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Capítulo VI: Pós-guerra (1946-1949)

VI. 3. A organização da oposição democrática local

As resoluções emanadas da reunião realizada no Centro Escolar Republicano Almirante Reis, a 8 de Outubro de 1945, rapidamente causaram eco junto da elite democrática de Torres Vedras. De acordo com a República, poucos dias após aquela reunião, os democratas de Torres Vedras manifestaram a sua solidariedade575.

Assim, não pretendendo ficar alheios do movimento nacional de galvanização provocado pela criação do MUD, as hostes democráticas de Torres Vedras, tomaram diligências, no propósito de se reunirem para debater o cenário político nacional.

A 15 de Outubro, uma semana após a reunião de Lisboa, um grupo de republicanos torrienses, representados por Augusto Bastos Troni, médico, Alberto Graça, advogado, José Nunes de Chaves, farmacêutico, Filipe de Vilhena, proprietário, Alberto Bandeira, guarda-livros, Vítor Cesário da Fonseca, José Barco Perdigão, José Augusto Martins e Vasco Parreira, comerciantes, solicitaram ao presidente da câmara municipal, autorização para a realização de uma reunião, dois dias depois, no Clube Comercial de Torres Vedras. Caso fosse autorizada, a “…reunião de elementos discordantes da política do actual Govêrno…”, era desígnio, da oposição local, analisar o “…momento político actual em face das leis vigentes sôbre eleições”576.

No entanto, as expectativas dos republicanos locais acabariam goradas, dado que o executivo camarário liderado por Teles da Silva indeferiu o pedido de autorização para a realização da reunião, fundamentando que “…as assinaturas do requerimento

573ROSAS, Fernando, Salazar e o Poder: A Arte de Saber Durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2013, p. 230. 574TENGARRINHA, José, “Os Caminhos da Unidade Democrática contra o Estado Novo”, Revista de

História das Ideias, Vol. 16: Do Estado Novo ao 25 de Abril, IHTI/FLUC, 1994, p. 390.

575“Pôrto, Viana do Castelo…Tôrres Vedras, a Nação, enfim, dá a sua solidariedade à histórica reunião

do Centro Almirante Reis...Tôrres Vedras…sendo ali extraordinário o entusiasmo” In República, Ano

XXXV, N.º 5.371, 12/10/1945, p. 5, coluna 2.

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não estavam reconhecidas pelo notário”577

. Face a este cenário, a elite democrática torriense solicitou, um novo requerimento, com a respectiva validação das assinaturas, para o dia 14 de Novembro, no Clube Artístico Comercial578. No entanto, desconhece-se qualquer tipo de informação quanto a uma possível realização da reunião.

VI. 3.1. A 1.ª Comissão Concelhia do MUD

No processo de organização das forças democráticas torrienses, encetado desde meados de Outubro de 1945, evidencia-se a constituição da comissão concelhia do MUD de Torres Vedras. Posteriormente, já após o acto eleitoral, registar-se-á uma ampliação da organização democrática concelhia, com a entrada de novos elementos.

No que concerne à primeira comissão concelhia do MUD de Torres Vedras579, esta seria formada por oito membros: Aurélio Ricardo Belo, major-médico e último administrador do concelho de Torres Vedras na 1.ª República, Alberto Graça, advogado, Alberto Fernandes Bandeira, guarda-livros, Leonel de Freitas Trindade, comerciante, Álvaro Lafaia de Castro, comerciante, Vasco Rodrigues Parreira, comerciante, José dos Santos Pio, comerciante e António Ubaldo, construtor580.

Numa análise à aludida comissão concelhia, constata-se, que quanto à estrutura político-ideológica, provavelmente todos os elementos são republicanos, desconhecendo-se qualquer tendência comunista ou socialista de entre a elite do MUD local. No que concerne à estrutura socioprofissional, esta era dominada pela classe dos comerciantes, que representavam 50% do total de actividades profissionais presentes.

Quanto ao local de residência, com excepção de Aurélio Ricardo Belo, médico- major no Asilo dos Inválidos de Runa, todos os restantes elementos do MUD habitavam em Torres Vedras. Por fim, no que se refere à média de idades, esta situava-se nos 43,1 anos. O elemento com mais idade era Aurélio Ricardo Belo, de 67 anos, enquanto o mais jovem era Vasco Rodrigues Parreira, de 32 anos.

577In República, Ano XXXV, N.º 5.393, 3/11/1945, p. 3, coluna 2. 578Idem, colunas 2 e 3.

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Vide Anexo n.º 43.

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VI. 3.2. A 2.ª Comissão Concelhia do MUD

Em Dezembro de 1945, já após o acto eleitoral, a comissão concelhia do MUD de Torres Vedras engrossou as suas fileiras, com a entrada de um considerável número de novos elementos oposicionistas581. A comissão passou então a ser constituída por 22 elementos. Em comparação com a composição original, registaram-se as saídas de Aurélio Ricardo Belo e Alberto Fernandes Bandeira, cujos motivos se desconhece. Um dos novos membros, o histórico republicano torriense Vítor Cesário da Fonseca, assumiu as funções de secretário da mesa da comissão concelhia do MUD.

Quanto à composição da aludida comissão, e no que se refere à origem político- ideológica dos membros, a esmagadora maioria, cerca de 82%, ou seja, 18 elementos, eram republicanos. Existia ainda, uma pequena facção comunista, que representava 13,6% do total de elementos do MUD concelhio, e que era formada por 3 membros do comité local do PCP, sendo um deles Raimundo dos Santos Porta. Julga-se ainda poder identificar um elemento de tendências socialistas, Augusto Bastos Troni.

No que concerne à estrutura socioprofissional, esta era notoriamente dominada pela classe dos comerciantes, que representavam 54,5% do total de elementos, seguida pela dos proprietários, com 13,6%. Quanto ao local de residência, 72,3% era oriundo de Torres Vedras, enquanto 27,3% residia nas localidades rurais do concelho. Por último, a média de idades dos elementos do MUD de Torres Vedras, rondava os 46 anos. O elemento com mais idade era Filipe de Vilhena, com 75 anos, enquanto os elementos mais jovens eram Raimundo Porta e Álvaro Ramalho Alves, com 31 anos cada.