Procedimentos de coleta de dados

Em estudos de natureza exploratória, descritivo-qualitativo, deve-se ter o cuidado para que a coleta e evidências ocorra de forma planejada. Como estratégia para coleta de dados, foram utilizadas múltiplas fontes de evidências, a fim de aumentar a confiabilidade da pesquisa (YIN, 2009) e visando, ainda, a triangulação entre os instrumentos utilizados para a coleta de dados. Para Eisenhardt (1989), a utilização da triangulação em múltiplos casos, fortalece o embasamento da teoria pela triangulação de evidências. Utilizou-se portanto: i) pesquisa bibliográfica, como embasamento teórico, para a construção das dimensões e categorias analíticas da inovação social; ii) pesquisa documental para o levantamento de dados secundários do fenômeno investigado (vídeos, fotos, artigos, informativos e/ou livros publicados pelas organizações, palestras e websites); iii) entrevistas semiestruturadas7 _{com os}

atores-chave; iv) e a observação não participante, que envolveu visitas, entrevistas e diversas interações junto às organizações pesquisadas. Da compreensão de que o conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, antes, é construído da interação e interdependência dos sujeitos com o objeto investigado (CHIZZOTTI, 1995; FILHO, 2006), incluindo assim, o sujeito-observador, a pesquisa de campo, através das entrevistas e observação não participante, foi, neste sentido, crucial, pois permitiu à pesquisadora, dialogar com a realidade e dinamicidade do fenômeno.

Primeiramente, foram realizadas entrevistas com os principais gestores e idealizadores das inovações sociais, para que, a partir daí, se pudesse identificar, também, os demais atores envolvidos. O período da coleta de dados se deu entre outubro de 2015 e setembro de 2016, tendo sido realizadas várias visitas de campo para a realização das entrevistas. Deve-se dizer que todos os informantes-chave da pesquisa, se referem a atores cujo a participação, envolvimento, decorrentes ou não de cargos, têm relação significativa com o processo de criação, desenvolvimento e difusão da inovação social investigada.

Para que se pudesse ter uma compreensão mais aprofundada do fenômeno, as entrevistas com os idealizadores das iniciativas, nos três casos investigados, foram realizadas em duas etapas. Além disso, outros diversos contatos foram feitos com os mesmos via telefone, e-mail e Skype. Tais entrevistas tiveram duração total de três horas, todas gravadas e

7 _{A técnica de entrevistas em profundidade, possui roteiro semiestruturado, onde há orientações gerais, mas} também, é permitido a inclusão de perguntas não estruturadas (HAIR et.al., 2005). O guia de entrevista (Apêndice A) foi orientado de acordo com o conceito da inovação social e com as categorias previamente identificadas na literatura (quadro 6).

posteriormente, transcritas. Deve-se dizer que, embora a orientação na área de Ciências Sociais seja a de manter o anonimato dos entrevistados, dado o caráter já público dos idealizadores, tanto pela exposição midiática como acadêmica, optou-se por manter os nomes reais. No caso dos demais entrevistados, foram omitidos os nomes.

A quantidade de entrevistados foi definida de forma que atingisse o ponto de saturação adequado para responder aos objetivos da pesquisa, totalizando em 24 sujeitos. Foram 9 (nove) entrevistados, referente ao Banco Palmas, 8 (oito) entrevistados referente à Cidades sem Fome e 8 (oito) entrevistados a respeito do Colab. Dentre os entrevistados, estão atores organizacionais, atores institucionais (prefeituras) e atores sociais (usuários/beneficiários). Os atores sociais foram selecionados pelo critério de conveniência, devido o acesso às informações (MERRIAM, 1998). O quadro a seguir, expões informações sobre os atores participantes.

Quadro 4 - Apresentação dos Entrevistados

Caso 1 Banco Palmas Entrevistados Tempo de Atuação Data da entrevista 1 Idealizador e Coordenador Geral do

Banco Palmas 18 anos 09/10/15 09/05/16

2 Gestora de Projetos 5 anos 09/10/15

09/05/16 3 Coordenadora do Instituto Palmas 18 anos 10/05/16 4 Presidente da Associação dos

Moradores (ASMOONCOP) 18 anos 10/05/16

5 Gerente de Microcrédito 5 anos 11/05/16 6 Coordenadora do e-Dinheiro (Moeda

Social Eletrônica) 16 anos 11/05/16

7 Morador e participante do Conselho

Gestor 18 anos 11/05/16

8 Gestora da Casa da Economia Solidária

(SDE) 3 anos 12/05/16

9 Beneficiário - 09/05/16

10 Idealizador e Coordenador Geral da

ONG 12 anos 01/08/16

11 Gestor e técnico agrícola 5 anos 13/09/16

Caso 2 Cidades Sem

Fome

13 Agricultor (beneficiário) 1 6 anos 01/08/16 14 Agricultor (beneficiário) 2 3 anos 01/08/16 15 Agricultor (beneficiário) 3 2 anos 01/08/16 16 Secretário do Ministério da Agricultura

(Prefeitura São Paulo) 15 anos 21/09/16 17 Especialista de Sustentabilidade (AES

Eletropaulo) 5 anos 21/09/16

Caso 3 Colab

18 Idealizador e Sócio Fundador - Gestor

de Comunicação 4 anos 02/08/16

19 Idealizador e Sócio Fundador - Diretor

Administrativo 4 anos 10/06/16 _14/09/16 20 Gestora de Comunidades 2 anos 02/08/16

21 Gestora de Projetos 2 anos 29/09/16

22 Usuária - 20/09/16

23 Prefeitura de Curitiba 3 anos 04/06/16 24 Prefeitura de Campinas 2 anos 05/08/16

Fonte: Elaboração própria

As entrevistas foram organizadas de modo a coletar informações sobre a dinâmica da inovação social, com base em categorias e dimensões previamente identificadas na literatura. Buscou-se a maior liberdade possível nas entrevistas, a fim de investigar questões que os especialistas e atores considerassem preeminentes. Assim, as entrevistas foram iniciadas, dando aos entrevistados, a oportunidade de fazer uma declaração livre sobre a iniciativa, buscando identificar o contexto histórico e social em que a mesma se insere. Em seguida, foi solicitado aos entrevistados que avaliassem a iniciativa enquanto uma inovação social, pedindo-lhes que fundamentassem a sua avaliação. Isto foi fundamental para que se pudesse refletir sobre o conceito da inovação social, a partir da prática e percepção dos atores.

Perguntas foram feitas em direção ao surgimento, processo de desenvolvimento e implementação das inciativas. Buscou-se identificar, neste processo, o contexto social em tal iniciativa se insere, a relações entre os atores sociais, o processo e mecanismos de gestão da inovação, o contexto institucional (quadro legal e normativo) para a implementação da inovação e os principais resultados alcançados. Buscou-se ainda, identificar as barreiras e facilitadores em cada um desses aspectos.

No que se refere à ética na pesquisa, deve-se mencionar que todos os atores entrevistados estavam cientes da pesquisa, inclusive de sua condição voluntária em responder à entrevista semiestruturada. Foram, ainda, devidamente informados sobre a gravação e

transcrição da mesma.