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4. Contribuição da Nova Sociologia Econômica

4.3 O Papel das Relações Sociais na NSE

Os estudos de Granovetter e Swedberg (1992), influenciados por Weber (1982) e Polanyi (2000), sugerem que a visão de “enraizamento” (embeddedness) discutida por Polanyi, é parcialmente limitada, pois consideram que, nem toda sociedade pré-capitalista estava livre do impulso do capital, assim como, nas sociedades capitalistas nem toda ação econômica é desenraizada de motivações não-econômicas. Os autores passam, então, a flexibilizar a noção de “enraizamento”, e com isso, a noção das redes de relações sociais, assumem maior relevância. As redes de relacionamento, assumem importância significativa, nas discussões da NSE, dado o entendimento de que os mercados são resultados da interação social entre os atores (ABRAMOVAY, 2004).

O entendimento de que a ação econômica é socialmente situada, para Granovetter e Swedberg (1992, p.9), diz respeito à ação econômica estar enraizada em redes de relações pessoais. Para tais autores, “redes” podem ser definidas como “a regular set of contacts or similar social connections among individual and groups”. Nesta perspectiva, tais redes, não são “naturais”, nem mesmo, “dadas”, pois trata-se de uma construção social.

Granovetter (1995) levanta, ainda, uma crítica a respeito da visão extremista que se constituiu acerca do homem como ser social. Para ele, enquanto a ciência econômica tratava o homem como um ser “subsocializado”, com vista no utilitarismo, a sociologia o tratava como um ser “supersocializado”, pressupondo padrões de comportamento internalizados. Em ambos, há um equívoco, segundo o autor. Desta forma, Granovetter (1995) sugere olhar para o ator econômico a partir do contexto e das redes sociais. A proposta do “embeddedness”, neste sentido, surge como um entremeio dos extremos teóricos.

Mark Granovetter (1974), traz uma contribuição significativa aos pressupostos teóricos da NSE, ao discutir e enfatizar a importância das relações pessoais e das redes sociais na formação dos mercados. Pode-se dizer que a perspectiva proposta pelo autor, sublinha a dinâmica de mercados no âmbito local – característico de redes relacionais muito densas – e no âmbito regional, nacional ou global – característico por redes pouco densas, mas com diversos contatos e facilidade de acesso às informações.

Desde 1974, Granovetter passou a discutir em suas obras, o padrão de conexão existente entre os indivíduos. Na obra intitulada “The Strenght of Weak Ties: A Network Theory Revisited” (1983), o autor após rever os conceitos, anteriormente, utilizados, propõe uma discussão sobre o papel dos chamados “Laços Fracos” e das redes de “Laços Fortes”, em relação à inovação, conforme segue.

Os chamados “Laços Fracos” são fundamentais para a disseminação da inovação, por serem redes constituı́das de indivı́duos com experiências e formações diversas. Nas redes de “Laços Fortes” há uma identidade comum, as dinâmicas geradas nessas interações não se estendem além dos clusters, por isso mesmo, nas referidas redes procuramos referências para a tomada de decisão; são relações com alto nı́vel de credibilidade e influência. Indivı́duos que compartilham “Laços Fortes” comumente participam de um mesmo cı́rculo social, ao passo que os indivı́duos com os quais temos relações de “Laços Fracos” são importantes porque nos conectam com vários outros grupos, rompendo a configuração de “ilhas isoladas” dos clusters e assumindo a configuração de rede social. Nesse sentido, as relações baseadas em “Laços Fortes” levam a uma topologia da rede, isto é, definem a configuração dos nós da rede de conexões entre os indivı́duos no ciberespaço, no qual as relações de “Laços Fracos” funcionam como bridges desses clusters. Quanto menos relações de “Laços Fracos” existirem numa sociedade estruturada em clusters (“Laços Fortes”), menos bridges e menos inovação (KAUFMAN, 2012, p. 208).

Os ditos laços fracos, segundo o autor, são vitais para a integração dos indivíduos à sociedade, pois, do contrário, os sistemas sociais serão fragmentados e incoerentes. Neste caso, as inovações ou “novas ideias” tenderão a se espalhar lentamente, e assim, a sociedade tenderá a permanecer isolada em seus clusters. Não obstante, apesar da relevância dos laços fracos na difusão de inovações, Granovetter (2005) chama a atenção, para o fato de que, não, necessariamente, haja uma aceitação direta e imediata das mesmas, à menos que haja sentimentos de identificação e confiança, entre os membros da comunidade, o que remete à rede de laços fortes (KAUFMAN, 2012). O autor relaciona a força dos “Laços Fracos” e dos “Laços Fortes”, à disseminação e sustentação da inovação.

Os “laços fracos”, na visão do autor, correspondem a redes de relacionamentos, constituídos por vínculos secundários, fracos em intensidade, heterogêneos em conteúdo e não organizados territorialmente. Já os “laços fortes” se referem a relações pessoais de maior densidade, onde há uma identidade comum. São relações com alto nível de credibilidade e influência (KAUFMAN, 2012). Os adeptos da nova sociologia econômica defendem que a ausência de laços cívicos, de confiança, entre os cidadãos, e de compromissos morais relativos à maneira de organizar a sociedade, ao contrário, do argumentado pelos economistas liberais, é um obstáculo ao desenvolvimento do mercado.

Tais discussões, tornam-se relevantes para este estudo, pois permitem compreender a inovação social a partir das relações sociais, entre os diversos atores envolvidos. A NSE, em contraposição, à visão neoclássica, argumenta que as transações econômicas são imersas na estrutura social. Neste sentido, o pressuposto de ação econômica socialmente “enraizada” [embedded], permite um melhor entendimento sobre as interações sociais que permeiam as

iniciativas socialmente inovadoras, bem como os arranjos institucionais que sustentam o relacionamento entre tais atores.

Granovetter (2005) mesmo, ao analisar a economia, passa a postular três condições: (i) toda ação econômica é também uma ação social; (ii) toda ação econômica é socialmente situada; (iii) as instituições econômicas são construções sociais. Logo, percebe-se o potencial explicativo da NSE para fenômenos emergentes – como a inovação social. Ou seja, as ações econômicas passam a serem vistas como imersas em sistemas concretos e contínuos de relações sociais. Esta corrente propõe, além de uma economia plural, uma reconfiguração das relações Estado-mercado-sociedade, bem como uma reimersão na dimensão sociopolítica. Para Levesque (2007) a transição da economia clássica para a nova sociologia econômica permite uma compreensão do desenvolvimento econômico em direção ao desenvolvimento sustentável, gerando transformações e novas interdependências.

Daí, percebe-se o potencial explicativo da NSE, quando relacionado às iniciativas de inovação social, que buscam ultrapassar os limites econômicos, propondo uma transformação social, através de novas relações entre os atores (BEPA, 2011).