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Quanto à formação inicial e continuada de profissionais:

Interfaces de uma proposta emancipadora

4. Resultados esperados com a articulação entre ensino, pesquisa e extensão

4.5. Quanto à formação inicial e continuada de profissionais:

Há a necessidade de se dar significância ao conhecimento acadêmi

-co (sociologia, psi-cologia, lingüística, pedagogia, metodologia) a partir da

avaliação prática de sua existência, ou seja, sua validade e sua eficiência

Gomes Bento, Celso Luiz Aparecido Conti, Maria Cecília Luiz, Claudia R. Reyes

e necessidades dos atores que constroem cotidianamente a escola. Tal significância não se estabelece de maneira solitária e, por isso, a riqueza

de se fazer encontrar, em mesmos espaços, profissionais, cada qual di

-zendo sua palavra, educadores e educadoras já diplomados e em processo de graduação, e pesquisadoras e pesquisadores, todos nós, em processo de formação. A formação básica e continuada e a atuação profissional, na relação com a prática, ultrapassa, na nossa perspectiva, o mero território

da profissionalidade - onde a ação é sempre estratégica e dada por um único agente, fazendo da interação um pretexto para se chegar ao fim determinado pelo profissional. Para nós, o formar-se deve ocorrer como

efetivo espaço de comunicação e de dialogicidade, na construção do co

-nhecimento.

Após apresentar o desenvolvimento da experiência de articulação en-tre ensino, pesquisa e extensão, bem como os resultados esperados com ela, vemos, como autoras e autores do presente texto, a necessidade

de tecer algumas conclusões, retomando elementos que por nós foram

indicados na introdução, para avaliar a construção de uma docência uni

-versitária atenta ao contexto e às necessidades atuais, principalmente à

necessidade de superação de desigualdades sociais e educativas. É o que pretendemos abordar no item final.

Conclusões

Ao reconhecer o contexto atual como sociedade da informação,

in-serida num globalismo que tem alterado não apenas o trabalho ou as relações econômicas, mas também as relações na família, na escola, na vida pessoal e na participação social, é preciso afirmar tanto o papel da escola como das universidades, bem como do estreitamento das relações entre elas, na formação de professores.

No processo de recriação e criação das escolas, o projeto Comunida

-des de Aprendizagem vem se confirmando como alternativa. A maneira

metódica que o projeto supõe de fazer as aproximações entre a escola e

a comunidade de entorno, democratizando a gestão da instituição, as re

-lações entre os diferentes agentes educativos, e tomando a diversidade

como valor positivo, tem despertado seus profissionais para desenvol

-ver e interiorizar comportamentos que envolvem postura investigativa,

crítica, de aprendizado independente, como defende Dudziak (2003).

-mento a suas práticas de ensino – o uso do ambiente virtual Moodle, na

ACIEPE, é prova disto.

A existência de equipe universitária multidisciplinar, em interação

di-reta e permanente, há vários anos, com profissionais das escolas básicas,

tem sido a fonte de inovação nas práticas das instituições envolvidas (es

-colas e universidade) e de seus agentes. Reconhecem-se, também, nas

práticas do NIASE em torno do projeto Comunidades de Aprendizagem, características que Ronca e Costa (2002) apontam como fundamentais

para a criação da democracia cognitiva: forte comunicação coletiva in

-terna, mas também forte articulação externa da universidade com a comunidade, através de extensão universitária. Ainda é possível

identi-ficar no trabalho o movimento na direção das inovações universitárias

apontadas por Chamlian (2003) busca de integração maior entre as ativi

-dades de ensino, pesquisa e extensão, especialmente nas disciplinas com

uma interface profissionalizante (caso da ACIEPE); procura por estabele

-cer vinculações entre a formação e o mercado de trabalho, e prestação

de assistência à comunidade, utilizando-se dessa relação como fonte de reflexão no campo de atuação e de pesquisa, na tentativa de estabelecer

maior articulação entre a teoria e a prática.

Tomando-se as contribuições de Guisolf (2006) como parâmetro, percebem-se, na experiência aqui relatada, as seis ocasiões formativas

que a autora menciona. O trabalho tem permitido à equipe docente uni

-versitária constituir-se enquanto comunidade científica (a); a participação

em e a organização de eventos científicos, previstas pelo grupo, buscam

a interlocução ampla sobre o trabalho (b); a equipe do NIASE, na dinâmi

-ca estabelecida de articulação entre ensino, pesquisa e extensão, e entre

formação básica e formação continuada de profissionais e pesquisadores, vem fortalecendo programas e projetos da própria Universidade Federal de São Carlos; ao manter permanente comunicação com o Centro Especial de

Investigação em Teorias e Práticas Superadoras de Exclusão também

for-talece as relações interinstitucionais (c); quanto às publicações científicas,

a equipe vem publicando em diferentes suportes os resultados de seu tra

-balho, bem como se mantendo atualizada por meio de revisão de literatura

sobre temas vinculados à sua atuação (contexto atual, educação e

traba-lho, educação ambiental, formação escolar, relação escola e comunidade de entorno, processos de ensino e de aprendizagem, gestão educacional,

formação de professores) – (d); pode-se dizer que, pouco a pouco, o NIASE

tem se tornado referência para outros grupos da universidade que o pro

Gomes Bento, Celso Luiz Aparecido Conti, Maria Cecília Luiz, Claudia R. Reyes

articulação entre ensino, pesquisa e extensão (e), e por fim, as práticas do

Núcleo têm contemplado a análise crítica permanente das situações educa

-tivas nas quais seus membros estão envolvidos (f).

Retomando as palavras de Cunha (2004) - inovação envolve mu-dança na forma de entender o conhecimento - reafirmamos a experiência relatada como experiência inovadora. Ela tem permitido a construção de

conhecimento e a formação profissional em processo articulado, promo

-vendo interação sistemática entre futuros profissionais e profissionais em

exercício, entre pesquisadores experientes e pesquisadores iniciantes, e entre todos, por meio de dinâmica dialógica e reflexiva.

Tratando-se de âmbito que faz encontrar cultura popular e cultura

acadêmica, saber e trabalho, ação no mundo e transformação, a união de

docentes e estudantes universitários, e professorado da educação fundamen

-tal, em experiência multidisciplinar, coloca desafios não apenas na atuação

prática, mas também na escolha de teorias que permitam analisar os con

-dicionantes sociais e históricos limitantes das ações, mas, também, gerar

novas alternativas. É assim que entendemos o referencial dialógico comuni

-cativo por nós assumido.

Vale por fim explicitar que o conhecimento acadêmico (baseado na

ação teleológica e estratégica) já constituído (no caso, o conhecimento pedagógico, o conhecimento sobre participação social e o conhecimento sobre formação de professores) é fundamental. No entanto, ele não pode

ser tomado como bom em si mesmo, o que levaria a assumi-lo como prescritivo, e a avaliá-lo apenas com parâmetro interno. Frente ao tema que articula ensino, pesquisa e extensão, na experiência aqui relatada,

o conhecimento constituído tem importância na relação com a realidade

e com os contextos sociais e culturais onde atuamos e, portanto, devem

estar em constante verificação em processos de ação comunicativa com diferentes sujeitos sociais. É a isso que temos nos dedicado no trabalho realizado pelo NIASE.

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Representações, Práticas e Contradições

Fernando Ilídio Ferreira40

Ao longo dos dois últimos séculos, e de um modo específico mas não

menos intenso nas três últimas décadas, foi-se naturalizando a ideia de que os problemas da pobreza, do desemprego e da exclusão de pessoas e territórios são males necessários à “modernização”. Consequentemen-te, foram-se gerando representações sobre o mundo rural em termos de “carência” e de “défice”: défice de produtividade, défice cultural, etc. Este texto tem como principal objectivo analisar e reflectir sobre estas e

ou-tras representações sobre as regiões e as populações rurais, a partir da descrição e interpretação de dois tipos de dinâmicas locais, o primeiro de

carácter mais institucional e instrumental e o outro de natureza mais co

-munitária e emancipadora.

O texto baseia-se em trabalhos de investigação realizados num

mu-nicípio rural do Norte de Portugal, na área da educação e da acção social e comunitária (FERREIRA, 2005). Não sendo possível apresentar esses

trabalhos na totalidade, apresentam-se aqui dois exemplos para ilustrar

a diversidade de representações sobre o Desenvolvimento Local. Apesar das semelhanças identificadas ao nível do discurso e das intenções, eles

revelam concepções e sugerem práticas muito diversas sobre o Desenvol

-vimento Local em meio rural. O primeiro exemplo refere-se a um “Estudo

de Oportunidades de Desenvolvimento, Investimento e Emprego para o

concelho de Paredes de Coura”, que foi realizado por uma empresa de

consultoria, nos finais dos anos 90, por encomenda da Câmara Municipal,

o qual é aqui analisado criticamente no que respeita às suas visões nega

-tivas sobre a população rural. O segundo exemplo consiste numa síntese

de um estudo de caso etnográfico realizado no âmbito do referido douto

-ramento, o qual teve como foco o “OUSAM”: uma associação/instituição

de solidariedade social fundada nos anos 80, em Paredes de Coura, na sequência de um de projecto iniciado pelo Centro de Saúde local.

Postos em confronto, estes dois exemplos evidenciam concepções muito diferentes do “desenvolvimento local”, não apenas no que

concer-ne às perspectivas dos actores locais, mas também aos pressupostos da

investigação e às crenças dos investigadores. Ao mesmo tempo, subli

-nha-se, neste texto, a importância dos estudos etnográficos para uma

compreensão mais aprofundada e valorizada das populações rurais e dos

seus quotidianos sócio-culturais, concebendo a cidadania como a principal

dimensão do desenvolvimento humano.

1. Uma análise crítica de um “Estudo de Oportunidades