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2.4. O ENSINO DO TEXTO A PARTIR DOS GÊNEROS TEXTUAIS

2.4.2. O artigo de opinião

Os textos produzidos pelos participantes desta pesquisa inscrevem-se no gênero textual artigo de opinião. Embora o estudo do gênero em questão não seja o foco de análise da presente dissertação de mestrado, dedicamo-nos, também, ao tratamento dele, de forma a que o nosso leitor compreenda o posicionamento que adotamos ao trabalhar o texto em sala de aula instaurado nesse gênero textual.

Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), em sua perspectiva teórica, tratam os gêneros por agrupamentos, constituindo cinco grupos, dentre os quais o artigo de opinião se inscreve no grupo do “argumentar”. A estudiosa Bräkling (2000), a partir da perspectiva dos autores em questão, desenvolve um estudo sobre o gênero artigo de opinião em sala de aula, no contexto nacional. Além da autora, Barbosa (2006) também se dedica ao artigo de opinião, propondo uma sequência didática para o estudo desse gênero em sala de aula.

Assim, respaldamo-nos em Bräkling (2000) por compactuarmos com alguns posicionamentos por ela adotados em sua pesquisa ao seguir a perspectiva de Dolz e Schneuwly (2004) e em Barbosa (2006) pela proposta de trabalho, sistematizada em uma sequência didática, que envolve tanto preceitos teóricos como a dinamização do artigo de opinião em sala de aula.

Buscamos a base em tais autores, pois nos orientam quanto aos agrupamentos de gêneros, definição do gênero artigo de opinião e proposta de dinamização, o que vai ao encontro da demanda que temos em relação ao artigo de opinião nesta pesquisa. Visto que já versamos sobre os agrupamentos em momento anterior, atemo-nos à definição. Para isso, mencionamos Bräkling (2000, p. 223), a qual afirma que

as atividades de escrita necessitam privilegiar o trabalho com um gênero no qual as capacidades exigidas do sujeito para escrever sejam, sobretudo, aquelas que se referem a defender um determinado ponto de vista pela argumentação, refutação e sustentação de idéias.

Em razão disso, a autora opta por trabalhar com o gênero artigo de opinião em sala de aula, cuja organização é efetivada por meio das sequências didáticas, assim como fazemos nesta pesquisa. Haja vista que compactuamos com a asserção da autora e por também escolher o gênero artigo de opinião para o estudo do texto em sala de aula, encontramos na estudiosa um aporte para o estudo do referido gênero tanto na definição como no processo de ensino e aprendizagem de estudantes de língua materna. Todavia, em nosso caso, diferentemente de

Bräkling (2000), que desenvolveu sua investigação no Ensino Fundamental com discentes da 6ª série (atualmente 7º ano), realizamos este estudo no Ensino Médio, com uma turma de 3º ano.

Segundo a compreensão de Bräkling (2000, p. 226, grifo nosso),

O artigo de opinião é um gênero de discurso em que se busca convencer o outro de uma determinada idéia, influenciá-lo, transformar os seus valores por meio de um

processo de argumentação a favor de uma determinada posição assumida pelo produtor e de refutação de possíveis opiniões divergentes. É um processo que prevê

uma operação constante de sustentação das afirmações realizadas, por meio da apresentação de dados consistentes, que possam convencer o interlocutor.

Concordamos com a acepção da estudiosa acerca do artigo de opinião e, devido à natureza deste trabalho, sobrelevamos o excerto em destaque na citação, uma vez que trabalhamos o artigo de opinião a partir da percepção do texto enquanto processo (LT) e que a construção da argumentação, realizada a partir do trabalho dos escritos com o balanceamento de informações em seus textos, assumiu um caráter processual em cada uma das produções textuais como também ao longo das produções (PTD, PTA1v1, PTA2v1, PTA2v2, PTA3v1 e PTA3v2).

Bräkling (2000, p. 227) defende que, de acordo com esse viés, o artigo de opinião evidencia a “dialogicidade e a alteridade no processo de produção”. Isso evoca a questão de que ao produzir um texto, o escritor necessita se pôr em uma posição empática em relação ao seu possível leitor, a fim de antecipar as posições dele e atuar no seu convencimento. Tal proposição vai ao encontro do que dispõem Capurro e Hjorland (2007) quanto ao conhecimento da necessidade informativa por parte daquele que enuncia, em relação ao usuário da informação. Ademais, compactua com a perspectiva de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014) quando à necessidade do orador em conhecer seu auditório para construir seu discurso de acordo com as peculiaridades do auditório a fim de convencê-lo acerca de uma tese.

Bräkling (2000), além de utilizar a perspectiva de Dolz e Schneuwly (2004), busca, também no mentor dos gêneros discursivos, Bakhtin (2011) sustentação para seu estudo. Ao consultarmos o autor, em consonância com o estudo de Bräkling (2000), compreendemos que o artigo de opinião pode ser definido como um gênero secundário, diante de sua complexidade. Além disso Bakhtin (2011) acentua que, diante de sua natureza complexa, os gêneros secundários são ideológicos.

Em se tratando de ideologia, recorremos à Bakhtin (2014, p 99, grifo do autor) que postula que a “palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou

vivencial”. Vemos o gênero artigo de opinião como um gênero complexo em que o escritor demanda, por meio da materialidade linguística escrita, defender seu ponto de vista sobre um determinado tema. Comparamos o artigo de opinião à construção de jogo de quebra-cabeça. Explicamos: ao construir um quebra-cabeça, o mentor idealiza uma imagem, a qual será partilhada, constituindo o que vem a se chamar de peças, as quais são selecionadas de acordo com a imagem que o mentor do jogo quer construir. Isoladamente, as peças constituem fragmentos da imagem e indiciam o local em que devem ser encaixadas. Somente todas encaixadas constituem uma imagem.

Dessa maneira, o artigo de opinião pode ser visto, como um jogo de quebra-cabeça em que o escritor idealiza um ponto de vista e se utiliza de palavras para defendê-lo. Tais palavras, isoladamente, carregam significados, por isso são selecionadas. Na sua totalidade, isto é, o artigo de opinião em sua completude configura um sentido ideológico que o autor do artigo constrói a respeito de determinado assunto.

Portanto, em concordância com Bräkling (2000), a seleção dos dados – no caso, as informações de um texto base – e a articulação deles ao ponto de vista, o qual é reafirmado ao longo da escrita por meio da refutação ou sustentação de afirmações pode ser visto, em nossa ótica, como um processo ideológico, experienciado pelo autor de um artigo de opinião, neste caso, os terceiranistas. Desse modo, o artigo de opinião se mostra com um gênero de grande valia para ser trabalhado com os participantes desta pesquisa, salientando a peculiaridade de que estão em processo de formação educacional e cidadã.

Bräkling (2000) afirma que deve haver empatia do escritor em relação ao leitor do gênero em pauta, o que intervém no modo como o escritor organiza sua escrita. Para dar conta disso, investimos no contato intelectual com o interlocutor, efetivado através do compartilhamento de informações entre escritor e leitor, que imiscui no balanceamento de informações no texto por parte do escritor. Assim, os participantes desta pesquisa, com um possível leitor demarcado ou com um grupo social em que seu texto circularia, podem considerar quais informações são pertinentes ou não para constar em seu texto e como elas interferem no processo argumentativo.

Direcionando-nos para a questão da dinamização, Barbosa (2006) nos auxilia a perceber as condições de produção que demandamos proporcionar ao estudante. Segundo a autora, convém situarmos o contexto de produção de um artigo de opinião: “eles sempre são escritos por alguém, para alguém, com certa intenção, em determinado tempo e lugar, divulgados em certo veículo etc., e todos esses elementos interferem no sentido dos textos” (BRABOSA, 2006, p. 23). A estudiosa dispõe que envolvem o contexto de produção, conhecimentos acerca do

produtor do artigo de opinião – seria, no caso, uma pessoa especialista em determinado assunto; dos leitores – pessoas que acessam meios de comunicação, tais como revistas e jornais e que se interessam por temas polêmicos; o meio de circulação onde é veiculado; e o objetivo do artigo de opinião – convencer e/ou persuadir os interlocutores a respeito de um tema.

Barbosa (2006) parte da produção de um artigo de opinião em seu contexto nato de realização, entretanto, conforme defendem Dolz e Schneuwly (2004), o que trabalhamos em sala de aula são representações de gêneros textuais com o intuito de preparar o estudante a interagir, por meio dos gêneros, nas mais diversas situações sociais. Dessa maneira, o artigo de opinião corrobora no desenvolvimento da habilidade argumentativa dos estudantes.

Após realizarmos essa ressalva, retornamos a Barbosa (2006) que dispõe sobre a necessidade de trabalhar diferentes gêneros a fim de que o estudante possa identificar o artigo de opinião, e posteriormente, trabalhar diferentes artigos de opinião para que os discentes se familiarizem com o gênero, para, então, adentrar na etapa de produção. Realizamos esse movimento, o qual pode ser comprovado ao longo das sequências didáticas que desenvolvemos (Apêndice C).

No que consta à produção do artigo de opinião, Barbosa (2006) defende que diferentes tipos de argumentos (de autoridade, de princípio, por causa e por exemplificação) podem ser utilizados e que há uma estrutura constitutiva do gênero. Diferentemente da autora, trabalhamos com os lugares da argumentação e com o argumento de autoridade. Quanto à estrutura, visto que nosso objetivo é que o estudante confira informatividade ao seu texto, utilizando informações para sustentação dos argumentos, não nos detemos na macroestrutura do gênero, mas sim, em uma questão bem pontual: a utilização da informação na constituição do argumento.

Diante do exposto, com base em Dolz e Schneuwly (2004), Bräkling (2000) e Barbosa (2006), selecionamos o gênero artigo de opinião e adequamos o emprego de tal gênero ao contexto de realização desta pesquisa, mediante nossos objetivos em relação ao critério de informatividade e ao público envolvido.