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3.4 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO TRABALHADOR IMIGRANTE

4.1.1 A Organização Internacional do Trabalho e suas Convenções

A OIT iniciou precisamente seu entusiasmo ao combate do trabalho forçado em 1930, com a adoção da Convenção sobre o Trabalho Forçado n.º 29, posteriormente em 1957 ela foi implementada pela Convenção n.º 105 sobre a abolição do trabalho forçado, servindo até hoje como instrumentos para a erradicação da escravidão no Brasil e nos demais países do mundo (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2015b).

Como ensina Marcio Tulio Viana (2006, p. 199), a Convenção n. 29 da OIT traz em seu texto os aspectos do trabalho forçado ou obrigatório, para posteriormente trazer sua definição como: ―todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo sob ameaça de qualquer penalidade e para o qual ele não se ofereceu de espontânea vontade‖.

―A amplitude dessa significação já apontava, desde aquele momento, a complexidade do tema, que abarca uma grande diversidade de condutas‖. Embora criada visando um bem maior e proporcionar uma integração dos mais diversos tipos de conduta pela generalidade do conceito, ela gerava complicações no que diz respeito à sua identificação nos casos concretos (REIS; NETO BARBOSA, 2013, p. 980).

Ademais, segundo Marcio Tulio Viana (2006, p. 199), já para a Convenção n. 105 da OIT é reiterado esses aspectos, porém se traz um caráter classificatório acerca do trabalho análogo ao de escravo, expondo:

a) como medida de coerção, ou de educação política ou como sanção dirigida a pessoas que tenham ou exprimam certas opiniões políticas, ou manifestem sua oposição ideológica à ordem política, social ou econômica estabelecida;

b) como método de mobilização e de utilização da mão-de-obra para fins de desenvolvimento econômico;

c) como medida de disciplina de trabalho; d) como punição por participação em greves;

e) como medida de discriminação racial, social, nacional ou religiosa.

Como caracteriza Priscila Martins Reis e Pedro Alves Barbosa Neto (2013, p. 980-981), a Convenção n.º 105 da OIT versa sobre a abolição do trabalho forçado, sendo impulsionada pelo pós Segunda Guerra Mundial, onde conteve um aumento considerável do número de trabalhadores expostos a essas condições. ―Essa convenção, nessa linha, veda o recurso ao trabalho forçado para fins de desenvolvimento econômico, educação política, discriminação, disciplinamento ou punição diante da participação em greves‖.

Nesse âmbito, concomitante a essas duas convenções, a Convenção n.º 138 sobre a Idade Mínima para Admissão ao Emprego e a n.º 182 sobre as Piores Formas de Trabalho Infantil se tornaram as convenções fundamentais da OIT, devendo ser preservadas e respeitadas pelos países mesmo que não tenham as ratificado, já que são amparadas pela Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2015b).

Os incentivos atuais da OIT para a erradicação do trabalho escravo se baseiam na procura pelo desenvolvimento dos mecanismos legais e das suas estruturas para a garantia e respeito das suas convenções fundamentais, como por exemplo, ―em meados do século passado, a OIT introduziu uma série de programas para encorajar a erradicação de formas servis de agricultura em países em desenvolvimento‖ (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2015b).

Não obstante as diversas denúncias de trabalho análogo à escravidão ao Comitê da OIT desde 1985, seu reconhecimento se deu apenas 10 anos depois. Apesar disso, o Brasil foi um dos países pioneiros a declarar internacionalmente a existência de escravidão contemporânea em seu território, como em 2004 que anunciou perante a ONU, ―a existência de um número estimado de 25 mil trabalhadores escravos no país‖ (SAKAMOTO, 2007, p.12).

Através disso, pelos esforços do Brasil em cumprir o determinado pelas Convenções nº 29 e 105 da OIT, o governo brasileiro e a OIT ―aprovaram o Projeto

de Cooperação Técnica Combate ao Trabalho Escravo no Brasil, que iniciou suas atividades em abril de 2002‖, tendo como intuito principal desenvolver uma ação conjunta e estimular as diversas instituições nacionais que defendem os direitos humanos (SAKAMOTO, 2007, p. 12).

Partindo desse pressuposto, Cintia Clementino Miranda e Lourival José de Oliveira (2010, p. 158), colaboram que:

Através dessa ação conjunta, o Brasil está se tornando uma referência na efetividade do combate ao trabalho forçado, ou trabalho análogo ao de escravo. Isso somente é possível combinando-se políticas públicas eficazes e a mobilização dos mais diversos setores da sociedade. Polícia Federal, Ministério do Trabalho e Emprego e Ministério Público do Trabalho estão engajados na mesma luta: proporcionar melhores condições de trabalho, assim como resgatar a dignidade de cada trabalhador, dignidade essa totalmente esquecida por muitos exploradores da mão-de-obra humana.

Os direitos do trabalhador imigrante não se limitam a essas convenções, eles devem ser respeitados e efetivados sempre, mesmo estando os trabalhadores imigrantes em situação irregular no país receptor. A convenção nº 97 da OIT de 1949 trata dos Trabalhadores Migrantes, sendo acrescida pela convenção nº 143 da OIT de 1975 que trata sobre "imigrações efetuadas em condições abusivas e sobre a promoção da igualdade de oportunidades e de tratamento dos trabalhadores migrantes" (MARTINS, 2009).

A Convenção nº 97 da OIT foi aprovada em Genebra em 1949 e entrou em vigor em 1952, porém foi ratificada pelo Brasil apenas em 1965. Essa convenção é mais um mecanismo de combate ao trabalho em condições análogas à de escravo dos imigrantes por todo o mundo, o país membro que ratifica seus termos possui o dever de ―manter um serviço gratuito adequado incumbido de prestar auxílio aos trabalhadores migrantes e, especialmente de proporcionar-lhes informações exatas ou assegurar que funcione um serviço dessa natureza‖ (SUSSEKIND, 1998, p. 338).

Sua proteção se estende ao dever de comunicação entre os Estados membros e a repartição internacional sempre que requerido, sobre a política, a legislação nacional referente à imigração e emigração, as condições de trabalhado e de vida desses trabalhadores e os entendimentos dos países sobre a matéria (SUSSEKIND, 1998, p. 338).

Ademais, já a Convenção nº 143 da OIT, estimando o respeito à Constituição da OIT ao qual defende os direitos dos trabalhadores empregados no

estrangeiro, prevê o dever aos membros de respeitar os direitos fundamentais do homem de todos os trabalhadores migrantes e de combater e erradicar efetivamente o trabalho degradante ou análogo ao de escravo desses migrantes (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2015c).

Apesar de o Brasil ainda não ter ratificado a Convenção nº 143 da OIT que versa sobre as medidas protetivas dos trabalhadores imigrantes irregulares nos países, ele tem o dever de assegurar todos os direitos fundamentais a esses trabalhadores, não podendo privilegiar a má-fé do empregador que submete o imigrante a condições degradantes de trabalho (VILLELA, Fabíola., 2012).

A OIT através de suas convenções objetiva garantir tanto aos países de imigração como os de emigração as ferramentas adequadas para controlar os fluxos migratórios e proporcionar todo um aparato aos trabalhadores que muitas vezes são vítimas de exploração e de violação aos direitos humanos. Dessa forma Osvaldo Ferreira de Carvalho (2015, p. 7472-7474) conceitua a convenção nº 97 de Trabalhadores migrantes e a convenção nº 143 de Migrações em Condições Abusivas e à Promoção da Igualdade de Oportunidades e de Tratamento dos Trabalhadores Migrantes, expondo que:

2.1 Convenção n. 97 – Trabalhadores Migrantes

Adotada pela Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho na sua 32ª sessão, em Genebra a 01/07/1949 - revista em 1949, teve a sua entrada em vigor na ordem internacional em: 22/10/1952 – no Brasil foi aprovada pelo Decreto Legislativo no. 20 de 1965, ratificada em: 18/06/1965, e promulgada pelo Decreto no. 58.519 de 14/07/1966.

[...]

2.1.1 Proteções: Manter um serviço apropriado de informação e apoio

gratuito para os migrantes; Tomar todas as medidas pertinentes contra a propaganda sobre migração que possa induzir ao erro; Estabelecer, quando considerar oportuno, disposições com o objetivo de facilitar a saída, a viagem e o recebimento dos trabalhadores migrantes; a manter serviços médicos apropriados; a permitir a transferência das economias dos trabalhadores migrantes (remessas); proíbe a expulsão dos migrantes admitidos de maneira permanente, no caso de doença ou acidente que o incapacite de exercer seu ofício; igualdade de oportunidades e de tratamento dos trabalhadores migrantes, em condição regular, relativamente aos nacionais, incluindo questões de: remuneração, jornada de trabalho, idade de admissão no emprego, trabalho infantil e de mulheres, direitos sindicais, seguridade social, impostos e outros previstos na legislação trabalhista do país.

2.2 Convenção n. 143 - Migrações em Condições Abusivas e à Promoção da Igualdade de Oportunidades e de Tratamento dos Trabalhadores Migrantes

Adotada pela Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho na sua 60ª sessão, em Genebra, a 24 de Junho de 1975, entrada em vigor na ordem internacional: 09 de Dezembro de 1978, não foi ratificada pelo Brasil, atualmente 18 países ratificaram. Em 18/08/2008 a Comissão

Tripartite de Relações Internacionais (Conselho Nacional de Imigração, Ministério do Trabalho e Emprego e o Escritório da Organização Internacional do Trabalho) aprovou com consenso entre governo, trabalhadores e empregadores o encaminhamento da Convenção nº 143 da Organização Internacional do Trabalho para o Congresso Nacional ratificar. [...]

A Convenção no . 143 da OIT trata da igualdade de oportunidade e tratamento dos imigrantes estrangeiros em relação aos trabalhadores do país de recepção, especialmente em relação a emprego e profissão. O seu artigo 1º estabelece que ―todo Membro para o qual a presente Convenção esteja em vigor compromete-se a respeitar os direitos humanos fundamentais de todos os trabalhadores migrantes‖. Este artigo faz referência aos direitos humanos fundamentais contidos nos instrumentos da Organização das Nações Unidas, em matéria de direitos humanos, que inclui alguns dos direitos fundamentais dos trabalhadores. Essa Convenção contém, ainda, disposições destinadas a garantir aos trabalhadores migrantes um nível mínimo de proteção, mesmo que tenham imigrado ou que tenham sido contratados de maneira irregular.

Ressalta-se que em virtude da criação da Declaração sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho de 1998 da OIT todos os países mesmo que não tenham ratificado, devem respeitar os princípios e direitos enunciados em seu fundamento, devendo também ser efetivados em todos os Estados (REIS; NETO BARBOSA, 2013, p. 980).

Embora ainda se encontrem diversas fontes de efetivação das normas internacionais do trabalho, a OIT também serve como meio para verificar o cumprimento dessas normas no âmbito interno de cada Estado, detectando aspectos relevantes a fim de contribuir com o sistema de controle (REIS; NETO BARBOSA, 2013, p. 986).

Nos casos em que o Brasil não respeita os direitos fundamentais dispostos na CRFB/88 e nas convenções internacionais de direitos humanos aqui já apontadas, é necessário refletir sobre os compromissos estatais, afinal seu apoio e cumprimento das normas são essenciais para o combate ao trabalho análogo ao de escravo, podendo atuar o Estado com severas sanções e eliminar seguimentos de interesse econômico ou particular, tornando a exploração do trabalho uma opção não rentável e inviável (NASCIMENTO, 2015, p. 18).

De modo que, o Estado quando incentiva o desenvolvimento econômico e investe em políticas de fiscalização do trabalho, concede aos trabalhadores suas garantias fundamentais, criando melhores oportunidades e disponibilizando ao trabalhador a opção de não se submeter mais a condições não dignas de trabalho. Afinal, ―o Estado Brasileiro tem o dever de atender e cumprir as normas de Direito

Internacional em que foi parte celebrante (como signatário, v.g.)‖ (NASCIMENTO, 2015, p. 18).

4.1.2 A Organização das Nações Unidas e seus tratados

A Organização das Nações Unidas é uma organização internacional estabelecida em 1945, pós-segunda guerra mundial, e formada por diversos Estados com o intuito de promover a paz e o desenvolvimento sustentável mundial. Acompanhada com o seu surgimento, criou-se a Carta da ONU estipulando seis idiomas oficiais, o inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo, e também seis órgãos que trabalhariam diretamente com a organização, a Corte Internacional de Justiça, o Secretariado, Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho de Tutela e o Conselho Econômico e Social (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015).

As atribuições da ONU são de extrema importância para a população em todo o mundo, uma vez que atua em inúmeras frentes, entretanto carece de reparos em sua estrutura para fortalecer ainda mais suas ações e gerar maior visibilidade perante a humanidade. Importante ressaltar que sua atuação se expande com iniciativas tanto em países desenvolvidos como em subdesenvolvidos, atendendo crianças, mulheres, minorias, entre outros (FREITAS FILHO, 2006).

Na visão de Fábio Konder Comparato (2010, p. 226-230), a ONU se diferencia da Sociedade das Nações, da mesma forma que a Segunda Guerra Mundial se distingue da Primeira, é uma organização amparada por todas as políticas mundiais interessadas em garantir a dignidade da pessoa humana, entretanto articula que:

Já no que concerne à tarefa da ONU de manter a paz e a segurança internacionais, a qual constitui o primeiro dos propósitos e princípios da Organização, é forçoso reconhecer que ela tem sido descumprida em razão da estrutura oligárquica do Conselho de Segurança. Onde os membros permanentes têm o poder de veto. Além disso, uma das principais atribuições do órgão, a saber, a de formular ―os planos a serem submetidos aos membros das Nações Unidas, para o estabelecimento de um sistema de regulamentação dos armamentos‖ (art. 26), nunca foi levada a sério, pois ela se choca com os interesses nacionais das grandes potências.

Compreende-se que os objetivos da ONU não são de transformação na economia dos países subdesenvolvidos e sim prover condições mínimas para o seu

desenvolvimento humanitário, preservando sempre seus aspectos culturais, servindo como maior exemplo atual a intervenção no Haiti. O Brasil também é progressivamente amparado pela organização por programas sociais de incentivo, porém o continente mais auxiliado é o africano ao qual, muitas vezes, são as únicas alternativas da população para serviços básicos (FREITAS FILHO, 2006).

Ademais, em 1948 a ONU aprovou a Declaração Universal dos Direitos do Homem representando a concepção dos direitos humanos no âmbito internacional a toda população mundial. ―Daí afirmar-se que marca um ponto decisivo na história do reconhecimento e proteção dos direitos fundamentais‖ (SCHIAVON, 2006, p.172).

Para Marcos Leite Garcia (2010, p. 288), a Declaração Universal dos Direitos do Homem conduz algumas considerações sobre a essência em que os direitos humanos devem ser empregados em nossa sociedade, no entanto, expõe que:

Certamente a Declaração de 1948 é o documento da Comunidade Internacional que tem a pretensão de estipular o compromisso público da humanidade contra a força bruta dos déspotas e dos assassinos, a intolerância dos fanáticos, o ferro dos torturadores, as frias pedras do cárcere injusto etc. Infelizmente com posterioridade a sua proclamação, não somente as guerras serão constantes, como seguiram as limpezas étnicas, as perseguições por motivos religiosos, políticos ou meramente culturais, e também apareceram novas formas de violações sistemáticas dos direitos, como o desaparecimento forçado de pessoas, assim como se renovaram e se aperfeiçoaram antigas formas como a tortura. O mais duro é perceber que se analisarmos a história recente dos chamados países periféricos ou subdesenvolvidos, veremos que ditas violações sistemáticas dos direitos humanos muitas vezes foram perpetradas com o apoio expresso ou tácito, e até com ajuda operativa, dos chamados países centrais desenvolvidos e considerados democráticos.

No geral, a Declaração Universal dos Direitos do Homem é uma sugestão de conduta aos membros da ONU, não possuindo então força vinculante. Logo, ―a Comissão de Direitos Humanos concebeu-a, originalmente, como uma etapa preliminar à adoção ulterior de um pacto ou tratado internacional sobre o assunto‖ (COMPARATO, 2010, p. 238-239).

No texto da Declaração ela estipula notoriamente os direitos humanos e fundamentais do homem, incluindo a dignidade humana e do trabalho, ou seja proíbe e combate também a escravidão e o tráfico de pessoas pois ―toda pessoa

tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, condições justas e favoráveis de trabalho e, ainda, proteção contra o desemprego‖ (NASCIMENTO, 2015, p. 7-8).

Segundo Nestor Sampaio Penteado Filho (2012, p. 180) as principais características da Declaração da ONU são:

Não possui natureza jurídica de tratado ou convenção internacional, mas, sim de resolução da ONU, valendo como uma recomendação de princípios; universalidade de direitos (aceitação de valores e princípios comuns pelos homens); indivisibilidade de direitos humanos (direitos civis + políticos + sociais e econômicos); inseriu o indivíduo como sujeito de direitos na ordem internacional; propiciou a formação do Sistema Global de Direitos Humanos.

Embora todos esses aspectos ressaltados, é incontroverso que ―a Declaração de 1948 representou a culminância de um processo ético‖ que gerou a equivalência dos direitos essenciais a todos os seres humanos e principalmente a dignidade a todas as raças, cores, sexos, religiões, origens, entre outros (COMPARATO, 2010, p. 240).

Embora a criação da ONU tenha se dado apenas em 1945, em 1926 a Liga das Nações Unidas legitimou a Convenção de Genebra sobre a escravidão e o tráfico de escravo com o intuito principal de aniquilar esse tipo de exploração e de violação aos direitos humanos por todo o mundo. No entanto, nem todos os objetivos foram alcançados, pois para os países era mais importante antes ―não perder de vista a necessidade de manter a ordem e de assegurar o bem-estar das populações interessadas‖ (COMPARATO, 2015).

Essa convenção tratava sobre a escravidão e ao tráfico de escravos, tendo o desígnio de dar continuidade aos passos do Ato Geral da Conferência de Bruxelas. Entretanto, não concretizou seus objetivos, pois não impediu o tráfico de escravos, podendo-se dizer que o documento não funcionava na prática, pois era flexível com a escravidão, dispondo a aboli-la de forma gradativa ―e assim que possível‖ (NASCIMENTO, 2015, p. 6-7).

Outrossim, o Brasil também é amparado pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos capaz de proteger os Direitos básicos de toda a população através da internacionalização dos Direitos Humanos, servindo como um mecanismo de proteção. Esse sistema foi criado pela Convenção Americana de Direitos Humanos em San José, na Costa Rica em 1969 e ratificada pela maioria dos países da América (BOLFER, 2007, p. 622).

A Convenção Americana de Direitos humanos garante uma série de direitos básicos em seu texto como o direito à vida, à nacionalidade, à integridade pessoal, à proteção judicial, à proibição da escravidão, entre outros. Nesse contexto, ela ―prevê um forte aparato de acompanhamento e implantação dos direitos que revela‖ estabelecida pela Comissão e Corte Interamericana de Direitos Humanos (PENTEADO FILHO, 2012, p. 201-202).

De acordo com Nestor Sampaio Penteado Filho (2012, p. 202), são elementos da Comissão Interamericana de Direitos Humanos:

Objetiva promoção dos direitos humanos e sua respectiva proteção; expede recomendações aos governos dos Estados-partes para efetivamente, adotarem as medidas adequadas, bem como solicitar informações, relatórios etc.; é composto por 7 comissários eleitos, a título pessoal para um mandato de 4 anos, renovável uma vez, desde que oriundos de países da OEA. Os 7 Comissários não representam seus países de origem e tampouco mantêm qualquer vínculo governamental com aqueles; assume dupla competência: recebe as petições [...] que relatem violações de direitos humanos e elabora relatórios variados sobre a situação de direitos humanos nos países signatários [...]; no aspecto processual, a Comissão Interamericana, ao receber uma petição deverá analisar seus requisitos formais de admissibilidade: prévio esgotamento dos recursos internos (salvo demora processual injustificada), inexistência de litispendência internacional, a petição deve ser formulada no prazo de 6 meses a partir da data em que a vítima seja notificada da decisão definitiva [...], bem como no mérito, a demonstração ou comprovação de violação de direitos humanos tutelados em tratados internacionais.

Todavia, já a Corte Interamericana de Direitos Humanos tem o intuito de consagrar e elucidar a Convenção Americana de Direitos Humanos e outros tratados que assegurem esses direitos, ela é composta por 7 juízes, exerce competência contenciosa e consultiva e seus idiomas oficiais são o inglês, espanhol, português e francês (PENTEADO FILHO, 2012, p. 203).

A ONU instituiu ainda a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 com a pretensão de traçar normas de proteção aos direitos humanos desses indivíduos que na maioria das vezes são marginalizados, compreendendo como refugiado o sujeito que é ―perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, estando fora de seu país e a ele não podendo retornar em função desse temor‖ (PENTEADO FILHO, 2012, p. 200).

O maior obstáculo que se observa em questão dos refugiados é a violação dos direitos humanos, os quais teriam que ser preservados até mesmo antes do processo de asilo ou refúgio. O Brasil tendo ratificado essa convenção

internacional, tem o dever de efetivá-lo por determinação do art. 5º, §2, da CRFB/88 (SAADEH; EGUCHI, 2015).

Todavia, como observou Giuliana Redin (2013, p. 82-83), os trabalhadores migrantes são melhores amparados pela legislação internacional, as ferramentas utilizadas pelos não cidadãos costumam gerar mais resultados, ―bem como por instrumentos concernentes a direitos econômicos e sociais, do que no âmbito das minorias tradicionais‖.

No Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), a Argentina e o Uruguai tem se tornado referência e tendo destaque perante os outros países membros na evolução da legislação acerca dos imigrantes. A Argentina elucida uma nova definição sobre a imigração, assegura aos imigrantes o direito a estudo, a saúde, a justiça, ao trabalho, à seguridade social, ao voto em eleições municipais, entre outros, e impõe menos exigências ao imigrante oriundo do próprio MERCOSUL, ficando o Brasil e os outros países membros bem atrás nas garantias dos direitos humanos fundamentais dos imigrantes (ZAMBERLAM, 2004, p. 26).