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A opção conceitual do ordenamento brasileiro

3 A ORDEM JURÍDICA COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

3.4 A proteção do meio ambiente no direito nacional

3.4.3 A opção conceitual do ordenamento brasileiro

O núcleo da fundamentação constitucional do meio ambiente encontra-se na Constituição Brasileira nos arts. 17020 e 22521.

Contudo, para uma adequada compreensão do tratamento constitucional dispensado à questão ambiental é necessário considerar também os demais dispositivos esparsos no texto que também disciplinam o tema.

José Afonso da Silva (2010, p. 47) analisa as várias passagens da CF em que há referência ao meio ambiente. Dentre outros dispositivos, destaca o que confere ao cidadão legitimidade para propor ação popular contra ato lesivo ao meio ambiente; os dispositivos de atribuição de competência para a disciplina dos recursos naturais; as atribuições para tutela do meio ambiente do Conselho de Defesa Nacional e do Ministério Público; as normas da ordem econômica; além de menções ao meio ambiente cultural, do trabalho e à conservação dos recursos naturais nas terras indígenas.

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Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

21 CAPÍTULO VI DO MEIO AMBIENTE Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Todas essas normas formam, em conjunto com o art. 225, a disciplina constitucional do meio ambiente, que não deixa de ser composta por todas as normas constitucionais, que são, em última análise, medidas de compreensão e interpretação de todo o ordenamento.

Analisando detidamente o teor desses dispositivos nucleares e considerando prioritariamente o art. 225 da CF/88, é possível, a partir de uma interpretação eminentemente literal, concluir que a constituição brasileira adota um conceito de meio ambiente vinculado aos recursos naturais. Seria a concepção restrita de meio ambiente, conforme se percebe nas várias referências a elementos naturais como "processos ecológicos essenciais, diversidade e integridade do patrimônio genético, fauna e flora, recursos minerais, enfim, tudo indicando uma preocupação voltada para os recursos naturais propriamente ditos".

Contudo, a existência do art. 183 e seguintes, que tratam da política urbana e do art. 216 da Constituição Brasileira rendem ensejo à defesa da configuração constitucional de um meio ambiente artificial ou urbano, bem como de um meio ambiente cultural. Para além disso, há dispositivos que tratam da disciplina constitucional do trabalho no Brasil, que vêm servido de fundamento para sustentar a existência também de um meio ambiente do trabalho.

Ocorre que todos esses dispositivos tratam de matérias às quais a constituição alcunhou de maneira específica e diversa da expressão meio ambiente.

Tratam-se de dispositivos referentes à política urbana, à cultura e aos direitos dos trabalhadores, situados nos capítulos constitucionais específicos e que só por meio do esforço hermenêutico do intérprete se fizeram coincidir com ou se deixaram abarcar pela idéia de meio ambiente.

De sua vez, a legislação ambiental brasileira, mais especificamente a Lei nº. 6.938 81 (art. 3º, I) define o meio ambiente como "o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite reger a vida em todas as suas formas".

Portanto, enquanto a análise da matriz constitucional aponta no sentido da adoção de um conceito mais restrito dos bens naturais; o exame da legislação ordinária rende ensejo a uma abertura para a consideração de elementos artificiais do meio ambiente, na medida em que menciona interações de ordem física que influenciam a vida no planeta.

Porém, José Afonso da Silva (2010, p. 19) faz outra leitura do dispositivo, afirmando que o art. 3º da Lei 6.938/81 refere-se ao meio ambiente natural.

Para Silva (2010, p. 42), o direito ambiental pode ser concebido por dois aspectos: o objetivo e o de ciência. No aspecto objetivo, o direito ambiental é conjunto de normas, cujo

objeto é a disciplina da qualidade do meio ambiente, que busca manter. Já no aspecto científico, o direito ambiental "busca o conhecimento sistematizado das normas e princípios ordenadores da qualidade do meio ambiente".

Para Silva, contudo, direito rural e direito mineiro não entram no campo de estudo do direito ambiental.

Na jurisprudência, é possível identificar algumas ocasiões em que as mais altas cortes brasileiras referem-se ao meio ambiente na sua acepção ampla, para englobar o meio ambiente cultural, o do trabalho, o artificial, todos na concepção de meio ambiente. Veja-se, por todas, a ADI-MC 3540, de Relatoria do Min. Celso de Mello, decisão proferida em 2009. 22