• Nenhum resultado encontrado

4.2 APARATO NACIONAL DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

4.2.1 Legislação brasileira aplicável aos estrangeiros e imigrantes

No art. 5º, I, da CRFB/88 se prevê o princípio da igualdade de tratamento, no qual se aplica ―aos brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil‖, garante, no entanto apenas direitos aos estrangeiros que possuam situação jurídica regular no país, ―com estatuto de residente, e não aos que venham em imigração voluntária e clandestina, ou, como mais comumente ocorre, sejam trazidos por empresas‖ (CARELLI, 2007, p. 1-2).

Por conseguinte, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), apresenta argumentos acerca do trabalho de imigrantes/estrangeiros em nosso país, resguardando em seu contexto os postos de trabalho aos brasileiros, como a redação do art. 352 ―que impõe a manutenção de no mínimo 2/3 (dois terços) de trabalhadores brasileiros em cada empresa, bem como os dispositivos seguintes no mesmo capítulo‖. Importante destacar que essas normas não tem a pretensão de tratar de forma desigual os trabalhadores imigrantes dos brasileiros, mas sim garantir estabilidade e valorização dos trabalhadores brasileiros em seu próprio território nacional (CARELLI, 2007, p. 1-2).

O art. 359 da CLT declara que ―nenhuma empresa poderá admitir a seu serviço empregado estrangeiro sem que este exiba a carteira de identidade de estrangeiro devidamente anotada‖, ou seja nenhuma empresa poderá contratar trabalhadores imigrantes em situações irregulares no país (BRASIL, 1943).

Já no Código Penal, o art. 149 e o art. 207 trazem sua redação voltada ao trabalho análogo ao de escravo no Brasil, determinando o art. 149 uma pena de dois a oito anos e multa, além da pena pela violência imposta no caso de reduzir alguém a essas condições degradantes de trabalho. Ademais o art. 207 do Código Penal elenca que:

Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional:

Pena - detenção de um a três anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)

§ 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998)

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998) (BRASIL, 1940).

Ademais, o Código Civil resguarda os trabalhadores responsabilizando o empregador ou o comitente por seus empregados no exercício de suas funções, devendo ele ter o cuidado e a diligência, sob pena de responder solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, com base no art. 932, 1.011 e 1.016 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Os arts. 187 e 927, também do Código Civil, que tratam sobre a responsabilidade civil vem a colaborar com os trabalhadores que sofrem um abuso

de direito por parte do empregador, gerando um dever de reparar ou/e indenizar (BRASIL, 2002).

Ademais, a Proposta de Emenda à Constitucional (PEC) n.º 438, conhecida como a PEC do trabalho escravo, foi apresentada em 1999 ao Senado Federal com o principal intuito ―de regular a expropriação das terras onde fosse localizado o trabalho escravo, aumentando o rol do artigo 243 da Constituição Federal‖. No entanto, sua tramitação durou anos até se promulgar em 2014 a Emenda Constitucional n.º 81 (REIS; PAIVA, 2015).

No dia 05 de junho de 2014, foi promulgada a Emenda Constitucional nº 81, cujo principal intuito foi de alterar o artigo 243 da CRFB/88 para prever a expropriação de propriedade urbana ou rural como penalidade à exploração do trabalho escravo, dispondo que:

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 81, DE 5 DE JUNHO DE 2014 Dá nova redação ao art. 243 da Constituição Federal.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art.60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

Art. 1º O art. 243 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º.

Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei." (NR)

Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação. (BRASIL, 2014).

Evidencia-se que a Lei nº 7798/90, conhecida como Lei do Seguro Desemprego que instaurou o Fundo de Amparo ao Trabalhador, traz em seu artigo 2ºC um amparo ao trabalhador que se encontra submetido a condições análogas à de escravo, em função das fiscalizações do Ministério do Trabalho e Emprego será resgatado dessas condições e terá direito à percepção de três parcelas de seguro- desemprego no valor de um salário mínimo cada conforme o disposto em lei (BRASIL, 1990).

A Instrução Normativa n° 91, de 05 de outubro de 2011, dispõe sobre a fiscalização para a erradicação do trabalho em condição análoga à de escravo no

Brasil impondo medidas para que seja efetiva e coíba essa violação aos direitos humanos fundamentais e a dignidade da pessoa humana, pontuando em seu artigo 1º que é dever do Auditor Fiscal realizar essa fiscalização e garantindo esse direito também aos imigrantes e estrangeiros pelo art. 2º da instrução normativa (BRASIL, 2011).

A Lei nº 11.961, de 2 de julho de 2009, dispõe sobre a oportunidade de residência provisória para o estrangeiro em situação irregular no território brasileiro, devendo o imigrante que possuir interesse encaminhar o pedido para o Ministério da Justiça afim de realizar sua Carteira de Identidade de Estrangeiro, possuindo prazo de validade de 02 anos, podendo essa situação provisória se transformar em permanente se requerido pelo imigrante a 90 dias antes do término da residência provisória e comprovado os incisos do art. 7º da Lei 11.961 que expõe:

Art. 7o No prazo de 90 (noventa) dias anteriores ao término da validade da CIE, o estrangeiro poderá requerer sua transformação em permanente, na forma do regulamento, devendo comprovar:

I - exercício de profissão ou emprego lícito ou a propriedade de bens suficientes à manutenção própria e da sua família;

II - inexistência de débitos fiscais e de antecedentes criminais no Brasil e no exterior; e

III - não ter se ausentado do território nacional por prazo superior a 90 (noventa) dias consecutivos durante o período de residência provisória (BRASIL, 2009).

Por fim, outro amparo aos imigrantes no Brasil é a Resolução Normativa nº 93, de 21 de dezembro de 2010, que dispõe sobre a concessão de visto permanente ou permanência no país a estrangeiro considerado vítima do tráfico de pessoas, esse tipo de permanência é condicionada a um ano, podendo ser prorrogada dependendo de cada caso e ser estendida também a toda família da vítima. Define a lei que essa exploração através do tráfico de pessoas pode ser desde sexual, bem como na remoção de órgãos e até a escravidão no trabalho, sendo capaz de ser concedida mesmo aos estrangeiros em condições migratórias irregulares no país (BRASIL, 2010).

Logo, denota-se que não existe uma legislação brasileira que versa exclusivamente sobre o trabalho escravo e as normas existentes acabam não alcançando um resultado satisfatório, sendo um problema de grande relevância na sociedade atual.