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A opção pelo método de investigação estudo de caso

Capítulo IV Abordagem metodológica e conceção do estudo de caso

4.3 A opção pelo método de investigação estudo de caso

Existem áreas de pesquisa dentro dos SI onde a teoria e a compreensão não se encontram muito desenvolvidas. Áreas onde os fenómenos são dinâmicos e sem maturidade, em que as terminologias, as definições e a linguagem comum, não são claras ou amplamente aceites (Darke, Shanks, & Broadbent, 1998). A investigação em SI tem sido essencialmente dominada por três estratégias – experiências laboratoriais, inquéritos e respetiva análise estatística, e estudos de casos – embora existam muitas outras formas de investigação: action research, estudos longitudinais,

grounded theory, etc. (Caldeira & Romão, 2002). Um grande número de teorias de

interessantes, sem uma evidente comprovação estatística dos fenómenos identificados (Caldeira & Romão, 2002).

A estratégia de investigação de estudos de caso é uma estratégia particularmente bem adaptada à investigação em SI, desde que o objeto seja o SI nas organizações, e o interesse sejam questões organizacionais em vez de questões técnicas (Myers, 1997), em que é necessária uma compreensão das interações entre as TI e o contexto organizacional (Darke et al., 1998). É uma estratégia de investigação que se concentra na compreensão da dinâmica presente no interior de contextos únicos (Eisenhardt, 1989). Constitui um meio muito útil para investigar o desenvolvimento, implementação e utilização dos SI nas organizações, apesar das dificuldades em se generalizar os resultados (Darke et al., 1998). O facto de este conhecimento não poder ser formalmente generalizado, não significa que ele não possa entrar no processo coletivo de acumulação de conhecimento num determinado domínio (Flyvbjerg, 2006). Um estudo de caso puramente descritivo, fenomenológico, sem qualquer intenção de generalizar pode certamente ser de valor neste processo, e ajudar a abrir caminho rumo à inovação científica. A ideia que um estudo de caso é uma simples descrição de uma situação ocorrida, desprovida de contexto teórico e de possibilidade de generalização (analítica), não corresponde à realidade (Caldeira & Romão, 2002). O método estudo de caso é uma característica integrante da estratégia de investigação de estudos de caso59. Constitui um termo que descreve “uma forma de sistematizar a observação”, o qual (1) não controla ou manipula explicitamente as variáveis em estudo, (2) estuda o fenómeno no seu contexto natural e (3) faz uso de técnicas e ferramentas qualitativas para recolha e análise de dados (Cavaye, 1996). Tipicamente combina técnicas de recolha de dados, tais como entrevistas, observação, questionários e análise de documentos e textos, podendo desta forma ser utilizados

59 Várias estratégias de investigação utilizam o método estudo de caso, assim como partilham várias

características deste método. São os casos: (1) estudo de campo – realizado no ambiente natural do fenómeno, em que o investigador é um observador, utiliza técnicas sistemáticas (questionários e realização de entrevistas) para a recolha de dados, e não tem nenhuma intenção de controlar ou manipular as variáveis; (2) action research – combina a investigação pura (observação) com ação (participação), na qual o investigador não define um problema de investigação à priori, permitindo que o problema seja definido pelo local, tendo por objetivo, observar, registar e participar ativamente na tentativa de resolver o problema no local; (3) descrições de aplicação – constituem relatos de eventos reais em torno de um fenómeno, no qual o investigador não entra no local para investigar uma questão de investigação específica, mas usa a descrição do caso para informar os leitores de aplicações bem- sucedidas; (4) pesquisa etnográfica – em vez de interpretar os dados do ponto de vista teórico ou do ponto de vista do investigador, este procura entender o significado de fenómenos através do que os participantes no local lhe atribuem (Cavaye, 1996).

tanto métodos qualitativos de recolha e análise de dados (mais relacionados com palavras e significados), como métodos quantitativos (mais relacionados com números e medições) (Darke et al., 1998). O método estudo de caso não é nem uma tática para a recolha de dados, nem meramente uma característica do planeamento em si, mas uma estratégia de investigação abrangente (Yin, 2009).

Um estudo de caso pode ser usado para atingir vários objetivos da investigação: para descrever um fenómeno, para construir uma teoria (indutivo), ou para testar conceitos teóricos existentes (dedutivo) (Darke et al., 1998; Cavaye, 1996; Eisenhardt, 1989). O método estudo de caso pode ser usado para estas três finalidades, apesar da forte tradição na descrição e construção de teorias (Cavaye, 1996), em que é utilizado para fornecer evidências para a gestão de hipóteses e para a exploração de áreas onde o conhecimento existente é limitado (Darke et al., 1998). Yin (2009) é um forte defensor do uso dedutivo do estudo de caso, para o qual a teoria suporta o caso de estudo. Este ou desenvolve ou testa uma teoria.

Independentemente do objetivo da investigação, a abordagem metodológica com base no estudo de caso pode ser tanto numa perspetiva filosófica interpretativista como positivista (Darke et al., 1998). Por exemplo, numa perspetiva interpretativista, o estudo de caso é desenhado para compreender e explicar um fenómeno social específico, procurando capturar as diferentes perspetivas dos elementos envolvidos no contexto e processo em análise. A interpretação dos dados deve ser realizada utilizando modelos teóricos anteriormente estabelecidos, que poderão ter um contributo significativo para explicar a realidade (Caldeira & Romão, 2002).

Para Yin (2009), a definição técnica de um estudo de caso pode ser apresentada em duas partes:

1. Quanto ao seu âmbito, um estudo de caso é uma investigação empírica que (a) investiga um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, especialmente quando (b) as fronteiras entre fenómeno e contexto não são claramente evidentes.

2. Uma vez que fenómeno e contexto nem sempre são discerníveis em situações de vida real, um conjunto de outras características técnicas, como a recolha de dados e as estratégias de análise de dados, tornam-se a segunda parte da definição, em que a investigação de um estudo de caso (a) enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse

do que pontos de dados, e, como resultado, (b) baseia-se em várias fontes de evidências, e (c) beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a recolha e análise de dados.

Yin (2009) descreveu as várias fases de desenho que um estudo de caso deve apresentar, como representado na Figura 12. Definiu o estudo de caso como estratégia de investigação, desenvolveu uma tipologia para desenho de estudos de caso, descreveu a lógica de replicação, que é essencial para a análise de múltiplos casos, e salientou a necessidade de validade e confiabilidade em projetos de pesquisa de estudo de caso (Eisenhardt, 1989).

Desenho do Estudo de Caso

§ Teoria

§ Projecto de Pesquisa § Questões de estudo,

proposições, unidades de análise

Etapa 1

Preparação

§ Protocolo para o estudo de caso

§ Estrutura do relatório Etapa 2

Recolha dos dados

§ Aplicação do Protocolo para estudo de caso

Etapa 3

Organização dos dados

§ Construção da base de dados

Etapa 4

Análise dos dados e escrita do relatório § Sumarização e apresentação dos dados § Conclusões Etapa 5 DADOS

Figura 12 - Etapas de um projeto de estudo de caso (adaptado de (Yin, 2009))

Um estudo de caso pode ser exploratório (compreender um fenómeno ainda pouco estudado ou aspetos específicos de uma teoria ampla), descritivo (descrever determinada população ou fenómeno) ou explicativo (identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenómenos, explicando as suas causas). Podemos identificar algumas situações em que todas as estratégias de pesquisa podem ser relevantes, e outras situações em que se pode considerar duas estratégias de forma igualmente útil. Três condições permitem contudo diferenciar estas três estratégias de pesquisa: (1) o tipo de questão, (2) a abrangência do controlo sobre eventos comportamentais e (3) o grau de enfoque em acontecimentos históricos versus acontecimentos contemporâneos (Yin, 2009).

Um esquema básico de categorização para os tipos de questão pode ser representado pela conhecida série: “quem”, “o que”, “onde”, “como” e “porquê”. Questões do tipo “o que” são mais exploratórias, em que o tipo de questão apresenta um fundamento lógico justificável para conduzirem a um estudo exploratório. Contudo, quando o tipo de questão “o que” é, na verdade, uma forma de investigação na linha do “quanto” ou “quantos”, um estudo de caso não será uma estratégia vantajosa. Em contraste, questões do tipo “como” e “porque”, mais ambivalentes e que necessitam de ser bem esclarecidas, são normalmente mais explicativas, pelo facto de lidarem com ligações operacionais que necessitam de ser traçadas ao longo do tempo (Yin, 2009).

Considerando as características deste estudo, e dado que este pretende conhecer com detalhe um fenómeno dinâmico (privacidade dos dados) em contextos de interoperabilidade (contexto real), tendo por base pressupostos teóricos a testar (com base na perspetiva dos envolvidos), decidiu-se adaptar, no domínio das ciências sociais e da estratégia de investigação de estudos de caso, o método de investigação

estudo de caso, de cariz exploratório, de acordo com as linhas orientadoras de Yin

(2009), para o desenho de um estudo de caso.