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A pesquisa como decorrência da extensão universitária

Interfaces de uma proposta emancipadora

2. A pesquisa como decorrência da extensão universitária

2. A pesquisa como decorrência da extensão universitária.

Entendendo que o projeto traz benefícios evidentes às escolas, mas que é necessário identificar os processos que ele promove e comprovar sua eficácia, tanto a equipe do NIASE como as equipes das três escolas

de São Carlos, que se transformaram em Comunidades de Aprendizagem,

construíram uma proposta de pesquisa, a ser desenvolvida em conjunto. Em reuniões e conversas entre profissionais das escolas e do NIASE,

num processo que teve início em junho de 2006, a proposta de pesquisa

foi se delineando, tendo sua redação finalizada em março de 2007. Após obter assinatura de concordância da Secretaria de Educação do Município de São Carlos, e das diretoras das três escolas envolvidas, a proposta de pesquisa foi submetida a dois órgãos financiadores (FAPESP e CNPq), que o aprovaram, liberando verbas para sua realização.

A partir de setembro de 2007, a equipe de investigação, composta por professores universitários, técnicos de informática, profissionais da

educação - incluindo-se professoras das três escolas focalizadas - e

es-tudantes de doutorado, de mestrado e de graduação, deu inicio a um

processo de estudo de referencial teórico e metodológico para desenvolvi

-mento da pesquisa, que vem ainda se realizando. Neste mesmo período, além da necessária formação para a pesquisa, o grupo vem elaborando instrumentos de coleta de dados em conjunto. Também se deu início à construção de um Sistema de Informação Computacional, no qual dados quantitativos serão ingressados para seu tratamento estatístico. Ao final da pesquisa, tal Sistema de Informação (o suporte sem os dados) será disponibilizado gratuitamente à Secretaria Municipal de Educação para uso e seu desenvolvimento e tornado público em páginaweb do NIASE.

Em abril de 2008, findou-se o primeiro momento de formação de

toda a equipe na metodologia de pesquisa a ser utilizada, a metodologia crítico comunicativa.

Em tal metodologia, parte-se do princípio de que é possível conhecer cientificamente a realidade social de maneira objetiva, ou seja,

entende-Gomes Bento, Celso Luiz Aparecido Conti, Maria Cecília Luiz, Claudia R. Reyes

se que ela existe e que é possível conhecê-la cientificamente, tratando-a

com objetividade. É importante esclarecer que a realidade é entendida, nesta perspectiva, como sendo composta por três mundos: pelo mundo

objetivo, “[...] definido como totalidade dos estados de coisas que existem ou que podem apresentar-se ou serem produzidas mediante uma adequa-da intervenção no mundo” (HABERMAS, 1987, p. 125); pelo mundo social, que “[...] consta de um contexto normativo que fixa quais interações per-tencem à totalidade de relações interpessoais legítimas” (HABERMAS, 1987, p. 128), e pelo mundo subjetivo, que é caracterizado como a “[...]

totalidade de vivências subjetivas às quais o agente tem acesso privilegia

-do frente aos demais” (HABERMAS, 1987, p. 132). Assim, ao posicionar-se ou expressar-se sobre um tema, um sujeito o faz dentro das fronteiras

do mundo objetivo, do mundo social e do mundo subjetivo (este último

constituído a partir dos outros dois). Considerando o indicado por Haber

-mas (1987), a pesquisa comunicativa implica uma postura realizativa do/a

pesquisador/a e a desaparição do pressuposto de hierarquia interpretati

-va: os processos de entendimento mediante argumentações amparadas por pretensões de validez é que guiam a interlocução e a interpretação

nos processos de pesquisa; trata-se de uma objetividade intersubjetiva

das pretensões de validez.

De Freire (1995), utiliza-se a perspectiva dialógica de aproximação

do objeto investigado, que implica tomar distância epistemológica do que se investiga. Isto implica conhecer os sujeitos por meio de suas relações

com os outros, captando suas interpretações em contextos habituais e

refletindo sobre elas. É uma postura em que coleta e análise de dados se dão conjuntamente em vários momentos, através do diálogo crítico:

O diálogo comporta uma postura crítica para a qual é fun

-damental a construção da curiosidade epistemológica.

Quando, por meio do diálogo, põem-se em dúvida questões que até o momento considerávamos válidas, vemo-nos

obrigados a utilizar processos dialógicos para compreen

-der as interpretações dos outros e buscar argumentos para refutar, afirmar ou reformular a situação. Por meio deste processo chegamos a interpretações consensuadas. (CREA,

apud. MELLO, 2006).

Recusando a perspectiva de que as pessoas não são conscientes de suas ações e de suas motivações, adotada por muitas abordagens de

pesquisa nas ciências humanas, Flecha, Gómez e Puigvert (2001, 154)

afirmam que a questão que deve guiar a atuação das ciências sociais no

presente século é: “[...] em função de que fatores as pessoas e os gru-pos se aproximam ou se afastam mais de suas intenções?”. Em outras

palavras, afirmam que se há de buscar clarificar quais esforços levam a atingir mais objetivos perseguidos e quais levam os grupos a deles se

distanciarem. Trata-se de descrever os obstáculos e os elementos

trans-formadores já presentes na atual sociedade. Além disso, tal busca deve ser feita diretamente com os participantes da pesquisa, sujeitos capazes de linguagem e ação.

Quanto às técnicas de investigação utilizadas na pesquisa

crítico-comunicativa, há combinação de técnicas quantitativas e qualitativas (a

escolha é feita tendo em vista o que se investiga). Como técnicas quan

-titativas, podem ser utilizados, por exemplo, questionários e entrevistas rápidas. Sobre as técnicas qualitativas de investigação tem-se: grupos de

discussão, relatos de vida cotidiana, entrevista qualitativa em profundidade,

observação comunicativa (GÓMEZ; LATORRE; SANCHES; FLECHA, 2006). De posse da compreensão básica da metodologia

crítico-comunica-tiva de investigação, tanto docentes e estudantes universitários, como professorado das escolas de ensino básico, que estão participando da

pesquisa como pesquisadoras e pesquisadores, realizarão a coleta de da

-dos quantitativos e qualitativos, inserindo-os no sistema de informação

especialmente criado para o estudo em desenvolvimento. Também se de

-dicarão ao tratamento e à análise dos dados, produzindo relatórios com os resultados das análises.

A pesquisa vem focalizando: a) a aprendizagem da leitura e da

escrita em uma sala de cada série do primeiro ciclo do ensino fundamen

-tal das três escolas; b) as práticas de aprendizagem dialógica (grupos

interativos, biblioteca tutorada, formação de familiares e pessoas da co

-munidade e tertúlias literárias dialógicas) como promotoras do valor da diversidade; c) situações de participação da comunidade nas decisões das escolas (conselho de escola, comissão gestora, comissões mistas) e d) a caracterização de necessidades formativas e potencialidades educativas

da população de entorno e dos familiares dos estudantes, canalizando-as

para a interlocução entre escolas e comunidade de entorno.

A articulação entre a extensão e a pesquisa, tendo por eixo

Comuni-dades de Aprendizagem, vem sendo viabilizada, principalmente, por meio

de uma atividade curricular de integração entre ensino, pesquisa e exten-são (ACIEPE). Criada pelas pró-reitorias da Universidade Federal de São

Gomes Bento, Celso Luiz Aparecido Conti, Maria Cecília Luiz, Claudia R. Reyes

Carlos, em 2003, a ACIEPE nasceu da idéia de possibilitar, instituciona

-lmente, o encontro entre estudantes da universidade com profissionais atuantes em diferentes áreas de formação, conjugando a formação básica

à formação continuada. Pretendia-se, também, que fosse um espaço de integração entre ensino, pesquisa e extensão, tornando sua relação mais

orgânica na construção do conhecimento. A cada semestre, um(a) do

-cente ou um grupo pode oferecer tal atividade, que comporta a matrícula

de estudantes de graduação, bem como sua realização, em caráter de ex-tensão, por estudantes da pós-graduação e por profissionais que já estão

no mercado de trabalho.

O Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa, em 2007, já

tinha experiência de oferta de tal tipo de atividade, já que oferecera, de

2003 a 2007, em todos os semestres, ACIEPEs voltadas para a formação de educadores(as) de educação de pessoas jovens e adultas. Portanto, o

Núcleo conhecia o potencial integrativo da atividade e vislumbrou-a como

espaço de fortalecimento do projeto Comunidades de Aprendizagem.

3. Atividade Curricular de Integração entre Ensino,