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3.2 TRABALHO ESCRAVO: ONTEM E HOJE

3.2.1 Definição e Aspectos Históricos do Trabalho Escravo

O homem na história desde a antiguidade sempre trabalhou, seja na caça para conseguir seu alimento ou na construção de armas para defender seu território. Com o passar do tempo, em busca sempre do seu interesse próprio, verificou que em vez de liquidar seus oponentes em batalha, era mais oportuno deixa-los vivos e escraviza-los para gozar do seu trabalho. Ainda na visão de Sedagas Vianna (2005, p. 27):

Os mais valentes e os chefes, que faziam maior número de prisioneiros, não podendo utilizar a todos em seu serviço pessoal, passaram a vendê-los, trocá-los ou alugá-los. Aos escravos eram dados os serviços manuais exaustivos, não só por essa causa como, também, porque tal gênero de trabalho era considerado impróprio e até desonroso para os homens válidos e livres. A escravidão entre os egípcios, os gregos e os romanos atingiu grandes proporções. Na Grécia havia fábricas de flautas, de facas, de ferramentas agrícolas e de móveis, onde o operariado era todo composto de escravos. Em Roma os grandes senhores tinham escravos de várias classes, desde os pastores até gladiadores, músicos, filósofos e poetas. O trabalho escravo é um regime imposto extremamente antigo na história da humanidade, ocorrendo desde os primórdios como instrumento de dominação entre o mais forte e o mais fraco, como nas guerras enfrentadas entre as diversas nações. Podem-se destacar vestígios desde o Velho Egito, passando pela Grécia e

Roma, a escravidão sempre esteve presente e é uma realidade encontrada até hoje em nossa sociedade (PALO NETO, 2008, p. 18).

No decurso de todas essas décadas, como ensina Ronaldo Lima dos Santos (2003), os primeiros avanços no combate ao trabalho escravo tiveram origem no Cristianismo:

Com o advento do cristianismo, a escravidão fora amenizada por influência dos pensamentos religiosos de igualdade, fraternidade e solidariedade. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, embora não condenassem diretamente a escravidão, reclamavam tratamento digno e caridoso para os escravos. Em 366 a.C, decretou-se por Lei a proibição da escravidão por dívidas, após a escravidão foi abolida.

Na visão de Vito Palo Neto (2008, p. 33), na idade média algumas regiões da Europa insistiram em se manter escravistas, como o Sul da Itália, a Espanha e Portugal, dando-se início as grandes navegações e a novas relações com os demais continentes como o Africano e o Americano. Ademais, Portugal estava ligado diretamente a novas conquistas, além das marítimas, substituindo sua mão de obra por escravos oriundos da África.

Ademais, a Inglaterra foi o primeiro país, apesar de se encontrar com novos ideais e ser beneficiada com o tráfico negreiro, que aboliu a escravidão e iniciou uma grande motivação e apoio aos países para que também seguissem seus passos, visando sempre seus novos interesses provenientes da Revolução Industrial e do seu crescimento econômico (SENTO-SÉ, 2001, p.32).

Do ponto de vista de Vito Palo Neto (2008, p. 30):

No século XVIII, surge na Inglaterra importante movimento histórico, denominado Revolução Industrial, que influenciou de forma direta e indireta modificações no sistema de trabalho em todo o mundo, fazendo com que a mão de obra da zona rural migrasse para as cidades que começaram a se formar, ocasionando aos poucos o fim do sistema feudal. A revolução industrial caracteriza-se pela passagem da manufatura para maquinofatura. Este novo sistema transforma as relações sociais e cria duas novas classes sociais: a dos empresários (capitalista), proprietários de capitais, prédios, máquinas, matérias primas e a dos operários, proletários ou trabalhadores assalariados, que possuíam apenas força do seu trabalho.

De forma que a economia proeminente agrária, fortificada pelo regime escravista, foi transformada pela Revolução Industrial, deu-se início no sistema produtivo capitalista baseado em uma economia de mercado. Logo, serviu como pontapé inicial para o fim do sistema escravista, porém sem mudar as condições dos

trabalhadores, que estão coligados a raras ofertas de trabalho e péssimas condições laborais, o que casou a disputa entre classes (VILLELA, Fábio., 2015, p. 3).

Neste sentido, Lívia Mendes Moreira Miraglia (2015, p. 128), ensina que ―no início do processo de colonização, havia necessidade dos portugueses conhecerem a terra, a fim de explorar seus recursos naturais, o que o fez utilizar a mão de obra indígena‖. Para despertar o interesse dos índios e criar laços de amizade, os Portugueses em troca da exploração dos recursos naturais e da terra ofereciam objetos de pouco valor aos índios, que deslumbravam por ser algo extremamente novo e diferente. No entanto, essa troca não perdurou muito e os Portugueses viram-se obrigados a escraviza-los para manter sua exploração.

Ainda na opinião de Lívia Mendes Moreira Miraglia (2015, p. 128):

Os índios, no entanto, não se mostraram bons escravos, seja pela fraca densidade demográfica da população, seja pela dizimação provocada pelas doenças trazidas pelos colonizadores, seja pela evasão dos indígenas – grandes conhecedores das terras virgens - a fim de escapar do trabalho escravo. Os nativos exerciam o trabalho de corte e transportes de pau-brasil para os portos e depois foram utilizados nas pequenas lavouras que surgiram posteriormente. Por questões econômicas e religiosas, com passar do tempo a escravidão indígena foi desaparecendo. Os jesuítas colaboravam de sobremaneira para a não escravização indígena.

Outro aspecto que contribuiu ainda mais para que não se investisse na escravidão indígena é a questão econômica, pois ela não gerava grandes lucros ao mercado como a escravidão negra africana que dependia diretamente dos fluxos marítimos, arrecadando muita riqueza através dos impostos exigidos por Portugal (SCHWARZ, 2008, p. 97).

―Com a consolidação do sistema capitalista, ao longo do século XIX, os ideais escravagistas brasileiros mostraram-se incompatíveis com a realidade mundial emergente‖. Consequência esta do sistema capitalista que estava cada vez mais se fortificando em todo mundo, exigindo um trabalho livre para o aumento dos lucros e da produção, gerando a estabilização do mercado (SCHWARZ, 2008, p. 86).

Em 1888 a Princesa Isabel aboliu o regime escravista do Brasil, afirmando Jairo Lins de Albuquerque Sento-Sé (2001, p. 40) que:

Apesar de se discutir até hoje este ato realmente teve condão de expungir a escravidão, sob o ponto de vista formal esta lei a sepultou de maneira definitiva da realidade jurídica nacional. A partir daí, o escravo deixou de ser

propriedade de outro homem, tendo a sua liberdade proclamada e readquirindo a condição de pessoa humana.

Em 1850 com ameaças oriundas da Inglaterra, o Brasil aprovou a Lei n. 581 conhecida como a Lei Euzébio de Queiroz que proibia o tráfico interatlântico de escravos em embarcações brasileiras. Apesar disso, o tráfico continuou e se propagou de forma clandestina em todo país. (SCHWARZ, 2008, p.103).

Importante destacar que o Brasil apesar de ter aprovado todas essas leis para libertar os escravos, ele não se preocupou em sancionar leis ou normas que integrassem esses trabalhadores oprimidos na sociedade. Com isso, levou a maioria destes escravos voltarem a suas condições de origem, visto que eram obrigados a trabalhar muitas vezes apenas por um prato de comida, para ter onde dormir ou para pagar suas dívidas que contraíram ao serem livres (MIRAGLIA, 2015, p.128).

Outro ensinamento de Rodrigo Garcia Schwarz (2008, p.89):

Essas conquistas do regime escravista na Antiguidade foram, de fato, proporcionadas pela dinâmica da escravidão. O nível de desenvolvimento das forças produtivas era tão baixo que somente através da movimentação coercitiva do trabalho físico de grandes massas de trabalhadores, o caminho do progresso na Antiguidade, sob a dinâmica do escravismo, todavia, fez inúmeras vítimas, e, como já afirmamos, deixou vestígios, para a humanidade, que subsistem no tempo, inclusive após a sua desaparição como sistema socialmente aceito. No entanto, se o sistema progrediu à custa do escravismo, a sua própria manutenção passou a albergar contradições. Dessa, forma, a transição do trabalho escravo para o trabalho livre ocorreu de forma lenta e gradual, não tendo significado o fim da escravidão em termos absolutos, visto que os proprietários ainda detinham de alguma forma o controle sobre aqueles que trabalhavam em sua propriedade.

Nesse contexto, apesar de abolida no Brasil, a escravidão ainda persiste até os dias de hoje em diversas formas, não existindo apenas uma corrente que elucide o que é trabalho escravo atualmente, só no Brasil existem mais de vinte definições, sendo as mais populares: ―escravidão branca‖, ―escravidão negra‖, ―senzala amazônica‖, ―super exploração do trabalho‖, ―escravidão por dívida‖, ―trabalho em condições subumanas‖ e ―trabalho degradante‖, seriam sinônimos, ―escravidão contemporânea‖, ―trabalho em condições análoga à de escravo‖ (SENTO-SÉ 2001, p. 16).

Os aspectos históricos acima abordados demonstram que o trabalho conforme o passar dos séculos foi proporcionando uma maior positivação da dignidade da pessoa humana. ―O direito ao trabalho, enquanto direito social previsto

na nova ordem constitucional, pressupõe a ideia de trabalho digno‖, apesar de existir até hoje graves violações a esse direito, é inevitável notar sua evolução, e a supremacia da dignidade da pessoa humana (VILLELA, Fábio., 2015, p. 5).