionalização da área, ainda era muito comum a presença majoritariamente feminina (SILVA et al., 2012).

Ainda na questão de gênero, as autoras informam que Ferreira (2008) buscou, por meio de sua tese de doutorado, compreender se a inserção de professores/homens produz novos significados para o magistério e o ensino infantil. Esse estudo possibilita outro olhar em torno da profissionalização para atuar na EI, com vistas a receber profissionais do sexo masculino para atuar na função docente nessa etapa. Este estudo possibilitou a discussão acerca das experiências docentes em escolas rurais unidocentes e multisseriadas (SILVA et al., 2012, p. 314).

As autoras destacam ainda que o campo como lugar de lutas sociais, com especificidades que devem ser respeitadas e visualizadas em torno da garantia de direitos às crianças de 0 a 6 anos em área rural, é destaque no trabalho de Velloso (2008), que avalia o processo de municipalização infantil no campo em cinco municípios de Minas Gerais (SILVA et al., 2012, p. 314).

Quanto aos significados da EI para as crianças rurais, as autoras assinalam que Oliveira (2009) questiona o fato de os espaços físicos da sala de aula se relacionarem ao aprendizado formal e os espaços externos à sala de aula ao brincar e às atividades lúdicas. Tenciona sobre o transporte das crianças, algumas chegavam muito cedo à escola e outras após o início das atividades. Reflete sobre o município pesquisado, mostrando que não há escolas exclusivas para o atendimento à EI. Esse trabalho contribui no sentido de pensar sobre as formas de atendimento que se dão em torno da educação infantil no campo, tendo as crianças que se submeterem ao transporte, uma vez que não existe atendimento próximo a sua residência. Esse distanciamento entre a realidade e o que diz a legislação aponta uma discrepância entre o legal e a realidade estudada (SILVA et al., 2012, p. 314).

Como mais um destaque, as autoras informam que por Coelho (2010) é pautada a temática dos professores e suas trajetórias de vida na EIC, em que as professoras falam das dificuldades encontradas pela falta de políticas públicas no que se refere à formação continuada e em serviço, o que compromete, na visão delas, a prática educativa. Discorrem sobre a falta de materiais pedagógicos e afirmam a necessidade de os professores serem do povoado onde trabalham. Refletem também sobre o currículo descontextualizado à vida dos sujeitos do campo, sendo um currículo urbanocêntrico, que se baseia unicamente no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) bem como a falta de direito da criança de 0 a 3 anos à creche (SILVA et al., 2012, p. 314).

A forma como as crianças de uma comunidade rural concebem a escola é refletido no trabalho de Pamplylio (2011). As crianças veem a escola como um espaço agradável, onde fazem novas amizades e podem gozar das brincadeiras. Estudos em que as crianças falam e trazem suas impressões sobre a escola, seus modos de ocupar esses espaços, são importantes no sentido de termos uma visão a partir de quem na maioria das vezes é observado, e nesse trabalho são eles que falam, que manifestam o modo pelo qual concebem a escola (SILVA et al., 2012, p. 315).

Conde e Farias (2011), em trabalho apresentado na ANPEd, mostram que para as crianças pequenas do campo é oferecido o que é pensado, projetado para as crianças maiores, pelo fato de serem atendidas em classes multisseriadas. As autoras falam das diferenças ou disparidades entre as escolas do campo e as da cidade no que se refere à precariedade em torno das escolas do campo, e afirmam a necessidade de investimentos. Nessa direção, quanto à política pública pensada para os sujeitos do campo, Côco (2011), também em trabalho apresentado na ANPEd, salienta para o fato de pensarmos a interface da EI com a EC, evidenciando a complexidade de se pensar em políticas públicas e a necessidade de a EIC ser pautada e visibilizada enquanto direito às crianças do campo (SILVA et al., 2012, p. 315).

Esses trabalhos selecionados servirão de alicerce para os estudos que estamos propondo realizar em assentamento de Reforma Agrária. Para tanto, feita a abordagem sobre os estudos que abrangem a discussão acadêmica no âmbito nacional, buscaremos apresentar, no próximo tópico, como tem se configurado

essas questões no âmbito local. Para isso, apresentamos o levantamento de trabalhos selecionados no banco de teses e dissertações do PPGE da UFES.