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2.4. O ENSINO DO TEXTO A PARTIR DOS GÊNEROS TEXTUAIS

2.4.1. A perspectiva de gêneros textuais de Dolz e Schneuwly

Realizamos o processo de ensino e aprendizagem do texto, em sala de aula, por meio

do trabalho com gêneros textuais, predominantemente o artigo de opinião, partindo da perspectiva de Dolz e Schneuwly (2004). Destarte, discorremos sobre a perspectiva dos autores para, ulteriormente, determo-nos ao gênero artigo de opinião.

Dolz e Schneuwly (2004) partem de Bakhtin (2011), que conceitua o gênero um instrumento e consideram-no um megainstrumento de aprendizagem. A partir daí os autores propõem organizar o trabalho com os gêneros textuais em agrupamentos, conforme podemos observar no quadro seguinte:

Quadro 2 – Agrupamento de gêneros de acordo com aspectos tipológicos

DOMÍNIOS SOCIAIS DE COMUNICAÇÃO CAPACIDADES DE LINGUAGEM DOMINANTE EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS

Cultura literária ficcional

NARRAR

Mimeses da ação através da criação de intriga

Conto maravilhoso Fábula

Lenda

Narrativa de aventura Narrativa de ficção científica Narrativa de enigma Novela fantástica Conto parodiado Documentação e memorização de ações humanas RELATAR

Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo

Relato de experiência vivida Relato de viagem Testemunho Curriculum vitae Notícia Reportagem Crônica esportiva Ensaio biográfico Discussão de problemas controversos ARGUMENTAR Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição

Texto de opinião Diálogo argumentativo Carta do leitor Carta de reclamação Deliberação informal Debate regrado

Discurso de defesa (adv.) Discurso de acusação (adv.)

Transmissão e construção de saberes

EXPOR

Apresentação textual de diferentes formas do saber Seminário Conferência Artigo ou verbete de enciclopédia Entrevista de especialista Tomada de notas Resumo de textos “expositivos” ou explicativos Relatório científico Relato de experiência científica Instruções e prescrições DESCREVER AÇÕES Regulação mútua de comportamentos Instruções de montagem Receita Regulamento Regras de jogo Instruções de uso Instruções Fonte: adaptado de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 102).

Situamos o nosso trabalho no grupo do “Argumentar”, com o gênero artigo de opinião, por meio do qual exploramos a discussão de temas, em que os estudantes eram convidados a tomar uma posição e defendê-la. Para isso, os autores propõem duas maneiras de organização do referido trabalho: uma delas, em que gêneros pertencentes a um mesmo grupo são trabalhados ao longo dos ciclos, ou outra, em que um mesmo gênero é trabalhado “com objetivos mais complexos” (DOLZ e SCHNEUWLY, 2004, p. 104).

Considerando a peculiaridade da turma em que desenvolvemos esta pesquisa e, principalmente, o contexto de ensino noturno e as fragilidades de constituição textual dos discentes, reconhecemos a pertinência do trabalho com os gêneros textuais do grupo “argumentar” e dentre eles, dedicamos maior espaço ao artigo de opinião, gênero em que as produções textuais de S7 analisadas se inscrevem.

Os teóricos dispõem que o estudo de texto com um mesmo gênero pode ser realizado em diferentes níveis, constituindo um trabalho pautado na progressão textual espiralada. Essa abordagem proporciona que o discente tenha um maior domínio sobre um gênero. Isso vai ao encontro dos nossos objetivos de pesquisa, visto que, através dos textos diagnósticos, constatamos que os terceiranistas em questão apresentam dificuldades em desenvolver um texto argumentativo. Uma estratégia para modificar tal situação seria investir no trabalho com os gêneros textuais, predominantemente o artigo de opinião, em que, a cada sequência didática, pudéssemos desenvolver atividades que atuassem na zona de desenvolvimento proximal dos estudantes.

Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) pensam o trabalho com diferentes níveis e os organizam em sequências didáticas, as quais envolvem uma situação de comunicação que orienta o sujeito quanto ao gênero em que sua produção oral ou escrita irá se instaurar. Os teóricos afirmam que, comumente, desenvolvemos atividades de linguagem – a produção textual em um gênero especifico é um exemplo – as quais são originadas por situações de comunicação.

Para os teóricos, a situação de comunicação orienta o sujeito quanto ao gênero em que sua produção oral ou escrita irá se instaurar. A ação de linguagem, segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 63, grifo dos autores) “consiste em produzir, compreender, interpretar e/ou memorizar um conjunto de enunciados orais ou escritos” e para os autores “é através dos gêneros que as atividades materializam-se nas atividades dos aprendizes”. Assim, o trabalho com o gênero tem a função de, mesmo que de modo representativo, preparar o estudante para as mais diversas ações de linguagem que irá realizar socialmente.

Em concordância com Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), evitamos atividades que se repetissem ao longo das SDs. Embora os autores em pauta orientem que atividades de diferente natureza fossem desenvolvidas com um agrupamento de gêneros, adaptamos tal orientação para o trabalho com um mesmo gênero. Ressalvamos que tomamos o devido cuidado ao adotar tal posicionamento e defendemos que o fizemos a fim de não tornar nem as aulas nem as atividades monótonas. Podemos dizer que, para trabalhar o gênero artigo de opinião, respaldamo-nos em atividades que envolvessem outros gêneros.

Esse é o caso da sequência didática de número 2 (SD2), na qual trabalhamos com o gênero carta de solicitação. A escolha por esse gênero é decorrente das reflexões realizadas na sequência didática de número 1, em que percebemos a fragilidade dos estudantes quanto ao emprego de informações e argumentos em seus textos. Ao optar pelo gênero carta de solicitação, situado no grupo do “Argumentar”, propomo-lo aos discentes por meio de uma situação comunicativa bem próxima à realidade deles de modo a envolvê-los na atividade de acuidade com o emprego de informações em produções textuais e a interferência delas na argumentação do texto.

A carta de solicitação teve a função de atuar como um convite à escrita argumentativa e preparo para o trabalho com o gênero artigo de opinião. Assim, a sequência didática em que a exploramos teve a função de subsidiar as demais, nas quais o gênero artigo de opinião foi explorado. Visto que nessa sequência didática intentamos observar se os estudantes consideravam válida a possibilidade de reescrever suas cartas de solicitação, de, ainda, utilizarmos as reflexões proporcionadas pela SD2 para a compilação final do Diário de Produção Textual, optamos por padronizar e restringir as análises das produções textuais ao gênero artigo de opinião, deixando restrita à reflexão a carta de solicitação.

Ao realizar o estudo de texto, demarcamos a diferença entre os gêneros (o trabalho com a carta de solicitação contribui na demarcação de diferença em relação ao artigo de opinião), a fim de que os alunos percebessem que o gênero textual em que expõem e defendem sua opinião acerca de um tema polêmico é o artigo de opinião. Além disso, acreditamos que, em nossa prática docente, podemos realizar a mediação entre aluno e conhecimento, explorando os diferentes recursos que o ambiente sala de aula nos oferece, atrelando o emprego de recursos materiais e digitais ao trabalho com os gêneros textuais. Outrossim, podemos denominar tais atividades como “atividades suporte”, pois alicerçaram o trabalho com o gênero. Cada sequência didática propõe uma escrita em um gênero textual e as demais atividades têm a função de subsidiar a escrita. Podemos observar isso na constituição de cada uma das sequências didáticas (Apêndice C).