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1. Antecedentes da organização policial militar no Brasil: origem e inserção

1.4. A Polícia Militar no Brasil do século XXI

A Segurança Pública no Brasil deste início de século tornou-se, certamente, um dos principais temas da pauta nacional, sobretudo por tratar-se de um mecanismo de afetação a toda sociedade com reflexos desde o desenvolvimento da cadeia do turismo, por exemplo, chegando ao campo da abdicação do uso das ruas – por mais esdrúxula que possa parecer –, pelo simples temor que a violência urbana possa causar.

Curiosamente, não obstante toda esta certeza comum à população, diante da insegurança que permeia o território nacional brasileiro, um fato se constata: o Brasil não é um país violento. Se comparado a outros ambientes nacionais, mesmo os Estados Unidos da América, que têm a violência em sua cultura a se ver na produção cinematográfica, ou o Oriente Médio com suas convicções violentas do que seria fé religiosa, ou outros ambientes sociais separatistas, constatamos que o Brasil não tem admitido condições terroristas sob quaisquer aspectos e é, de fato, uma unidade nacional, não obstante a sua continentalidade.

Quanto às polícias militares, instituições que melhor refletem o desempenho da segurança ou insegurança entre as pessoas, ou como é dito sobre as tais: o termômetro que mede

o grau de civilidade de um povo, esta, dada a redemocratização e a consolidação destas

corporações mediante a gênese da Constituição de 1988, a Carta Cidadã, finalmente abandonam o cenário puramente de resguardo ao sistema da hora como fora desde a sua pré-instalação na colônia, passando a debruçar-se sobre as questões próprias de suas existências, ainda que a duras penas levando-se em consideração a falta de investimento com o passar dos tempos, mais a formação de afastamento social destes organismos na trajetória de suas vivências.

Em tese, a razão de ser das polícias militares deveria subsistir sob uma noção puramente pacifista-preventiva, todavia, sabe-se que estas guarnições estaduais, mesmo que na era da cibernética, robótica e nanotecnologia, ainda guardam uma aura militarista e própria de combate, apesar da existência de segmentos dentro das próprias polícias militares que preservem sentimentos mais paritários, sobretudo aqueles que trazem na pauta de discussões a filosofia de Polícia Comunitária, assunto a ser tratado nesta investigação.

31 A interpretação da linha mais belicista estaria voltada para a condição weberiana que dispõe o monopólio estatal da violência como forma de controle, com alvo de que outros indivíduos não o façam e assim se instale a desordem. Contudo Elias (1988, p. 179) observa: “se por um lado tem por função fundamental a pacificação da sociedade, por outro é um instrumento que pode ser usado muito mais em benefício daqueles que o controlam - governantes e agentes - do que da própria sociedade.”

A melhor tradução para esta condição de mudança, no entanto, reside na certeza de que com a chegada no novo milênio, a população não mais recepciona qualquer forma truculenta ou arbitrária por parte do estado. E, deste modo, lançando-se mão da grande mídia, todas as ações policiais são monitoradas e cobradas dos governantes quanto à apuração dos órgãos controladores sendo, em muitos casos, acompanhadas passo-a-passo as investigações.

Balestreli (2002) interpreta esta condição de colisão da polícia no novo milênio, ou seja, ao mesmo tempo em que a sociedade requer uma polícia mais forte, busca, também, nessas instituições maior humanidade: Tal energia, geralmente, se traduz por truculência e arbitrariedade, No entanto, os anseios da população, especialmente nos setores populares, não são apenas por ações rígidas, mas também, por mais paradoxal que possa parecer, por uma polícia mais humanizada; uma instituição que não seja apenas protetora de direitos, mas, sobretudo, que os promova.

Igualmente, observa-se que nos vários momentos da história do Brasil, sempre existiu entre as polícias militares e a população uma relação nada amistosa, porquanto o convívio sempre se deu em campos de batalha urbanos, nas lutas populares contra o que as massas têm chamado de supressão de direitos. Já em nova realidade, na coexistência com a polícia do Século XXI, não convém acostumar-se à violência policial, aceitando naturalmente a persistência desse fenômeno na sociedade brasileira. Daí, requerendo-se a necessidade de investigar por que os avanços na direção da democracia, sobretudo os relacionados à proteção dos direitos civis, não tem sido suficiente para adaptar a Polícia Militar a uma nova condição comunitária, no que pese a melhoria destas instituições.

Percebe-se, todavia, que a população reconhece os avanços ocorridos na própria Polícia Militar, entre os quais se destacam as mudanças promovidas na formação dos policiais e os projetos elaborados pela instituição com o objetivo de aproximar a polícia à sociedade, como a

32 criação, por exemplo, no Ceará, dos Conselhos Comunitários de Defesa Social, CCDS7, que

têm defendido uma bandeira notadamente comunitária. Entretanto, sob uma linha mais observadora, Bobbio (1988) já constitui esta leitura libertadora ainda no século XX quando ratifica que os poderes públicos, em um Estado de Direito, devem ser exercidos no âmbito das leis que os regulam, daí a existência de mecanismos constitucionais que visam a impedir o abuso ou o exercício ilegal do poder, como a submissão dos atos da administração pública a um controle jurisdicional.

Por extensão, a nova condição da sociedade brasileira, tem refletido sobremaneira sobre a existência e atuação da polícia militar brasileira no novo milênio. No seio da tropa já se percebe policiais mais jovens, como formação acadêmica mais avançada, sobretudo advindos das universidades, que estes próprios já não incorporam a violência pela violência. E é necessário que haja uma postura de reflexão de toda a comunidade a fim de que as novas gerações destes profissionais enxerguem a sociedade como sua protegida na melhor acepção do termo. O alvo, destarte, seria adaptar a atividade policial militar às exigências da ordem democrática, extinguindo-se definitivamente, o estereótipo do policial do passado que levou a polícia a ser temida pela classe mais simples e ignorada pela mais abastada.

É preciso explicar, de toda sorte, que as polícias militares brasileiras sempre estiveram muito arraigadas à estrutura castrense herdada do Exército nacional, isto significa que romper um cordão umbilical de quase dois séculos, admitindo a criação da primeira corporação de polícia em 1809, a carioca, não tem sido nada fácil. Mesmo com a redemocratização do país, e o advento da Constituição de 1988, segundo Mota Brasil et al (2009, p. 4), “os sucessivos governos que se revezaram no poder pós-ditadura militar mantiveram intocada a autonomia de funcionamento desses dispositivos, como se eles fossem estruturas neutras e prontas a servir à democracia”.

Finalmente, o alvo a ser permanentemente analisado, seria a condição das polícias militares serem acompanhadas pelos povos com o simples propósito de serem tais instituições repositórios de ética, cidadania e crescimento mútuo. Não cabe mais qualquer postura refratária da parte destes profissionais e, de forma decidida, também da sociedade. A perspectiva é, necessariamente, o alargamento das questões de segurança pública, quando esta se desloca do enfoque puro repressivo e se permite mergulhar no conceito da polícia preventiva, dando ênfase

7 O Decreto governamental nº 25.293, de 11 de novembro de 1998, cria no âmbito da Secretaria da Segurança

33 nos caráteres comunitários de forma incondicional. No postulado de Zacchi (2002, p. 43) há o possível surgimento de um novo paradigma do enfrentamento da violência e criminalidade, assim, “neste foco recai sobre os esforços da elaboração de modelos mais abrangentes e potencialmente eficazes de prevenção da violência”, cabendo, portanto, à coletividade, ombreada pela policias militares no Brasil, buscar o melhor no que tange a oferta de uma segurança pública de qualidade em prol de todos.