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Capítulo III: O concelho de Torres Vedras e a Ditadura Militar (1926-32)

III. 2. A evolução da política local

A 3 de Junho de 1926, o administrador do concelho de Torres Vedras, Aurélio Ricardo Belo, major-médico, por razões de ordem particular, apresentou a demissão do respectivo cargo que exercia desde o final de Fevereiro daquele ano92. Em sua substituição, foi nomeado o jovem tenente de Infantaria, António Vitorino França Borges, a quem coube o encargo de designar uma nova comissão administrativa.

III. 2.1. António Vitorino França Borges

O novo administrador do concelho de Torres Vedras, França Borges, tomou posse no cargo de administrador do concelho a 5 de Julho de 192693, cargo que ocupou até 1934. Natural de Lisboa, António Vitorino França Borges assumiu, os destinos do concelho de Torres Vedras, com apenas 25 anos de idade, na qualidade de tenente de Infantaria 5. Do seu percurso militar, anterior ao golpe do 28 de Maio, salienta-se a conclusão do curso da Escola de Guerra, em 1919, assim como a participação nas campanhas militares contra os monárquicos94.

91In GUEDES, Justino, “Distingâmos” in A Nossa Terra, Ano III, N.º 91, 24/06/1926, p. 1, coluna 4. 92

AMTV/AC, Registo de Correspondência Expedida para o Governo Civil, cx. 57 (1925-1940), livro n.º 28 (1925-1928), fl. 111, ofício n.º 54 de 3/06/1926.

93Idem, Auto de Posse dos Funcionários, cx. 135 (1868-1936), livro n.º 6 (1924-1936), fl. 5 v.º. 94

ALMEIDA, Maria Antónia Pires de, Dicionário biográfico do Poder Local em Portugal: 1936-2013, Lisboa, Escrytos, 2014, p. 28.

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No concelho de Torres Vedras, além de ter desempenhado o cargo de administrador do concelho e de presidente da comissão administrativa, França Borges fundou e dirigiu, entre 1932 e 1935, o jornal nacionalista Alta Extremadura. Em 1935 é colocado na Escola Prática de Infantaria de Caldas da Rainha. Do seu percurso político- militar posterior, sobressai o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que ocupou entre 1959 e 1970, aposentando-se nesse ano já com a patente de General95. França Borges era ainda um grande proprietário-viticultor, com residência na Ribaldeira e propriedades na freguesia de Dois Portos. Em 1933, França Borges foi o segundo maior produtor de vinho tinto do concelho de Torres Vedras, surgindo na nona posição em toda a região Oeste. Nesse ano produziu mais de 1000 pipas de vinho96.

III. 2.2. A nova comissão administrativa da câmara municipal

Aquando da eclosão da intentona de 28 de Maio de 1926, as duas instituições do Poder local, o Senado Municipal e a Comissão Administrativa, encontravam-se sob a presidência de dois monárquicos, respectivamente Augusto Boto Pimentel de Carvalhosa e Álvaro Galrão97. Ambos seriam afastados do poder após a intentona.

O golpe militar do 28 de Maio provocaria, a curto prazo, a dissolução de todos os corpos administrativos do continente e ilhas, competindo aos governadores civis, o envio, ao Ministério do Interior, da composição das novas comissões administrativas98. Coube aos administradores dos concelhos proceder às respectivas nomeações.

A 15 de Julho de 1926, França Borges informava o governador civil da composição da futura comissão administrativa, salientando que as individualidades escolhidas “…se impõem pelo seu republicanismo, independencia politica, valor individual e sendo credores da maior consideração em todo o concelho”99

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ALMEIDA, Maria Antónia Pires de, Dicionário biográfico do Poder Local em Portugal: 1936-2013, Lisboa, Escrytos, 2014, p. 28.

96FREIRE, Dulce, Op. Cit., p. 317.

97Câmara Municipal de Torres Vedras, Relatório da Comissão Administrativa Municipal relativo à sua

gerência de 30 de Julho de 1926 (sua Posse) e 31 de Março de 1928, Torres Vedras, Câmara Municipal

de Torres Vedras, 1928, p. 12.

98ALMEIDA, Maria Antónia Pires de, O Poder Local do Estado Novo à Democracia: Presidentes de

Câmara e Governadores Civis, 1936-2012, Lisboa, Escrytos, 2013, pp. 21 e 22.

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AMTV/AC, Registo de Correspondência Expedida para o Governo Civil, cx. 57 (1925-1940), livro n.º 28 (1925-1928), fl. 131, ofício n.º 74 de 15/07/1926.

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A aludida comissão administrativa100 era presidida por Silvério Botelho Moniz de Sequeira, viticultor-proprietário, Secretário-geral da Associação Central da Agricultura Portuguesa e Director da UVP. A vice-presidência estava entregue a António Manuel Figueira Freire, médico, viticultor-proprietário e Presidente da Assembleia Geral da AEFDTV. No que concerne aos vogais, as nomeações incidiram em Artur Castilho101, engenheiro-agrónomo e director do Posto Agrário de Dois Portos, João dos Santos Ghira, engenheiro e viticultor-proprietário, José Anjos da Fonseca, proprietário e comerciante, João Germano Alves, viticultor-proprietário e António Rodrigues Venâncio, farmacêutico e viticultor-proprietário.

De acordo com Venerando Matos102, dos elementos que compunham a comissão administrativa da câmara municipal de Torres Vedras, salientavam-se, pelo seu passado político, Silvério Botelho de Sequeira, João dos Santos Ghira e José Anjos da Fonseca.

Silvério Botelho Moniz de Sequeira, de 60 anos, residente na Feliteira, freguesia de Dois Portos, que após a revolução republicana aparece conotado, em 1917, ao PRP, emergia como o único dos elementos nomeados que já tinha desempenhado um cargo de presidência municipal, neste caso do Senado, em 1925. Outro dos membros, com actividade política conhecida, no período anterior ao golpe do 28 de Maio, era João dos Santos Ghira, de 35 anos, residente em Torres Vedras. Em 1922 tinha sido eleito para o senado municipal por uma lista republicana.

Por fim, surgia José Anjos da Fonseca, de 54 anos, residente em Torres Vedras, que de acordo com Venerando Matos era a “figura com maior experiência política nesta comissão”103

. Com um passado político, entre 1907 e 1915, vincadamente republicano, José Anjos da Fonseca foi nomeado, durante a ditadura de Pimenta de Castro, para integrar a administração concelhia, exercendo posteriormente, já durante o sidonismo, o cargo de presidente da comissão administrativa municipal. Foi ainda nomeado para duas outras comissões administrativas após a morte de Sidónio Pais.

Em Maio de 1928, esta mesma comissão administrativa, à qual se tinha juntado entretanto, enquanto vereador adjunto, França Borges, afirmava que os seus elementos “formaram decididos e aprumados ao lado da disciplina, donde nasce a ordem, que

100Vide Anexo n.º 18. 101

Artur Castilho não chegou a tomar posse, sendo substituído por José Augusto de Almeida Trigueiros, comerciante e industrial. In Câmara Municipal de Torres Vedras, Op. Cit., p. 13.

102MATOS, Venerando, Republicanos de Torres Vedras: Elites, Partidos, Eleições e Poder (1907-1931),

Lisboa, Edições Colibri, 2003, pp. 266 e 267.

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está bafejando o mapa da Europa, numa reacção vigorosa e firme contra a defecção social, e que tem o seu mais alto símbolo no brioso general Carmona, em Portugal, no General Riviera, em Espanha, em Mussolini na Itália e em Baldwin na Inglaterra”104

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