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Capítulo V: 2.ª Guerra Mundial (1939-1945)

V. 7. A organização comunista

O processo de reorganização nacional do PCP, inserido na viragem da guerra a leste, a favor dos soviéticos, inicia-se após o regresso a Portugal, em Junho de 1940, dos quadros dirigentes do partido que haviam estado detidos no Tarrafal e nos Açores545.

Paralela à direcção do partido, irá formar-se uma nova direcção. Um ano volvido, é organizado, em Junho de 1941, um novo comité político formado por José Gregório, Joaquim Pires Jorge, Américo Gonçalves de Sousa e Sérgio Vilarigues, e um novo Secretariado constituído por Júlio Fogaça, Manuel Guedes e Militão Ribeiro546. A edificação desta nova estrutura provocará, em Agosto de 1941, uma cisão oficial, dentro do partido, entre as duas facções, que iniciarão, em simultâneo, a publicação de dois jornais Avante!, conservando ambas as correntes, a sigla de PCP547.

V. 7.1. O comité e o sub-comité local do PCP

O processo de organização do comité local do PCP no concelho de Torres Vedras iniciou-se em 1940, com a realização dos primeiros contactos entre Raimundo dos Santos Porta548 e Manuel Duarte, militante do partido, que num primeiro momento, em Caldas da Rainha, convidou Raimundo Porta a retomar a actividade partidária, e numa segunda ocasião, já em Torres Vedras, estabeleceu a ligação daquele torriense

544AHP/AN, Comissão de Inquérito aos Elementos de Organização Corporativa, Sindicato Nacional dos

Carpinteiros do Distrito de Lisboa, 1946, cx. 36, n.º 10, Existência de inscritos em 31/12/1945.

545ROSAS, Fernando, “Sob os Ventos da Guerra: A Primeira Crise Série do Regime (1940-1949)” in

História de Portugal, José Mattoso (direcção), Vol. 7: O Estado Novo (1926-1974), Fernando Rosas

(coordenação), Lisboa, Editorial Estampa, 1998, p. 338.

546MADEIRA, João, História do Partido Comunista Português: Das Origens ao 25 de Abril (1921-1974),

Lisboa, Tinta-da-China, 2013, p. 61.

547ROSAS, Fernando, “O PCP e a II Guerra Mundial”, Estudos sobre o Comunismo: Boletim de estudos

interdisciplinares sobre o comunismo e os movimentos comunistas, N.º 0, Julho de 1983, p. 10.

548Raimundo dos Santos Porta, serralheiro de profissão, natural e residente em Torres Vedras, já se

encontrava referenciado pela PVDE por actividades subversivas desenvolvidas em 1937, em Santarém, onde terá tentado formar uma organização comunista local. In AHM/TME de Lisboa, Processo n.º 64/37, fl. 18 v.º.

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com um outro militante, Manuel Guedes549. Do encontro, entre Raimundo dos Santos Porta e Manuel Guedes, resultou o início da constituição do comité local do PCP.

De facto, Raimundo Porta foi encarregue por Manuel Guedes de proceder ao aliciamento de novos elementos para o PCP, no propósito de desenvolver a organização local daquele partido em Torres Vedras550. Assim, dando cumprimento à tarefa que lhe foi delegada, alicia Júlio dos Santos, comerciante, Álvaro Ramalho Alves, escriturário no Tribunal Judicial e João Mesquita, estudante. Após a respectiva preparação política, formaram, juntamente com Raimundo dos Santos Porta, o comité local do PCP551.

Após a constituição do comité local do PCP de Torres Vedras, Júlio dos Santos passou a ser o responsável pelo mencionado núcleo, enquanto Raimundo dos Santos Porta ficou incumbido de controlá-lo superiormente e de integrar o Comité Regional do Oeste Sul do PCP, onde se encontravam representantes de outros concelhos vizinhos552.

No que se refere aos membros do comité local, a sua principal tarefa centrava-se no aliciamento de novos elementos locais, com o objectivo de ampliar aquela organização. Cada membro era responsável pelo pagamento da cota partidária, no valor mensal de 2$50 e pela aquisição do jornal Avante!, no valor de $50553.

Através de uma carta manuscrita, inserida no auto de declarações de um elemento comunista de Torres Vedras, datada de 23 de Outubro de 1944, é possível avaliar a actuação do comité local do PCP. De acordo com o responsável por esse relatório, a organização comunista de Torres Vedras “está longe de estar como eu desejaria, noto muitas falhas...no entanto posso garantir que se tem feito muito mais nos ultimos 10 meses que em todo o tempo desde que á organisação”554

. Os membros do comité local eram ainda criticados pela postura apresentada555.

Em 1944 é criado, por Raimundo dos Santos Porta, o sub-comité local do PCP de Torres Vedras, no propósito de coadjuvar o comité local na realização de tarefas

549ANTT, PIDE/DGS, SC/PC, Processo n.º 289/50, fls. 5 e 5 v.º. 550

Vide Anexo n.º 41.

551ANTT, PIDE/DGS, SC/PC, Processo n.º 289/50, fl. 5 v.º. 552Idem, fls. 5 v.º e 6.

553Idem, fls. 6 e 6 v.º.

554In ANTT/Arquivo do TBH, 1.º Juízo Criminal de Lisboa, Processo n.º 14088/50, Vol. II, Informação à

reunião do C.R. em 23-out-44.

555“há C.as. muito bons, mas comodistas, duma ignorância a toda prova sobre trabalho orgânico e ainda

mais sobre política. Quasi todos gostariam que a hora da revolução chega-se porque se julgam prontos para ela, contando que não os chateem com reuniões onde não estão á vontade porque não sabem dizer nem fazêr nada, apenas sentem” In Ibidem.

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conspirativas, achando-se a aludida organização comunista, sob alçada directa do fundador da organização do comité local e independente dos restantes membros556.

O sub-comité era orientado por Frederico Ribeiro, tipógrafo, e formado por Teodoro Costa, barbeiro, Júlio Albino, caldeireiro na fábrica de Francisco António da Silva e Joaquim Queirós, empregado comercial, todos residentes em Torres Vedras. O sub-comité local teria uma curta duração, dado que em 1945, após a saída, do comité local, de Álvaro Ramalho Alves e Júlio dos Santos, Raimundo Porta optou por dissolver aquela organização, promovendo a subida de Teodoro Costa ao comité principal557.

V. 7.2. As células comunistas

O comité do PCP do concelho de Torres Vedras, desde a sua criação, em 1940, até ao seu desmantelamento, em 1950, foi responsável pela constituição de onze células comunistas em todo o concelho, envolvendo directamente Raimundo dos Santos Porta.

No que concerne às células de «empresa», foram criadas entre 1940 e 1949, 5 células daquele tipo nas fábricas do concelho: na empresa de camionagem João Henriques e na fábrica de Francisco António da Silva (desconhece-se a data), na Casa Hipólito (1945), na Sociedade Progresso Industrial (1945) e na Fundição de Dois Portos (1949). A principal tarefa, executada pelos responsáveis da constituição de cada uma das «células», centrava-se no aliciamento de novos elementos, e posterior recolha dos valores associados ao pagamento de cotas de filiação e de venda de jornais.

Relativamente às «células» operárias, no período em análise, assinala-se somente a constituição da «célula» de Dois Portos, que terá ocorrido entre 1943 e 1945 e cujo organizador foi Álvaro Ramalho Alves, membro do comité local do PCP e responsável pela recolha das quantias das cotas e distribuição da imprensa comunista.

Por fim, no que se refere às «células» camponesas, assinala-se a formação de 5 «células»: Caixaria, Ribaldeira, Feliteira, Patameira e Matacães. Relativamente às quatro primeiras «células» comunistas, localizadas na freguesia de Dois Portos e criadas entre 1943 e 1945, a sua organização esteve a cargo do anteriormente mencionado Álvaro Ramalho Alves, que se deslocava, aquelas localidades, no propósito de efectuar a cobrança de cotas e distribuição dos jornais do partido. O papel relevante,

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ANTT, PIDE/DGS, SC/PC, Processo n.º 289/50, fls. 36 v.º e 145 v.º.

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desempenhado por Álvaro Ramalho Alves, na freguesia de Dois Portos, estará provavelmente associado ao conhecimento que tinha daquela zona, dado que residia na localidade da Ribaldeira. Já a «célula» de Matacães foi criada somente em 1947.

V. 7.3. O desmantelamento do comité local

O processo de desmantelamento, da organização comunista no concelho de Torres Vedras, ocorre em meados de 1950, aquando da detenção de Raimundo dos Santos Porta, após ter sido denunciado, por um indivíduo de nome Teófilo Alberto de Matos, enquanto elemento do Comité Regional do Oeste Sul e de ser o responsável pelo comité local torriense558.

A detenção de Raimundo dos Santos Porta, em Julho de 1950, provocaria a realização de uma reunião extraordinária do comité local do PCP, no propósito de debater aquela situação. Assim, com base na decisão de um funcionário do partido, aí então presente, foi determinada a suspensão de todas as actividades conspirativas559.

De acordo com o auto de declarações de Carlos Simões, elemento daquele comité, “…com a prisão deste «camarada» [Raimundo dos Santos Porta] a organização local do PCP na região de Torres Vedras sofreu um rude golpe do que resultou dissolver-se o Comité Local...paralisando-se por completo todas as actividades conspirativas”560.

Volvidos dois meses, após a prisão de Raimundo dos Santos Porta, um outro militante comunista torriense, Ezequiel da Silva, iniciou a actividade de distribuição de imprensa partidária, situação que rapidamente cessaria, após se verificar uma vaga de detenções em Torres Vedras, salientando-se as de Álvaro Ramalho Alves e de Júlio dos Santos, elementos fundadores do comité local do PCP561. Chegava então ao fim a organização comunista no concelho de Torres Vedras, fundada no início dos anos 40.

558ANTT/Arquivo do TBH, 1.º Juízo Criminal de Lisboa, Processo n.º 14088/50, Vol. I, fl. 2. 559ANTT, PIDE/DGS, SC/PC, Processo n.º 289/50, fl. 121 v.º.

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In Idem, Processo n.º 49/51, fls. 92 v.º e 93.

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