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Capítulo IV: A edificação e consolidação do Estado Novo (1933-1938)

IV. 7. O Nacional-Sindicalismo

Em Fevereiro de 1932, um grupo de estudantes fascistas, na sua maioria incorporando o Integralismo Lusitano (movimento monárquico de direita radical), funda o jornal A Revolução. Após terem convidado Francisco Rolão Preto, membro da Junta Central, para dirigir aquele jornal, é criado no Verão de 1932, o movimento nacional- sindicalista, organizando-se posteriormente à escala nacional220. De acordo com António Costa Pinto, “enquanto partido político, o Nacional-sindicalismo foi o ponto de unificação tardio de uma corrente fascista constituída a partir da ampla mas dividida família da direita radical portuguesa do pós-guerra”221.

O movimento nacional-sindicalista, cujos seus elementos eram igualmente denominados de camisas-azuis, rapidamente assumiu protagonismo, chegando a integrar nas suas fileiras, um total de 50.000 filiados efectivos e a controlar cerca de 18 periódicos, vangloriando-se do facto de contar com o suporte de oficiais do Exército, de alguns elementos da classe operária e dos industriais222.

216In Alta Extremadura, Ano I, N.º 1, 10/12/1932, p. 1, colunas 1 e 2. 217Idem, Ano II, N.º 66, 10/10/1934.

218AMTV, Livro N.º 41 das Actas da Câmara, 1932, Sessão Ordinaria de 21/10/1932, fl. 187.

219Idem, Sessão Ordinaria de 6/01/1933, fl. 199; Idem, Livro N.º 42 das Actas da Câmara, 1934, Sessão

Ordinaria de 15/08/1934, fl. 178.

220PINTO, António Costa, Os Camisas Azuis. Ideologia, Elites e Movimentos Fascistas em Portugal:

1914-1945, Lisboa, Editorial Estampa, 1994, p. 23.

221

In Ibidem.

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O protagonismo, assumido pelo nacional-sindicalismo, constituiu-se num incómodo para o regime. Após várias medidas contra a actividade dos camisas-azuis, em Setembro de 1933, o governo proibiu a publicação d´A Revolução, de toda a propaganda nacional-sindicalista e decretou o encerramento de todas as sedes do movimento223. Posteriormente, a maioria dos camisas-azuis aderirá à UN e ao regime.

IV. 7.1. Os «camisas-azuis» de Torres Vedras

Em 1933 constituiu-se, no concelho de Torres Vedras, “…um pequeno agrupamento politico de tendências nitidamente nacionais-sindicalistas, sob a inspiração do sr. Rolão Preto”224

. Este núcleo, apesar da diminuta composição, desempenhará, entre 1933 e 1938, um papel de oposição à elite situacionista local.

IV. 7.1.1. As simpatias pelo nacional-sindicalismo

A 20 de Fevereiro de 1933, são publicados, no jornal A Revolução, diversos telegramas e cartas de saudação ao movimento nacional-sindicalista, após o banquete de homenagem a Rolão Preto realizado em Lisboa. De entre a correspondência enviada, encontra-se a de um grupo de torrienses: Luiz Paulo, Francisco Chichorro, Miranda Dias, António Santos, Duarte Ruy Cardoso, Maximiano Henriques e Artur Miranda225. O principal bastião nacional-sindicalista localizava-se, muito possivelmente, no Turcifal. Aquando da viagem da caravana nacional-sindicalista ao Porto, no início de Maio de 1933, a primeira paragem efectuada, após a saída de Lisboa, foi no Turcifal, onde aí a aguardavam um grupo nacional-sindicalista local, encabeçado por Carlos dos Santos, Mário Franco, Almir Carreira, Mário Correia e Manuel Brazil dos Santos226.

De acordo com A Revolução, “à entrada da camioneta na povoação, foi queimada uma girandola de foguetes, ao mesmo tempo que irrompiam os vivas e as aclamações, ao Nacional-Sindicalismo e ao dr. Rolão Preto”227. Já no interior da localidade, “…Carlos Carneiro dos Santos, rodeado pelos seus amigos e por alguns trabalhadores rurais apresentou cumprimentos ao dr. Alçada Padez, em nome dos

223

ROSAS, Fernando, Salazar e o Poder: A Arte de Saber Durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2013, p. 139.

224In ANTT/MI, Gabinete do Ministro, Correspondência recebida, mç. 505, ofício s/n de 9/05/1939. 225A Revolução, Ano 2, N.º 292, 20/02/1933, p. 7, coluna 4.

226

Idem, N.º 352, 10/05/1933, p. 3, coluna 1.

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Nacionais-Sindicalistas da terra e afirmando...a grande fé e a muita vontade dos «camizas azuis», do Turcifal, em trabalharem para uma acção proficúa e proveitosa...por fim saudando à romana, fez votos de boa viagem…”228.

IV. 7.1.2. O núcleo nacional-sindicalista de Torres Vedras

A 5 de Março de 1933, sob o título “Macabra descoberta”, a Gazeta de Torres refere a existência de um “…Núcleo Nacional-Sindicalista de Torres Vedras”, sendo desvalorizada a sua acção: “…Toda essa organização revolucionária…era afinal um simples grupinho de mocinhos elegantes, com vaidade a mais e fósforo a menos” que não usam “…camisa azul e desprezam a sua cultura física…”229.

Face a estas críticas, os visados recorreram ao Alta Extremadura para se defender das acusações. Identificando-se enquanto “Núcleo Nacional-Sindicalista de Torres Vedras”, salientam a “…filosofia pôdre e bafienta…” apresentada pela Gazeta de Torres relativamente ao nacional-sindicalismo local, afirmando que “…os mocinhos elegantes e que vestem bem, declaram-se prontos a fazer uma exibição de ginástica, onde, quando e como quizerem…”230

.

A 20 de Abril, numa segunda carta publicada no Alta Extremadura, o núcleo nacional-sindicalista de Torres Vedras apresenta, transcrito do diário A Revolução, os “princípios do nacional-sindicalismo” e os “doze principios da produção”231

. De acordo com o núcleo nacional-sindicalista local, “…claramente se deduz ser primacial neste momento a questão social, e ser o Nacional-Sindicalismo perfeitamente aberto a todos os portugueses de bôa vontade e cérebro desempoeirado…”, declarando-se os elementos “…francos e corajosos, violentos e abertamente revolucionários”232.

O núcleo dirigente nacional-sindicalista integrava somente sete elementos233, com uma média de idades bastante baixa, de 27,9 anos. Enquanto o elemento com mais idade possuía 36 anos, o mais jovem tinha apenas 21 anos. Mais de metade dos membros, 57,1%, encontrava-se empregue no comércio e residia em meio rural.

228In A Revolução, Ano 2, N.º 352, 10/05/1933, p. 3, coluna 1. 229In Gazeta de Torres, Ano VI, N.º 285, 5/03/1933, p. 1, coluna 2.

230In O Núcleo Nacional-Sindicalista de Torres Vedras, “Nós e os Quitérios primitivos…” in Alta

Extremadura, Ano I, N.º 10, 10/03/1933, p. 6, coluna 2.

231In Idem, “O que é o Nacional-Sindicalismo” in Alta Extremadura, Ano I, N.º 14, 20/04/1933, p. 4,

coluna 5.

232

In Ibidem.

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O núcleo dos «camisas-azuis» locais era liderado por João Augusto Clímaco Pinto, de 31 anos, residente e comerciante em Torres Vedras. Este elemento era um antigo militante do Integralismo Lusitano e figura reconhecida pela forte combatividade política e pelo vigor com que defendia as suas ideias234. Aquando do golpe militar do 28 de Maio, João Pinto era o editor do periódico monárquico, O Correio de Torres.

Outro elemento preponderante deste grupo, quiçá o sub-líder, era Mário Pessoa de Sousa Dias, médico, de 29 anos, natural de Coimbra, filho de Mário de Sousa Dias, antigo comandante da Campanha de Cuamato (Angola) de 1907, e sobrinho do Capitão Mário Pessoa da Costa, futuro secretário do subsecretário de Estado da Guerra, em 1939235. Médico de profissão, Mário Sousa Dias exercia clínica em S. Pedro da Cadeira.

Alberto Vieira Jerónimo, de 23 anos, era ajudante do tesoureiro judicial no tribunal de Torres Vedras. Antes de ingressar no nacional-sindicalismo, desempenhou o cargo, entre Dezembro de 1932 e Agosto de 1933, de redactor principal do Alta Extremadura236. Num relatório elaborado no início da década 40, sobre a política local dos anos 30, o então presidente da câmara municipal, Teles da Silva, considerava “Alberto Vieira Jerónimo, principal conselheiro e orientador do Sr. João Pinto…”237

. O elemento mais bem posicionado, em termos financeiros, era muito provavelmente Miguel Leal e Silva, de 29 anos, residente e proprietário em S. Domingos de Carmões. Desconhece-se qualquer tipo de ligação a partidos ou a cargos políticos. O seu percurso é essencialmente associado à actividade de produção vinícola. Em 1933, Miguel Leal e Silva alcançou a quarta posição de maior produtor de vinho tinto do concelho de Torres Vedras e a décima segunda a nível regional238.

Manuel da Silva Antunes, de 21 anos, residente em Paul, concelho de Torres Vedras e ajudante do Conservador do Registo Predial da Comarca, era o mais jovem dos elementos do núcleo nacional-sindicalista. Artur Pistachini, de 36 anos, empregado comercial e residente na freguesia de S. Pedro da Cadeira, e Álvaro Mendes Jorge, de

234“…João Augusto Climaco Pinto, muito justamente apreciado pela sua forte combatividade política e

pela inergia que coloca sempre ao dispôr das suas ideias. Antigo militante do Integralismo Luzitano...”

In Alta Extremadura, Ano III, N.º 84, 20/04/1935, p. 1, coluna 2.

235

ANTT/Arquivo da UN, Correspondência com a Comissão Concelhia de Torres Vedras, cx. 30, mç. 96, ofício n.º 547 de 14/12/1939.

236Alta Extremadura, Ano I, N.º 27, 10/09/1933, p. 1, coluna 2. 237

In ANTT/Arquivo Distrital de Lisboa, Governo Civil de Lisboa, cx. 122, ofício s/n de 21/04/1942, p. 1.

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26 anos, comerciante, surgiam como os outros elementos. Desconhece-se, por parte destes dois componentes, qualquer ligação à política ou a cargos locais de relevo.