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4. Contribuição da Nova Sociologia Econômica

4.2 Abordagem evolucionária neo-schumpeteriana

Apesar de Joseph Schumpeter (1912; 1934; 1942) ter lançado os fundamentos teóricos da inovação e empreendedorismo, no início do século XX, uma base de conhecimento mais ampla, dentro da área, começou a surgir após a II Guerra Mundial. Primeiramente com a inovação – nas décadas de 1960 e 1970 – e, mais tarde, com o empreendedorismo, em 1980. Certamente, impulsionada pelas mudanças econômicas e políticas que ocorriam na sociedade, bem como a inserção de novas tecnologias e mudanças na estrutura industrial. Momento em que, tanto a inovação como o empreendedorismo, ganharam maior atenção na sociedade e academia (FAGERBERG et.al., 2012).

Deve-se ressaltar que os estudos em inovação, enquanto campo de pesquisa, foram fortemente influenciados pela criação do British Research Institute Science Policy Research Unit (SPRU), em 1966, dirigido por Christopher Freeman. A pesquisa do SPRU, assumiu uma abordagem de sistema em P&D (pesquisa e desenvolvimento) em inovação, de forma multi e transdisciplinar, tornando-se, rapidamente, um centro mundial de pesquisa na área. Em decorrência disto, diversos pesquisadores da Europa e EUA começaram a investigar conjuntamente, contribuindo tanto para a construção de um quadro teórico coeso, como para a elaboração de uma agenda de pesquisa.

Dentre as contribuições teóricas mais influentes dentro do campo, deve-se mencionar o livro “A Economia da Inovação Industrial”, publicado por Freeman (1974), bem como as publicações de Nelson e Winter (1982), com a teoria evolucionária no campo da teoria

econômica, proporcionando uma análise da dinâmica evolutiva da economia. Os autores, fazem uma analogia – da biologia evolucionária com elementos da teoria econômica, denominado por eles de não-ortodoxos (não-neoclássicos), por não se considerar os pressupostos tradicionais de maximização e equilíbrio, em prol de comportamentos e estratégias sob incerteza e racionalidade limitada. Os autores utilizam conceitos de Darwin como elemento central da teoria que rege as transformações nas empresas. A abordagem evolucionária neo-schumpeteriana, foi assim denominada, pela ênfase na mudança estrutural, centrada nas inovações.

De um modo geral, os evolucionistas consideram as inovações como uma melhora constante no processo produtivo, e assim, um constante processo de aprendizagem. O approach neo-schumpeteriano permite verificar o comportamento das firmas e da estrutura de mercado num quadro dinâmico de mudanças técnicas, incorporando, de certa forma, a intervenção estatal à analise - posto ser o Estado um interventor direto no padrão de busca de muitas firmas (SHIKIDA e BACHA, 1998).

A teoria evolucionária, preocupa-se com “processos de mudança de longo prazo e progressivos” (NELSON; WINTER, 2005, p.26). Ou seja, é “path-dependent”, no sentido de que dá maior atenção ao processo de transformação das estruturas econômicas e sociais do que ao equilíbrio. A mudança, está no centro desta abordagem. Dentre os expoentes da linha neo-schumpeteriana, estão: Nathan Rosenberg, Christopher Freeman, Richard Nelson, Sidney Winter e Giovanni Dosi.

Nesta abordagem, há um diálogo com o Sistema Nacional de Inovação, a trajetória tecnológica das firmas, bem como o seu ambiente institucional. O progresso técnico, por exemplo, que tem acompanhado a própria história da civilização para aumentar a produtividade diante de um conjunto variado de condições ambientais (ROSENBERG, 2006). Diferentemente, das escolas tradicionais, em que a tecnologia é uma variável exógena ao modelo de crescimento econômico, os autores neo-schumpeterianos, endogenizaram a mudança técnica. Para a escola neo-schumpeteriana, as inovações alteram, a partir de dentro, os parâmetros do sistema econômico que, por ser evolucionário, não conhece o equilíbrio e em razão disso, transcorre ao longo do tempo, fazendo com que sua natureza seja histórica [path dependent], (SHIKIDA e BACHA, 1998).

Há uma atenção muito maior nos elementos “intra-firma”, como forma de explicar a introdução de inovações no sistema capitalista. Neste prisma, as inovações surgem como forma de solucionar problemas internos das próprias firmas. Por não ser exógena, as novas tecnologias, passam a não estar disponíveis no mercado para qualquer empresa/indivíduo, não

é um bem-público, nem mesmo, se difundem de maneira instantânea. Por estar inserida num ambiente institucional e por pertencer a uma empresa específica, estará sujeita a medidas de proteção através das leis de patentes.

Uma variável considerada crucial e que interfere diretamente na capacidade das firmas inovarem, é o conhecimento. Assim, uma vez que, os indivíduos e firmas possuam níveis distintos de conhecimento, as capacidades inovativas das firmas também o são. A capacidade absortiva da firma e a performance inovativa, segundo Cohen e Levhintal (1990), é “path- dependent”, onde a falta de investimentos em uma área de conhecimento, pode travar o desenvolvimento técnico futuro da firma.

Um outro conceito discutido nesta abordagem, é o que Dosi (1982) chama de “paradigma tecnológico”, para denominar aquelas tecnologias capazes de transformar não só, as mercadorias e a forma de produzi-las, como também, a maneira que as pessoas vivem suas vidas.O paradigma tecnológico se apresenta como a “melhor prática”, a melhor forma de se produzir as coisas (eficiência) e é incorporado em, praticamente, todos os produtos possíveis. Pode ser definido como um padrão de solução de problemas econômicos selecionados, baseados em princı́pios derivados das ciências: i) a “tecnologia” não se restringe apenas a um conjunto de projetos bem definidos, mas também, às atividades solucionadoras de problemas, que envolvem as formas tácitas de conhecimento, existentes nos procedimentos individuais e organizacionais; ii) os paradigmas englobam uma heurística própria e formas especı́ficas de “como fazer as coisas” e como melhora-las, compartilhadas entre os profissionais das mais diversas atividades econômicas, se apresentando como um marco cognitivo coletivo; iii) e os paradigmas definem os modelos básicos dos produtos industriais e os sistemas de produção (CIMOLI; DOSI, 1994; SHIKIDA e BACHA, 1998).

Porém, ao contrário, do que se pode pensar, o paradigma tecnológico pode não ser a tecnologia mais avançada existente. Arthur (1989) salienta que às vezes uma tecnologia inferior vem a se tornar o paradigma tecnológico, por razões que não são relacionadas à sua performance.

As instituições, também, emergem como categoria de análise e principal causa de mudança socioeconômica na tradição institucionalista. De acordo com Veblen (1965, p.177) “a evolução da estrutura social foi um processo de seleção natural das instituições”. A despeito de qual seja a tradição institucionalista (Antigo Institucionalismo (Veblen) ou Neo- institucionalismo (Hodgson), há um consenso, em se compreender a natureza evolucionária do processo de mudança das estruturas socioeconômicas e seu caráter histórico, path- dependent.

Hodgson (2004) argumenta que na abordagem vebleniana os fenômenos socioeconômicos não podiam ser explicados exclusivamente em termos dos indivíduos, ou seja, os agentes econômicos ao agirem entre si, dependem do contexto social que os circunda. Neste prisma, o comportamento individual é afetado pelas estruturas sociais nas quais os indivíduos se inserem, as instituições não apenas restringem o comportamento individual, mas também, afetam as vontades e preferências dos agentes econômicos (SHIKIDA e BACHA, 1998). Para Veblen, os indivíduos e as estruturas sociais são mutuamente constitutivos, ou seja, evoluem conjuntamente, onde, uma mudança em um deles afeta o outro. As instituições para esses autores, são resultado da interação humana, refere-se ao conhecimento social transmitido de geração para geração, assumindo assim, um caráter histórico e cumulativo.

Hodgson (2006, p.2) define as instituições como sendo um “sistema de regras sociais estabelecidas e prevalecentes que estruturam as interações sociais” – fala-se das leis, moeda, sistema de pesos e medidas e as firmas. Na mesma medida em que as instituições moldam, elas são moldadas pela interação humana (HODGSON, 1998).

As inovações apresentadas como força motriz do crescimento econômico, assim afirmado por Marx e Engels (2001) e Schumpeter (1984) e, posteriormente, pelos neo- schumpeterianos, além das suas forças produtivas, apresenta uma dimensão institucional neste processo. Ou seja, o crescimento e transformação do sistema capitalista, se dá pela evolução, tanto das estruturas físicas (máquinas e técnicas) como sociais (instituições, rotinas, padrões das firmas). Em razão disso, para se compreender a dinâmica do processo de mudança e crescimento econômico, deve-se, igualmente, compreender o processo de mudança institucional (NELSON, 2002, 2008).

Para Hodgson (1998) há uma estreita relação entre o institucionalismo e o evolucionismo. Dado o caráter dinâmico e evolucionário do processo de mudança das estruturas sociais e econômicas, surge a necessidade de se combinar as teorias das escolas neo-schumpeterianas e neo-institucionalistas. Em suma, uma boa compreensão da discussão teórica que permeia a inovação se faz necessária, para que se perceba o funcionamento das economias contemporâneas. O processo de inovação não apenas decorre de novas combinações de conhecimento, ou pela introdução de novas tecnologias, mas depende do ambiente institucional prevalecente em cada sociedade, o que faz com que a inovação seja um fenômeno essencialmente qualitativo.