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A orientação para processo e o resultado da inovação

2. Abordagem Econômica da Inovação

2.2 A orientação para processo e o resultado da inovação

É preciso, portanto, um olhar mais atento sobre o significado da inovação. A literatura acadêmica tem tratado da inovação basicamente em duas principais dimensões, uma enfatizando o processo, enquanto a outra o resultado (GOPALAKRISHNAN e DAMANPOUR, 1997; DAMANPOUR e EVAN, 1984; KIMBERLY e EVANISKO, 1981; VAN DE VEN e ROGERS, 1988; ZALTMAN et al., 1973). Ambas as dimensões têm dominado o debate dessa temática. Do ponto de vista do processo, os profissionais, financiadores ou formuladores de políticas olham para o contexto ou forma de produção de um determinado bem ou serviço. Já do ponto de vista do resultado todos querem prever sobre quais inovações terão sucesso (PHILLIS et al., 2008).

Corroborando com a afirmação anterior, o Manual de Olso (1997) - que tem por objetivo orientar e padronizar conceitos sobre inovação tecnológica - afirma que as pesquisas sobre inovação nas empresas podem ser orientadas por duas abordagens principais, a saber, “subject approach” e “object approach”, conforme segue:

A abordagem do sujeito (subject approach) começa pelo comportamento inovador e pelas atividades da empresa como um todo. A ideia é explorar os fatores que influenciam o comportamento inovador da empresa (estratégias, incentivos e barreiras à inovação) e o escopo das várias atividades de inovação (...). A abordagem segundo o objeto (object approach) se inicia pela identificação de uma relação de inovações bem-sucedidas frequentemente baseada em avaliações de especialistas ou anúncios de novos produtos em jornais especializados. (OECD, 1997:51)

Assim, as pesquisas sob a “abordagem do sujeito” procuram avaliar as relações existentes no processo de produção de inovação, explorar os fatores que contribuem de forma direta ou indireta para a atividade inovadora dentro das firmas. Já a abordagem do objeto enfatiza as inovações bem-sucedidas, isto é, o resultado. Nisso, percebe-se que ambas as abordagens se referem à mesma distinção apresentada anteriormente, sendo uma relacionada ao processo e a outra ao resultado.

Nos últimos relatórios emitidos pela OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development) a inovação é apresentada como:

A implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. (MANUAL DE OSLO, 2005, p.55; 2010).

Já para o Centre for Social Innovation (CIS, 2008) é essencial se distinguir quatro elementos da inovação:

1) O processo de inovar ou gerar um novo produto ou solução, que envolve fatores técnicos, sociais e econômicos; 2) O produto ou invenção em si – um resultado que podemos chamar propriamente inovação; 3) A difusão ou adoção da inovação, por meio da qual ela se torna amplamente utilizada; 4) O valor último criado pela inovação (CIS, 2008, p.4).

Deve-se considerar, portanto, que a despeito da natureza da inovação que se propõe, ou seja, toda e qualquer inovação deve atender a critérios como novidade e/ou melhoria significativa, independente da originalidade, pois pode-se considerar nova para um usuário, contexto ou aplicação específica (OECD, 2005, 2010; PHILLIS et al., 2008). Nesta perspectiva, uma inovação deve ser mais efetiva ou mais eficiente do que alternativas precedentes, independentemente da magnitude da inovação, se radical ou incremental (FREEMAN, 1988). Assim como, deve ser implementada, isto é, ser efetiva no ponto de vista mercadológico. Para que uma inovação seja bem-sucedida, portanto, esta deve atender as demandas do mercado (COTTERMAN et al., 2009).

Para Kanter (1984) a inovação se refere ao processo de colocar em prática uma nova ideia para a solucionar um problema, assim, a inovação é a geração, adoção e implementação de novas ideias, processos, produtos e serviços. Não obstante, segundo a autora, o termo inovação, ainda se refere à tecnologia, para a grande maioria. Já para Damanpour (1991), a inovação consiste em um novo produto ou serviço, uma nova tecnologia de processo ou de produção, bem como um novo sistema de gestão ou uma nova estrutura organizacional. Segundo o autor, a inovação se refere também, a um meio de mudar a organização, seja isso uma resposta a mudanças do ambiente interno ou externo ou, seja isso, uma ação preventiva.

Gopalakrishnan e Damanpour (1997) entendem que a inovação desempenha um papel no fomento da economia, em reforçar e manter o alto desempenho das empresas, na construção da competitividade industrial e melhoria no padrão de vida. Os autores ao fazerem uma revisão da literatura sobre a inovação organizacional, reforçam, ainda, a perspectiva do processo e resultado da inovação. Aliados a esta mesma perspectiva, estão Porter (1990) e Daroit e Nascimento (2004), ao reconhecerem que as inovações – desde Schumpeter – têm sido tratadas como forma de obtenção de lucros extras pelas empresas, por meio de vantagens

competitivas, assumindo, assim, um papel influente na competitividade das organizações. O paradigma construído sob o enfoque da inovação, neste sentido, está em que a dimensão econômica é comumente assinalada como central.

Daí as críticas tecidas sobre a inovação tecnológica no sentido de ter passado a utilizar formas de produção descompromissadas com o contexto social. Pois sabe-se que as novas tecnologias não promoveram apenas uma maior facilidade ao cotidiano das pessoas, mas trouxeram consigo efeitos negativos à sociedade e ao meio ambiente.

Considerando tais efeitos negativos, Porter e Kramer (2011, p.4) afirmam que "o capitalismo está sob o cerco". Embora, nos últimos anos, maior atenção tenha siso dada para o elemento "criação de valor", os autores destacam que grande parte das empresas permancem "presas" a uma abordagem ultrapassada, vendo a criação de valor de forma restritiva, otimizando, sobretudo, o desempenho financeiro a curto prazo e ignorando influências mais amplas.

A inovação no contexto organizacional tem assumido um papel central no que diz respeito à estratégia e vantagem competitiva. Tidd, Bessant e Pavitt (2005) corroboram com a ideia de que as inovações são decorrentes de processos organizacionais alinhados à estratégia organizacional, resultando estas, em projetos que irão gerar vantagens competitivas. Tais autores, afirmam que o processo de inovação envolve as seguintes etapas: i) prospecção do ambiente, tanto interno como externo, para identificar e processar sinais relevantes sobre ameaças e oportunidades relacionadas à mudança; ii) decisão com base em uma visão estratégica, isto é, a maneira como as empresas podem melhor se desenvolver e a quais desses sinais devem responder; iii) obtenção dos recursos que possibilitem uma resposta, seja criando algo novo, através de pesquisa e desenvolvimento, seja adquirindo algo externo, através de transferência de tecnologia; iv) e implementação do projeto.

Observa-se, portanto, que a inovação, passou a assumir uma importância significativa no contexto organizacional, estando fortemente atrelada às questões estratégicas e, por assim dizer, à maior competitividade.