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O trabalho de imigrantes no Brasil em condições análogas à escravidão e as medidas adotadas para sua erradicação e garantia dos direitos humanos fundamentais

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DANIEL LUIZ PITZ

O TRABALHO DE IMIGRANTES NO BRASIL EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À ESCRAVIDÃO E AS MEDIDAS ADOTADAS PARA SUA ERRADICAÇÃO E GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS

Palhoça 2015

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DANIEL LUIZ PITZ

O TRABALHO DE IMIGRANTES NO BRASIL EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS A ESCRAVIDÃO E AS MEDIDAS ADOTADAS PARA SUA ERRADICAÇÃO E GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. João Batista da Silva, MSc.

Palhoça 2015

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

O TRABALHO DE IMIGRANTES NO BRASIL EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À ESCRAVIDÃO E AS MEDIDAS ADOTADAS PARA SUA ERRADICAÇÃO E GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 09 de novembro de 2015.

_____________________________________

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Dedico este trabalho para todas as pessoas que contribuíram para a sua realização, mas principalmente a todos os trabalhadores imigrantes submetidos a condições análogas à escravidão, vítimas de estigmatização e preconceito

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AGRADECIMENTOS

Foram cinco anos de muito estudo, trabalho e dedicação, para então alcançar minhas metas e meus sonhos no curso de Direito. Este trabalho consistiu em mais uma etapa vencida, e para sua realização não foram poucas as pessoas a quem devo dedicar e agradecer.

Em primeiro lugar agradeço a Deus por ter me concedido saúde e vitalidade para poder chegar nesse momento hoje.

Agradeço também a minha família, meus pais Osmar José Pitz e Raquel Portela Pitz e ao meu irmão Vitor Felipe Pitz por toda confiança, educação e amparo que me deram ao longo de toda a minha vida.

Dedico um agradecimento especial a Renato Campos Vieira que com muito carinho dedicou tempo, confiança e solidariedade nos tempos difíceis, em especial também ao meu orientador Prof. João Batista que durante todo o tempo esteve ao meu lado, acreditando e ensejando força e coragem para eu concluir essa etapa com êxito.

Não posso deixar de agradecer a minha chefe e professora, Doutora Ângela, que me acolheu no período de estágio no Banco do Brasil, acreditando no meu potencial, me deixando partilhar todas as dúvidas, angustias e principalmente me passando suas experiências profissionais e de vida.

E por último, porém não menos importante, agradeço a todos meus amigos e colegas que fazem minha vida ser completa, em especial a Séfora, Francielle, Simone, Bruna, Fabiana, Bárbara, Jonatan, Matheus e Thayse. Obrigado por tudo!

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RESUMO

O presente trabalho monográfico tem por objetivo verificar as medidas tomadas para erradicar o trabalho análogo ao de escravo de imigrantes no Brasil e garantir seus direitos humanos fundamentais. Embora muitos acreditem que a prática do trabalho escravo se restringe ao passado, sua causa ainda persiste nos dias de hoje através dos efeitos da globalização, onde geralmente grandes empregadores em busca de mão de obra barata no país, utilizam do estado de fragilidade dos imigrantes, que se encontram muitas vezes em situações migratórias irregulares, para explorá-los através do seu trabalho. Quando tratamos do trabalho escravo, estamos nos referindo a diversas pessoas que são forçadas a laborar em condições degradantes que desrespeitam principalmente os direitos humanos. Para a estruturação da pesquisa utiliza-se o método de abordagem dedutivo, tendo em vista que partiu de uma premissa geral, a natureza da pesquisa é qualitativa, com método de procedimento monográfico e técnica de pesquisa bibliográfica. Ademais, o trabalho culmina com a conclusão, asseverando que é necessário que o governo brasileiro implante medidas mais rígidas de combate e que torne efetivas as convenções e tratados internacionais pertinentes, pois a exploração de imigrantes no Brasil está correlacionada à ausência de políticas públicas adequadas que proporciona a situação de vulnerabilidade social a milhares de imigrantes.

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LISTA DE SIGLAS

CONATRAE - Conselho Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 EUA – Estados Unidos da América

GEFM - Grupo Especial de Fiscalização Móvel IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IED - Investimento Estrangeiro Direto

MERCOSUL - Mercado Comum do Sul MTE – Ministério do Trabalho e Emprego MPT – Ministério Público do Trabalho MPF – Ministério Público Federal

OIT – Organização Internacional do Trabalho OMC - Organização Internacional do Comércio ONU – Organização das Nações Unidas

PEC - Proposta de Emenda à Constitucional SRF - Secretaria da Receita Federal do Brasil STF – Supremo Tribunal Federal

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 9

2 O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO... 11

2.1 ASPECTOS GERAIS... 11

2.2 GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA... 14

2.2.1 A Organização Internacional do Trabalho e seus aspectos históricos. 19 2.2.2 A Organização Mundial do Comércio... 21

2.3 A GLOBALIZAÇÃO NOS ASPECTOS JURÍDICOS... 24

3 O TRABALHO ESCRAVO E A IMIGRAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS... 27 3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS... 27

3.1.1 Antecedentes históricos dos Direitos Humanos... 29

3.2 TRABALHO ESCRAVO: ONTEM E HOJE... 31

3.2.1 Definição e Aspectos Históricos do Trabalho Escravo... 31

3.2.2 Trabalho escravo contemporâneo... 35

3.3 IMIGRAÇÃO... 37

3.3.1 Aspectos determinantes para a imigração... 37

3.4 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO TRABALHADOR IMIGRANTE... 40

4 MECANISMOS JURÍDICOS DE COMBATE AO TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS A ESCRAVIDÃO DOS IMIGRANTES NO BRASIL.. 44 4.1 APARATO INTERNACIONAL... 4.1.1 A Organização Internacional do Trabalho e suas Convenções... 44 44 4.1.2 A Organização das Nações Unidas e seus tratados... 49

4.2 APARATO NACIONAL DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL... 55

4.2.1 Legislação brasileira aplicável aos estrangeiros e imigrantes... 55

4.2.2 A Lei 6.815/80: Estatuto do Estrangeiro... 59

4.2.3 Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo... 61

4.2.4 Grupo Especial de Fiscalização Móvel... 63

4.2.5 Ministério Público do Trabalho... 64

4.2.6 A Lista Suja do Ministério do Trabalho e Emprego... 65

5 CONCLUSÃO... 67

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1 INTRODUÇÃO

O Brasil caminha rumo à mudança, ao longo dessa formação é evidente que o Direito brasileiro se encontra também em constante debate, portanto, importante se faz aos estudiosos e operadores do direito entenderem e tomarem parte nessa mudança histórica que se vivencia.

O presente trabalho tem como objetivo verificar as principais medidas que são tomadas para erradicar o trabalho em condições análogas à escravidão dos imigrantes no Brasil e para garantir seus direitos humanos fundamentais, com base na legislação interna brasileira e internacional pertinente ao assunto.

A motivação nasce nas disciplinas de Direito Internacional e Direito do Trabalho, ministradas pelos professores João Batista da Silva e Carolina G. Aragão de Santana, onde sabiamente expuseram seus conhecimentos e sua paixão ao Direito, cativando para o interesse de pesquisa na área.

Destarte, a importância jurídica e social desse trabalho consiste em apontar os elementos existentes no sistema jurídico brasileiro e nas medidas tomadas que viabilizam assegurar a integridade dos trabalhadores imigrantes no Brasil, além de explorar os direitos fundamentais e os princípios internacionais norteadores dos Direitos Humanos.

Para a realização da pesquisa é utilizado o método de abordagem dedutivo ao se partir de uma premissa geral do mundo globalizado. Traz, ainda, aspectos da economia e do trabalho nos fluxos migratórios, com o fim de estabelecer a relação entre os trabalhadores imigrantes em condições análogas à escravidão e os direitos humanos, observando as medidas e os posicionamentos das normas pertinentes ao assunto.

A natureza da pesquisa é qualitativa, sendo o método de procedimento, monográfico e a técnica de pesquisa é a bibliográfica utilizando-se de dados e documentos já trabalhados por outros pesquisadores devidamente registrados como livros e artigos.

A presente monografia está estruturada em cinco seções, sendo que nesta introdução à primeira seção apontam-se a metodologia utilizada, o objetivo geral, a problematização da pesquisa, a justificativa e os capítulos listados.

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O primeiro capítulo de desenvolvimento versa sobre o fenômeno da globalização, apresentando seus aspectos gerais, seus reflexos na economia, no trabalho para a imigração e a globalização nos aspectos jurídicos.

No segundo capítulo de desenvolvimento, abordam-se os fatores determinantes para a imigração hoje no Brasil, concomitantemente com os aspectos do trabalho análogo a escravidão, elaborando um descritivo sobre os direitos humanos e os direitos fundamentais desses trabalhadores Imigrantes.

Com relação ao terceiro capítulo de desenvolvimento verificam-se os principais aspectos jurídicos brasileiros e o aparato internacional pertinente ao objetivo de estudo, considerando as possíveis medidas aplicadas para garantir os direitos fundamentais e erradicar o trabalho a condições análogas à escravidão dos imigrantes no Brasil.

Por fim, frisa-se que a última seção se reserva à conclusão, com o objetivo de trazer uma síntese acerca do exposto na presente monografia.

A contribuição acadêmica consiste em demonstrar o estado em que se encontram hoje os imigrantes explorados através do trabalho e nas medidas e propostas que possam contribuir a erradicar o trabalho em condições análogas à escravidão de Imigrantes no Brasil. Evidencia-se que a situação do trabalho escravo hoje é um problema social de extrema relevância que merece maior exposição perante a sociedade.

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2 O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO

O fenômeno da globalização tem gerado grande repercussão no espaço mundial nas últimas décadas, refletindo diretamente nos aspectos jurídicos. Entretanto, antes de introduzir-se em questões jurídicas inerentes ao assunto, não se pode deixar de apresentar seus aspectos gerais, históricos e econômicos, o que será considerado a seguir.

2.1 ASPECTOS GERAIS

A globalização é um processo muito visado nas últimas décadas, pois através dela tem-se tentando explicar os possíveis fenômenos econômicos e políticos decorrentes desse final do século XX. Conforme Soros (2003, p. 43), os principais problemas ligados à globalização hoje no mundo é atribuido pelo crescimento dos mercados financeiros globais e das empresas transnacionais onde dominam predominantemente as economias nacionais.

George Soros (2003, p. 44-45) define a globalização como fenômeno recente que distingue os dias de hoje com os do passado, argumentando que:

A característica mais acentuada da globalização é permitir que o capital financeiro se movimente com liberdade; em contraste, o movimento de pessoas mantém-se sob controle rigoroso. Uma vez que o capital é ingrediente essencial da produção, os diferentes países competem entre si para atraí-lo; isso inibe a capacidade dos países de tributá-lo e regulá-lo. Sob a influência da globalização, a natureza de nossos mecanismos econômicos e sociais passou por transformações radicais. A capacidade do capital de movimentar-se para outros lugares solapou a capacidade do Estado de exercer controle sobre a economia.

Em contraposição podemos dizer que tal fenômeno originou-se a milhares de anos atrás, com o início da exploração de rotas marítimas e com as seguintes descobertas de novas terras pelo mundo, fazendo com que a Europa liderasse este processo inicial com a Revolução Francesa e com a Revolução Industrial (SCHILLING, 2015).

Compreende-se o termo globalização, como predominantemente um processo de formação econômica, pela desregulamentação dos mercados financeiros, privatizações das empresas estatais e principalmente pelo descaso ao

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bem-estar social, refletindo diretamente no aumento da pobreza e desemprego, desestruturando micro empreendimentos (SCHILLING, 2015).

Em consonância com o exposto, para Maria de Fátima Ribeiro e Valerio de Oliveira Mazzuoli (2006, p. 57), a globalização é um processo antigo que iniciou-se no século XV com as grandes navegações liderados por Cristovão Colombo.

Ademais, no século XIX a Revolução Industrial contribuiu de forma clara para o processo de globalização, gerando uma maior aproximação entre os países através das inovações nas indústrias e nos meios de transporte (RIBEIRO; MAZZUOLI, 2006, p. 58).

Para Maria de Fátima Ribeiro e Valerio de Oliveira Mazzuoli (2006, p. 58-59) a globalização não se restringe apenas a aspectos econômicos e financeiros, mas também no âmbito cultural, social e jurídico. Destacando questões sobre o primeiro nível de internacionalização:

a) comercial – homogeneização das estruturas de demanda e oferta por empresas que estabelecem contratos de terceirização com produtores locais e comercializam os produtos sob suas próprias marcas (ex. Nike, Nestlé, Benetton, Carrefour); b) produtivo – fenômeno da produção internacional de um bem para o qual concorrem diversas economias com diferentes insumos; c) financeiro – aumento do fluxo de capitais, decorrente da autonomia bancária; d) sociocultural – os mesmos instrumentos que permitem o aumento do fluxo de capitais (redes eletrônicas, televisão, satélites) constituem o atual sistema de comunicação, o que contribui para uma relativa homogeneização da cultura e dos padrões de comportamento nas sociedades; e) tecnológico – incremento quantitativo e qualitativo das redes mundiais de comunicação e informação (internet).

As dimensões da globalização podem ser captadas no processo da evolução do capitalismo, assim por mais que a globalização seja vista na maioria das vezes como um processo positivo, existe também o seu lado negativo (SOROS, 2003, p. 48).

George Soros (2003, p. 48) acredita fielmente no fenômeno da globalização e o nomeia como sociedade aberta digital, pois garante maior liberdade do que qualquer outro Estado isolado.

Nesse contexto, podemos dividir a globalização em três etapas, a primeira etapa iniciou-se em 1450 e vai até 1850 com o expansionismo mercantilista e com a busca por novas rotas marítimas, formando-se colônias de exploração e utilizando-se de mão-de-obra escrava para atender os interesutilizando-ses das monarquias absolutistas (SCHILLING, 2015).

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A segunda etapa teve início em 1850 e término em 1950, sendo caracterizada pelos interesses industriais e das finanças, com o surgimento de máquinas a vapor e com a evolução do transporte terrestre e marítimo. A escravidão que havia sido um marco na primeira fase da globalização, converte-se em um atraso para o mercado de consumo, sendo definitivamente abolida no Brasil em 1848 (SCHILLING, 2015).

Por fim, a terceira e última etapa, considerada a globalização recente pós 1989, com o marco da queda do Muro de Berlim, persiste até os dias atuais com apenas uma superpotência mundial, os Estados Unidos, que possui o poder de intervenção militar em qualquer lugar no mundo (SCHILLING, 2015).

Ademais, ressalta-se que o fenômeno da globalização tem refletido de forma crescente no meio jurídico, considerando-se a transnacionalização das relações econômicas, financeiras, sociais, comerciais que vêm acontecendo nos últimos anos (RIBEIRO; MAZZUOLI, 2006, p. 58).

Na visão de Alessandro Lopes Andrighetto (2013, p. 12):

[...] o processo de globalização tem forte influência, no mundo atual, tanto que influencia sobremaneira o mundo jurídico, em especial o mundo do Direito do Trabalho, tema desta singela explanação. Algumas vezes de forma positiva, porém, noutras, negativamente.

O Direito Internacional e os Direitos Humanos trazem especificamente a ideia de globalização da justiça, haja vista que os direitos fundamentais no âmbito internacional têm exigido dos Estados nacionais o cumprimento de suas normas que regulam o assunto (RIBEIRO; MAZZUOLI, 2006, p. 58).

Maria de Fátima Ribeiro e Valerio de Oliveira Mazzuoli (2006, p. 57), trazem exemplos recentes apontando que:

[...] são as cobranças feitas pela União Europeia à Turquia (que almeja integrar o seleto grupo dos Quinze), ou de ONGs que denunciam a repressão política em países como a China. Cabe assinalar, ainda, as diversas querelas entre Estados duvidosamente democráticos e as ONGs, tais como Amnesty International e Human Rights Watch.

Há de se considerar que um dos efeitos da globalização, na relação entre os Estados soberanos, é a busca por uma melhor regulação das normas internacionais. No entanto, esta ação tem gerado grande discussão, pois não se

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limita apenas aos Estados, mas a todos os agentes internacionais aptos a participarem dos mecanismos decisórios (RIBEIRO; MAZZUOLI, 2006, p. 59).

Desta forma, se as ONGs se unirem para erradicar um problema global como o trabalho escravo no mundo, a necessidade de regulamentação no âmbito jurídico perante o assunto é tão célere quanto a ação dos Estados mais potentes de defender seus próprios interesses que acabam prejudicando a ordem internacional (RIBEIRO; MAZZUOLI, 2006, p. 59-60).

Além disto, a globalização é vista como um fenômeno capaz de transformar todo o cotidiano global, se tornando o assunto principal de discursos políticos pela extensão dos seus efeitos, propiciando muitos benefícios econômicos, como também muitos males comtemporâneos (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE A DIMENSÃO SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO, 2005, p. 23).

Segundo a Comissão Mundial Sobre a Dimensão Social da Globalização (2005, p. 23):

Os efeitos das novas tecnologias deram também um caráter distinto ao atual processo de globalização em comparação com episódios semelhantes no passado. As barreiras naturais de tempo e espaço foram amplamente reduzidas. O custo da circulação de informações, de pessoas, bens e capital caiu dramaticamente em todo o globo, enquanto a comunicação global é barata e instantânea e está se tornando cada vez mais assim. Isso expandiu consideravelmente a viabilidade das transações econômicas em todo o mundo. Os mercados podem ser agora globais em alcance e abranger uma extensa variedade de bens e serviços.

De acordo com Maria de Fátima Ribeiro e Valerio de Oliveira Mazzuoli (2006, p. 60), o principal efeito da globalização é o crescente embate entre normas e sujeitos de direito internacional público, demandando uma submissão dessas normas internacionais perante o Estado soberano absoluto.

Aclarados os principais aspectos da globalização, o que, acredita-se, ter propiciado uma melhor precisão e compreensão acerca do assunto, passar-se-á à análise dos reflexos da globalização na economia mundial.

2.2 GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA

Para a elaboração de uma análise sobre o fenômeno da globalização necessita-se também trazer aspectos que marcaram a economia e a política

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mundial, procurando, a partir disso, relatar a situação da economia com o passar dos anos em nossa sociedade capitalista.

Segundo Domingos Leite Lima Filho (2004, p. 51), logo no início da década de 1970 a esfera econômica mundial foi abalada pela queda do sistema de taxas fixas de câmbio e sua substituição por um novo sistema, cumuladas com a crise do petróleo e seu aumento de preço, geraram impactos graves à economia global.

Diante disso, desencadeou-se um desequilíbrio econômico mundial, identificado por crescentes movimentos inflacionários e pela crescente taxa de desemprego, gerando grande repercussão no processo de trabalho, através da elevação de custos na produção e na redução de lucratividade, afetando diretamente os trabalhadores pelo mundo (LIMA FILHO, D., 2004, p. 52).

Nesse sentido, a economia mundial tomou um novo rumo com o passar da década de 1970, deixando o padrão de industrialização pós-segunda guerra mundial, bucando-se por uma diminuição dos custos de produção e pela consolidação da divisão do trabalho (IENNACO, 2005, p. 115).

A desordem econômica criada afetou diretamente o sistema financeiro e monetário internacional refletindo tanto nos países pobres como nos desenvolvidos em proporções diversas de acordo com cada governo e política de combate em sua industrialização (IENNACO, 2005, p. 115).

Dessa forma, para Luiz Antônio de Paula Iennaco (2005, p. 115):

Com a intensificação de políticas de atração de capitais e a pouca qualificação de sua mão-de-obra, os países em desenvolvimento tornaram-se competitivos no mercado internacional de produtos manufaturados. As empresas transnacionais, valendo-se da diversidade entre mercados nacionais, adotaram estratégias globais minimizadoras de custo, com o deslocamento da produção e de postos de trabalho de um país para outro, em busca da relação custo/produtividade mais favorável em escala global, com a fragmentação do processo produtivo e o uso de insumos de diferentes origens.

Nos ensinamentos da Comissão Mundial Sobre a Dimensão Social da Globalização (2005, p. 24), na ―década dos 70, a liberalização do comércio no contexto do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) foi modesta e gradual e envolvia muito mais os países industrializados que os países em desenvolvimento.‖

Já no âmbito político internacional, nos anos de 1970 os Estados Unidos da América (EUA) passou por diversas dificuldades econômicas, sociais e culturais,

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como o impeachment do Presidente Nixon, que culminou em um aumento das taxas de juros anuais sobre os empréstimos internacionais de 2% para cerca de 18%, aumentando drasticamente a dívida externa de países em desenvolvimento (LIMA FILHO, D., 2004, p. 53)

Domingos Leite Lima Filho (2004, p. 53), expõe que:

As vitórias eleitorais de Thatcher na Inglaterra em 1979, de Reagan nos EUA em 1980 e de Kohl na Alemanha em 1982 marcaram o limiar de uma era de restauração conservadora. Iniciaram-se as reformas neoliberais centradas na desregulamentação, privatização e liberalização da economia. A desregulamentação de direitos sociais e trabalhista somou-se ao movimento de reestruturação produtiva que provoca a redução real de salários, o desemprego e enfraquece o movimento sindical. A privatização suporta a transferência de patrimônio público para capitais privados e a redução das atividades do Estado em termos de políticas públicas de caráter social, sobretudo de saúde e educação e infraestrutura. [...] Os países em desenvolvimento, a partir da década de 1980, se viram submetidos a programas de ajuste estrutural, monitorados a partir do Banco Mundial e do FMI que, no caso de muitas economias da América Latina, entre elas o Brasil, resultaram na chamada ―década perdida‖ para a economia.

Todavia, com a chegada dos anos 80, o comércio sofreu grandes mudanças, não estendendo seus benefícios a todos os países, principalmente aos países em desenvolvimento que tiveram dificuldade em obter a liberalização do comércio, tendo um declínio em suas economias (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE A DIMENSÃO SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO, 2005, p. 24).

Importante frisar que o Brasil, no final da década de 1970 e início de 1980, presenciou um forte regresso econômico, podendo-se considerar os anos 80 como década perdida economicamente. Contudo, os movimentos sociais ocorridos foram de grande relevância histórica, através da luta e da disputa política na ditadura militar, com um almejo de uma possível ampliação dos direitos políticos, sociais e principalmente dos trabalhadores (LIMA FILHO, D., 2004, p. 54).

A década de 90, com o fim da Guerra Fria e com a queda do Muro de Berlim em 1989, foi marcada pela retomada das potências mundiais ao poder, seja econômico ou político e pelas crises econômico-financeiras no Brasil, Rússia e México, onde o índice de desemprego superou expectativas, cumulando-se toda riqueza nos países mais ricos, aumentando ainda mais a desigualdade sobre os países em desenvolvimento (LIMA FILHO, D., 2004, p 55).

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Com o passar dos anos 90, a adesão pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED) cresce exorbitantemente através de sua enorme procura por todo mundo, porém muitas dessas expectativas não se concretizam nos países em desenvolvimento que acabam não auferindo novos investimentos (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE A DIMENSÃO SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO, 2005, p. 26).

Domingos Leite Lima Filho (2004, p. 56), faz alguns apontamentos que acredita contribuir para a desordem global existente:

1) a dinâmica funcional do capitalismo como sistema mundial centro-periferia integrado e hierarquizado; 2) os alcances e os limites endógenos da globalização; 3) a transição do modelo de compromisso keynesiano para um novo ciclo de acumulação sob dominância do capital financeiro e a redefinição do papel dos Estados nacionais; 4) a natureza e o impacto dos programas neoliberais de ajuste estrutural; 5) a fisionomia das crises financeiras atuais e suas consequências.

Além disso, são características da globalização da economia a concentração e centralização que ocorre em três etapas, a primeira dá origem aos monopólios e as grandes corporações, a segunda dá origem ao capital financeiro e por último na terceira etapa aumenta-se a importância da circulação do capital financeiro em relação à circulação de mercadorias (LIMA FILHO, D., 2004, p 56).

De outro norte, identifica-se que os principais aspectos da globalização tem sido a liberação do comércio internacional, o crescimento do IED e o surgimento de novos fluxos financeiros internacionais, que geram uma maior concorrência no mercado global, ocorrendo isso pela junção de dois importantes fatores, as ―decisões políticas para reduzir as barreiras nacionais às transações econômicas internacionais e o impacto de nova tecnologia, especialmente na área da informação e das comunicações‖ (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE A DIMENSÃO SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO, 2005, p. 23).

O capitalismo compõe um sistema mundial centro-periferia, onde os EUA são o pólo dominante, sendo os outros dois a Europa e o Japão. A periferia do sistema é composta pelos demais países que devem congregar-se a um ou mais países do pólo, estando esse sistema em constante conflito pelo modo de produção capitalista (LIMA FILHO, D.,2004, p 57).

Registra-se que este sistema centro-periferia, que foi designado através da evolução do capitalismo, sofreu grandes mudanças com o surgimento das finanças modernas ao final do século XIX. Com a queda da lucratividade das

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empresas, buscou-se uma possível solução surgindo os grandes trustes e cartéis (LIMA FILHO, D., 2004, p 59).

Ademais, o intuito da globalização é de beneficiar todos os países, comunidades, povos por todo o mundo, diminuindo a desigualdade social e a pobreza existente, garantindo uma maior estabilidade econômica, social e ambiental em nível global (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE A DIMENSÃO SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO, 2005, p. 34).

Como observou a Comissão Mundial Sobre a Dimensão Social da Globalização (2005, p. 37), estudos da OIT envolvendo a globalização em nosso sistema capitalista tem demonstrado que o impacto do comércio nos empregos e salários tem gerado grandes diferenças entre os salários reais de trabalhadores não qualificados que tendem a declinar, crescendo a diferença salarial entre os trabalhadores qualificados e os não qualificados de forma relativamente acentuada.

Além disto, contemplam-se três dimensões que o capitalismo poderia se globalizar. Na primeira assegura-se a globalização com o foco nas relações sociais capitalistas, compreendida como a expansão mundial do assalariado como relação universal entre capital e trabalho, acarreta a subsunção aos mecanismos do trabalho assalariado das formas não capitalistas (LIMA FILHO, D., 2004, p 64).

Na segunda dimensão, quanto à globalização do modo de produção capitalista, o autor Domingos Leite Lima Filho (2004, p. 64), explana que:

[...] se considerarmos o modo de produção nas esferas de produção propriamente dita, distribuição e consumo, então verificaremos que não há uma globalização homogênea nas três esferas, ou seja, a globalização revela contradições à hora de globalizar-se a lei do valor. [...] A diferenciação salarial nacional e internacional segue sendo um mecanismo de competição intercapitalista.

Nesse âmbito, a terceira dimensão ressalta a globalização do capitalismo como sistema histórico, observado o fim da Segunda Guerra Mundial até a década de 70 com o predomínio do sistema centro-periferia e com a seguinte queda do socialismo, o capitalismo exerce então sua preponderância (LIMA FILHO, D., 2004, p. 65).

A função Estado-nação com o advento da globalização é fundamental para constituir uma estrutura jurídica, política e econômico-mercantil de regulação social, assegurando a valorização dos capitais nacionais, portanto a finalidade do

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Estado modificou apenas no seu modo de intervenção. (LIMA FILHO, D., 2004, p. 66).

Em oposição, analisa-se outra concepção de que o Estado nacional não seria um dispositivo tão essencial para a reprodução e acumulação do capital, gerando um atraso em sua mundialização. Podendo-se considerar exorbitantemente grande para assuntos locais, porém pequeno para questões globais. (LIMA FILHO, D., 2004, p. 67).

O Estado-nação e o processo de globalização devem trabalhar juntos e estarem interligados entre si, pois possibilitam a criação de eficientes instituições políticas e legais para os diversos grupos existentes na nação, assegurando sua ampla e justa distribuição que integram os objetivos econômicos e sociais (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE A DIMENSÃO SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO, 2005, p. 51).

Contudo, mesmo com a particularidade de cada Estado, alguns problemas alcançam a política universal, como a necessidade de investimentos na educação, trabalho, emprego, bem como no âmbito social e ambiental (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE A DIMENSÃO SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO, 2005, p. 51).

Salienta-se que na concepção teórica gramsciana, o Estado intercede através do âmbito jurídico nos conflitos internos das classes sociais e nos desacordos de interesses, buscando a melhor forma para a sua resolução e se moldando em um determinado tipo de Estado, de acordo com sua unificação (LIMA FILHO, D., 2004, p 68).

O Estado visto e construido como meio de propiciar o Bem-Estar Social geral, foi constituído historicamente através da junção e do compromisso entre o capital e o trabalho, desempenhando a aceitação e legitimação da economia capitalista e do Estado liberal-burgês (LIMA FILHO, D., 2004, p. 69).

2.2.1 A Organização Internacional do Trabalho e seus aspectos históricos

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) teve início em 1919, no final da Primeira Guerra Mundial, no Tratado de Versalhes com o intuito de desenvolver normas, convenções e orientações no âmbito dos direitos humanos fundamentais do trabalhador em todo o mundo (MENDES, 2012, p. 497).

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Sua criação foi impulsionada pelos interesses da Suiça e da Alemanha, sendo os países pioneiros responsáveis pela legislação no âmbito interno sobre questões trabalhistas. Nessa perspectiva, se fez necessário que essas normas fossem remanejadas para os países de todo o mundo, sob pena de crises nas relações comerciais, atravessando essa discussão na relação entre comércio e trabalho por mais de um século e estando presente até hoje na Organização Internacional do Comércio (OMC) (QUEIROZ, 2007, p. 166-167).

O propósito principal da OIT é proporcionar nos Estados-Membros a prudência e o emprego dos princípios fundamentais do trabalhador no mundo, observando ―a liberdade de sindicalização, o real reconhecimento do direito de negociação coletiva, a eliminação de todos os modos de trabalho forçado, a erradicação do trabalho infantil e a supressão de toda discriminação no emprego‖ (BARZOTTO, 2007, p. 75-76).

Segundo Luciane Cardoso Barzotto (2007, p. 73):

A OIT foi o primeiro regime internacional disposto funcionalmente em matéria de direitos humanos. Regimes internacionais são instituições diferenciadas que, ao assumirem a forma de organizações internacionais, possuem características interestatais, base voluntária, órgãos permanentes, vontade autônoma para criar suas normas, esfera própria de competência e ação cooperativa. [...] A pauta funcional da OIT traduz as necessidades de um capitalismo organizado, refletindo as demandas dos Estados mais poderosos do sistema internacional que foram, no século XIX, a Inglaterra e, no século XX, os Estados Unidos.

O surgimento da OIT teve significativo intuito de alcançar a paz mundial através da garantia da justiça social no âmbito trabalhista, possuindo um sistema tripartite, é composta atualmente por trabalhadores, representantes de governos e de organizações de empregadores, estando o Brasil em ativa participação desde sua criação (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2015a).

Ademais, com o intuito humanitário e político, a OIT buscou trazer um grande marco na história através da reconstrução social após a Primeira Guerra Mundial, baseando-se nas condições de trabalho que julgou deploráveis no século XVIII na Revolução Industrial, onde milhares de trabalhadores se sujeitaram a exploração e a tratamentos desumanos, sobressaindo apenas o interesse da burguesia capitalista (ALVARENGA, 2015, p. 2).

Nesse cenário, a OIT constituindo-se como operador da justiça social e pela proteção dos Direitos Trabalhistas em todo o mundo, logo após a criação da

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Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945, a OIT passou a integra-la para que não coexistisse dois Organismos Internacionais com os mesmos encargos, passando a ser membro das Nações Unidas (ALVARENGA, 2015, p. 3).

Segundo ensina Renato Mendes (2012, p. 498):

Uma vez ratificadas as convenções da OIT, um Estado-Parte, ao estar em dissenso com seus princípios ou dispositivos deve proceder com a denúncia da norma. Cumpre, portanto, informar ao Diretor Geral da OIT – e este à comunidade internacional reunida na Conferência Internacional do Trabalho, e ao Secretário Geral das Nações Unidas que o Estado decide não mais contratar com a comunidade internacional, estes instrumentos de direitos fundamentais.

As atribuições da OIT são fundamentais no estabelecimento das leis trabalhistas e na criação de políticas econômicas, frisando-se ainda que a crise no sistema trabalhista já existia muito antes do surgimento da crise econômica e financeira internacional pelo processo injusto de globalização que vem ocorrendo ao passar dos séculos (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2015a).

Contudo, a OIT se organiza para exigir que os Estados cumpram com o seu dever na sociedade, garantindo todo o âmparo dos direitos fundamentais, se tornando algo presente na política interna do ordenamento jurídico e no cotidiano dos trabalhadores, buscando-se sempre seus padrões e sua aplicação (MENDES, 2012, p. 498).

2.2.2 A Organização Mundial do Comércio

A OMC possui uma base concreta, personalidade jurídica dessemelhante de seus membros, estabelecida por um tratado que determinou suas funções, objetivos, estrutura e métodos para a tomada de decisões (MESQUITA, 2013, p. 48). Para George Soros (2003, p. 69), o comércio internacional pode beneficiar muito todas as partes envolvidas, entretanto com a conduta impositiva dos Estados, extraindo cada vez mais benefícios particulares adicionais, necessário se faz para que haja um equilíbrio e não se perca as vantagens oferecidas, estabelecer regras gerais que todos mutuamente concordem, encargo hoje trabalhado pela OMC.

―Os interesses dos países menos desenvolvidos terão que ser protegidos por meio das disposições da OMC para Tratamento Especial e Diferencial para

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promover seu potencial de exportação‖ (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE A DIMENSÃO SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO, 2005, p. 80).

As determinações da OMC incentivam a aplicação de normas internacionais para prevenir violações e abusos no Comércio internacional, entretanto como a maioria dos países em desenvolvimento não possuem condições e capacidade acabam não adotando tais medidas (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE A DIMENSÃO SOCIAL DA GLOBALIZAÇÃO, 2005, p.82).

Todavia, os principais objetivos da OMC podem ser resumidos na criação e desenvolvimento de um sistema comercial multilateral integrado que seja respeitado e seguido por todos os páises. Além disso, suas funções abrangem diretamente a solução de controvérsias, servindo como fórum de negociações comerciais (MESQUITA, 2013, p. 48).

A OMC pode ser considerada uma instituição internacional completa e avançada em muitas dimensões, uma vez que apesar de atuar diretamente na criação de normas internacionais, também opera no exercício da função judiciária, criando formas para executar suas decisões (SOROS, 2003, p. 70).

Apesar de que tais normas podem ser exigidas através de tratados internacionais, na prática isto não se consolida, pois envolvem negociações longas e complexas, sendo o maior exemplo a OIT, cuja elaborou diversas normas que são em sua maior parte desprezadas pelos países (SOROS, 2003, p. 72).

Segundo Maria do Socorro Azevedo de Queiroz (2007, p. 165), a inclusão de normas sociais na esfera da OMC, com o intuito de erradicar condições degradantes de trabalha é algo que está constantemente em discussão no âmbito internacional do Comércio, pois os países desenvolvidos responsabilizam os países em desenvolvimento pelo ―dumping social‖, recebendo como réplica a afirmação de que utilizam dessa teoria para resguardar seus mercados internos.

Segundo George Soros (2003, p. 74), a melhor alternativa é oferecer recursos aos países pobres para que eles possam cumprir as normas internacionais por livre iniciativa, sem impor exigências. Necessita-se construir um sistema voluntário que complemente as normas da OMC, sendo esse o componente faltante para as nossas instituições internacionais globais.

Ademais, com a OMC encontrando-se hoje totalmente separada do âmbito trabalhista, atuando apenas no comércio internacional, não se muda a situação dos indivíduos que são explorados através do trabalho e que sofrem graves

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violações aos seus direitos humanos fundamentais, por isso a separação do espaço de atuação entre a OMC e a OIT não resolve o problema, carecendo de uma direta integração entre os dois órgãos internacionais (QUEIROZ, 2007, p. 177).

A globalização hoje no sistema capitalista apresenta um aspecto de grande desigualdade entre capital e trabalho. O capital flui para países que oferecem vantagens, como a mão-de-obra barata, gerando progresso e desenvolvimento, entretanto, os países desenvolvidos, apesar de perdas nesse meio, criam oportunidades de trabalho com maiores valores aglutinados, verificando-se grandes movimentos migratórios, legais e ilegais, para o exercício de funções que dificilmente seriam aceitas pela própria população local (SOROS, 2003, p. 74).

Apesar de diversas tentativas de inserção de normas trabalhistas no âmbito da OMC, na Rodada do Uruguai esta tentativa também restou frustada, visto que priorizou-se apenas questões ligadas ao meio ambiente, constatando métodos de procedimento e criando o Cômite sobre comércio e Meio Ambiente (MESQUITA, 2013, p. 90).

Na visão de Maria do Socorro Azevedo de Queiroz (2007, p. 180), é possível um trabalho conjunto entre a OIT e a OMC, com o intuito de estabelecer melhores condições no comércio internacional e de criar condições dignas a todos os trabalhadores que laboram para o mercado comercial direto ou indireto, sem prejudicar o desenvolvimento econômico.

De acordo com George Soros (2003, p. 76-77), a OIT é uma instituição internacional dedicada à proteção do trabalho, dissertando que:

Trata-se de uma entidade anterior e, sob certos aspectos, superior à OMC: tem uma estrutura tripartite que envolve sindicatos trabalhistas, empregados e governos. Seu estatuto é, sob outros aspectos, quase idêntico ao da OMC. Ela já dispõe de toda a estrutura normativa necessária para proteger o trabalho. Como a OMC, a OIT autoriza sanções de natureza econômica contra qualquer membro que se recuse a cumprir as determinações de um relátorio elaborado por uma Comissão de Inquérito muito semelhante aos painéis da OMC. A principal diferença entre a OMC e a OIT é o compromentimento dos Estados-membros. Por exemplo, o governo dos Estados Unidos ratificou apenas 13 das 182 convenções da OIT e apenas duas de suas oito normas trabalhistas básicas.

―Para a Organização Mundial do Comércio (OMC), a melhoria das normas trabalhistas representa comércio internacional mais justo com reflexos no campo social, econômico, e de concorrência‖ (BARZOTTO, 2007, p. 56).

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Os revolucionários que defendem os direitos trabalhistas promovendo críticas à OMC, agem de forma incoerente tendo em vista que deveriam lutar pelo fortalecimento da OIT, mantendo um equilibrio entre as entidades para que elas possam atuar em conjunto e poder os Estados-membros ratificar e executar suas convenções se persuadida a vontade política (SOROS, 2003, p. 77).

2.3 A GLOBALIZAÇÃO NOS ASPECTOS JURÍDICOS

A globalização é um fenômeno amplo, podendo ser redirecionada por diversas áreas e aspectos, ela possui um caráter tecnológico, sendo imprescindível trazer também uma análise sobre a globalização no Direito.

Na visão de Paolo Grossi (2009, p. 157-158), para adentrarmos no tema Globalização no Direito necessitamos entender seu processo inicial, seu significado como um todo, ―o eclipse do Estado e da sua expressão mais representativa, a soberania‖.

Segundo Eduardo Felipe Pérez Matias (2005, p. 197), a globalização no Direito com o aumento da interdependência dos Estados, pode ser destacada em duas dimensões principais, sendo a criação de novas normas internacionais e o crecimento das Organizações Internacionais que compõem o mundo jurídico e político que cooperam com o desenvolvimento global alterando a forma de composição da sociedade.

Com efeito, a globalização para os estudiosos da área jurídica expressa a ideia de rompimento do monopólio e a quebra do sistema do Direito estatal dominante, por não conseguir acompanhar a crescente força econômica global que necessita cada vez mais de concretude em suas novas formas de atuação (GROSSI, 2009, p. 160).

Como abordado anteriormente, segundo ensina Paolo Grossi (2009, p. 166) à globalização tende a atrair malefícios ao mundo jurídico, destacando que:

A globalização complica a paisagem jurídica. Já no âmbito do direito oficial, por um desenvolvimento natural das instituições e das mentalidades jurí-dicas como consequência de profundas mutações políticas e sociais, houve complicações inevitáveis descompondo um pouco as linhas do simplíssimo projeto jurídico moderno. Pense-se, tanto por permanecer na nossa área quanto se tornou complexo o ordenamento jurídico italiano com a adoção, em 1948, de uma Constituição rígida, e, nas décadas posteriores, com a inserção sempre mais condicionante na Comunidade Europeia. À velha

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legalidade, que tinha o legislador ordinário como referência, agregam-se e se sobre ordenam graus antes inimagináveis de legalidade, a constitucional e a comunitária, graus de legalidade – ainda – que se concretizam em normas de qualidade bem diferente da formalizada lei ordinária. Uma complicação de valia nova foi, porém, criada pelos fenômenos globa-lizadores. Aqui não é o Estado que projeta ou aceita novas formas de organização jurídica, mas algo que acontece além do Estado (ou mesmo contra o Estado). Forças privadas, sobretudo forças econômicas, começam a produzir direito. E o binário jurídico se torna ao menos duplo. Permanece, obviamente, a estrutura oficial com suas leis, seus regulamentos, seus oficiais de polícia, seus juízes, mas – conjuntamente – desenha-se um binário novo com suas fontes produtoras, seus instrumentos, seus institutos, seus juízes privados (árbitros).

Com a Globalização hoje inserida em nosso sistema jurídico, os Estados estão se transformando cada vez mais interdependentes, ou seja, os efeitos da sua atuação têm grandes possibilidades de se propagar em outro meio. Portanto, a interdependência no âmbito internacional se designa as mútuas relações entre os países e indivíduos que possuem nacionalidade distinta, fazendo com que fatos locais sejam impulsionados por episódios que ocorreram no outro lado do mundo (MATIAS, 2009, p. 202).

Podemos notar que a globalização hoje está inserida rapidamente através das decisões políticas e econômicas de um país podendo ser propagada por todo o mundo, através, por exemplo, das taxas de juros e câmbio, pois as economias encontram-se hoje cada vez mais vinculadas, sendo a interdependência algo irremediável (MATIAS, 2009, p. 203).

Para Paolo Grossi (2009, p. 170), ―a globalização mostra sua dupla face para o jurista; grande ocasião de maturação e de abertura, mas também um grande risco. O risco encontra-se na arrogância do poder econômico, que não é menor do que a ameaça do poder público‖.

Entretanto, apesar de a globalização não se desenvolver apenas nos aspectos econômicos, ou seja, estando ela também inserida no espaço religioso, cultural, esportivo e assistencial, essas premissas não possuem destaque no mundo jurídico, pois é evidente que o mercado econômico hoje possui o intuito de desenvolver um direito próprio e gerar maiores discussões nos problemas jurídicos da globalização (GROSSI, 2009, p. 170).

Com esse contexto do mundo globalizado nos diversos aspectos apresentados, denota-se que a globalização é um aspecto totalmente ligado ao dia-a-dia da população, que propicia uma maior possibilidade de comunicação,

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mobilidade e de informações, motivando ainda mais a imigração em busca de melhores condições econômicas de trabalho e humanitária, porém essas circunstâncias nem sempre são atendidas, questões a serem abordadas nos próximos capítulos.

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3 O TRABALHO ESCRAVO E A IMIGRAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS

Com a apresentação do fenômeno da globalização no estágio de pesquisa anterior, o propósito maior deste capítulo é abordar as consequências desse fenômeno na imigração internacional e no trabalho escravo sob as perspectivas dos Direitos Humanos e fundamentais do trabalhador imigrante, considerando as diretrizes doutrinárias acerca do tema.

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

O fenômeno da globalização, o avanço tecnológico, a mundialização da economia, são alguns dos fatores no cenário mundial, que aumentam a desigualdade econômica existente entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Consequentemente amplifica-se o desemprego, a pobreza e a exclusão social, ambicionando as políticas neoliberais o crescimento econômico, que segue em sentido contrário ao desenvolvimento sustentável, inclinando-se a retirar do mercado global os direitos humanos e fundamentais (SCHNEIDER, 2007, p. 277).

―A Constituição brasileira de 1988 constituiu um marco importante na institucionalização dos direitos humanos no Brasil. A dignidade da pessoa humana e os direitos e garantias fundamentais vêm caracterizar os princípios constitucionais.‖ Em seu art. 5º sistematiza sobre os direitos e garantias individuais, fundado na soberania, na dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do trabalho, entre outros (OLIVEIRA M.; SAMPAIO, 2006, p. 350, 351).

Segundo Renata Cristina de Oliveira Alencar Silva (2006, p. 372), os Direitos Humanos fundamentais podem ser elucidados como:

O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana.

Para Michele Ribeiro de Oliveira e Rodrigo Ribeiro Sampaio (2006, p. 350), a globalização é o fato gerador que impulsiona os Direitos Humanos na sua

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preponderância, tendo impulsionado a abertura da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/88) brasileira e a normas internacionais, estabelecendo um marco na ordem constitucional atual.

Todavia, é sobre as condições injustas de trabalho que melhor sobressai à problemática advinda da exploração econômica, gerando um foco maior nas violações dos Direitos Humanos desses trabalhadores (SCHNEIDER, 2007, p. 283).

Nos ensinamentos de Patrícia Buendgens Schneider (2007, p. 283):

No Brasil, ao contrário do que se poderia imaginar, o trabalho escravo ainda é um obstáculo a ser superado: Empresas continuam utilizando-se de mão de obra escrava em sua cadeia produtiva. [...] estima-se que ainda existam entre 25 mil e 40 mil escravos no território brasileiro. O número de escravos existentes em pleno século XXI não se resume, todavia, a países em desenvolvimento. Cerca de 360 mil pessoas de um total de 12,3 milhões de pessoas mundialmente categorizadas como ―escravos modernos‖ vivem em países desenvolvidos. Um exemplo, é a Alemanha, com estimados 15 mil escravos.

Nota-se que é frequente em alguns países, a instituição de leis com precárias proteções aos direitos humanos, com o intuito de obter menores gastos para a instalação de atividades econômicas e comercialização de seus produtos. Através disso, ocasiona-se uma grande coação entre os países para impor o cumprimento dos direitos humanos e fundamentais, objetivando a justa competividade do comércio a cada nação, sem desamparar a população de tais preceitos fundamentais (OLIVEIRA M.; SAMPAIO, 2006, p. 352).

Na visão de Christiano Souza Neto (2007, p. 312), para garantir o respeito a normas que norteiam os Direitos humanos, principalmente nos países subdesenvolvidos, faz-se de suma importância, que o Direito Internacional seja estimado por toda ordem mundial. Todavia, é conhecido que para suas normais realmente serem efetivadas demanda de altos custos financeiros, preponderando à vontade do Capital.

Com isso, evidencia-se que o Direito internacional torna-se um direito limitado, colaborando o fato de que a maioria dos países, embora assinem e ratifiquem suas normas e tratados, não cumprem e respeitam em suas legislações internas (NETO SOUZA, 2007, p. 314).

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A efetiva proteção dos direitos humanos demanda não apenas políticas universalistas, mas específicas, endereçadas a grupos sociais vulneráveis, enquanto vítimas preferenciais da exclusão. Isto é, a implementação dos direitos humanos requer a universalidade e a indivisibilidade desses direitos, acrescidas do valor da diversidade.

De acordo com Christiano Souza Neto (2007, p. 314-315), os Direitos humanos terão propósitos de eterna complementação, pois é fato notório que suas violações advêm tanto de países subdesenvolvidos como de potências econômicas mundiais, como o desrespeito a biodiversidade brasileira, aos trabalhadores que estão submetidos a condições degradantes pelas multinacionais, entre outros.

3.1.1 Antecedentes históricos dos Direitos Humanos

O Direito vem se transformando conforme o passar dos séculos, para tanto é necessário também uma alteração de comportamento. Dessa forma, os direitos humanos também passaram por uma grande transformação no século XX alcançando o âmbito internacional através de pactos, declarações e documentos, que colaboraram contra as violações desse direito (ROSSI, 2006, p. 343).

No dizer de Nestor Sampaio Penteado Filho (2012, p. 16), o encadeamento acerca dos direitos fundamentais teve origem na Inglaterra e marcou o fim da Monarquia absolutista, suas diversas fontes de produção e criação dos direitos humanos possuem um aspecto em comum: ―a imperiosa necessidade de limitação e controle do Estado e a consequente consagração do primado da legislação e igualdade‖.

Contudo, é com o passar da Segunda Guerra Mundial em face da dor e do sofrimento gerados pelos campos de concentração e pelas suas mortes que surge um interesse internacional maior pelo respeito aos direitos humanos e à dignidade da pessoa humana. De modo que em 1945 criou-se a Organização das Nações Unidas, cujo objetivo principal é a internacionalização dos direitos humanos e sua proteção através da criação de tratados e convenções que são ratificadas pelo Brasil no final do século XX (PENTEADO FILHO, 2012, p. 18, 19).

Do ponto de vista de Fábio Konder Comparato (2010, p. 67), a primeira fase de internacionalização dos direitos humanos teve origem na metade do século XIX e chega ao fim com a Segunda Guerra Mundial, apresentando três principais propósitos: ―o direito humanitário, a luta contra a escravidão e a regulação dos

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direitos do trabalhador assalariado‖. O Ato Geral da Conferência de Bruxelas de 1890 determinou embora sem eficácia as primeiras regras internacionais de suspensão ao tráfico de escravos, seguido por Convenção estatuída em Genebra em 1926.

Ademais, com o surgimento da OIT em 1919, a proteção do trabalhador propagou-se ao âmbito internacional. ―Até o início da Segunda Guerra Mundial, a OIT havia aprovado nada menos que 67 convenções internacionais, das quais apenas três não contaram com nenhuma ratificação,‖ sendo que a Convenção n. 29 de 1930, sobre trabalho forçado ou obrigatório contou com 134 ratificações (COMPARATO, 2010, p. 68).

Contudo, em 1945 foi de fato dado um passo marcante na história dos direitos humanos, pois vinte e cinco países se reuniram no México para a criação de uma carta dos direitos do homem, visando respeitar seus direitos fundamentais. Através disso a ONU, visando à necessidade de proteger os direitos humanos além do âmbito interno de cada Estado, redigiu a Declaração Universal dos Direitos do Homem que foi aprovada em 1948 (ROSSI, 2006, p. 346).

Como descrito por Maria Fernanda Figueira Rossi (2006, p. 346):

A Declaração Universal dos Direitos do Homem possui 30 artigos precedidos de um preâmbulo com sete artigos, os quais reconhecem a dignidade humana, o ideal democrático, o direito de resistência à opressão, e a concepção comum desses direitos. Nos arts. 1º ao 21º estão a proclamações dos direitos e garantias individuais – igualdade, dignidade, direito à vida, à liberdade, à segurança pessoal, à nacionalidade etc; no 22º ao 28º artigo estão elencados os diretos sociais do homem: direito á segurança social e á satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à dignidade da pessoa humana e ao livre desenvolvimento de sua personalidade, direito ao trabalho, direitos à previdência e seguro social...; o art. 29 proclama os deveres da pessoa para com a comunidade, e finalmente o art. 30 estabelece o princípio da interpretação da Declaração sempre em benefício dos direitos e liberdades nela proclamados.

Colaborando com o exposto, Fábio Konder Comparato (2010, p. 69), afirma que a Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, estabelece um marco importante inaugural da nova fase histórica, que se vivencia até hoje.

Nesse sentido, Nestor Sampaio Penteado Filho (2012, p. 18), colaciona jurisprudência que relatava minuciosamente o principio da dignidade da pessoa humana:

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A dignidade da pessoa humana é princípio central do sistema jurídico, sendo significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País e que traduz de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo (HC 85.988, q PC (MC), rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, j. 7-6-2005. DJU, 10-6-2005).

Desde a proclamação do documento dos Direitos do Homem, os dispositivos para a proteção desse direito vêm se transformando e aprimorando com o passar das décadas, sendo então criados tribunais internacionais de direitos humanos, aptos a julgar conflitos internacionais decorrentes da existência de diferentes textos que norteiam o assunto (ROSSI, 2006, p. 348).

3.2 TRABALHO ESCRAVO: ONTEM E HOJE

3.2.1 Definição e Aspectos Históricos do Trabalho Escravo

O homem na história desde a antiguidade sempre trabalhou, seja na caça para conseguir seu alimento ou na construção de armas para defender seu território. Com o passar do tempo, em busca sempre do seu interesse próprio, verificou que em vez de liquidar seus oponentes em batalha, era mais oportuno deixa-los vivos e escraviza-los para gozar do seu trabalho. Ainda na visão de Sedagas Vianna (2005, p. 27):

Os mais valentes e os chefes, que faziam maior número de prisioneiros, não podendo utilizar a todos em seu serviço pessoal, passaram a vendê-los, trocá-los ou alugá-los. Aos escravos eram dados os serviços manuais exaustivos, não só por essa causa como, também, porque tal gênero de trabalho era considerado impróprio e até desonroso para os homens válidos e livres. A escravidão entre os egípcios, os gregos e os romanos atingiu grandes proporções. Na Grécia havia fábricas de flautas, de facas, de ferramentas agrícolas e de móveis, onde o operariado era todo composto de escravos. Em Roma os grandes senhores tinham escravos de várias classes, desde os pastores até gladiadores, músicos, filósofos e poetas. O trabalho escravo é um regime imposto extremamente antigo na história da humanidade, ocorrendo desde os primórdios como instrumento de dominação entre o mais forte e o mais fraco, como nas guerras enfrentadas entre as diversas nações. Podem-se destacar vestígios desde o Velho Egito, passando pela Grécia e

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Roma, a escravidão sempre esteve presente e é uma realidade encontrada até hoje em nossa sociedade (PALO NETO, 2008, p. 18).

No decurso de todas essas décadas, como ensina Ronaldo Lima dos Santos (2003), os primeiros avanços no combate ao trabalho escravo tiveram origem no Cristianismo:

Com o advento do cristianismo, a escravidão fora amenizada por influência dos pensamentos religiosos de igualdade, fraternidade e solidariedade. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, embora não condenassem diretamente a escravidão, reclamavam tratamento digno e caridoso para os escravos. Em 366 a.C, decretou-se por Lei a proibição da escravidão por dívidas, após a escravidão foi abolida.

Na visão de Vito Palo Neto (2008, p. 33), na idade média algumas regiões da Europa insistiram em se manter escravistas, como o Sul da Itália, a Espanha e Portugal, dando-se início as grandes navegações e a novas relações com os demais continentes como o Africano e o Americano. Ademais, Portugal estava ligado diretamente a novas conquistas, além das marítimas, substituindo sua mão de obra por escravos oriundos da África.

Ademais, a Inglaterra foi o primeiro país, apesar de se encontrar com novos ideais e ser beneficiada com o tráfico negreiro, que aboliu a escravidão e iniciou uma grande motivação e apoio aos países para que também seguissem seus passos, visando sempre seus novos interesses provenientes da Revolução Industrial e do seu crescimento econômico (SENTO-SÉ, 2001, p.32).

Do ponto de vista de Vito Palo Neto (2008, p. 30):

No século XVIII, surge na Inglaterra importante movimento histórico, denominado Revolução Industrial, que influenciou de forma direta e indireta modificações no sistema de trabalho em todo o mundo, fazendo com que a mão de obra da zona rural migrasse para as cidades que começaram a se formar, ocasionando aos poucos o fim do sistema feudal. A revolução industrial caracteriza-se pela passagem da manufatura para maquinofatura. Este novo sistema transforma as relações sociais e cria duas novas classes sociais: a dos empresários (capitalista), proprietários de capitais, prédios, máquinas, matérias primas e a dos operários, proletários ou trabalhadores assalariados, que possuíam apenas força do seu trabalho.

De forma que a economia proeminente agrária, fortificada pelo regime escravista, foi transformada pela Revolução Industrial, deu-se início no sistema produtivo capitalista baseado em uma economia de mercado. Logo, serviu como pontapé inicial para o fim do sistema escravista, porém sem mudar as condições dos

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trabalhadores, que estão coligados a raras ofertas de trabalho e péssimas condições laborais, o que casou a disputa entre classes (VILLELA, Fábio., 2015, p. 3).

Neste sentido, Lívia Mendes Moreira Miraglia (2015, p. 128), ensina que ―no início do processo de colonização, havia necessidade dos portugueses conhecerem a terra, a fim de explorar seus recursos naturais, o que o fez utilizar a mão de obra indígena‖. Para despertar o interesse dos índios e criar laços de amizade, os Portugueses em troca da exploração dos recursos naturais e da terra ofereciam objetos de pouco valor aos índios, que deslumbravam por ser algo extremamente novo e diferente. No entanto, essa troca não perdurou muito e os Portugueses viram-se obrigados a escraviza-los para manter sua exploração.

Ainda na opinião de Lívia Mendes Moreira Miraglia (2015, p. 128):

Os índios, no entanto, não se mostraram bons escravos, seja pela fraca densidade demográfica da população, seja pela dizimação provocada pelas doenças trazidas pelos colonizadores, seja pela evasão dos indígenas – grandes conhecedores das terras virgens - a fim de escapar do trabalho escravo. Os nativos exerciam o trabalho de corte e transportes de pau-brasil para os portos e depois foram utilizados nas pequenas lavouras que surgiram posteriormente. Por questões econômicas e religiosas, com passar do tempo a escravidão indígena foi desaparecendo. Os jesuítas colaboravam de sobremaneira para a não escravização indígena.

Outro aspecto que contribuiu ainda mais para que não se investisse na escravidão indígena é a questão econômica, pois ela não gerava grandes lucros ao mercado como a escravidão negra africana que dependia diretamente dos fluxos marítimos, arrecadando muita riqueza através dos impostos exigidos por Portugal (SCHWARZ, 2008, p. 97).

―Com a consolidação do sistema capitalista, ao longo do século XIX, os ideais escravagistas brasileiros mostraram-se incompatíveis com a realidade mundial emergente‖. Consequência esta do sistema capitalista que estava cada vez mais se fortificando em todo mundo, exigindo um trabalho livre para o aumento dos lucros e da produção, gerando a estabilização do mercado (SCHWARZ, 2008, p. 86).

Em 1888 a Princesa Isabel aboliu o regime escravista do Brasil, afirmando Jairo Lins de Albuquerque Sento-Sé (2001, p. 40) que:

Apesar de se discutir até hoje este ato realmente teve condão de expungir a escravidão, sob o ponto de vista formal esta lei a sepultou de maneira definitiva da realidade jurídica nacional. A partir daí, o escravo deixou de ser

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propriedade de outro homem, tendo a sua liberdade proclamada e readquirindo a condição de pessoa humana.

Em 1850 com ameaças oriundas da Inglaterra, o Brasil aprovou a Lei n. 581 conhecida como a Lei Euzébio de Queiroz que proibia o tráfico interatlântico de escravos em embarcações brasileiras. Apesar disso, o tráfico continuou e se propagou de forma clandestina em todo país. (SCHWARZ, 2008, p.103).

Importante destacar que o Brasil apesar de ter aprovado todas essas leis para libertar os escravos, ele não se preocupou em sancionar leis ou normas que integrassem esses trabalhadores oprimidos na sociedade. Com isso, levou a maioria destes escravos voltarem a suas condições de origem, visto que eram obrigados a trabalhar muitas vezes apenas por um prato de comida, para ter onde dormir ou para pagar suas dívidas que contraíram ao serem livres (MIRAGLIA, 2015, p.128).

Outro ensinamento de Rodrigo Garcia Schwarz (2008, p.89):

Essas conquistas do regime escravista na Antiguidade foram, de fato, proporcionadas pela dinâmica da escravidão. O nível de desenvolvimento das forças produtivas era tão baixo que somente através da movimentação coercitiva do trabalho físico de grandes massas de trabalhadores, o caminho do progresso na Antiguidade, sob a dinâmica do escravismo, todavia, fez inúmeras vítimas, e, como já afirmamos, deixou vestígios, para a humanidade, que subsistem no tempo, inclusive após a sua desaparição como sistema socialmente aceito. No entanto, se o sistema progrediu à custa do escravismo, a sua própria manutenção passou a albergar contradições. Dessa, forma, a transição do trabalho escravo para o trabalho livre ocorreu de forma lenta e gradual, não tendo significado o fim da escravidão em termos absolutos, visto que os proprietários ainda detinham de alguma forma o controle sobre aqueles que trabalhavam em sua propriedade.

Nesse contexto, apesar de abolida no Brasil, a escravidão ainda persiste até os dias de hoje em diversas formas, não existindo apenas uma corrente que elucide o que é trabalho escravo atualmente, só no Brasil existem mais de vinte definições, sendo as mais populares: ―escravidão branca‖, ―escravidão negra‖, ―senzala amazônica‖, ―super exploração do trabalho‖, ―escravidão por dívida‖, ―trabalho em condições subumanas‖ e ―trabalho degradante‖, seriam sinônimos, ―escravidão contemporânea‖, ―trabalho em condições análoga à de escravo‖ (SENTO-SÉ 2001, p. 16).

Os aspectos históricos acima abordados demonstram que o trabalho conforme o passar dos séculos foi proporcionando uma maior positivação da dignidade da pessoa humana. ―O direito ao trabalho, enquanto direito social previsto

Referências

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