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O movimento sindical, embora tenha um passado recente de lutas pelos direitos trabalhistas, hoje vive um momento de incógnita, diante das novas formas de trabalho. No caso do trabalho domiciliar, considerado informal e terceirizado, a luta deveria ser pela busca de mecanismos de integrar esses trabalhadores, ou de mecanismos de politização dessa parcela de trabalhadores. E isso se dificulta, tendo em vista que alguns trabalhadores, ao se sentirem autônomos (pois, em alguns casos, eles são façonistas, com firmas registradas), passam a buscar o sindicato patronal para filiação. No entanto, o sindicato deveria atuar para a conscientização e criar formas coletivas que envolvam esses trabalhadores, subvertendo a rigidez do regramento jurídico que o conforma ao registro formal, na carteira de trabalho.

Estamos diante da reestruturação produtiva do capital, que é a fase caracterizada como de imposição do capital na produção pela reestruturação produtiva e de imposição do capital na política com o neoliberalismo, resultando numa complexificação, fragmentação e heterogeneização da classe trabalhadora, com aumento do número de trabalhadores informais e precários.

Continua intrínseca ao modo de produção a sua expansão, bem como a dinâmica da acumulação capitalista se encontra na origem de refluxos sofridos pela classe trabalhadora no plano internacional, de sorte que, segundo Santos (2006), a nova crise do sindicalismo acontece dentro de um quadro em que o capital se mundializou, oligopolizando as relações de

188 mercado. Os trabalhadores devem, pois, enfrentar um capital mais potente, cada vez mais organizado em firmas transnacionais e compelido a introduzir ritmos mais intensos. A nova crise não se caracteriza apenas por seu caráter longo e profundo, mas também pelo contexto que a cerca. De um lado, uma forte expansão do capitalismo, dando origens às novas formas de trabalho e de utilização e exploração da força-de-trabalho. De outro, uma concentração do capital por oligopólios e firmas transnacionais.

O trabalho é, para Carvalhal (2004), constrangido a adequar-se às modificações, tanto em relação ao cumprimento das obrigações que o capital impõe, quanto em termos da organização coletiva, que os trabalhadores precisam redefinir, para resistirem à ofensiva do capital.

Além disso, essa dinâmica territorial diferenciada do capital e do trabalho é capaz de prover o capital de possibilidades aparentemente ilimitadas de realocar os fragmentos das etapas produtivas em locais convenientemente escolhidos, conforme suas necessidades.

Assim, o limite da organização sindical, consolidada no período fordista, está na incapacidade de alavancar as demandas imediatas para as lutas estratégicas de controle do processo produtivo e do projeto contra-hegemônico.

A partir da era neoliberal, nos anos 1990, segundo Alves (2000), surge um novo complexo de reestruturação produtiva, com seu impulso de ruptura sobre o mundo do trabalho, o que contribuiu para as mudanças estratégicas do sindicalismo brasileiro. Essa nova prática de cariz propositiva é um sintoma de debilitação estrutural da contestação operária à lógica do capital, além do esvaziamento do caráter classista como uma incapacidade de se construir uma alternativa contra-hegemônica à lógica do capital.

Podemos destacar, também, pela visão de Antunes (1999), que há uma tendência de redução do operariado fabril, formalizado, estável e especializado, por conta da reestruturação produtiva e, com ela, a flexibilização e desconcentração do espaço físico produtivo, com a introdução do trabalho domiciliar e da telemática, reduzindo distâncias, ao lado do aumento de um novo proletariado fabril e de serviços, como os terceirizados, part-

time. Nessa perspectiva, Antunes (1999) salienta que as mulheres, mesmo nas unidades mais

sofisticadas, exercem funções rotinizadas, onde são mais constantes as formas de trabalho temporária, part-time. Entretanto, o maior problema é que o sindicato também incorpora a divisão sexual do trabalho, pois exclui as mulheres dos debates políticos e da participação sindical.

189 Para Alves (2006), a constituição de um novo e precário mundo do trabalho, sob a mundialização do capital, contribuiu para a debilitação estrutural do poder sindical e político da classe dos trabalhadores assalariados, uma vez que essa é uma das causas da crise do sindicalismo moderno.

Segundo Antunes (1999), o mundo do trabalho, agora complexificado, apresenta as seguintes características: diminuição do operariado fabril estável; aumento de inúmeras formas de trabalho subproletarizadas; aumento do trabalho feminino; expansão dos assalariados médios; exclusão de trabalhadores jovens; intensificação e superexploração do trabalho; desemprego estrutural101; expansão do trabalho social combinado.

Alves (2000) argumenta que a crise do sindicalismo possui duas dimensões históricas, caracterizadas de um lado, pelo aspecto sócio-institucional, em decorrência do declínio nos índices de sindicalização e, de outro, pelo viés político-ideológico, marcado pela integração plena dos sindicatos a lógica mercantil, no sentido de garantir apenas o preço da força-de-trabalho.

No entanto, o cerne da crise do sindicalismo é sua incapacidade de preservar o seu poder de resistência de classe, perante a ofensiva do capital na produção e do novo e precário mundo do trabalho.

Assim, Santos (2006) afirma que a atual fase do sindicalismo internacional tem sido distinguida pela defensividade sindical, no sentido de uma situação de dificuldade de organização das categorias para a defesa dos direitos sociais e trabalhistas adquiridos, bem como para sua ampliação. Na verdade, a dificuldade é, tendo em vista a instabilidade do mercado de trabalho, a intensificação da flexibilização e o aumento do risco do desemprego, que são fatores constantes capazes de contribuir para uma menor mobilização sindical e perda do poder de barganha das organizações sindicais. O resultado tem sido o deslocamento da luta para as categorias mais organizadas e para o funcionalismo público.

Entretanto, em diversos países, conforme Santos (2006), o sindicalismo do setor público tem enfrentado, assim como no setor privado, ataques de governos, empresários e da mídia, interessados em eliminar direitos considerados ultrajantes para eles.

Alves (2000) aponta que o novo e precário mundo do trabalho surge nos países centrais, constituído não apenas por uma nova classe operária, mas por uma força de trabalho com alto nível educacional e de qualificação, no entanto, com um novo impulso para a

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Para Sposati (1999), a universalização do desemprego é a grande primeira e universal manifestação de exclusão sob o capitalismo. A autora afirma que a exclusão social é como uma negação da cidadania, dando ideia de uma perda e, no caso do Brasil, representa uma perda virtual de uma condição nunca antes atingida, e não de uma perda real, capaz de sensibilizar a sociedade.

190 fragmentação de classe, provocado pelo desemprego e precarização de empregos e salários. A crise do sindicalismo moderno, por conseguinte, é decorrência da perda da representatividade sindical, da esclerose organizacional, mas muito mais da debilitação político-ideológica da perspectiva de classe. O autor acaba vinculando esse novo mundo do trabalho ao toyotismo, como novo complexo de reestruturação produtiva.

Thomaz Júnior (2005c) afirma que a reorganização do capital em nível internacional propõe e requer uma nova territorialidade para garantir a sua exequilidade. Sendo assim, a terceirização vem sendo remodelada às novas estratégias do capital e com efeitos destrutivos ao trabalho. Para o autor, a terceirização da produção tem no toyotismo o seu modelo de referência, cujos desdobramentos, para o trabalhador, implicam a polivalência das funções e a incorporação de novos critérios de desempenho, garantindo êxito para a desverticalização integrada, sendo, pois, o eixo para descentralização da produção. O mote da inovação da Toyota não se restringe a produzir, dentro ou fora da fábrica, mas se estende à forma e ao conteúdo da integração da produção das peças pelos fornecedores.

Para Santos (2004), ao se referir ao sindicalismo norte-americano, as novas tecnologias têm conduzido à instauração de um ponto nevrálgico da luta sindical: o declínio dos núcleos estáveis de trabalhadores, acompanhado das condições de precarização do mercado de trabalho. O que tem aprofundado as dificuldades da ofensividade sindical é a deslocalização do emprego para regiões com reduzidas taxas de sindicalização e, para completar o cenário, há a proliferação de trabalhadores em domicílio, mais atomizados e de difícil sindicalização.

Em nosso país, a reestruturação produtiva do capital, a flexibilização e a desregulamentação das relações de trabalho tiveram forte impulso nos governos Collor e FHC, pois as forças produtivas se retraíram, criando-se várias modalidades do trabalhador precarizado, terceirizado, subempregado. A implantação do neoliberalismo encontrou, no Brasil, terreno propício, ou seja, uma conjuntura de recessão e vigência da velha estrutura sindical e, assim, o tripé da plataforma neoliberal foi implantado, na visão de Oliveira (1994), através da seguinte composição: a) abertura da economia nacional ao capital estrangeiro, b) privatização de empresas estatais e, c) desregulamentação das relações de trabalho.

O movimento sindical brasileiro encontra-se em crise, não somente influenciado pela conjuntura política, mas também pelas direções políticas adotadas nos últimos anos, sobretudo pela acomodação à estrutura sindical oficial e pelo caráter propositivo das ações, num contexto de acentuado ataque às conquistas sindicais.

191 Dessa maneira, a crise do sindicato é alimentada pelas novas tecnologias que se desdobram na precarização dos empregos, reduzindo o contingente de trabalhadores formalizados, ao mesmo tempo em que Estado e as empresas propõem reformulações na legislação sindical, as quais confrontariam as formas de organização atual dos sindicatos, como a extinção da contribuição sindical obrigatória.

Para Boito (1999), apesar de a investidura sindical ser o elemento essencial de subordinação do sindicato à cúpula do Estado, necessita de mais dois elementos, que são a unicidade sindical e as contribuições sindicais, para a extrema dependência do Estado, porque a unicidade sindical não significa apenas a existência de um sindicato representante de um segmento de trabalhadores, mas o sindicato único, com monopólio de representação. A unicidade passa a se constituir como um privilégio que inibe a formação de associações sindicais rivais, sendo incompatível com o pluralismo sindical, uma vez que a unicidade pressupõe a marcante presença do Estado, controlando o seu funcionamento. E, sem autonomia, os sindicatos não conseguem se organizar para lutas mais contundentes.

Outro elemento que permite o atrelamento do sindicato ao Estado, fruto da investidura sindical, são as contribuições sindicais. Estendidas a todos os segmentos de trabalhadores, dividem-se em taxa assistencial e imposto sindical. O imposto é arrecadado, anualmente, pelo Ministério do Trabalho, enquanto a taxa é arrecadada pelo próprio sindicato, estabelecido em acordos coletivos. Desse modo, a dependência primeira é da norma jurídica que obriga o trabalhador a contribuir com o sindicato, enquanto a outra é o atrelamento ao Estado, que viabiliza essa arrecadação.

Alves (2000) salienta que a estrutura sindical já nasce “com pés de barro”,

porque, desde o início, não se contrapôs às mudanças impostas ao mundo do trabalho. Assim, ela é descentralizada, com poucas iniciativas de ação unificada, apesar da existência das centrais sindicais. É desenraizada, por não ter inserção nos locais de trabalho, e verticalizada, por não abarcar os trabalhadores não assalariados.

A unicidade sindical, segundo Carvalhal (2004), implica uma fragmentação territorial, aliada à fragmentação categorial, quando, numa mesma empresa, coexistem vários sindicatos, dificultando a ação coletiva dos trabalhadores.

Alguns sindicatos têm se transformado em administradores de investimento capitalista, conforme ressalta Bernardo (1997), devido às contribuições sindicais que recebem mensalmente. De acordo com o autor, isso faz com que alguns sindicatos tenham se distanciado dos seus objetivos em defesa dos interesses dos trabalhadores e passem a atuar

192 apenas como gestores da entidade sindical ou administradores sindicais. Tal circunstância acaba por reforçar o corporativismo, por um lado, enquanto, de outro, a alienação do trabalhador, porque os sindicatos defendem somente os trabalhadores de dada categoria, tornando a luta fragmentada. Ao defender a categoria, o sindicato acaba corroborando com o corporativismo e, ao mesmo tempo, realça a alienação do trabalhador em relação a outro trabalhador, que se vê apenas em relação a sua categoria, numa alienação de si e além de si.

Como corolário da manutenção da estrutura sindical, existe a própria formação político-ideológica das lideranças sindicais, que, em muitos casos, consagra-se nas posturas centralizadoras, pautando, muitas vezes, a legitimidade do sindicato em torno de políticas assistenciais.

Tributária dessas formulações, existe a participação dos sindicatos em políticas tripartites de gestão de recursos públicos, o que demonstra as fragilidades da representação sindical, sendo que uma das mais recentes demonstrações foi a ligação dos sindicatos ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), com resultados desfavoráveis aos trabalhadores, pois nitidamente enfatizam a informalidade entre os trabalhadores e o trabalho domiciliar, sem qualquer segurança.

Nos cursos do FAT, o sindicato se envolve diretamente nos processos de qualificação e requalificação, passando a ideia de que todos podem se tornar patrões de si mesmos. Trata-se do famoso negócio próprio, tão alardeado pelo SEBRAE e que já vem se espalhando com altivez pelo movimento sindical.

Sem dúvida, a nova realidade tornou mais defensivo o novo sindicalismo e, por decorrência, a Central Única dos Trabalhadores (CUT). A Central, que tinha como fundamentos estatutários a defesa dos interesses da classe trabalhadora, portanto, uma prerrogativa classista, além de lutar por melhores condições de vida e de trabalho, passa por um processo de perda de identidade, juntamente com todo o movimento sindical brasileiro. Desdobramento dessas ambiguidades é a divisão da CUT, com a formação da Coordenação Nacional de Lutas (CONLUTAS), em 2004.

Isso se contrapõe à década de 1980, quando o movimento sindical teve destaque, no Brasil, do ponto de vista do histórico de lutas e conquistas sindicais e sociais. Esse movimento de conquistas desembocou numa crise de representação, na década de 1990, num processo similar ao dos países avançados, que o viveram na década de 80. Conforme Alves (2006), a CUT passou a burocratizar-se com políticas concertacionistas, no sentido de conciliação e acordos com o empresariado.

193 Ainda de acordo com Alves (2000), o viés corporativo, adotado pelo sindicalismo brasileiro, tende a torná-lo incapaz de intervir nos problemas globais da sociedade do trabalho. Essa nova cultura neocorporativa não é apenas a expressão de uma crise do sindicalismo, mas também do sindicalismo da crise; para o autor, a crise do capital serviu de pretexto para a disseminação da nova ideologia reformista, da concertação social, mesocorporativa ou microssetorial, de sorte que, a partir da velha estrutura sindical varguista, foi germinada uma nova cultura corporativa de mercado, não mais de Estado. Perdeu-se a perspectiva de classe, no sentido de que houve redução da abrangência e do conteúdo das convenções coletivas, igualmente pela descentralização das negociações coletivas.

Segundo Carvalhal (2004), a estrutura sindical, além do aspecto técnico organizacional, possui elementos que se desdobram para a ação sindical, ao se articular com as formulações político-ideológicas dos próprios sindicalistas. Sendo a estrutura sindical ideologicamente formulada pelo Estado varguista, cumpre a função de controle dos sindicatos, direta ou indiretamente, como tem ocorrido nas últimas décadas.

A intervenção nos sindicatos pelo Estado foi permitida pela estrutura sindical, por meio da qual interfere na divisão da classe trabalhadora, ou seja, divide os trabalhadores em categorias sindicais, em territórios previamente definidos e quanto à formalização/informalização das relações de trabalho. Boa parte dos sindicalistas se conforma, mostrando-se conivente com o atrelamento do sindicato ao Estado.

Faria (1994) afirma que o modelo de terceirização, introduzido nas indústrias, poderá pulverizar os sindicatos. E, em contrapartida, os sindicatos estão sugerindo a participação conjunta na discussão sobre a terceirização de atividades não estratégicas de uma empresa, para que não haja demissões de trabalhadores; que haja garantia de retreinamento, de requalificação para trabalhadores de áreas que forem extintas e, caso exista a necessidade de mudança de vínculo empregatício, que não haja redução salarial, de benefícios e que se mantenham as condições de segurança.

Santos (2006) afirma que a flexibilidade do trabalho tem agido como um freio para a ação sindical, que, se por um lado, tem aumentado o desemprego, por outro, ao permitir a utilização do trabalho precarizado tende a enfraquecer o sindicato, por este se basear em trabalho estável, levando o sindicato a defender os direitos conquistados.

Para Thomaz Júnior (2005c), a terceirização tem sido imposta sem a participação dos sindicatos, com diferentes formas de cooptação dos trabalhadores. O autor sublinha ainda que a terceirização está sendo implantada por empresas que possuem patamares salariais

194 inferiores aos das grandes empresas, às custas de supressão de conquistas sindicais, o aumento da jornada de trabalho e piora nas condições de trabalho.

O controle sobre os trabalhadores e, em especial os jovens, tornou-se central no atual sistema liberal, segundo Vasapollo (2007), tendo em vista que o trabalho precário tem-se tornado parte central nos processos produtivos.

Conforme Santos (2006), há uma menor mobilização do sindicato e menor poder de barganha, cujo resultado é o deslocamento da luta para as categorias mais fortemente organizadas e para o setor público. O Estado, por um lado, ataca com a cassação de direitos de trabalhadores do setor público e privado, a fim de evitar a unificação de trabalhadores de ambas as esferas e, por outro, sob pretexto de inclusão social, cria legislações e, com isso, formas precárias de trabalho, como o acesso ao primeiro emprego por meio dos CIPs, (Contratos de Inserção Profissional).

O momento vivenciado pelo movimento sindical é de recuo das disputas e reivindicações trabalhistas, o que, para Lima (2008), ficou muito presente em sua pesquisa que realizou junto aos sindicatos, porque a preocupação dos sindicalistas se volta para a manutenção do emprego, qualificação profissional e melhores salários. No entanto, o que mais chamou a atenção da autora é um certo consenso, por parte dos sindicalistas, de que a greve não favorece mais os trabalhadores e de que o diálogo seria o mais conveniente.

Nessa perspectiva, Alves (2000) pondera que a postura dos sindicalistas é considerar o processo de terceirização inevitável, acreditando que, com pressão sindical, pode se estabelecer um tipo de terceirização não predatória, em que haja um relacionamento entre o

capital e trabalho do tipo “ganha – ganha”. Além disso, a estratégia do tipo “resistência conflitiva” contra a terceirização, por parte do sindicato, parece ser desprezada.

Para o autor,

[...] a luta sindical constitui um dos elos decisivos do movimento (e da luta) de classe, capazes de instaurar, a partir da produção, uma nova sociabilidade além da do capital. O que a prática sindical de participação tende a promover, no plano objetivo, é a “desconexão” do sindicalismo operário do movimento social da luta de classe, da contestação à ordem do capital no próprio campo da produção. (ALVES, 2000, p.324).

A ação sindical possui limites estruturais, sobretudo se permanecer no espaço da produção e não contribuir para o movimento social de contestação à lógica do capital, agora sob a mundialização do capital (ALVES, 2006).

195 Interessante essa afirmativa, quando pensamos nas trabalhadoras domiciliares que, exercendo suas funções em casa, tornam-se mais isoladas, do ponto de vista do contato com sindicatos ou com qualquer forma de organização do trabalhador, de maneira que, nesse caso, a atuação sindical não consegue chegar ao local de trabalho e/ou morada.

Segundo a Presidente do SINTRAVEST102, [...] não tem como ir atrás das

trabalhadoras que ficam em casa, muitas no sítio, a gente orienta esse trabalhador que ele pode responder lá na frente na justiça por tudo o que tá sendo feito. O nosso trabalho a gente faz que é de formação e esclarecimento, quem quer também vem atrás, cada cabeça sua sentença.

A sindicalista afirma que a maioria das trabalhadoras, com fação em casa,

funciona como “laranjas” para as indústrias, já que as máquinas de bordado são muito caras e,

por outro lado, o empresário pode conseguir alguma espécie de abatimento nos encargos sociais, ao transferir parte de sua produção para essas pequenas empresas. Contudo, isso se mostrou irreal, conforme observado em pesquisa de campo, pois as trabalhadoras domiciliares são as verdadeiras donas de suas máquinas de bordado e de costura e, na maioria dos casos, são microempresas informais e sem qualquer tipo de contrato de prestação de serviço com as indústrias.

Tal condição já seria um forte motivo para o sindicato acionar o Ministério Público, segundo o diretor do Sindicato das Costureiras de Cianorte103, pois se trata de um processo ilegal, ou seja, trabalhar de maneira informal e sem que essas microempresas ou fações estejam regularizadas, além de exercer a prestação de serviço sem qualquer contrato, torna a situação passível de autuação jurídica. O diretor ainda afirma que, em Cianorte, a informalidade atinge cerca de 2500 mil trabalhadores, porém, diferentemente de Terra Roxa, a informalidade do trabalho domiciliar se concentra nas tarefas de acabamento, como pregar botão, etiquetas – trabalhos manuais que não requerem, portanto, qualquer tipo de máquinas.