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2.3 A organização do capital em Arranjo Produtivo Local

O Arranjo Produtivo Local (APL) pode ser definido como um aglomerado de agentes econômicos, num mesmo território, que apresenta um vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizagem, de acordo com o IPARDES (2005).

O governo, por meio da Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral (SEPL) e o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), realizaram um estudo58 a respeito das aglomerações produtivas existentes no Paraná. Elaborou, portanto, o Projeto Identificação, Caracterização, Construção de Tipologia e Apoio

na Formulação de Políticas para os Arranjos Produtivos Locais (APL‟s) do Estado do Paraná.

O objetivo desse estudo, segundo o IPARDES (2005), seria subsidiar as ações da Rede Paranaense de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais – Rede APL Paraná, que, por sua vez, tendo acesso a essas informações, teria condições de organizar as informações a respeito das aglomerações existentes no Paraná, procurando promover, por meio de cooperação multi- institucional, programas e políticas de apoio aos APLs.

Desse modo, segundo o IPARDES (2006b),

[...] selecionaram e validaram-se os APL‟s estratégicos para o Estado, os quais foram objeto da realização de estudos de caso com a finalidade de reunir elementos para a caracterização estrutural dos APL‟s e para a identificação de problemas e demandas locais que orientassem a definição de diretrizes de políticas de apoio aos APL‟s. (IPARDES, 2006b, p.06).

No Estado do Paraná, por meio de estudo do IPARDES (2006b), foi constatada a existência de 114 aglomerações de empresas e potenciais APLs, que totalizariam cerca de 150 mil empregos, em 2003, o que reuniria 7,7 mil estabelecimentos industriais de micro e

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115 pequenas, e representaria 32% do total de estabelecimentos industriais. Desse total foi feita uma pré-seleção de possíveis APLs, levando em conta a relevância de cada aglomeração de empresas, em termos de atividades, densidade fiscal, vendas e exportação, compras locais, número de estabelecimentos e importância das vendas na própria microrregião.

De acordo com o IPARDES (2006b), foi constatado no Estado do Paraná um total

de 22 APL‟s59

, distribuídos em 92 municípios, divididos em diversos ramos de produção, e classificados em quatro categorias60, de acordo com a importância para a economia do setor e para a região.

Para Câmara et al. (2006), há seis regiões no Estado que são especializadas em vestuário, quatro delas localizadas no “Corredor da Moda”, formado pelos municípios de Apucarana, Cianorte, Maringá e Londrina, uma delas em Francisco Beltrão-Pato Branco e outra em Toledo-Marechal Cândido Rondon, além de 2 aglomerações municipais de Moda Bebê de Terra Roxa e de malhas de Imbituva. Entretanto, as principais aglomerações estão localizadas no Corredor da Moda e os demais são mais pulverizados, conforme verificamos na Figura 3.

59 Aconteceu, em fevereiro, em Curitiba, o 1º Encontro de Gestores dos APLs do Paraná, realizado pelo FIEP e apoiado pelo

SEBRAE, sendo que uma das propostas era a troca de experiências, para o desenvolvimento de produtos e resolução de problemas.

60Essas categorias são: Núcleo de Desenvolvimento Setorial e Regional (NDSR), Vetor de Desenvolvimento local (VDL),

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Figura 3- Regiões Especializadas no Setor Têxtil-Confecções- Paraná

117 Dessa forma, de acordo com o IPARDES (2006b), no Estado do Paraná, foram localizadas 114 aglomerações e classificadas em 12 NDSR, 35 VDL, 32 VA e 45 Embriões. O APL de Apucarana, na denominação do IPARDES, se trata de um Núcleo de Desenvolvimento Setorial e Regional (NDSR) que reúne as aglomerações que se destacam pela importância de uma região e para o setor de atividade econômica do Estado. Já os APLs de Cianorte, do Sudoeste paranaense e de Malhas de Imbituva, são classificados como Vetor de Desenvolvimento Local (VDL), pois reúnem as aglomerações que se apresentam como muito importantes para o desenvolvimento local/regional e de menor importância para o Estado. O APL de Maringá se localiza no Vetor Avançado (VA), com aglomerações de importância setorial, mas com pouca importância para a região, enquanto o APL de Terra Roxa foi classificado como Embrião (E), que reúne as aglomerações com potencial para o desenvolvimento, mas pouco importante para o setor e a região.

Segundo o IPARDES (2006c), o APL de Cianorte tem cerca de 10 mil empregos na indústria têxtil, e cerca de 6986 mil empregos são formais e 34% estão na informalidade,

ou seja, 3,6 mil. Na “capital da Moda”, como é designada pelas lideranças locais, há a

contratação de costureiras domiciliares como a tarefa mais solicitada, seguida da tarefa de acabamento. Maringá é o município que tem a maior participação na confecção tanto em termos de empregos formalizados (10.000) quanto em números de estabelecimentos (524). O APL de Maringá congrega 10 municípios e é constituído por micro e pequenas empresas, sendo que a maioria das empresas possui relações de subcontratação, com o trabalho domiciliar utilizado na costura, bordado e acabamento, com cessão de equipamentos aos trabalhadores. De acordo com o IPARDES (2006b), os empresários fazem isso para diminuir custos, no entanto salientam que, como esse trabalho é formado em sua maioria por mulheres, elas podem trabalhar mesmo sem sair de casa, e não precisam se ausentar das tarefas domésticas e cuidar dos filhos novos.

Zaparolli (2007) salienta que o Paraná, em 2007, fechou um acordo, com o objetivo de financiar61 ações conjuntas, realizadas pelas empresas ligadas aos APL‟s. Ainda, de acordo com o autor, o secretário de planejamento do Paraná62 aponta que, no Estado, há 22

APL‟s que agregam 2,6 mil empresas63

, e o mérito social, segundo ele, deve-se ao fato de que

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O montante de 10 milhões de reais provém do BID, 1 milhão do governo estadual e 5,7 milhões do SEBRAE e Federação das Indústrias do Paraná.

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Trata-se do secretário Enio Ferri.

63No sítio da FIEP: www.fiep.org.br, é apontada a existência de 3.000 indústrias ligadas aos 20 APL‟s e cerca de 60 mil

empregos diretos. Esses 20 APL‟s seriam os que o sistema FIEP, com apoio do SESI, SENAI, IEL, apóiam mais

efetivamente. De acordo com o sitio, estão em fase de planejamento mais 4 APL‟s: Curitiba, Umuarama, Ponta Grossa e

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os APL‟s reduzem a mortalidade das pequenas empresas e contribuem para a geração de

empregos, já que o Paraná contabiliza cerca de 40 mil empregos ligados aos APL‟s e isso, para ele, reduz as demandas da sociedade por políticas assistenciais.

É bom observar, no discurso do secretário do planejamento, as verdadeiras

intenções do governo do Estado em apoiar o fortalecimento dessas empresas que compõem os

APL‟s. O fato é que, gerando empregos, reduziria, por parte do Estado, a implantação de

políticas voltadas à população de caráter assistencialista; dessa forma, a opção é o apoio à classe empresarial, em contraposição às políticas sociais, ainda mais se levarmos em consideração que, tradicionalmente, as pequenas e médias empresas apresentam níveis de informalidade do trabalho maiores do que as grandes empresas.

Zaparolli (2007) afirma que o APL é visto pelos empresários como uma grande oportunidade de incentivo ao desenvolvimento regional, porque, além de estimular o

crescimento e a competitividade das micros e pequenas empresas, pela flexibilidade e escala produtiva, também ajuda a gerar empregos, respeitando a vocação da região.

Prova disso é a formação da Rede APL Paraná64 que, segundo Nunes (2007), conta com o apoio do governo estadual, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), SEBRAE Paraná, Banco do Brasil, Bradesco e Curitiba S/A.

Segundo Zaparolli (2007), “a rede tem por objetivo promover uma maior

articulação entre as entidades que apóiam os APLs e criar um ambiente favorável à

implantação e consolidação dos arranjos do Paraná”.

De acordo com o Boletim 4 da ABIT, no Brasil, cerca de 25 mil pequenas e microempresas no setor têxtil são responsáveis pela maioria dos 1,6 milhões trabalhadores na indústria de moda brasileira. Em São Paulo, o setor de vestuário apresenta 7.500 mil empresas de um total de 20 mil no país, segundo Siqueira (2007).

No Paraná, podemos observar que o setor de confecções vem aumentado sua produção de vestuário, haja vista que, em 2003, ficou em segundo lugar no ramo de confecção no país, segundo Oliveira et al. (2007). Isso se confirma pela Folha on-line (2004), que aponta que o Paraná é o segundo maior pólo industrial de confecção do país65.

O Paraná tem 1250 indústrias do setor de vestuário, distribuídas em sete grandes pólos confeccionistas, com uma produção anual em torno de 358 milhões de peças e as

64 A rede APL tem o seguinte sitio: www.redeapl.pr.gov.br.

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119 vendas chegam a US$ 902 milhões, empregando 41.600 funcionários registrados, exceto os empregos indiretos, de acordo com a Agência Estadual de Notícias do Paraná (2005).

Para Oliveira et al. (2007), o segmento têxtil-confecção paranaense concentra cerca de 4.647 empresas, emprega 67.426 trabalhadores industriais, representando 14% da mão-de-obra industrial no Estado, sendo o segundo maior gerador de empregos, sendo o primeiro lugar em geração de empregos o complexo madeireiro. Para o autor, o Paraná se destaca tanto na geração de emprego e renda no setor têxtil-confecções como também na especialização de alguns segmentos, como de jeans (Maringá, Londrina e Cianorte) e bonés (Apucarana). Os municípios de Apucarana, Maringá, Londrina e Cianorte formam um complexo especializado em confecções e por isso é designado, conforme já mencionado,

como “Corredor da Moda”.

No entanto, de acordo com o MTE, o Estado do Paraná é responsável por cerca de 80.681 empregos no setor têxtil, o que representaria 3,4% na participação do emprego total, e a participação do emprego desse setor no Brasil é de 2,5%.

De acordo com o Boletim 4 da ABIT, no ano de 2006, o Brasil apresentou retração na vendas externas no setor do vestuário tanto em volume quanto em valor, e isso comprova que as vendas são de produtos de menores valores agregados, ou seja, de matérias-primas, e por outro lado, as importações têm sido de produtos com maior valor agregado. Mas, ao serem cruzados os dados de importação e exportação com os países com os quais o Brasil mantém relações, observamos que o superávit, de 2006, foi invertido, se compararmos como ano de 2005, pois em 2006 o déficit foi de US$ 69 milhões.

Isso, talvez, reflita-se nas preocupações dos empresários ligados ao setor do vestuário, pois, de acordo com a Agência Estadual de Notícias (2005), foi realizado em Curitiba, no ano de 2005, o Seminário de Competitividade da Cadeia do Vestuário, promovido pelo governo do Estado, por meio das Secretarias do Planejamento e da Indústria e Comércio66. O sítio da Agência ainda aponta que o palestrante do referido evento indica que

a estratégia a ser adotada pelos empresários do setor é: “que as pequenas empresas devem se

agrupar com as concorrentes da mesma região para que possam se qualificar, construir uma imagem e ampliar geograficamente sua ação comercial e atratividade.”

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O evento, que teve início em Cascavel e Francisco Beltrão, objetivava traçar um cenário do setor no Estado, mostrando as perspectivas e delineando estratégias que permitissem enfrentar a concorrência das empresas estrangeiras. Essa iniciativa teve a parceria com a Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (FACIAP), Federação do Comércio (FECOMÉRCIO), Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Estado do Paraná (FETIEP), SEBRAE-PR, Associação Paranaense da Indústria Têxtil e do Vestuário (VESTPAR) e Federação das Indústrias do Paraná (FIEP).

120 Nesse sentido, O FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) passou a incluir o setor têxtil de confecção na linha de crédito que emprega mão-de-obra intensiva, anunciando a liberalização de 800 milhões para empréstimo de capital de giro para as pequenas e micro empresas. O Giro FAT Setorial busca incentivar a produção, aumentar o emprego e massa salarial, por meio de apoio financeiro na forma de capital de giro67 para as empresas, segundo o boletim 4 da ABIT (2006).

O que mais chama a atenção nesses investimentos é que, se determinada empresa estiver ligada a algum APL, tem a facilidade de acesso ao crédito por meio dos bancos privados e públicos, com destaque para três deles: Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Conforme Zaparolli (2007b), o Bradesco delegou um diretor para acompanhar as reuniões da APL para entender as necessidades de desenvolver produtos e soluções adequadas para cada localidade. As linhas específicas para os APLs contam com juros menores e prazos maiores, além da carência na linha de financiamento de 90 dias e taxas de juros de 2,24% fixos ao mês.

No Brasil, o Bradesco atende 173 APL‟s, a Caixa atende 59 APLs, com valor

máximo de empréstimo de 100 mil reais para micro e pequena empresa, e 500 mil para

médias empresas. O Banco do Brasil atende 133 APL‟s, e disponibiliza três linhas de créditos,

sendo que a finalidade é desburocratizar o acesso ao crédito. O fundo de aval cobre até 50% do financiamento, mas para as empresas ligadas aos APLs são permitidas operações que garantem até a totalidade do empréstimo, de acordo com Zaparolli (2007b).

Assim, vemos que há muitas formas de financiamento e de apoio não apenas ao

fortalecimento e estruturação dos APL‟s, mas também para o surgimento de novos. E esse

apoio é oferecido aos nos diferentes níveis governamentais (federal, estadual e municipal), além, é claro, das esferas privadas, que têm apostado fortemente na estruturação dessa forma de gestão do capital, no território.

Dessa forma, podemos afirmar que as estratégias do APL são para se impor como a forma capitalista de apropriação do território e isso por meio da utilização de formas de precarização do trabalho, como o trabalho domiciliar.

Mesmo diante desses apoios financeiros, citados a pouco, Franco (2005) e o IPARDES (2006a) apontam para a falta de apoio como uma das dificuldades encontradas pelos empresários do APL Terra Roxa. Por essa razão, sugerem a abertura de linhas de crédito

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121 especiais para aquisição de bens de capital, além de maior interação com Universidades, no sentido de obter cursos de capacitação e apoio da Prefeitura para promover a construção de um parque industrial.

Para Zaparolli (2007), após a criação da APL de Terra Roxa, a produção cresceu 50%68, e é responsável por aproximadamente 2.000 empregos diretos para um município de 17.000 habitantes. O autor ainda informa que o APL desenvolveu um planejamento que prevê o compartilhamento que visa a qualificação da gestão, treinamento de mão-de-obra, o aprimoramento dos produtos e a participação em feiras e eventos no Brasil e no exterior. Como marketing, a iniciativa envolve a criação de um sítio na internet e de um catálogo com distribuição nacional.